quarta-feira, 29 de novembro de 2017

COTAÇÃO AUTOMOBILÍSTICA – NOVEMBRO DE 2017



            Pois é, já estamos encerrando o mês de novembro, e praticamente todos os grandes campeonatos automobilísticos de 2017 já se encerraram, como a F-1 e a MotoGP. Portanto, é hora de mais uma edição da Cotação Automobilística, a última do ano fazendo uma avaliação do panorama geral dos acontecimentos do mundo da velocidade neste mês, com minhas impressões e visão sobre os assuntos enfocados. Espero que todos possam apreciar o texto, que segue abaixo no esquema tradicional de sempre das avaliações: EM ALTA (caixa na cor verde); NA MESMA (caixa na cor azul); e EM BAIXA (caixa na cor vermelho-claro). Uma boa leitura a todos, e até a primeira edição da Cotação Automobilística de 2018, em fevereiro do ano que vem...



EM ALTA:

Lewis Hamilton: O piloto inglês conquistou o tetracampeonato, e agora está abaixo apenas de Juan Manuel Fangio e Michael Schumacher na hierarquia de títulos da F-1. Embora tenha os mesmos títulos de seu grande rival este ano, Sebastian Vettel, os números de Lewis na pista já são muito mais vistosos, e ele larga como favorito a igualar o piloto argentino na temporada de 2018, o que tem boas chances de conseguir tornar realidade. Hamilton ainda igualou o feito de Michael Schumacher em 2004, pontuando em todas as corridas da temporada, e cometendo pouquíssimos erros durante o campeonato. Marcou os pontos possíveis quando o carro não lhe permitia vencer, e nunca desistiu de lutar. Ele diz que não tem como objetivo bater os números de Michael Schumacher, mas no ritmo em que vai, se a Mercedes continuar competitiva, podem apostar que ele irá chegar perto, e talvez até ultrapassar as conquistas de Schumacher. Só o tempo dirá...

Sebastian Vettel: O piloto alemão bem que tentou, mas não conseguiu levar a Ferrari de volta ao título. Mesmo assim, apesar de alguns erros, conseguiu levar o time italiano a lutar pelo título, e liderou o campeonato durante mais da sua metade, antes de ser superado de forma irresistível por Lewis Hamilton. Vettel só pecou mesmo por perder a cabeça em certos momentos, e com isso passar uma imagem de mau perdedor quando sentia a situação fugir ao seu controle, como ocorreu em Baku. Mas na maior parte do tempo, sempre tentou dar o máximo de si, e do que o equipamento lhe permitia. Em 2018, sua meta é estar novamente firme na luta pelo título, e conquistar o tão sonhado pentacampeonato. Mas suas chances serão potencializadas se a Ferrari conseguir lhe dar um carro competitivo, que lhe permita bater seus adversários. Este ano, faltou pouco, mas o time de Maranello acredita em boas perspectivas para a próxima temporada.

Marc Márquez: O piloto da equipe oficial da Honda na MotoGP chegou ao seu 4º título na classe rainha do motociclismo, aumentando sua coleção de recordes. Com 4 títulos conquistados em 5 temporadas, ninguém duvida que o piloto espanhol é um fenômeno, e o fato de estar garantido em um dos melhores times do grid só confirmam que seus números, já impressionantes, irão crescer ainda mais nos próximos anos. Marc soube manter a cabeça fria quando precisava, e lutou dando o melhor de si nas corridas, superando seus adversários, mas não perdendo a cabeça quando era derrotado, como aconteceu em pelo menos duas provas nesta temporada, quando acabou superado pelo rival Andrea Dovizioso na última volta, perdendo a vitória. Márquez mais uma vez deixou seu parceiro de time Dani Pedrosa comendo poeira na equipe Honda, mostrando a imensa diferença de talento entre eles, e tem tudo para se tornar o maior nome da MotoGP em toda a sua história, a persistir nesta toada nos próximos anos. Nem seus adversários duvidam disso...

