Pois
é, já estamos encerrando o mês de novembro, e praticamente todos os grandes
campeonatos automobilísticos de 2017 já se encerraram, como a F-1 e a MotoGP. Portanto,
é hora de mais uma edição da Cotação Automobilística, a última do ano fazendo
uma avaliação do panorama geral dos acontecimentos do mundo da velocidade neste
mês, com minhas impressões e visão sobre os assuntos enfocados. Espero que
todos possam apreciar o texto, que segue abaixo no esquema tradicional de
sempre das avaliações: EM ALTA (caixa na cor verde); NA MESMA (caixa na cor
azul); e EM BAIXA (caixa na cor vermelho-claro). Uma boa leitura a todos, e até
a primeira edição da Cotação Automobilística de 2018, em fevereiro do ano que
vem...
EM ALTA:
Lewis
Hamilton: O piloto inglês conquistou o tetracampeonato, e agora está abaixo
apenas de Juan Manuel Fangio e Michael Schumacher na hierarquia de títulos da
F-1. Embora tenha os mesmos títulos de seu grande rival este ano, Sebastian
Vettel, os números de Lewis na pista já são muito mais vistosos, e ele larga
como favorito a igualar o piloto argentino na temporada de 2018, o que tem boas
chances de conseguir tornar realidade. Hamilton ainda igualou o feito de
Michael Schumacher em 2004, pontuando em todas as corridas da temporada, e
cometendo pouquíssimos erros durante o campeonato. Marcou os pontos possíveis
quando o carro não lhe permitia vencer, e nunca desistiu de lutar. Ele diz que
não tem como objetivo bater os números de Michael Schumacher, mas no ritmo em
que vai, se a Mercedes continuar competitiva, podem apostar que ele irá chegar
perto, e talvez até ultrapassar as conquistas de Schumacher. Só o tempo dirá...
Sebastian
Vettel: O piloto alemão bem que tentou, mas não conseguiu levar a Ferrari de
volta ao título. Mesmo assim, apesar de alguns erros, conseguiu levar o time
italiano a lutar pelo título, e liderou o campeonato durante mais da sua
metade, antes de ser superado de forma irresistível por Lewis Hamilton. Vettel
só pecou mesmo por perder a cabeça em certos momentos, e com isso passar uma
imagem de mau perdedor quando sentia a situação fugir ao seu controle, como
ocorreu em Baku. Mas na maior parte do tempo, sempre tentou dar o máximo de si,
e do que o equipamento lhe permitia. Em 2018, sua meta é estar novamente firme
na luta pelo título, e conquistar o tão sonhado pentacampeonato. Mas suas
chances serão potencializadas se a Ferrari conseguir lhe dar um carro
competitivo, que lhe permita bater seus adversários. Este ano, faltou pouco,
mas o time de Maranello acredita em boas perspectivas para a próxima temporada.
Marc
Márquez: O piloto da equipe oficial da Honda na MotoGP chegou ao seu 4º título
na classe rainha do motociclismo, aumentando sua coleção de recordes. Com 4
títulos conquistados em 5 temporadas, ninguém duvida que o piloto espanhol é um
fenômeno, e o fato de estar garantido em um dos melhores times do grid só
confirmam que seus números, já impressionantes, irão crescer ainda mais nos
próximos anos. Marc soube manter a cabeça fria quando precisava, e lutou dando
o melhor de si nas corridas, superando seus adversários, mas não perdendo a
cabeça quando era derrotado, como aconteceu em pelo menos duas provas nesta
temporada, quando acabou superado pelo rival Andrea Dovizioso na última volta,
perdendo a vitória. Márquez mais uma vez deixou seu parceiro de time Dani
Pedrosa comendo poeira na equipe Honda, mostrando a imensa diferença de talento
entre eles, e tem tudo para se tornar o maior nome da MotoGP em toda a sua
história, a persistir nesta toada nos próximos anos. Nem seus adversários
duvidam disso...
Andrea
Dovizioso: O piloto da Ducati conseguiu lutar pelo título da MotoGp até a
última etapa, e venceu impressionantes 6 corridas na temporada, igualando a
marca do campeão Marc Márquez, que só conquistou o título na corrida final, em
Valência. Quando todos esperavam que Jorge Lorenzo comandasse a Ducati na luta
para tentar o título, foi o italiano “da casa” quem surpreendeu e deu luta à
poderosa Honda, superando a até então tradicional rival Yamaha, desalojando a
dupla do time dos três diapasões da disputa pelo título. Dovizioso lutou muito
em várias corridas, conseguindo pelo menos duas vitórias arrancadas no extremo
da competição, quase na linha de chegada, em disputas que levantaram o público
nas arquibancadas e em frente à tela das TVs mundo afora, mostrando que no
mundial de motos a luta pela vitória só terminava mesmo na bandeirada.
