sexta-feira, 19 de maio de 2017

BALANÇO ESPANHOL



Sebastian Vettel e Lewis Hamilton duelaram pela vitória no Grande Prêmio da Espanha de F-1, com direito a toque de rodas na disputa pela liderança. O piloto da Mercedes venceu a parada desta vez.

            O que todo mundo esperava desde que a temporada deste ano começou enfim se apresentou no Grande Prêmio da Espanha, e pela primeira vez, vimos um duelo mano a mano entre Lewis Hamilton, da Mercedes, e Sebastian Vettel, da Ferrari, pela vitória em uma corrida. E, durante boa parte dela, parecia estar destinada ao piloto do time de Maranello. Mas, como ocorrera em outras ocasiões, o ritmo da competição não permitia erros, e a estratégia do time rosso, ao equipar Vettel com pneus mais duros no stint final, cobrou o seu preço: Hamilton foi à caça, conseguiu passar Sebastian depois de um grande duelo, e assumiu a liderança da corrida para obter o seu segundo triunfo no ano. Mas, até a bandeirada final, a luta entre os dois pilotos claramente não permitiu que se pudesse respirar sem conter a tensão. Vettel nunca permitiu que Lewis escapasse demais, e tudo indicava que poderia haver um duelo firme nas voltas finais. Não houve, pois Hamilton mostrou que tinha a situação sob controle, mas mesmo assim, foi um duelo que valeu pela corrida.
            A etapa de Barcelona, aliás, foi mais agitada do que muita gente esperava. Aleluia, porque depois da etapa sonolenta na Rússia, tudo que a F-1 não precisava era de outra procissão em alta velocidade, e a chance da prova espanhola ser maçante devia-se ao fato de ser o circuito mais conhecido de todas as escuderias, que lá fazem toda a pré-temporada, praticamente. É também a pista onde todos os times trazem os primeiros grandes pacotes de atualizações para seus carros, depois de todos os dados e impressões coletados nas primeiras corridas, e isso mudou um pouco o comportamento dos carros, deixando a previsibilidade inicial do público sobre o andamento das escuderias meio que no escuro. Além do duelo homem-a-homem visto entre Vettel e Hamilton, a corrida mostrou várias outras disputas que deixaram o público até surpreso com tantas opções. Não foram duelos memoráveis como o visto entre os dois protagonistas da luta pela vitória, mas ajudou a agitar o clima na pista.
            Tudo poderia ser ainda melhor se não fossem alguns percalços. Logo na largada, um toque de Valtteri Botas eliminou dois pilotos que poderiam ter dado alguma emoção na corrida. Kimi Raikkonen acabou tocado por seu compatriota, e por sua vez acabou atingindo Max Verstappen, e o GP de ambos acabou ali mesmo. Bottas ficaria numa solitária 3ª colocação na corrida, se seu motor não o tirasse da parada e o fizesse ter seu primeiro abandono em 2017. Com isso, o lugar restante no pódio acabou com Daniel Ricciardo, que correu praticamente sozinho durante toda a corrida, sem ser ameaçado, mas também sem conseguir ameaçar quem ia à frente. A Red Bull no momento é uma terceira força solitária na categoria, enquanto Ferrari e Mercedes se digladiam pelo posto de primeira força. Adrian Newey, que só agora botou a mão na massa no chassi RB13, vai ter de mostrar do que é capaz para devolver o time dos energéticos à luta na ponta das corridas. A escuderia austríaca prometia reagir em Barcelona, mas a resposta não veio como se esperava. Daniel terminou a corrida mais de 1 minuto atrás de Hamilton, e isso diz tudo para quem esperava ver uma maior aproximação do time, que terá muito trabalho para recuperar o tempo perdido até aqui.
            Aliás, em termos de desempenho, as novidades trazidas pela Mercedes ajudaram a tornar o modelo W08 melhor em ritmo de corrida, ponto onde a Ferrari parecia ter ampla vantagem sobre os prateados. O desempenho tanto de Hamilton quanto de Vettel em Barcelona derivou um pouco das escolhas de pneus e das estratégias de corrida, mas o modelo SF70H ainda demonstra uma performance um pouco mais estável do que o carro da Mercedes. Nada que não possa ser contrabalançado por uma boa estratégia, ou pelo braço do piloto, e é nisso que está a boa notícia: os carros estão com desempenhos similares, ora um andando um pouco melhor, ora o outro; mas é o braço e o talento do piloto que estão fazendo a diferença. E é esse tipo de situação que o público quer ver.
Fernando Alonso foi o destaque na classificação, conseguindo o 7º lugar no grid com o carro problemático da McLaren/Honda. Mas pelo menos conseguiu terminar a corrida...
            Senão, como explicar o milagre conseguido por Fernando Alonso na classificação, conseguindo colocar aquele carro horroroso da McLaren/Honda na 7ª posição do grid? Vendo o retrospecto do time no ano, e lembrando que no dia anterior o asturiano teve um primeiro treino jogado fora por problemas na unidade de potência (mais um), a posição de largada foi um fenômeno. Uma pena que na corrida, um toque em Felipe Massa e uma escapada de pista tenham acabado com qualquer esperança de pontuar, mas mesmo assim, Alonso mostrou sua classe ao conseguir terminar a prova na frente dos dois carros da Williams, em tese melhores que o seu.
