sexta-feira, 4 de maio de 2018

BALANÇO DO AZERBAIJÃO

No pódio do GP do Azerbaijão, apenas Sergio Pérez sorria pra valer. Lewis Hamilton, o vencedor, sentia pelo azar que vitimou seu companheiro de equipe Valtteri Bottas nas voltas finais, enquanto Kimi Raikkonen estava sendo... simplesmente Kimi Raikkonen...

            Quatro corridas do campeonato 2018 da Fórmula 1 disputadas, e apenas uma abaixo das expectativas de competição. A temporada está saindo melhor que a encomenda, e parece prometer muitas surpresas, porque em todas as etapas alguma coisa inesperada acontece, e vira quase tudo de cabeça para baixo. Em Baku, domingo passado, no Grande Prêmio do Azerbaijão, não foi diferente. Tal como a corrida do ano passado, a prova deste ano foi recheada de emoções e disputas, com direito a um final dramático e até inesperado, e onde vimos a Red Bull se autoeliminar da corrida por erros de todos: seus pilotos, e do próprio time! E isso tornou as poucas voltas restantes eletrizantes, em uma corrida que desde o início já mostrava que poderia ser muita coisa, menos monótona.
            Logo de cara, Kimi Raikkonen e Stevan Ócon se estranharam em uma disputa de posição, com azar maior para o piloto da Force India, que ficou por ali mesmo, enquanto o finlandês da Ferrari teria de ir ao box, para trocar pneus e o bico avariado do carro, e o resultado só não foi pior porque, com o Safety Car na pista, Kimi voltou sem perder muito tempo no final do pelotão, de onde poderia tentar uma recuperação, haja vista a performance superior da Ferrari em ritmo de corrida, como Sebastian Vettel demonstrava, abrindo vantagem gradualmente de seus perseguidores sem forçar muito aparentemente. Kimi, aliás, só não largou mais à frente porque errou no treino de classificação, ao quase bater em uma curva no Q3, pois vinha rápido o suficiente para superar Vettel e quem sabe largar na pole.
            Quem também disse adeus à prova prematuramente foi Sergey Sirotkin, que acabou prensado por Nico Hulkenberg e esbarrou em Fernando Alonso. O resultado foi a Williams do russo ficar com a suspensão dianteira esquerda avariada, e encostar na curva seguinte. Fernando Alonso também teve seu calvário: ficou com dois pneus furados do mesmo lado e conseguiu se arrastar até os boxes, mesmo com o carro danificado, para trocar pneus e bico, e voltar para a corrida. Todo mundo imaginava que, depois de três corridas na zona de pontuação, era hora do espanhol ter um dia sem expectativas. Mas, tal como Raikkonen, o espanhol não perdeu tanto tempo assim, e voltou no final do pelotão para contradizer as previsões do mais pessimista dos torcedores sobre as possibilidades do piloto da McLaren na corrida.
            E as surpresas ainda vinham depois da relargada, mostrando que a corrida ainda teria muito o que mostrar. Nico Hulkenberg, quem diria, erraria feio e acertaria o muro de leve, detonando um pneu traseiro e ficando fora de combate. Até Carlos Sainz Jr., com a outra Renault, se empolgava e fazia a dupla da Red Bull comer sua poeira no início da prova. Na frente, as coisas não mudavam muito: Vettel seguia firme na liderança, com a dupla da Mercedes logo atrás, abrindo do restante dos competidores, mas sem que Valtteri Bottas ou Lewis Hamilton parecessem capazes de destronar Sebastian do primeiro lugar. Mas lá atrás, o ambiente era mais acirrado, com Kimi Raikkonen fazendo uma recuperação interessante, enquanto outros pilotos até então completamente apagados no ano fazendo um corridão, como Lance Stroll, Charles LeClerc, Romain Grosjean, e Sergio Pérez. Isso para não mencionar o duelo homem a homem entre Max Verstappen e Daniel Ricciardo durante toda a corrida, com o australiano mostrando mais ritmo que o holandês, mas não conseguindo se livrar do companheiro de equipe à sua frente devido à sua resistência férrea na defesa de sua posição. Ambos já haviam até trocado de posição na pista, com direito a algumas esfregadas, mas a luta seguia limpa e legal até ali, para delírio da galera que curte velocidade. Mais atrás, Pierre Gasly e Kevin Magnussem também se estranhavam na pista, com direito a algumas esfregadas um no outro que mais tarde, acabariam até influindo no resultado final da corrida, mas quem poderia imaginar isso naquele momento?
