Dan Gurney, em 2010. Piloto foi um dos poucos a conseguir vencer na F-1 pilotando o próprio carro, ao lado de Jack Brabham e Bruce McLaren. |
O mundo da velocidade
perdeu um de seus grandes nomes da história no último dia 14 de janeiro quando,
aos 86 anos, Dan Gurney faleceu nos Estados Unidos, vítima de pneumonia, deixando
esposa e cinco filhos. Dan recebia ali a bandeirada final de toda uma vida
dedicada ao automobilismo, como piloto e especialmente como construtor. Um nome
que a história das corridas certamente guardará para sempre.
Nascido Daniel Sexton
Gurney, em 1931, o jovem rapaz desde cedo iniciou-se na mecânica de carros, já
que tinha três tios que eram engenheiros formados no Instituto de Tecnologia de
Massachussets, o famoso MIT. Apesar de correr desde os 19 anos, ele precisou
cumprir com o serviço militar, tendo de lutar na Guerra da Coréia. Com o fim do
conflito, e de volta aos Estados Unidos, aos 26 anos, Dan fez sua primeira
corrida como piloto realmente profissional, em Riverside, na Califórnia, onde
impressionou pelo desempenho, conseguindo superar pilotos mais tarimbados da
época, e com melhores carros. Dali, foi direto para as 24 Horas de Le Mans,
onde também conseguiu mostrar seu talento, mesmo sem terminar a corrida. E isso
acabou por leva-lo para a Fórmula 1, onde estrearia em 1959, e como piloto da
Ferrari. Foram 4 provas, onde conseguiu marcar 13 pontos, um desempenho nada
vulgar. Mas a equipe italiana não conseguiu se entender com ele para continuar
a parceria, e em 1960, ele se mudou para outra escuderia, onde não conseguiu
bons resultados, mas partindo em 1961 para defender a Porsche, em sua primeira
incursão na categoria.
E aí o talento de Dan
mostrou suas caras: ele subiu ao pódio 3 vezes em 2º lugar, e terminou o ano em
4º no campeonato, com 21 pontos. Em 1962, ainda pilotando para os alemães, ele
terminou o ano em 5º, com apenas 15 pontos, mas venceu sua primeira corrida, em
Rouen-Les-Essarts, palco do GP da França naquela temporada. Nas três temporadas
seguintes, Gurney integrou o novo time formado por Jack Brabham, terminando o
ano de 1963 com 19 pontos e o 5º lugar no campeonato. Em 1964, ele marcaria
novamente 19 pontos na competição, mas venceria os GPs da França e do México.
Seu melhor ano na F-1, contudo, seria o seu último defendendo o time do velho
Jack: Dan terminou 1965 com 25 pontos e sendo novamente o 4º colocado ao fim do
ano. Para as temporadas seguintes, o piloto estadunidense partiria para o
desafio de correr com o seu próprio carro, seguindo o exemplo do amigo e
ex-patrão Jack Brabham, e de Bruce McLaren, que também estrearia seu próprio
carro de competição em 1966.
Dan Gurney ao volante de seu Eagle durante o GP da França de F-1 de 1967. |
Associado a Carroll
Shelby, Dan criou a All American Racers, estreando então no GP da Bélgica de
1966. Competindo com o recém-criado modelo Eagle T1F, e também o modelo T1G, a
nova equipe entrou na pista inicialmente com motores Climax, substituídos
posteriormente pelos propulsores V12 da Weslake. Foi um ano difícil, com apenas
4 pontos marcados na competição, mas sem desanimar o entusiasmo de Gurney, que
em 1967, apesar das dificuldades, venceria sua 4º e última corrida na F-1, ao
triunfar no GP da Bélgica, no circuito de Spa-Francorchamps. Foi um triunfo que
se somava ao bom momento vivido uma semana antes, quando, em parceria com
ninguém menos do que Anthony Joseph Foyt, enfim vencera as 24 Horas de Le Mans,
onde acabou criando um gesto que se tornaria regra no automobilismo: o estourar
de champanhe no pódio, em comemoração à vitória. Com o triunfo na Bélgica,
Gurney se tornaria um dos poucos pilotos a vencer na F-1 pilotando o próprio
carro, feito já consagrado por Jack Brabham, e repetido em 1968 agora por Bruce
McLaren. Mas a pouca competitividade de seu carro tirava o brilho de sua
atuação, e assim, em 1969, sua equipe chegou ao fim na F-1.
Com 86 GPs, 4
vitórias, 3 poles e 133 pontos marcados, Dan Gurney despediu-se da F-1 em 1970,
ano em que também se aposentou como piloto. Mas, até esse momento, Dan pilotou
em muitas categorias, incluindo Nascar, IMSA, Indy, 500 Milhas de Indianápolis
e 500 Milhas de Daytona, entre outras. Foi duas vezes 2º colocado em
Indianápolis, em 1968 e 1969, e ainda 3º colocado em 1970, tendo disputado a
mítica prova do oval de Indiana em 9 ocasiões. Faltou-lhe um título, é verdade,
mas isso nunca impediu que ele tivesse muitos admiradores de seu talento.
