quarta-feira, 3 de janeiro de 2018

FLYING LAPS – DEZEMBRO DE 2017



            E chegamos a 2018, um ano que promete grandes emoções no mundo da velocidade. Verdade que essa frase nem é lá muito original, afinal, todo início de um novo ano sempre é cercado de grandes expectativas e de que as coisas corram melhores do que foram no último ano. Mas faltou mencionar alguns acontecimentos ocorridos no último mês de 2017, e que não deu para comentar nas colunas regulares, e por isso, lá vamos nós para a sessão Flying Laps, com notas rápidas a respeito de dezembro último, praticamente dedicada à Formula-E, que iniciou seu novo campeonato nas ruas de Hong Kong com boas expectativas de disputas, até com alguns resultados inesperados, mas muito bem-vindos para deixar a categoria mais excitante e imprevisível. Portanto, uma boa leitura, e até a sessão Flying Laps do mês que vem...
 

O fim de semana da rodada dupla dando início à quarta temporada da Formula-E em Hong Kong foi bem movimentado. Na primeira prova, Jean-Éric Vergne conquistou a pole-position, e largou na frente para tentar a vitória e iniciar o campeonato com o pé direito. Mas atrás, houve um enrosco entre alguns competidores, que acabou bloqueando a pista, e ocasionando uma bandeira vermelha, necessária para tirar os carros, e reparar os aparatos de segurança, atrasando o desenrolar da corrida em cerca de meia hora. Com tudo consertado e carros de volta ao grid, desta vez correu tudo bem, e o público pôde acompanhar as disputas dos carros elétricos no apertado circuito citadino de Hong Kong. Vergne disparou na frente, mas Sam Bird sempre esteve na sua cola, tentando inúmeras vezes ultrapassar o piloto da Techeetah, até conseguir o feito, e assumir a dianteira da prova. Mas o inglês da Virgin cometeu uma gafe no box, ao parar para a troca de carros, errando a entrada de seu box, e quase atingindo membros da equipe e a tenda da escuderia. Bird voltou à pista e começou a ganhar bastante vantagem, impondo um ritmo que nenhum dos outros competidores conseguia igualar. Até que sofreu uma punição pela lambança no box, tendo de fazer um drive through, passagem obrigatória pelos boxes. Mas Bird tinha aberto tanta vantagem que conseguiu voltar à pista ainda na liderança, e voltou a abrir distância para Vergne, que teve que passar a se preocupar com Nick Heidfeld, da Mahindra, que partiu para cima do francês, tentando de todas as formas uma ultrapassagem, com direito até alguns toques entre ambos, que por pouco não resultou em um acidente. Bird cruzou a linha de chegada com mais de 10s de vantagem para Vergne e Heidfeld, que fecharam o pódio. Em sua estréia na equipe Jaguar, Nelsinho Piquet começou bem o ano, fazendo uma corrida firme, e terminando em 4º, e mostrando serviço no novo time logo de cara. Lucas Di Grassi e Sebastien Buemi, campeões das últimas temporadas, não conseguiram começar bem a nova temporada. O brasileiro da Audi ABT vinha num bom ritmo, e embora parecesse fora da luta pela vitória, marcaria pontos, até que teve um problema numa das rodas, devido a um toque, e precisou trocar de carro antes da hora. Com isso, Lucas caiu lá para trás, mas diferente da temporada passada, não conseguiu fazer uma corrida de recuperação, e foi apenas o 18º. Já Buemi vinha firme também para marcar pontos, e quem sabe, até lutar por um lugar no pódio, mas na hora da troca de carro, seu monoposto “apagou” no pit line, fazendo-o perder muito tempo. Voltando à pista, o piloto da e.dams mostrou um ritmo forte, mas o atraso do tempo perdido foi muito grande, conseguindo terminar em 12º lugar, também sem conseguir marcar pontos. A e.dams, aliás, não teve muito o que comemorar na primeira corrida, com Nicolas Prost terminando apenas em 10º, e marcando apenas um ponto, muito pouco para o time que foi campeão de equipes nas temporadas passadas.