Dovizioso só não foi perfeito porque acabou tendo um desempenho abaixo do
esperado em algumas corridas, mas é de se salientar que a própria Ducati não
estava tão à altura da rival Honda quanto esperava, e isso se refletiu em
algumas performances de Andrea, que terminou o ano como vencedor moral, por ter
ido muito além do que todos, especialmente a própria Ducati, esperava dele. E
firme para começar 2018 mais forte do que nunca...
Daniel
Serra: O filho do tricampeão da Stock Car Daniel Serra parte para a etapa final
da competição como grande favorito para finalmente conquistar o título da
categoria. Com 4 poles e 4 vitórias na temporada, o piloto da equipe
RC/Eurofarma lidera a classificação com 15 pontos de vantagem sobre Thiago
Camilo, da equipe Ipiranga. A vantagem pode parecer pouca, até porque 60 pontos
estarão em jogo, e qualquer vacilo poderá por tudo a perder, até porque ambos
os pilotos buscam o seu primeiro título, e a disputa tem tudo para ser um vai
ou racha na pista de Interlagos. No balanço geral da temporada, Serra fez o
dobro de poles e também venceu o dobro de corridas de Camilo, que apostou firme
na constância para chegar como único desafiante ao título de Daniel na corrida
final. Com o pai tendo sido campeão da Stock nas temporadas de 1999, 2000, e
2001, Daniel quer dar prosseguimento ao bom retrospecto do pai e ser também
campeão da Stock. Mas nada de comemorar antes da hora, afinal, favoritismo não
vence corrida na véspera, e Daniel promete se aplicar a fundo para conquistar o
troféu de campeão da maior (ou única, quase) categoria do automobilismo nacional...
NA MESMA:
Valtteri
Bottas: O piloto finlandês venceu a última corrida do ano, em Abu Dhabi, mas a
imagem que ficou mais forte foi ter largado na frente em Interlagos, e ter
perdido a corrida para Sebastian Vettel, sem conseguir ameaçar o alemão da
Ferrari durante toda a prova brasileira, enquanto Lewis Hamilton largou do box
e chegou em 4º, a poucos segundos do vencedor, após uma recuperação decidida e
firme. Com os percalços sofridos pela Ferrari em algumas corridas, esperava-se
que Bottas pudesse até conquistar o vice-campeonato, mas o finlandês não
conseguiu reagir à altura do que esperavam, tendo tido performance muito
inferior à de Hamilton em várias corridas, desperdiçando oportunidades em que
poderia ter obtido melhores resultados. O ano de Valtteri em um time de ponta
não pode ser considerado de todo ruim: ele venceu corridas e fez poles, e em
determinado momento, até deu a entender que poderia entrar no meio da luta pelo
título entre Hamilton e Vettel, mas acabou vacilando em algumas corridas, e com
isso, perdeu terreno para seu companheiro de equipe, que simplesmente
desapareceu na sua frente, para nunca mais ser alcançado na classificação. Com
contrato para mais um ano, Bottas precisará mostrar que merece continuar no
time, especialmente se a concorrência se mostrar muito mais forte e aguerrida
em 2018...
Kimi
Raikkonen: O piloto finlandês da Ferrari meio que cumpriu tabela este ano. Cilindrado
pela equipe italiana como segundo piloto, Kimi pouco fez para reverter esta
posição quando teve oportunidade, a exemplo do ano passado. No confronto direto
com Vettel, raramente mostrou performance no mesmo nível, e terminou o ano com
mais de 100 pontos a menos que o alemão, o que mostra que poderia ter obtido
resultados muito melhores, à parte os problemas que enfrentou durante o ano.
Não fosse também as atitudes da Ferrari, o finlandês talvez tivesse vencido em
Mônaco e na Hungria, de privilegiar apenas um de seus pilotos. Como ele não
cria cisma dentro do time, e não o ameaça, Vettel é seu maior aliado na
escuderia, e justamente para manter a paz interna no time, Kimi permanece na
Ferrari em 2018. Resta saber se ele fará por merecer isso mais do que neste
ano, onde ainda conseguiu ter algumas boas performances. Se é verdade que a
Ferrari merecia ter resultados melhores dele, por outro lado, ele também
merecia um pouco mais de consideração por parte do time italiano, não o
preterindo em certos momentos. Então, fica-se no empate entre ambos. Resta
saber até quando...