Andrea Dovizioso: O piloto da Ducati conseguiu lutar pelo título da MotoGp até a última etapa, e venceu impressionantes 6 corridas na temporada, igualando a marca do campeão Marc Márquez, que só conquistou o título na corrida final, em Valência. Quando todos esperavam que Jorge Lorenzo comandasse a Ducati na luta para tentar o título, foi o italiano “da casa” quem surpreendeu e deu luta à poderosa Honda, superando a até então tradicional rival Yamaha, desalojando a dupla do time dos três diapasões da disputa pelo título. Dovizioso lutou muito em várias corridas, conseguindo pelo menos duas vitórias arrancadas no extremo da competição, quase na linha de chegada, em disputas que levantaram o público nas arquibancadas e em frente à tela das TVs mundo afora, mostrando que no mundial de motos a luta pela vitória só terminava mesmo na bandeirada. Dovizioso só não foi perfeito porque acabou tendo um desempenho abaixo do esperado em algumas corridas, mas é de se salientar que a própria Ducati não estava tão à altura da rival Honda quanto esperava, e isso se refletiu em algumas performances de Andrea, que terminou o ano como vencedor moral, por ter ido muito além do que todos, especialmente a própria Ducati, esperava dele. E firme para começar 2018 mais forte do que nunca...

Daniel Serra: O filho do tricampeão da Stock Car Daniel Serra parte para a etapa final da competição como grande favorito para finalmente conquistar o título da categoria. Com 4 poles e 4 vitórias na temporada, o piloto da equipe RC/Eurofarma lidera a classificação com 15 pontos de vantagem sobre Thiago Camilo, da equipe Ipiranga. A vantagem pode parecer pouca, até porque 60 pontos estarão em jogo, e qualquer vacilo poderá por tudo a perder, até porque ambos os pilotos buscam o seu primeiro título, e a disputa tem tudo para ser um vai ou racha na pista de Interlagos. No balanço geral da temporada, Serra fez o dobro de poles e também venceu o dobro de corridas de Camilo, que apostou firme na constância para chegar como único desafiante ao título de Daniel na corrida final. Com o pai tendo sido campeão da Stock nas temporadas de 1999, 2000, e 2001, Daniel quer dar prosseguimento ao bom retrospecto do pai e ser também campeão da Stock. Mas nada de comemorar antes da hora, afinal, favoritismo não vence corrida na véspera, e Daniel promete se aplicar a fundo para conquistar o troféu de campeão da maior (ou única, quase) categoria do automobilismo nacional...



NA MESMA:

Valtteri Bottas: O piloto finlandês venceu a última corrida do ano, em Abu Dhabi, mas a imagem que ficou mais forte foi ter largado na frente em Interlagos, e ter perdido a corrida para Sebastian Vettel, sem conseguir ameaçar o alemão da Ferrari durante toda a prova brasileira, enquanto Lewis Hamilton largou do box e chegou em 4º, a poucos segundos do vencedor, após uma recuperação decidida e firme. Com os percalços sofridos pela Ferrari em algumas corridas, esperava-se que Bottas pudesse até conquistar o vice-campeonato, mas o finlandês não conseguiu reagir à altura do que esperavam, tendo tido performance muito inferior à de Hamilton em várias corridas, desperdiçando oportunidades em que poderia ter obtido melhores resultados. O ano de Valtteri em um time de ponta não pode ser considerado de todo ruim: ele venceu corridas e fez poles, e em determinado momento, até deu a entender que poderia entrar no meio da luta pelo título entre Hamilton e Vettel, mas acabou vacilando em algumas corridas, e com isso, perdeu terreno para seu companheiro de equipe, que simplesmente desapareceu na sua frente, para nunca mais ser alcançado na classificação. Com contrato para mais um ano, Bottas precisará mostrar que merece continuar no time, especialmente se a concorrência se mostrar muito mais forte e aguerrida em 2018...

Kimi Raikkonen: O piloto finlandês da Ferrari meio que cumpriu tabela este ano. Cilindrado pela equipe italiana como segundo piloto, Kimi pouco fez para reverter esta posição quando teve oportunidade, a exemplo do ano passado. No confronto direto com Vettel, raramente mostrou performance no mesmo nível, e terminou o ano com mais de 100 pontos a menos que o alemão, o que mostra que poderia ter obtido resultados muito melhores, à parte os problemas que enfrentou durante o ano. Não fosse também as atitudes da Ferrari, o finlandês talvez tivesse vencido em Mônaco e na Hungria, de privilegiar apenas um de seus pilotos. Como ele não cria cisma dentro do time, e não o ameaça, Vettel é seu maior aliado na escuderia, e justamente para manter a paz interna no time, Kimi permanece na Ferrari em 2018. Resta saber se ele fará por merecer isso mais do que neste ano, onde ainda conseguiu ter algumas boas performances. Se é verdade que a Ferrari merecia ter resultados melhores dele, por outro lado, ele também merecia um pouco mais de consideração por parte do time italiano, não o preterindo em certos momentos. Então, fica-se no empate entre ambos. Resta saber até quando...