Com dois pneus furados e o assoalho do carro danificado, Fernando Alonso ainda conseguiu chegar ao box, e voltar para a corrida e marcar pontos. O espanhol vem aproveitando todas as oportunidades que surgem à sua frente ao volante de uma McLaren ainda devendo em performance.
            O melhor de tudo é que os times pareciam não se entender direito com seus pneus, que não esquentavam adequadamente no clima frio desta época na capital do Azerbaijão, ainda relativamente frio. Mas também era uma faca de dois gumes: como ninguém conseguia esquentar direito seus compostos, todo mundo estava na mesma, e a baixa temperatura também fez os pneus durarem muito mais do que todos imaginavam, com as melhores voltas sendo conseguidas em uma altura onde ninguém imaginava ver os compostos rendendo tanto. Se alguém pensava em parar duas vezes, todo mundo ia ficar mesmo só em uma parada única, e ainda assim para cumprir o regulamento de ter de usar dois compostos diferentes na corrida, pois pareciam que poderiam ir até a bandeirada sem necessidade de trocar os pneus.
            Daniel Ricciardo e Max Verstappen continuavam com seu pega legal, e o australiano, com muito custo, superou Verstappen, e já começava a abrir vantagem, quando foi para sua troca de pneus. Só que quando Max foi trocar, ele conseguiu voltar na frente, uma vez que, com pneus novos, perdeu performance pela dificuldade de esquentar os compostos rapidamente. A disputa entre os dois pilotos ganhava um novo round, com Daniel partindo para o ataque, mesmo com o carro um pouco mais lento. E aí, chegamos ao momento que mudou a corrida: Daniel embute no parceiro na reta, tenta a ultrapassagem, e ambos acabam batendo e saindo da corrida. O duelo empolgante entre ambos terminava da maneira que muitos temiam, dada a fama de Verstappen de não aliviar nas disputas de posição, e costumeiramente mexer seu carro por vezes mais do que o permitido.
O acidente entre os dois pilotos da Red Bull deu muito o que falar, e isso não vai terminar por aqui... O ambiente dentro da escuderia anda tenso.
            A nova entrada do Safety Car mudou o panorama da prova: quem ainda não havia parado para fazer seu pit stop correu para os boxes, caso de Bottas e Alonso. E até quem já havia parado resolveu arriscar para pneus mais macios, a fim de dar tudo por tudo nas voltas finais, e conseguir crescer na prova, como Raikkonen, e o próprio Vettel, que havia perdido a liderança para Bottas no pit stop do finlandês com o Safety Car. Mas as emoções ainda estavam longe de acabar: Romain Grosjean, que fazia uma corrida para lavar a alma no ano e já vinha em 6º, bateu sem querer em um botão do volante e fez as rodas traseiras bloquearem, indo bater no muro... Durante o período do Safety Car. O piloto ficou completamente desolado, e a corrida demoraria um pouco mais a ser retomada. Faltando quatro voltas, a bandeira verde veio, e aí o pau comeria solto na pista. Todo mundo junto, e quase todo mundo com pneus novos. Era tudo ou nada.