Circuito
Yas Marina: Desde que estreou na F-1, a pista de Abu Dhabi sempre foi sinônimo
de corridas chatas e sonolentas. O traçado pode até parecer interessante, mas
sintetiza tudo que o mundo passou a detestar nos famosos “tilkódromos” pelo
mundo afora: circuitos travados, ou com curvas e retas que não favorecem
ultrapassagens, mesmo quando os carros possuem diferenças de performance
nítidas. Este ano até que houve algumas disputas de posição, mas nada que
fizesse o público ficar empolgado. Com contrato firmado na “era” Bernie
Ecclestone, onde os árabes pagavam rios de dinheiro para fechar o ano, o GP dos
Emirados Árabes deve se manter firme no calendário enquanto o contrato atual
perdurar, e pelo menos se o Liberty Media não levar a sério sua intenção de
“remover” do calendário as pistas que não promovam emoção nas corridas. Mas, se
os novos donos da competição levarem sua fala a sério, Abu Dhabi é forte
candidata a ser limada do calendário, e visual do anoitecer do deserto à parte,
ninguém sentirá saudades deste circuito...
Discussão
sobre regras imbecis da F-1: Assistimos nas últimas semanas à discussão sobre o
limite ridículo, para não dizer imbecil, de apenas 3 unidades de força por
carro para a temporada de 2018 na F-1. Depois de perdermos a conta com as
punições que times e pilotos sofreram este ano com o limite de 4 unidades,
beira a insanidade reduzir ainda mais o número de motores. Mas o problema não é
apenas a teimosia da FIA em alterar as regras, pois estas também precisam ser
alteradas, a fim de se acabar com a exigência de unanimidade para se mudar tal
idem do regulamento. E a FIA rebateu dizendo que os próprios times quiseram
este limite, e agora não há consenso entre eles para se reverter a situação. A
FIA lava as mãos, e as escuderias ficam na troca de acusações sobre a regra ser
imbecil ou não. Todo mundo tem culpa no cartório nesta hora, e ninguém parece
querer propor uma solução. Desse jeito, é claro que nada se resolve...
Toyota
no Mundial de Endurance: A Toyota anunciou que permanecerá disputando o WEC em
2018, mesmo com a saída da Porsche da competição. Ficará a pressão para o time
japonês enfim vencer as 24 Horas de Le Mans, já que será o único time de
fábrica na classe LMP1, que apesar de ter novos times privados entrando na
disputa, obviamente não terão ritmo para ameaçar os carros nipônicos na pista.
Os engraçadinhos de plantão dizem que, se sem adversários na pista, ainda assim
a Toyota perder, vai ser complicado de explicar a derrota. A tendência é a
marca japonesa praticamente passear na classe LMP1 no próximo ano, sem
adversários reais na pista, já que a Audi e a Porsche agora se concentrarão na
Formula-E.
EM BAIXA:
Toro
Rosso: O time “B” da esquadra dos energéticos até chegou a fazer bonito em
algumas corridas durante o ano, mas a troca da dupla de pilotos por dois
novatos simplesmente virou um tiro pela culatra, pelo noviciado de ambos nos
GPs. Como desgraça pouca é bobagem, o time sediado em Faenza também resolveu
fazer um bate-boca com a Renault pelas quebras constantes do motor nesta reta
final da temporada, mas no cômputo geral da situação, a escuderia andou foi
para trás, pois as unidades de potência não quebraram tanto nos outros times,
mostrando que o problema foi mais intenso pelos lados da Toro Rosso. Nisso,
acabou que eles foram superados pela Renault, com seu time oficial, na última
corrida, em Abu Dhabi, caindo uma posição no Mundial de Construtores, e com
isso irão receber uma premiação menor da FOM. Agora, é torcer para a Honda
ajeitar os seus propulsores, de modo que o time italiano não comece a ter
saudades da época da Renault já no próximo ano...
Williams:
A escuderia inglesa deu mostras claras de estar andando para trás nesta
temporada. A dispensa de Felipe Massa, sem dar a devida atenção ao piloto que
batalhou para dar o seu melhor empenho pelo time, já reforçava o sentimento de
ingratidão por parte da cúpula da equipe. Agora, correr atrás de pilotos pelo
patrocínio, quando a escuderia conta com patrocinadores fortes, é simplesmente
admitir sua incompetência, trocando o lado financeiro pelo lado do talento.
Mas, há tempos que a Williams abdicou de sua posição de vanguarda na F-1,
reduzindo-se a um time “comum” como tantos outros. A persistir nesta
mentalidade, melhor que a escuderia se prepare porque em 2018 terá companhia
mais forte de pelo menos outros dois times que virão muito mais bem fortes e
preparados do que neste ano: a McLaren e a Renault. Ambos querem voltar de vez
às primeiras colocações, e estão com planejamentos ambiciosos para a próxima
temporada, algo que não se vê em Grove no momento, apesar das declarações
otimistas para o ano que vem. Quem viver, verá...