Ao estourar o champanhe no pódio em sua vitória nas 24 Horas de Le Mans em 1967, Dan Gurney criaria um ritual que é seguido até hoje em todas as corridas mundo afora. |
Mas a introdução do
champanhe estourando no pódio não foi a única contribuição dele ao esporte:
Gurney também foi o primeiro piloto a competir com um capacete integral, em
substituição aos até então usados na época, que deixavam a face exposta, além
de ter introduzido uma peça na aerodinâmica dos carros que acabou apelidada de
“Gurney flap”. E, após pendurar o capacete, Gurney deu seguimento as atividades
da All American Racers, agora como uma empresa fabricante de carros de
competição, tendo produzido chassis para vários certames, entre eles protótipos
e carros para a antiga F-Indy, além de manter seu time competindo na categoria
de monopostos norte-americana. E seus bólidos conseguiram muitas vitórias. E,
se como piloto, Dan nunca conseguiu vencer a Indy500, os carros construídos por
ele lá triunfaram em 3 oportunidades, além de terem sido também campeões na
antiga F-Indy. Dan também foi um dos fundadores da CART, e manteve seu time
disputando a antiga Indy até meados dos anos 1980, retornando no fim da década
seguinte, quando a All American Racers fez suas últimas participações na então
chamada F-CART, competindo com motores Toyota equipando seus chassis que
continuavam a ser chamados de “Eagle” (Águia), nome que sempre caracterizou
seus bólidos, inspirado na ave símbolo dos Estaos Unidos. Depois do ano 2000,
Gurney viu que era chegada a hora de se aposentar das pistas, mas sempre esteve
acompanhando as notícias do mundo do esporte a motor, até recentemente.
Graham Hill (de bigode) conversa com Dan Gurney em Indianápolis, em 1966, prova que foi vencida pelo piloto inglês. |
Versátil como poucos,
Dan conseguia mostrar seu talento com os mais variados modelos de carros, e por
isso mesmo, tem um feito que ninguém igualou até hoje, que foi ter vencido
corridas na F-1, F-Indy, Nascar, e as 24 Horas de Le Mans. Na F-1, quando
perguntavam a Jim Clark, um dos maiores nomes da categoria nos anos 1960 quem
ele considerava temer como adversário nas pistas, era o nome de Gurney que Jim
citava, por reconhecer a capacidade do estadunidense na condução de um carro de
competição, e que para sua sorte, nunca dispôs de um bólido capaz de leva-lo
efetivamente a um título na F-1.
Aliás, algumas curiosidades
sobre a carreira de Dan na F-1: Jack Brabham criou seu próprio time de
competição em 1962, após ter sido bicampeão da categoria em 1959 e 1960. Mas
foi Dan Gurney o primeiro a vencer pela escuderia, em 1964, como já citado
acima, no GP da França daquele ano. Jack Brabham, o fundador do time, ficou em
3º lugar naquela prova, atrás ainda de Graham Hill, da BRM; o velho Jack só
venceria sua primeira corrida pilotando o próprio carro no mesmo GP da França,
em 1966, quando seria tricampeão correndo pelo seu próprio time, em um dos
melhores anos da escuderia com seu fundador no comando. A Brabham também seria
campeã de construtores em 1966, equipada com os motores Repco. No ano seguinte,
a Brabham repetiria ambas as conquistas, do campeonato de construtores e de
pilotos, mas desta vez com Denny Hulme sendo campeão, superando justamente o
“patrão” Jack Brabham, que terminou como vice-campeão naquela temporada. Uma
pena que, àquela altura, Dan já estivesse firme no comando do seu próprio time.
Se tivesse permanecido na Brabham, talvez finalmente tivesse tido a
oportunidade de fazer todo o seu talento brilhar na F-1.
Com o Eagle construído por Dan Gruney, Bobby Unser (acima) largou na pole-position das 500 Milhas de Indianápolis de 1972, mas acabou abandonando com problemas mecânicos. |
E antes disso, como
também já citado acima, e que poucos conhecem, é que a Porsche já competiu na
F-1 como equipe completa, construindo tanto chassi quanto motor, antes de
apenas ter sido fornecedora de motor para a McLaren nos anos 1980. Os alemães
alinharam seus carros no grid durante as temporadas de 1960 a 1964, disputando
um total de 33 GPs, onde obtiveram uma única pole, obtida no GP da Alemanha de
1962, e também uma única vitória, justamente conquistada por Dan Gurney, no GP
da França. Aliás, a etapa francesa parecia trazer sorte ao piloto, que obteve
lá metade de suas vitórias na F-1 (em 1962 e 1964), além de um 2º lugar, em
1961. Sem resultados à altura, a Porsche encerrou as atividades de seu time,
para somente conquistar um título na F-1 como fornecedora de motores para a
McLaren em 1984, repetindo o feito em 1985 e 1986.