A segunda corrida da F-E em Hong Kong foi tão agitada quanto a primeira. E com um fato inusitado: as luzes de largada falharam, obrigando a organização a mandar o safety car à pista para alinhar os carros e liberar a largada. Felix Rosenqvist, da Mahindra, havia feito a pole-position, e ele largou muito bem, abrindo uma boa distância do resto do pelotão. Tudo para errar na freada do grampo ao fim da reta, e deixar Edoardo Mortara, da Venturi, assumir a liderança e abrir vantagem sobre os demais. Rosenqvist retomou a corrida e começou a recuperar o terreno perdido, enquanto outros pilotos iniciavam seus duelos e viviam também seus problemas. Depois da boa prova na primeira corrida, Nelsinho Piquet foi perdendo rendimento no decorrer da corrida, terminando em 13º lugar, vendo seu parceiro Mith Evans fazer uma boa prova, onde acabou inicialmente em 4º lugar. Foi outra corrida complicada para Sebastien Buemi, que teve de sair lá de trás, para tentar uma corrida de recuperação que não rendeu o que o suíço esperava, terminando apenas em 11º. Lucas Di Grassi teve outra prova atribulada, e em momento algum conseguiu lutar pelas primeiras posições, cruzando a linha de chegada em 15º. Na liderança, Mortara parecia pronto para vencer logo em sua segunda corrida na categoria, até que a duas voltas do fim, também rodou sozinho, e acabou superado por Daniel Abt, em excelente prova, e por Felix Rosenqvist, que vinha numa forte toada recuperando o terreno perdido com sua própria rodada no início da prova. Jean-Éric Vergne e Sam Bird, que duelaram pela liderança na primeira corrida, voltaram a se enfrentar novamente na segunda prova, e desta vez o francês terminou na frente, em 5º, com Bird em 6º. Na ponta, a duas voltas do final, Daniel Abt seguiu firme para cruzar a linha de chegada em primeiro, e averbar a sua primeira vitória na categoria. O alemão comemorou muito, mas algumas horas depois, veio um verdadeiro balde de água fria: ele acabou desclassificado, devido a um código de barras no equipamento do seu monoposto ser diferente daquele verificado na inspeção técnica antes da corrida. Com a perda da vitória por parte do piloto da Audi ABT, Felix Rosenqvist acabou herdando a vitória, e todos os pilotos ganharam uma posição na sequência, inclusive Mith Evans, que havia sido o 4º colocado, tornou-se o 3º, conseguindo assim o primeiro pódio da equipe Jaguar. Edoardo Mortara, apesar da rodada, subiu ao pódio, antes em 3º, e subindo para 2º lugar. Buemi, por sua vez, subiu para a 10ª posição, marcando seu primeiro ponto no novo campeonato.


Com os resultados da rodada dupla da F-E em Hong Kong, o novo campeonato da F-E começa com Sam Bird na liderança da competição, com 35 pontos, apenas dois a mais que Jean-Éric Vergne, com 33. Felix Rosenqvist vem logo atrás, com 29 pontos. Edoardo Mortara é o 4º colocado, com 24 pontos. Mith Evans e Nick Heidfeld vem logo atrás, empatados em 15 pontos. Nelsinho Piquet foi o único brasileiro a marcar pontos, estando em 7º, com 12 pontos, já que Lucas di Grassi ficou sem conseguir pontuar nas duas corridas. Na classificação das escuderias, a Mahindra ocupa a liderança, com 44 pontos, seguida de perto pela Virgin com 41 pontos. A Techeetah vem em 3º, com 33 pontos. A e.dams, campeã por times na temporada passada, é apenas a penúltima colocada, com 7 pontos, à frente apenas da Dragon, que não conseguiu marcar nenhum ponto nas duas provas disputadas em Hong Kong. A Audi ABT, com todos os problemas enfrentados, é a 6ª colocada, com apenas 11 pontos. A quarta temporada da competição de carros monopostos elétricos começa com uma cara diferente do que todos esperavam, e mostrando que os favoritos dos últimos anos poderão ter um ano bem complicado pela frente, tendo de encarar uma nova turma de pilotos andando nas primeiras colocações, o que promete bons duelos e disputas na luta pelo título da nova temporada. Aguardemos as próximas corridas...


