Como costuma ocorrer
nos últimos anos, a corrida da F-1 na Espanha concentra mais novidades
interessantes nos dias que a antecedem do que propriamente na prova em si,
pelas novidades que todos os times trazem em seus carros, após estudarem a
fundo o comportamento de seus bólidos nas primeiras etapas, tirando dali as
lições possíveis que permitam evoluir seus desempenhos. Já com relação à
corrida mesmo, a prova em Barcelona acabou sendo... Mais uma corrida em
Barcelona como tantas outras... Monótona, com poucas ultrapassagens, e duelos
nada inspirados. Conseguiu ser mais chata que a primeira corrida, em Melbourne,
que não foi grande coisa, mas apresentou uma reviravolta na luta pela vitória,
com a Ferrari e Sebastian Vettel a conseguirem surpreender a então favorita
Mercedes e Lewis Hamilton, e sair na frente na luta pelo título de 2018. Na Espanha,
nem isso tivemos chance de ver.
Mas sempre havia a
esperança de que esse ano tivéssemos mais sorte. O novo asfalto da pista
catalã, e a perspectiva de chuva para o domingo eram indícios animadores de que
poderíamos ter um GP enfim mais animado. Afinal, todas as corridas disputadas
até então haviam tido algum fato inusitado que ajudou a apimentar a disputa e
mudar o panorama da prova. Quem sabe Barcelona manteria a escrita? O novo piso
se mostrou meio traiçoeiro para os pilotos na sexta-feira, com vários deles a
escorregarem tentando achar o limite de aderência do asfalto. Com as chances de
chover no domingo em alta, poderíamos ter um GP cheio de possibilidades. No
fim, Barcelona manteve a escrita, mas a sua escrita, de ser mais uma vez palco
de uma corrida sem maiores atrativos, devido ao imenso conhecimento que todos
os times possuem da pista, por sempre fazerem lá a pré-temporada. Barcelona é
um circuito excelente para testes, uma vez que a variedade das curvas e o seu traçado
permitem experimentar os detalhes do projeto de qualquer carro, fornecendo às
áreas de engenharia das escuderias conhecer a fundo as reações de seus bólidos,
suas particularidades, pontos fortes e fracos. O problema é que tanto
conhecimento acaba fazendo com que ninguém consiga surpreender ninguém, salvo
casos excepcionais, e bota excepcional nisso.
Na verdade, tivemos
até um caso inusitado: Romain Grosjean rodou e, ao tentar controlar seu carro,
voltou para o meio da pista, enquanto praticamente metade dos pilotos vinha
logo atrás e foi um deus nos acuda para evitar o que poderia ter sido uma
tragédia, mas acabou vitimizando, felizmente, apenas Nico Hulkenberg e Pierre
Gasly, além do próprio Grosjean, que deram adeus à corrida, sem ferimentos, e
apenas com seus carros abalroados na colisão. Isso promoveu a entrada do Safety
Car, mas como isso aconteceu logo na primeira volta, não houve a tradicional
reviravolta que incursões do carro de segurança potencialmente pode desencadear
em uma corrida, misturando estratégias e reunindo o pelotão na pista. Na
prática, só serviu para atrasar o andamento da corrida de fato, e fez alguns
pilotos perderem posições para evitar colidir com o francês do time estadunidense,
que está mantendo um score perfeito no ano: Grosjean é o único no campeonato,
além do russo Sergey Sirotkin, da Williams, a não marcar ponto algum no
campeonato até o momento. E a chuva, que muitos esperavam que pudesse dar mais
emoção ao GP, até esteve presente nas proximidades, mas não no autódromo.
Choveu apenas na noite de sábado para domingo, e este amanheceu, se não ensolarado,
seco o suficiente para que as condições do asfalto da pista, mesmo lavado pela
chuva na noite anterior, fossem normais. Mesmo assim, ainda se esperava que,
sem a borracha espalhada pelos carros nos dois dias de treinos, isso pudesse
trazer alguma complicação aos times. Quem sabe isso pudesse bagunçar um pouco
as expectativas? Era algo bem lógico de se supor... Aconteceria de fato?