            Para Vettel, foi com essa determinação que atacou logo ao fim da bandeira amarela, e perdeu o ponto de freada. O alemão quase segue reto, mas perde a tangência, e acaba superado não apenas por Bottas, mas por Lewis Hamilton, e Kimi Raikkonen. E ainda veria Sergio Pérez embutir em sua traseira e lhe tomar a posição, caindo para 5º lugar. Um bom prejuízo. Mais atrás, uma turma animada tentava participar da festa: Carlos Sainz Jr., Charles LeClerc, Fernando Alonso, e até Lance Stroll. Mas o drama final viria na frente: Bottas passou sobre alguns detritos na reta, e teve um pneu traseiro furado, dando praticamente adeus à vitória, e à corrida. E isso a duas voltas do final. Ninguém acreditava! Hamilton, então em segundo, rumou para o seu primeiro triunfo, e o da Mercedes, na temporada. Um final emocionante de uma corrida cheia de surpresas do começo ao fim. E, imaginem só: o detrito que furou o pneu do carro foi finlandês estava esquecido na pista, oriundo do toque entre Gasly e Magnussem, muitas voltas antes. Mais inacreditável ainda, por ter vitimado apenas Bottas, e muitas voltas depois. Não dá para explicar como os demais pilotos acabaram tendo a sorte de evitar furar o pneu antes de Valtteri.
            De vice-líder, Hamilton é agora o novo líder do campeonato, com 4 pontos de vantagem sobre Vettel. Bottas, que poderia ter assumido a liderança, ficou onde estava, mas sendo superado por Raikkonen, que pela segunda prova consecutiva termina melhor que Vettel, aproximando-se paulatinamente do alemão na classificação. E Ricciardo e Verstappen ficam onde estão. E palmas para LeClerc, que conseguiu uma notável classificação com a Sauber, deixando Marcus Ericsson no chinelo. Outra grande comemoração efusiva foi de Pérez, voltando ao pódio, e dando esperanças de dias melhores à Force India, que começou mal o ano. Até Stroll teve o que comemorar, dando os primeiros pontos do ano para uma problemática Williams que ainda ocupa a lanterna do Mundial de Construtores. E mais um resultado surpreendente de Fernando Alonso, que mesmo com o carro danificado, aproveitou-se do Safety Car no momento certo, e fez mais um 7º honroso lugar, marcando pontos novamente, e ajudando a McLaren a se manter em um ainda irreal 4º posto no mundial. E Brendon Hartley também comemorou o seu primeiro ponto na F-1, com o 10º lugar na bandeirada.Todo mundo, ou melhor, quase todo mundo teve o que comemorar. Mas duvido que Bottas, Grosjean, ou Verstappen ou Ricciardo tenham boas lembranças deste domingo, que mostrou mais uma corrida cheia de opções e eventos inesperados. Nem dá para acreditar que a primeira corrida em Baku, em 2016, tenha sido a prova mais maçante daquele campeonato. Algumas coisas não dá para entender mesmo, por mais que se tente... E muitas vezes nem é preciso... Apenas se aproveite o momento...
Valtteri Bottas vinha firme para vencer a corrida,quando teve o pneu furado a duas voltas do fim. A surpresa final de uma corrida cheia de acontecimentos...
            E quem tem mais culpa no acidente que eliminou a dupla da Red Bull da corrida? Pelo histórico, Verstappen tem mais culpa no cartório, até porque, na tentativa de ultrapassagem por parte de Ricciardo, o holandês mais uma vez fez dois movimentos para bloquear o companheiro de equipe e impedir que ele passasse, com a segunda manobra sendo extremamente sutil, mas dando para ver claramente que quando Ricciardo tenta mudar para a esquerda, o carro de Verstappen vem para o lado também. Sem ter para onde ir, e já embutido no vácuo do carro de Max, Daniel não conseguiu evitar a colisão, já que estava muito próximo. Ricciardo também tem parcela de culpa por saber como Verstappen costuma agir, no limite da legalidade possível, e às vezes sendo até sujo, como vimos em Spa-Francorchamps em 2016, quando ele quase ocasionou um acidente com Kimi Raikkonen. Dá para ver o segundo movimento, bem sutil, quando Verstappen, após bloquear a passagem de Ricciardo pela direita, volta paulatinamente para a esquerda. Ricciardo devia ter tentado a ultrapassagem por fora, e tentar dar um “xis” no holandês na freada da curva. Faltou um pouco de paciência para o australiano, que não costuma cometer um erro desse tipo, mas a maior parcela da culpa ainda cabe a Max, de quem poderia até se esperar tudo.
