sexta-feira, 18 de maio de 2018

BALANÇO DA ESPANHA

O Grande Prêmio da Espanha foi novamente uma corrida sem maiores atrativos. Lewis Hamilton largou na pole para vencer sem ser ameaçado, reassumindo momentaneamente o favoritismo no campeonato (abaixo).

            Como costuma ocorrer nos últimos anos, a corrida da F-1 na Espanha concentra mais novidades interessantes nos dias que a antecedem do que propriamente na prova em si, pelas novidades que todos os times trazem em seus carros, após estudarem a fundo o comportamento de seus bólidos nas primeiras etapas, tirando dali as lições possíveis que permitam evoluir seus desempenhos. Já com relação à corrida mesmo, a prova em Barcelona acabou sendo... Mais uma corrida em Barcelona como tantas outras... Monótona, com poucas ultrapassagens, e duelos nada inspirados. Conseguiu ser mais chata que a primeira corrida, em Melbourne, que não foi grande coisa, mas apresentou uma reviravolta na luta pela vitória, com a Ferrari e Sebastian Vettel a conseguirem surpreender a então favorita Mercedes e Lewis Hamilton, e sair na frente na luta pelo título de 2018. Na Espanha, nem isso tivemos chance de ver.
            Mas sempre havia a esperança de que esse ano tivéssemos mais sorte. O novo asfalto da pista catalã, e a perspectiva de chuva para o domingo eram indícios animadores de que poderíamos ter um GP enfim mais animado. Afinal, todas as corridas disputadas até então haviam tido algum fato inusitado que ajudou a apimentar a disputa e mudar o panorama da prova. Quem sabe Barcelona manteria a escrita? O novo piso se mostrou meio traiçoeiro para os pilotos na sexta-feira, com vários deles a escorregarem tentando achar o limite de aderência do asfalto. Com as chances de chover no domingo em alta, poderíamos ter um GP cheio de possibilidades. No fim, Barcelona manteve a escrita, mas a sua escrita, de ser mais uma vez palco de uma corrida sem maiores atrativos, devido ao imenso conhecimento que todos os times possuem da pista, por sempre fazerem lá a pré-temporada. Barcelona é um circuito excelente para testes, uma vez que a variedade das curvas e o seu traçado permitem experimentar os detalhes do projeto de qualquer carro, fornecendo às áreas de engenharia das escuderias conhecer a fundo as reações de seus bólidos, suas particularidades, pontos fortes e fracos. O problema é que tanto conhecimento acaba fazendo com que ninguém consiga surpreender ninguém, salvo casos excepcionais, e bota excepcional nisso.
            Na verdade, tivemos até um caso inusitado: Romain Grosjean rodou e, ao tentar controlar seu carro, voltou para o meio da pista, enquanto praticamente metade dos pilotos vinha logo atrás e foi um deus nos acuda para evitar o que poderia ter sido uma tragédia, mas acabou vitimizando, felizmente, apenas Nico Hulkenberg e Pierre Gasly, além do próprio Grosjean, que deram adeus à corrida, sem ferimentos, e apenas com seus carros abalroados na colisão. Isso promoveu a entrada do Safety Car, mas como isso aconteceu logo na primeira volta, não houve a tradicional reviravolta que incursões do carro de segurança potencialmente pode desencadear em uma corrida, misturando estratégias e reunindo o pelotão na pista. Na prática, só serviu para atrasar o andamento da corrida de fato, e fez alguns pilotos perderem posições para evitar colidir com o francês do time estadunidense, que está mantendo um score perfeito no ano: Grosjean é o único no campeonato, além do russo Sergey Sirotkin, da Williams, a não marcar ponto algum no campeonato até o momento. E a chuva, que muitos esperavam que pudesse dar mais emoção ao GP, até esteve presente nas proximidades, mas não no autódromo. Choveu apenas na noite de sábado para domingo, e este amanheceu, se não ensolarado, seco o suficiente para que as condições do asfalto da pista, mesmo lavado pela chuva na noite anterior, fossem normais. Mesmo assim, ainda se esperava que, sem a borracha espalhada pelos carros nos dois dias de treinos, isso pudesse trazer alguma complicação aos times. Quem sabe isso pudesse bagunçar um pouco as expectativas? Era algo bem lógico de se supor... Aconteceria de fato?
Rodada de Romain Grosjean logo na primeira volta causou o abandono do piloto da Hass e levou junto Nico Hulkenberg e Pierre Gasly.
            Muito pelo contrário: o asfalto não reservou surpresa alguma, e pela primeira vez no ano, vimos a Mercedes lembrando a Mercedes dos últimos anos, sem rivais na pista. Lewis Hamilton largou na frente e venceu até com invulgar vantagem sobre Valtteri Bottas, que precisou apelar um pouco para a estratégia para superar Sebastian Vettel na pista, quando o alemão foi melhor na largada e assumiu a segunda posição, sem contudo, conseguir acompanhar o ritmo de Hamilton, o que foi uma surpresa, dado o retrospecto da temporada, que apontava a Ferrari como um carro potencialmente mais competitivo do que o alemão. E, se até então o time de Maranello conseguia lidar melhor com os pneus do que os rivais, em Barcelona aconteceu justamente o contrário, com Vettel precisando fazer duas paradas ao invés de uma, enquanto a Red Bull conseguiu rodar a corrida com apenas uma parada, e a Mercedes, que previa fazer duas, conseguiu se virar sem apuros com apenas uma. Para quem esperava um duelo mais renhido, e próximo entre Hamilton e Vettel, o resultado de Barcelona foi um balde de água fria, com o atual tetracampeão inglês abrindo 17 pontos de vantagem, o que lhe dá uma margem de segurança razoável para administrar na próxima corrida, semana que vem, em Mônaco, onde o panorama deverá ser bem distinto do que vimos na Catalunha.