Rodada de Romain Grosjean logo na primeira volta causou o abandono do piloto da Hass e levou junto Nico Hulkenberg e Pierre Gasly. |
Muito pelo contrário:
o asfalto não reservou surpresa alguma, e pela primeira vez no ano, vimos a Mercedes
lembrando a Mercedes dos últimos anos, sem rivais na pista. Lewis Hamilton
largou na frente e venceu até com invulgar vantagem sobre Valtteri Bottas, que
precisou apelar um pouco para a estratégia para superar Sebastian Vettel na
pista, quando o alemão foi melhor na largada e assumiu a segunda posição, sem
contudo, conseguir acompanhar o ritmo de Hamilton, o que foi uma surpresa, dado
o retrospecto da temporada, que apontava a Ferrari como um carro potencialmente
mais competitivo do que o alemão. E, se até então o time de Maranello conseguia
lidar melhor com os pneus do que os rivais, em Barcelona aconteceu justamente o
contrário, com Vettel precisando fazer duas paradas ao invés de uma, enquanto a
Red Bull conseguiu rodar a corrida com apenas uma parada, e a Mercedes, que
previa fazer duas, conseguiu se virar sem apuros com apenas uma. Para quem
esperava um duelo mais renhido, e próximo entre Hamilton e Vettel, o resultado
de Barcelona foi um balde de água fria, com o atual tetracampeão inglês abrindo
17 pontos de vantagem, o que lhe dá uma margem de segurança razoável para
administrar na próxima corrida, semana que vem, em Mônaco, onde o panorama
deverá ser bem distinto do que vimos na Catalunha.
Outro ponto negativo da
corrida espanhola foi a diferença imposta pelos principais times às demais
escuderias. Kevin Magnussen, da Hass, que terminou em 6º lugar, tomou uma volta
de Hamilton, e chegou bem à frente dos demais, começando por Carlos Sainz Jr.,
o 7º colocado, que ficou praticamente 30s atrás do dinamarquês. Enquanto a Hass
ao menos nesta corrida firmou-se como 4ª força, Renault e McLaren duelaram pelo
posto de 5ª força, com desempenhos um pouco similares, e na bandeirada, Sainz
Jr. ficou à frente de Fernando Alonso, que marcou pontos em todas as corridas
do ano até aqui, e se não vem surpreendendo, vem se mostrando tremendamente
eficiente com o carro que tem nas mãos. Mas talvez o panorama fosse um pouco
diferente se o asturiano não passasse boa parte da corrida meio preso atrás de
Charles LeClerc, da Sauber, que conseguiu pular na frente na largada, e lá se
manteve com rara competência durante boa parte da prova. Com as dificuldades de
se ultrapassar em Barcelona, Fernando acabou um pouco limitado pelo monegasco.
Prova disso é que depois que finalmente o superou, o piloto da McLaren abriu
vantagem rápido, mas em um ritmo similar ao de seu compatriota da Renault, que
conseguiu se manter na frente com alguma folga. A McLaren trouxe um grande
pacote de atualizações para o chassi MCL-33, e elas deram resultado, permitindo
ao time ir pela primeira vez ao Q3. Só que ainda há muito o que fazer, e eles
próprios, e até Fernando Alonso falam isso, apesar de algumas declarações de
Eric Bouiller falando que o progresso do time se dará em passos rápidos,
exagerando um pouco no otimismo.
Max Verstappen por pouco não se enroscou com Lance Stroll na corrida espanhola, mas conseguiu terminar a corrida e subir ao pódio em 3º lugar. |
Será interessante,
contudo, vermos o que acontecerá em Mônaco, para termos uma idéia de como anda
a relação de forças em um circuito travado como o de Monte Carlo, e depois em
Montreal, para observarmos as evoluções do pelotão intermediário em um circuito
onde além de equilíbrio os carros precisarão mostrar velocidade, pela longa
reta que possui. E especialmente porque é no Canadá que a Renault promete
liberar evoluções e maior potência de suas unidades, sem comprometer a
fiabilidade, o que pode diminuir um pouco o déficit de performance para
Mercedes e Ferrari, os melhores propulsores do grid.
Enquanto alguns times
conseguem algumas melhorias, a Williams continua a andar para trás. Robert
Kubica testou o FW41 no primeiro treino livre, e conseguiu ser mais veloz que a
dupla titular, o que seria preocupante em um time que quer ser realmente
competitivo. Mas o prognóstico do polonês sobre o comportamento do carro foi
contundente, e o time de Grove só não largou nas últimas duas posições porque
Brendon Hartley bateu forte com sua Toro Rosso e não conseguiu participar da
classificação, saindo em 20º. Lance Stroll até que quase conseguiu pontuar,
chegando em 11º, e durante a prova, até andou na frente de alguns carros mais
competitivos, mas unicamente por ter conseguido pular na frente no salseiro
promovido por Romain Grosjean na primeira volta, e por Barcelona ser uma pista
muito difícil de ultrapassar. A situação ficou tão crítica que uma reunião de
emergência foi convocada com a cúpula do time para tentar encontrar algum tipo
de solução para ao menos tentar salvar alguma coisa na temporada.