            Fica ainda pior se levarmos em conta o que Vettel tentou depois na relargada, e deu errado, que evidencia também a falta de malícia por parte de Verstappen: não tivesse dado a sutil fechada em Daniel por dentro, o australiano até poderia ter feito a ultrapassagem, mas com certeza não faria a primeira curva direito, e certamente perderia a posição novamente, tendo de começar tudo de novo, mas com o ônus de fritar os pneus e comprometer sua eficiência. Os comissários optaram por não punir os pilotos, até porque a pior punição eles já haviam tido: o abandono da prova. Mas pior é a atitude passiva por parte da Red Bull quanto às estripulias de Verstappen. O time preferiu lavar a roupa suja dentro de casa, em Milton Keynes, mas alguma providência terá de ser tomada. Verstappen é um talento imenso, mas seu estilo extremamente duro nos duelos, fora a propensão a se meter em confusão está fazendo a Red Bull e principalmente Max a perder muitos resultados potenciais. O que dizer do exemplo da China, quando ele saiu da pista na caça a Lewis Hamilton, devido ao excesso de impetuosidade, e mesmo com este sinal de que deveria tomar um pouco de cuidado, ele continuou no ataque com tudo, e depois cometeu um erro ainda mais primário, atingindo Sebastian Vettel numa freada de curva, e estragando ainda mais sua corrida, e levando junto a de Vettel.
            O estilo arrojado de Verstappen faz a alegria dos torcedores, e ninguém quer que ele deixe de ser arrojado. Mas, tão importante para os times como ser um piloto combativo e determinado, é entregar resultados, e na atual temporada, Max vem colecionando problemas em todas as provas até agora. Mas, a bem ou mal, o incidente entre os dois pilotos da escuderia austríaca foi o ponto chave que deixou uma corrida que já estava acima da média ficar alucinante nas voltas finais. Para Daniel Ricciardo, é um ponto fora da curva em sua carreira de piloto na F-1. O australiano não é de se meter em confusões, e raramente erra, possuindo uma visão de corrida extremamente apurada e entregando resultados sempre que pode, e muitas vezes surpreendendo a todos, como ocorreu na China, onde fez valer a estratégia de uso dos novos pneus nas voltas finais.
            Finda a corrida de Baku, todo mundo agora fica na expectativa para a próxima prova, em Barcelona, onde todos os times deverão promover atualizações significativas em seus carros. Até aqui, a Ferrari tem se mostrado o melhor carro, e só não está liderando os campeonatos de pilotos e de construtores porque, assim como a Mercedes, também teve seus percalços pelo caminho. E o time alemão, que esperava dominar mais uma vez a disputa, conseguirá resolver os problemas demonstrados pelo seu carro no trato com os pneus, e retomar o controle da disputa? E a Red Bull, que sempre demonstrou uma capacidade notável de evolução de seu carro ao longo do campeonato, conseguirá chegar junto e embolar a disputa, uma vez que, apesar dos problemas, mostrou estar muito mais próxima do duo Ferrari-Mercedes do que nos últimos anos?
            E não nos esqueçamos da renhida disputa no pelotão intermediário, onde os duelos tem sido bons, e sem que algum time consiga capitalizar sua posição, onde já tivemos Hass, Renault, e até a Toro Rosso surpreendendo em algum momento. Falta a McLaren engrossar a luta, o que promete fazer com mais consistência a partir da Espanha. Será? Veremos quem vai conseguir dar sua melhor cartada na próxima corrida. E que o campeonato continue mostrando emoções a rodo...
Em 2016, na estréia da F-1 em Baku, Sergio Pérez subiu ao pódio. E este ano, ele voltou a repetir o feito, para alívio da Force India, que vive dias de aperto financeiro...

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