Circuito Yas Marina: Desde que estreou na F-1, a pista de Abu Dhabi sempre foi sinônimo de corridas chatas e sonolentas. O traçado pode até parecer interessante, mas sintetiza tudo que o mundo passou a detestar nos famosos “tilkódromos” pelo mundo afora: circuitos travados, ou com curvas e retas que não favorecem ultrapassagens, mesmo quando os carros possuem diferenças de performance nítidas. Este ano até que houve algumas disputas de posição, mas nada que fizesse o público ficar empolgado. Com contrato firmado na “era” Bernie Ecclestone, onde os árabes pagavam rios de dinheiro para fechar o ano, o GP dos Emirados Árabes deve se manter firme no calendário enquanto o contrato atual perdurar, e pelo menos se o Liberty Media não levar a sério sua intenção de “remover” do calendário as pistas que não promovam emoção nas corridas. Mas, se os novos donos da competição levarem sua fala a sério, Abu Dhabi é forte candidata a ser limada do calendário, e visual do anoitecer do deserto à parte, ninguém sentirá saudades deste circuito...

Discussão sobre regras imbecis da F-1: Assistimos nas últimas semanas à discussão sobre o limite ridículo, para não dizer imbecil, de apenas 3 unidades de força por carro para a temporada de 2018 na F-1. Depois de perdermos a conta com as punições que times e pilotos sofreram este ano com o limite de 4 unidades, beira a insanidade reduzir ainda mais o número de motores. Mas o problema não é apenas a teimosia da FIA em alterar as regras, pois estas também precisam ser alteradas, a fim de se acabar com a exigência de unanimidade para se mudar tal idem do regulamento. E a FIA rebateu dizendo que os próprios times quiseram este limite, e agora não há consenso entre eles para se reverter a situação. A FIA lava as mãos, e as escuderias ficam na troca de acusações sobre a regra ser imbecil ou não. Todo mundo tem culpa no cartório nesta hora, e ninguém parece querer propor uma solução. Desse jeito, é claro que nada se resolve...

Toyota no Mundial de Endurance: A Toyota anunciou que permanecerá disputando o WEC em 2018, mesmo com a saída da Porsche da competição. Ficará a pressão para o time japonês enfim vencer as 24 Horas de Le Mans, já que será o único time de fábrica na classe LMP1, que apesar de ter novos times privados entrando na disputa, obviamente não terão ritmo para ameaçar os carros nipônicos na pista. Os engraçadinhos de plantão dizem que, se sem adversários na pista, ainda assim a Toyota perder, vai ser complicado de explicar a derrota. A tendência é a marca japonesa praticamente passear na classe LMP1 no próximo ano, sem adversários reais na pista, já que a Audi e a Porsche agora se concentrarão na Formula-E.



EM BAIXA:

Toro Rosso: O time “B” da esquadra dos energéticos até chegou a fazer bonito em algumas corridas durante o ano, mas a troca da dupla de pilotos por dois novatos simplesmente virou um tiro pela culatra, pelo noviciado de ambos nos GPs. Como desgraça pouca é bobagem, o time sediado em Faenza também resolveu fazer um bate-boca com a Renault pelas quebras constantes do motor nesta reta final da temporada, mas no cômputo geral da situação, a escuderia andou foi para trás, pois as unidades de potência não quebraram tanto nos outros times, mostrando que o problema foi mais intenso pelos lados da Toro Rosso. Nisso, acabou que eles foram superados pela Renault, com seu time oficial, na última corrida, em Abu Dhabi, caindo uma posição no Mundial de Construtores, e com isso irão receber uma premiação menor da FOM. Agora, é torcer para a Honda ajeitar os seus propulsores, de modo que o time italiano não comece a ter saudades da época da Renault já no próximo ano...

Williams: A escuderia inglesa deu mostras claras de estar andando para trás nesta temporada. A dispensa de Felipe Massa, sem dar a devida atenção ao piloto que batalhou para dar o seu melhor empenho pelo time, já reforçava o sentimento de ingratidão por parte da cúpula da equipe. Agora, correr atrás de pilotos pelo patrocínio, quando a escuderia conta com patrocinadores fortes, é simplesmente admitir sua incompetência, trocando o lado financeiro pelo lado do talento. Mas, há tempos que a Williams abdicou de sua posição de vanguarda na F-1, reduzindo-se a um time “comum” como tantos outros. A persistir nesta mentalidade, melhor que a escuderia se prepare porque em 2018 terá companhia mais forte de pelo menos outros dois times que virão muito mais bem fortes e preparados do que neste ano: a McLaren e a Renault. Ambos querem voltar de vez às primeiras colocações, e estão com planejamentos ambiciosos para a próxima temporada, algo que não se vê em Grove no momento, apesar das declarações otimistas para o ano que vem. Quem viver, verá...