            Outro ponto negativo da corrida espanhola foi a diferença imposta pelos principais times às demais escuderias. Kevin Magnussen, da Hass, que terminou em 6º lugar, tomou uma volta de Hamilton, e chegou bem à frente dos demais, começando por Carlos Sainz Jr., o 7º colocado, que ficou praticamente 30s atrás do dinamarquês. Enquanto a Hass ao menos nesta corrida firmou-se como 4ª força, Renault e McLaren duelaram pelo posto de 5ª força, com desempenhos um pouco similares, e na bandeirada, Sainz Jr. ficou à frente de Fernando Alonso, que marcou pontos em todas as corridas do ano até aqui, e se não vem surpreendendo, vem se mostrando tremendamente eficiente com o carro que tem nas mãos. Mas talvez o panorama fosse um pouco diferente se o asturiano não passasse boa parte da corrida meio preso atrás de Charles LeClerc, da Sauber, que conseguiu pular na frente na largada, e lá se manteve com rara competência durante boa parte da prova. Com as dificuldades de se ultrapassar em Barcelona, Fernando acabou um pouco limitado pelo monegasco. Prova disso é que depois que finalmente o superou, o piloto da McLaren abriu vantagem rápido, mas em um ritmo similar ao de seu compatriota da Renault, que conseguiu se manter na frente com alguma folga. A McLaren trouxe um grande pacote de atualizações para o chassi MCL-33, e elas deram resultado, permitindo ao time ir pela primeira vez ao Q3. Só que ainda há muito o que fazer, e eles próprios, e até Fernando Alonso falam isso, apesar de algumas declarações de Eric Bouiller falando que o progresso do time se dará em passos rápidos, exagerando um pouco no otimismo.
Max Verstappen por pouco não se enroscou com Lance Stroll na corrida espanhola, mas conseguiu terminar a corrida e subir ao pódio em 3º lugar.
            Será interessante, contudo, vermos o que acontecerá em Mônaco, para termos uma idéia de como anda a relação de forças em um circuito travado como o de Monte Carlo, e depois em Montreal, para observarmos as evoluções do pelotão intermediário em um circuito onde além de equilíbrio os carros precisarão mostrar velocidade, pela longa reta que possui. E especialmente porque é no Canadá que a Renault promete liberar evoluções e maior potência de suas unidades, sem comprometer a fiabilidade, o que pode diminuir um pouco o déficit de performance para Mercedes e Ferrari, os melhores propulsores do grid.
            Enquanto alguns times conseguem algumas melhorias, a Williams continua a andar para trás. Robert Kubica testou o FW41 no primeiro treino livre, e conseguiu ser mais veloz que a dupla titular, o que seria preocupante em um time que quer ser realmente competitivo. Mas o prognóstico do polonês sobre o comportamento do carro foi contundente, e o time de Grove só não largou nas últimas duas posições porque Brendon Hartley bateu forte com sua Toro Rosso e não conseguiu participar da classificação, saindo em 20º. Lance Stroll até que quase conseguiu pontuar, chegando em 11º, e durante a prova, até andou na frente de alguns carros mais competitivos, mas unicamente por ter conseguido pular na frente no salseiro promovido por Romain Grosjean na primeira volta, e por Barcelona ser uma pista muito difícil de ultrapassar. A situação ficou tão crítica que uma reunião de emergência foi convocada com a cúpula do time para tentar encontrar algum tipo de solução para ao menos tentar salvar alguma coisa na temporada.
            Felipe Massa, agora ex-piloto da F-1, apareceu pela primeira vez no paddock como convidado, e embora tenha estado descontraído e sorridente, visitando seus velhos conhecidos, e permanecido bom tempo nos boxes da Williams, no seu íntimo certamente deve ter ficado aliviado de não estar com essa batata quente nas mãos para resolver que é a draga em que seu antigo time se tornou este ano. O brasileiro, aliás, já está em outras, e no final deste ano, retomará as competições, agora na F-E, como piloto do time da Venturi, para a nova temporada 2018/2019. Mas não deixa de ser triste ver a situação de um dos times mais tradicionais da história da F-1, mas lembrando que a escuderia está pagando pelas escolhas que fez. E Lance Stroll, ao declarar de forma pouco elegante que Felipe Massa não faz falta, faz por merecer a antipatia que o canadense vem colecionando pelo restante do paddock. Em que pese Robert Kubica afirmar que piloto algum faria milagres com a porcaria do carro atual, um pouco de menos prepotência e mais humildade não faria mal a Stroll.
            O campeonato deve ficar novamente interessante em Mônaco e no Canadá, onde deveremos ver como a disputa se desenrolará, e se a performance da Ferrari na Catalunha foi mesmo um ponto fora da curva, e se voltará com força total à luta pelo título. E veremos de Lewis Hamilton, que até então vinha fazendo um campeonato apenas morno, tendo herdado a vitória no Azerbaijão, voltará a ser o Hamilton quase imbatível que vimos domingo passado, não dando chances a ninguém na pista. Ao menos as expectativas de panoramas diferentes é mais plausível nas próximas etapas do que na Espanha, mesmo que a corrida em Mônaco possa ser também uma procissão em alta velocidade, pela pista de rua truncada do principado, mas também justamente por isso ser um fator de surpresas inesperadas, já que erros em pistas de rua, ainda mais em Monte Carlo, raramente são perdoados, e se forem cometidos durante a corrida, então...