Lance
Stroll: O piloto canadense começou o ano de forma muito ruim, e melhorou
bastante durante a temporada, conseguindo realizar algumas boas corridas, tendo
como ponto alto o pódio conquistado no Azerbaijão, e chegando até a ficar à
frente de Felipe Massa na classificação. Mas as últimas corridas mostraram que
a evolução de Stroll frente ao brasileiro foi mais condicionada aos azares de
Felipe do que a uma melhora significativa, e nas duas últimas provas, Lance apenas
fez figuração nas corridas, com Massa a retomar a dianteira dentro do time e na
pista. Felipe sai com a moral em cima, enquanto o canadense acaba queimado pela
declaração que fez a respeito de que seu futuro companheiro de equipe “tem de
ser alguém que jogue pela escuderia”, o que suscitou inúmeras indiretas contra
ele, no sentido de que seu futuro companheiro terá de se submeter a ser
subordinado a ele no time, ou algo próximo disso. Se Stroll já tinha angariado
críticas pelo fato de encarnar a figura do piloto pagante, que só está na F-1
graças ao dinheiro da família, essa fala aparentemente arrogante jogou mais
lenha na fogueira, ainda mais depois da surra que levou de Felipe Massa no
Brasil e em Abu Dhabi. E Massa, todos sabem, sempre jogou pelo seu time, às
vezes até demais...
Jorge
Lorenzo: O piloto espanhol deixou à Yamaha e chegou à Ducati para conseguir
fazer pelo time italiano na MotoGP o que Valentino Rossi tentou e não
conseguiu. Com status de tricampeão mundial e tecnicamente o principal piloto
da equipe de Borgo Panigale, Lorenzo, contudo, demorou muito mais do que
esperava para se acostumar às reações do novo equipamento, começando o ano com
performances abaixo do esperado, e sendo superado com facilidade pelo piloto
veterano da equipe, o italiano Andrea Dovizioso, que como quem não queria nada,
se tornou o protagonista da luta pelo título que se esperava de Jorge. Com o
avanço do campeonato, o espanhol foi ficando mais íntimo do equipamento, mas
mesmo assim, na maioria das corridas, acabava sempre superado por Dovizioso. Na
etapa final da competição, Lorenzo conseguiu largar à frente, e ao invés de ter
dado ao companheiro a chance de enfrentar Marc Márquez na luta pelo título,
manteve-se à sua frente, não permitindo sua ultrapassagem, e com isso
arruinando as já poucas chances que Dovizioso tinha de tentar conquistar o
título. Lorenzo acabou caindo da moto, e infelizmente, Dovizioso sofreu o mesmo
destino, encerrando a disputa pelo título que até ali Andrea vinha arduamente
lutando. A postura de Lorenzo pegou mal dentro da Ducati, que certamente poderá
repensar sua relação com o espanhol a longo prazo, pela sua atitude de pouco
companheirismo dentro da pista, numa corrida onde ele já não lutava por nada, mas
seu companheiro ainda tentava ser campeão, e merecia a chance de tentar
desafiar Márquez. A Ducati e Dovizioso puseram panos quentes na discussão, mas
internamente, a situação não deve ter sido tão amena. Com certeza, isso terá
consequências para o futuro. Quais serão? Só vendo para descobrir...
Marcus
Ericsson: O piloto sueco está a perigo na equipe Sauber para a próxima
temporada. Aparentemente seguro no time por causa de seus novos proprietários,
apesar de sua falta de resultados, a situação pode mudar de figura se a Ferrari
de fato resolver transformar o time suíço em sua equipe “B” na F-1, que poderia
inclusive mudar o nome para Alfa Romeo. Acontece que, se isso ocorrer, a
Ferrari tem vários nomes cogitados para ser a dupla de pilotos titular da escuderia,
e Ericsson não faz parte desta lista. O sueco, aliás, vinha até tento uma
postura prepotente, ao dar indicações de que o time deveria funcionar ao redor
dele, postura que Monisha Kalterborn, ex-diretora da escuderia, se recusava a
permitir, dando condições de competição iguais para os dois pilotos. Isso a fez
ser afastada pelos novos donos, também suecos, e ligados aos patrocinadores
pessoais de Ericsson, que já tinha comemorado sua permanência no time, apesar
de superado por Felipe Nasr no ano passado. Agora, é Ericsson que pode levar o
chute no traseiro na escuderia. Nada como um dia depois do outro, até porque
Marcus mais uma vez passou o ano em branco, mesmo se levarmos em conta que a
Sauber foi a lanterna nos grids e no campeonato deste ano da F-1.