Lance Stroll: O piloto canadense começou o ano de forma muito ruim, e melhorou bastante durante a temporada, conseguindo realizar algumas boas corridas, tendo como ponto alto o pódio conquistado no Azerbaijão, e chegando até a ficar à frente de Felipe Massa na classificação. Mas as últimas corridas mostraram que a evolução de Stroll frente ao brasileiro foi mais condicionada aos azares de Felipe do que a uma melhora significativa, e nas duas últimas provas, Lance apenas fez figuração nas corridas, com Massa a retomar a dianteira dentro do time e na pista. Felipe sai com a moral em cima, enquanto o canadense acaba queimado pela declaração que fez a respeito de que seu futuro companheiro de equipe “tem de ser alguém que jogue pela escuderia”, o que suscitou inúmeras indiretas contra ele, no sentido de que seu futuro companheiro terá de se submeter a ser subordinado a ele no time, ou algo próximo disso. Se Stroll já tinha angariado críticas pelo fato de encarnar a figura do piloto pagante, que só está na F-1 graças ao dinheiro da família, essa fala aparentemente arrogante jogou mais lenha na fogueira, ainda mais depois da surra que levou de Felipe Massa no Brasil e em Abu Dhabi. E Massa, todos sabem, sempre jogou pelo seu time, às vezes até demais...

Jorge Lorenzo: O piloto espanhol deixou à Yamaha e chegou à Ducati para conseguir fazer pelo time italiano na MotoGP o que Valentino Rossi tentou e não conseguiu. Com status de tricampeão mundial e tecnicamente o principal piloto da equipe de Borgo Panigale, Lorenzo, contudo, demorou muito mais do que esperava para se acostumar às reações do novo equipamento, começando o ano com performances abaixo do esperado, e sendo superado com facilidade pelo piloto veterano da equipe, o italiano Andrea Dovizioso, que como quem não queria nada, se tornou o protagonista da luta pelo título que se esperava de Jorge. Com o avanço do campeonato, o espanhol foi ficando mais íntimo do equipamento, mas mesmo assim, na maioria das corridas, acabava sempre superado por Dovizioso. Na etapa final da competição, Lorenzo conseguiu largar à frente, e ao invés de ter dado ao companheiro a chance de enfrentar Marc Márquez na luta pelo título, manteve-se à sua frente, não permitindo sua ultrapassagem, e com isso arruinando as já poucas chances que Dovizioso tinha de tentar conquistar o título. Lorenzo acabou caindo da moto, e infelizmente, Dovizioso sofreu o mesmo destino, encerrando a disputa pelo título que até ali Andrea vinha arduamente lutando. A postura de Lorenzo pegou mal dentro da Ducati, que certamente poderá repensar sua relação com o espanhol a longo prazo, pela sua atitude de pouco companheirismo dentro da pista, numa corrida onde ele já não lutava por nada, mas seu companheiro ainda tentava ser campeão, e merecia a chance de tentar desafiar Márquez. A Ducati e Dovizioso puseram panos quentes na discussão, mas internamente, a situação não deve ter sido tão amena. Com certeza, isso terá consequências para o futuro. Quais serão? Só vendo para descobrir...

Marcus Ericsson: O piloto sueco está a perigo na equipe Sauber para a próxima temporada. Aparentemente seguro no time por causa de seus novos proprietários, apesar de sua falta de resultados, a situação pode mudar de figura se a Ferrari de fato resolver transformar o time suíço em sua equipe “B” na F-1, que poderia inclusive mudar o nome para Alfa Romeo. Acontece que, se isso ocorrer, a Ferrari tem vários nomes cogitados para ser a dupla de pilotos titular da escuderia, e Ericsson não faz parte desta lista. O sueco, aliás, vinha até tento uma postura prepotente, ao dar indicações de que o time deveria funcionar ao redor dele, postura que Monisha Kalterborn, ex-diretora da escuderia, se recusava a permitir, dando condições de competição iguais para os dois pilotos. Isso a fez ser afastada pelos novos donos, também suecos, e ligados aos patrocinadores pessoais de Ericsson, que já tinha comemorado sua permanência no time, apesar de superado por Felipe Nasr no ano passado. Agora, é Ericsson que pode levar o chute no traseiro na escuderia. Nada como um dia depois do outro, até porque Marcus mais uma vez passou o ano em branco, mesmo se levarmos em conta que a Sauber foi a lanterna nos grids e no campeonato deste ano da F-1.