Depois de uma semana de treinos, a Indycar disputará neste sábado o treino de classificação para a edição deste ano das 500 Milhas de Indianápolis, e pela primeira vez em vários anos, teremos mais carros que vagas no grid, com 35 competidores a tentarem a sorte para ocupar uma das 33 vagas para uma das mais famosas corridas do mundo inteiro. Dois pilotos irão falhar em seu objetivo, e é quase impossível apontar quem serão os “favoritos” à degola. Durante a semana, as performances apontaram para alguns times com andamento muito forte no circuito oval de Indiana. Penske, Andretti, Carpenter, e até a Rahal se mostraram capazes de ritmos velozes e constantes, oferecendo um leque de pelo menos 10 pilotos com algum favoritismo para vencer a corrida. Mas é uma prova de 500 milhas, e tudo pode acontecer, em que até mesmo o último colocado no grid poder vencer a corrida, dependendo do que ocorrer durante a competição.


O Brasil terá três pilotos disputando a classificação para a Indy500: Tony Kanaan e Matheus Leist defenderão o time de A. J. Foyt, e Kanaan andou forte durante os treinos preparatórios esta semana, mostrando que tem condições de fazer uma boa apresentação. Leist, por sua vez, confia nos conselhos de seu parceiro de time para tentar fazer uma boa estréia e evitar as armadilhas que o imponente Indianapolis Motor Speedway costuma pregar aos novatos na famosa corrida. E teremos também Hélio Castro Neves, que chegou a ser o mais rápido no treino de terça-feira, mostrando que é um dos principais candidatos à vitória, e quem sabe, conseguir igualar-se ao trio dos maiores vencedores da história das 500 Milhas: A. J. Foyt, Al Unser, e Rick Mears, todos eles com 4 triunfos na Brickyard Line. Helinho já venceu 3vezes, e bateu na trave em várias ocasiões, como no ano passado, quando perdeu o duelo para Takuma Sato nas voltas finais da corrida. Teríamos também a presença de Pietro Fittipaldi, mas o neto de Émerson sofreu um forte acidente na semana retrasada na Bélgica, no treino para a abertura do Mundial de Endurance, onde teve ferimentos nas duas pernas, que arruinou seus planos de competição para este ano. Felizmente, Pietro está bem, e descansando em recuperação para voltar o mais breve possível às competições, possivelmente em julho, ou no mais tardar em agosto. Agora é torcer por um bom desempenho de nossos pilotos na classificação para a Indy500.


A Formula-E também acelera forte neste sábado, com a etapa de Berlim, a ser disputada no circuito montado dentro do aeroporto desativado de Tempelhof. Na pista, Jean-Éric Vergne defende sua liderança frente a Sam Bird, o vice-líder. O canal Fox Sports 2 exibe a corrida ao vivo a partir do meio-dia, horário de Brasília.
Mapa do traçado do circuito de Tempelhof, onde teremos o eprix de Berlim na F-E.

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