Dan agora se junta a
seus velhos companheiros e amigos de competição que há muito já se foram desse
mundo, como Jack Brabham e Bruce McLaren, que estejam onde estiverem,
certamente deverão estar colocando muita conversa em dia, sobre os tempos que
dedicaram ao automobilismo em suas vidas. Descanse em paz, Dan. A “águia” encerrou
o seu vôo... E com muito do que se orgulhar, pelo que conseguiu realizar no
mundo do automobilismo em todos esses anos de atividades...
Já estamos a pouco mais de um mês
do início dos testes da pré-temporada da F-1, com seus oito míseros dias de
treinos, e as escuderias já começam a anunciar as datas de lançamento de seus
bólidos 2018. A McLaren fará a apresentação do seu novo chassi MCL33 no dia 23 de
fevereiro. Pelo seu lado, a Toro Rosso lançará o seu STR13 no dia 25 de
fevereiro, já em Barcelona, na véspera do início dos testes. E Ferrari e
Mercedes, as duas principais forças da categoria, já começam a duelar até mesmo
na apresentação dos carros, que serão feitas no mesmo dia, 22 de fevereiro, com
o time prateado iniciando a provocação ao time italiano, que havia marcado
primeiro a data da apresentação de seu novo carro de 2018. Nas próximas
semanas, os demais times deverão anunciar as datas de apresentação de seus
novos carros. Fica a perspectiva de os novos modelos terem personalidade, e serem
pelo menos elegantes. Mas, acima de tudo, fica a expectativa de como os bólidos
serão com o novo halo, equipamento de segurança que se tornou obrigatório nos
bólidos já nesta temporada, em que pese sua eficácia e praticidade ser
questionada, especialmente em caso de um acidente, onde a peça pode se tornar
um problema e não uma solução, dependendo de como ocorrer uma pancada que,
obviamente, esperemos que nunca aconteça...
Enquanto aqui no Brasil os fãs
poderão continuar assistindo, com algumas exceções, todas as corridas da F-1
2018 ao vivo pela TV Globo, em canal aberto, e ainda ter a opção de acompanhar
a transmissão em horário alternativo pela SporTV, na Itália, depois de muitos
anos, a RAI, que fazia a transmissão de boa parte do campeonato, deixará de
exibir as corridas, com exceção do GP da Itália. Quem quiser acompanhar as
corridas terá de assistir pela TV paga, através da SKY Itália, que já vinha
transmitindo as provas em canal fechado nos últimos tempos. De acordo com os
informes, a RAI não conseguiu chegar a um acordo com o Liberty Media, para
continuar transmitindo as provas da categoria. Confesso que essa é novidade,
pois em geral, nos seus últimos anos, era Bernie Ecclestone quem ditava os
valores dos contratos de transmissão, e em geral com tendências de alta. Muitos
imaginavam que, sob a nova gestão do Liberty Media, a situação pudesse ser mais
flexível, afinal, os americanos tinham uma visão de aumentar o alcance da categoria.
Pelo jeito, isso não será assim tão mais flexível e fácil de negociar como se
imaginava. E olha que ainda tem o caso do GP da Inglaterra, que ameaça pular
fora do calendário no ano que vem, se os valores do acordo de realização do GP
não forem renegociados... O Liberty Media trouxe um certo frescor à F-1 no ano
passado, promovendo uma pequena, mas bem-vinda, abertura da categoria, que era
tremendamente asséptica e fechada, com algumas atitudes muito elogiadas. Mas quem
achava que os problemas de comunicação e entendimento diminuiriam, melhor
tirarem o cavalo da chuva, pelo visto...
Mais um Schumacher iniciando
carreira automobilística nos monopostos. Depois de virmos Mick, filho de
Michael Schumacher, começar a competir na F-4, agora é a vez de David
Schumacher, filho do irmão caçula de Michael, Ralf, que aos 16 anos, irá
competir na F-4 dos Emirados Árabes Unidos. Os planos do piloto são de usar o
certame do Oriente Médio como preparação para disputar o campeonato alemão de
F-4. Ralf Schumacher nunca conseguiu ter na F-1 o mesmo destaque do irmão, que
foi o maior vencedor da história da categoria máxima do automobilismo. Em 180
GPs disputados entre 1997 e 2007, Ralf venceu apenas 6 provas, marcou 6 poles,
e acumulou 329 pontos. A disputa agora vai para a nova geração da família
Schumacher, com Mick e David disputando seus respectivos campeonatos. Se irão
chegar no futuro à F-1, é algo ainda incerto, já que ainda estão no início de
suas carreiras de monopostos, com alguma dianteira para Mick, mas não vai deixar
de ser uma comparação interessante ver o desempenho entre os dois primos no
mundo da alta velocidade, e ver se estarão à altura de seus pais, ou não.
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