Felipe Massa, agora
ex-piloto da F-1, apareceu pela primeira vez no paddock como convidado, e
embora tenha estado descontraído e sorridente, visitando seus velhos
conhecidos, e permanecido bom tempo nos boxes da Williams, no seu íntimo
certamente deve ter ficado aliviado de não estar com essa batata quente nas
mãos para resolver que é a draga em que seu antigo time se tornou este ano. O
brasileiro, aliás, já está em outras, e no final deste ano, retomará as
competições, agora na F-E, como piloto do time da Venturi, para a nova temporada
2018/2019. Mas não deixa de ser triste ver a situação de um dos times mais
tradicionais da história da F-1, mas lembrando que a escuderia está pagando
pelas escolhas que fez. E Lance Stroll, ao declarar de forma pouco elegante que
Felipe Massa não faz falta, faz por merecer a antipatia que o canadense vem
colecionando pelo restante do paddock. Em que pese Robert Kubica afirmar que
piloto algum faria milagres com a porcaria do carro atual, um pouco de menos
prepotência e mais humildade não faria mal a Stroll.
O campeonato deve
ficar novamente interessante em Mônaco e no Canadá, onde deveremos ver como a
disputa se desenrolará, e se a performance da Ferrari na Catalunha foi mesmo um
ponto fora da curva, e se voltará com força total à luta pelo título. E veremos
de Lewis Hamilton, que até então vinha fazendo um campeonato apenas morno,
tendo herdado a vitória no Azerbaijão, voltará a ser o Hamilton quase imbatível
que vimos domingo passado, não dando chances a ninguém na pista. Ao menos as expectativas
de panoramas diferentes é mais plausível nas próximas etapas do que na Espanha,
mesmo que a corrida em Mônaco possa ser também uma procissão em alta
velocidade, pela pista de rua truncada do principado, mas também justamente por
isso ser um fator de surpresas inesperadas, já que erros em pistas de rua,
ainda mais em Monte Carlo, raramente são perdoados, e se forem cometidos
durante a corrida, então...
Depois de uma semana de treinos, a
Indycar disputará neste sábado o treino de classificação para a edição deste
ano das 500 Milhas de Indianápolis, e pela primeira vez em vários anos, teremos
mais carros que vagas no grid, com 35 competidores a tentarem a sorte para
ocupar uma das 33 vagas para uma das mais famosas corridas do mundo inteiro.
Dois pilotos irão falhar em seu objetivo, e é quase impossível apontar quem serão
os “favoritos” à degola. Durante a semana, as performances apontaram para
alguns times com andamento muito forte no circuito oval de Indiana. Penske,
Andretti, Carpenter, e até a Rahal se mostraram capazes de ritmos velozes e constantes,
oferecendo um leque de pelo menos 10 pilotos com algum favoritismo para vencer
a corrida. Mas é uma prova de 500 milhas, e tudo pode acontecer, em que até
mesmo o último colocado no grid poder vencer a corrida, dependendo do que ocorrer
durante a competição.
O Brasil terá três pilotos
disputando a classificação para a Indy500: Tony Kanaan e Matheus Leist
defenderão o time de A. J. Foyt, e Kanaan andou forte durante os treinos
preparatórios esta semana, mostrando que tem condições de fazer uma boa
apresentação. Leist, por sua vez, confia nos conselhos de seu parceiro de time
para tentar fazer uma boa estréia e evitar as armadilhas que o imponente Indianapolis
Motor Speedway costuma pregar aos novatos na famosa corrida. E teremos também
Hélio Castro Neves, que chegou a ser o mais rápido no treino de terça-feira,
mostrando que é um dos principais candidatos à vitória, e quem sabe, conseguir
igualar-se ao trio dos maiores vencedores da história das 500 Milhas: A. J.
Foyt, Al Unser, e Rick Mears, todos eles com 4 triunfos na Brickyard Line.
Helinho já venceu 3vezes, e bateu na trave em várias ocasiões, como no ano
passado, quando perdeu o duelo para Takuma Sato nas voltas finais da corrida.
Teríamos também a presença de Pietro Fittipaldi, mas o neto de Émerson sofreu
um forte acidente na semana retrasada na Bélgica, no treino para a abertura do
Mundial de Endurance, onde teve ferimentos nas duas pernas, que arruinou seus
planos de competição para este ano. Felizmente, Pietro está bem, e descansando
em recuperação para voltar o mais breve possível às competições, possivelmente
em julho, ou no mais tardar em agosto. Agora é torcer por um bom desempenho de
nossos pilotos na classificação para a Indy500.
A Formula-E também acelera forte
neste sábado, com a etapa de Berlim, a ser disputada no circuito montado dentro
do aeroporto desativado de Tempelhof. Na pista, Jean-Éric Vergne defende sua
liderança frente a Sam Bird, o vice-líder. O canal Fox Sports 2 exibe a corrida
ao vivo a partir do meio-dia, horário de Brasília.
Mapa do traçado do circuito de Tempelhof, onde teremos o eprix de Berlim na F-E. |
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