A desclassificação de Daniel Abt na segunda corrida em Hong Kong já é a terceira vitória perdida para a escuderia desde que o campeonato da F-E começou a ser disputado. Na primeira temporada, Lucas Di Grassi venceu o ePrix de Berlim, no circuito de Tempelhoff, pelo time ter mexido na asa dianteira de seu monoposto, uma atitude proibida pelo regulamento. Não fosse isso, o brasileiro muito provavelmente teria sido campeão da categoria em seu primeiro ano, quando terminou em 3º lugar, 11 pontos atrás de Nelsinho Piquet, que foi o campeão. Na segunda temporada, mais uma vitória de Di Grassi acabou anulada por outra desclassificação, desta vez no ePrix da Cidade do México, onde um dos carros do brasileiro na corrida acabou apresentando peso abaixo do limite mínimo, e levando novamente à perda de mais 25 pontos, o que novamente foi crucial para que Lucas perdesse a disputa pelo título, decidida por apenas 1 ponto a favor de Sebastien Buemi. E agora, foi a vez de Daniel Abt, que teve uma excelente performance durante todo o fim de semana em Hong Kong, acabar sofrendo o mesmo destino. Todas estas desclassificações, ainda mais em provas onde seus pilotos obtiveram a vitória, joga uma mancha na reputação da escuderia, que poderia ter até vencido todos os campeonatos da F-E já disputados, não fossem estes percalços, nos quais seus pilotos em nada tiveram culpa, uma vez que suas performances na pista foram independentes das falhas apuradas nas inspeções técnicas. Agora elevada a time oficial de fábrica, a Audi ABT precisará se esforçar mais para evitar que tal acontecimento se repita, e possa mais uma vez comprometer o desempenho de seus pilotos no campeonato...


Com o cancelamento da etapa brasileira da F-E, marcada para o mês de março, a categoria tratou de se mexer e arrumar uma corrida substituta para a data, e conseguiu o retorno da cidade de Punta Del Este, no Uruguai, que já integrou o calendário da competição nas duas primeiras temporadas do certame de carros elétricos. Assim, o calendário continua com duas etapas na América do Sul, com a corrida de Santiago, no Chile, e agora, com a cidade uruguaia. A Argentina, por obras no local onde foi realizada a corrida em Buenos Aires, não faz parte da atual temporada, devendo retornar somente no próximo campeonato. Em tese, a corrida brasileira também deverá ocorrer na próxima temporada, mas conhecendo as palhaçadas que ocorrem por aqui, alguém acredita que irá de fato ocorrer?


A F-E, aliás, sofreu outro revés neste mês de dezembro: a nova prefeita da cidade de Montreal, onde a categoria disputaria sua rodada dupla de encerramento do atual campeonato, rescindiu o contrato de realização da corrida, alegando prejuízos financeiros deflagrados pelas corridas realizadas em 2017. A nova prefeita, que venceu a eleição impedindo a reeleição do prefeito anterior, analisou o contrato de realização da corrida, com vários procedimentos que não davam nenhuma transparência a respeito da realização da corrida no que tange a obras e gastos. Foram tentadas negociações para tentar tirar a corrida de dentro das ruas da cidade, uma vez que vários cidadãos foram contrários à realização da corrida. As negociações, inclusive de âmbito financeiro, não foram bem-sucedidas, com a direção da F-E a manter uma postura irredutível em relação aos termos acordados, que segundo a nova prefeita, estiveram longe de serem os melhores para os interesses da cidade de Montreal, e que ela tem de zelar pelo orçamento público, direcionando-o para atividades que verdadeiramente beneficiem a população da maior cidade do Canadá. É uma pena isso ter acontecido... O circuito montado em Montreal foi o melhor que já vi na categoria até agora, com um bom traçado que permitia disputas, e um tamanho bem razoável. Sua saída é uma perda a ser lastimada para os fãs de corridas e para a F-E, porém, se as negociações levadas acabo pelo ex-prefeito não foram bem-feitas como a nova prefeita de fato afirma, e isso ocasionou prejuízos que em tese a cidade não deveria suportar, é necessário fazer uma apuração criteriosa, e ver onde e como os procedimentos deveriam ter sido realmente efetuados, de modo que ambas as partes saíssem bem no acordo, e não apenas com um dos lados a suportar os ônus maiores de um eventual fracasso financeiro das corridas. E também levando-se em conta o que os moradores da área onde foi montado o circuito pensavam a respeito, fazendo o devido equacionamento de suas reinvindicações com os da cidade para realizarem as corridas. Pelo visto, não é apenas aqui no Brasil que certas coisas são feitas de forma irresponsável e danosa aos cofres públicos...



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