            E nesse ponto, é bom que se diga que o duelo pelo título da temporada está se dando entre dois dos três pilotos considerados os mais talentosos do grid atual. Vettel é tetracampeão, e Hamilton, tri. Quem está faltando nesta briga, que todos gostariam que tivesse um carro decente para travá-la? Justamente Fernando Alonso, que mostra estar guiando melhor do que nunca, tirando leite de pedra de um carro que está sendo visto até aqui como a maior decepção da temporada. Tudo o que todo mundo gostaria de ver seria esta trinca de ases brigar roda a roda pelo título nas provas desta temporada. Infelizmente, teremos que nos contentar com Sebastian e Lewis, que estão mostrando o fino de sua pilotagem.
            Além do show de Alonso na classificação, quem deu show de pilotagem no fim de semana, mas na corrida, foi o alemão Pascal Wehrlein, que levou a claudicante Sauber a um incrível 7º lugar na bandeirada de chegada, sofrendo uma punição depois, e ficando em 8º lugar, e dando m baile em vários pilotos com carros muito mais competitivos que o dele. Se Marcus Ericsson ficou feliz de se livrar de Felipe Nasr, é bom que o sueco se prepare, porque Pascal vai dar muito mais trabalho do que ele imagina. E os 4 pontos obtidos por Wehrlein deixam a Sauber na penúltima posição do campeonato, sendo a última ocupada justamente por aquele time que foi o maior dominador dos anos 1980, a McLaren, que continua seu calvário na competição.
Pascal Wehrlein, da Sauber, conseguiu fazer uma excelente corrida e colocou a Sauber nos pontos, mesmo com uma punição.
            De ressaltar também o excelente resultado da Force India no circuito da Catalunha. Verdade que ficaram sem alguns competidores na parada, mas e daí? Sérgio Perez e Esteban Ocon estavam a postos para aproveitar a oportunidade, e conseguiram o melhor resultado do time na temporada, que vem pontuando com seus dois carros em todos os GPs, e ocupa a 4ª posição na classificação. Perez está colado em Max Verstappen na classificação de pilotos, e Ocon vem mostrando serviço em todas as corridas. Sem dispor do mesmo orçamento dos times mais fortes, e com seu proprietário preso por problemas financeiros, o time de Vijay Mallya vem fazendo uma temporada honesta e firme. Um exemplo para outras escuderias do grid, que poderiam tomar algumas lições com eles.
A Force India pontuou com seus dois pilotos, e começa a ameaçar até a Red Bull na classificação do campeonato.
            E quem poderia tomar algumas destas lições é o time de Frank Williams. A escuderia de Grove fez uma pré-temporada onde podia se perceber o potencial firme de ser pelo menos a 4ª força na competição, já que Mercedes, Ferrari, e Red Bull, deveriam manter suas forças competitivas. Mas na pré-temporada, já se suscitava a dúvida do que o canadense Lance Stroll poderia render no time. Não fosse a enorme quantia de dinheiro trazida pelo pai do piloto, que permitiu ao filho até efetuar diversos treinos “privados” com um carro comprado da Williams de algumas temporadas atrás, que em tese lhe permitiriam uma preparação mais adequada, o jovem Lance até passaria sem fazer alarde. Mas a tendência a sofrer acidentes com certa frequência já avisava o time que ele iria depender mais do que nunca de Felipe Massa. E nas primeiras corridas, foi dito e feito, com o brasileiro a ser a única referência confiável da Williams, e sua única esperança de pontos. E três provas onde Felipe garantiria as melhores posições do time como 4ª força só não foram melhores porque um pneu furado na parte final da corrida russa o fez perder algumas posições, e com Stroll longe de conseguir pontuar, tendo terminado apenas a etapa de Sochi, a esperança era de que o canadense ganhasse mais ritmo a partir da Espanha, e o time conseguisse desenvolver adequadamente o modelo FW40. Não se viu nem uma coisa nem outra em Barcelona. As atualizações do carro não deram os resultados pretendidos, como os rivais passaram à frente. Como um carro que andou tão bem na pista catalã na pré-temporada acabou andando para trás em tão pouco tempo? Para piorar, no primeiro circuito onde Stroll poderia de fato render mais, por conhecer o circuito da pré-temporada, o desempenho do canadense foi ridículo: Massa, com o pneu furado da primeira volta, caiu lá para trás, chegando a ficar mais de 50s atrás de seu companheiro de equipe, e ainda conseguiu terminar a corrida na frente dele. Se alguém esperava para ver em que ponto da competição o time da Williams começaria a decepcionar, esse momento chegou mais cedo do que todos esperavam.
            O resultado de Barcelona deixou a equipe comandada por Claire Williams atrás até mesmo da Toro Rosso (21 a 18), e ocupando no momento apenas a 6ª colocação no mundial de construtores. A Force India, em tese a rival direta da escuderia, já disparou na frente, tendo mais que o triplo de pontos. Felipe Massa vai ter de pilotar muito, e fazer alguns milagres, para levantar o time, assim como seu novo diretor técnico, Paddy Lowe, que está descobrindo que seu time atual não é como a Mercedes.
            E a perspectiva é das disputas melhorarem nas próximas corridas. A Renault vem crescendo, e assim que a Hass resolver seus problemas, poderá engrossar o caldo no meio do pelotão. E claro, todo mundo torce para a McLaren evoluir, e deixar de passar tanta vergonha na temporada. Em outras palavras, a emoção das disputas só tende a melhorar, na maioria das corridas que ainda virão. E, no que tange à luta pelo título, Hamilton e Vettel estarão nos brindando com uma das disputas mais empolgantes dos últimos tempos. Que venha a etapa de Mônaco, e a esperança de mais duelos na pista!


Outro detalhe a ser comemorado no GP da Espanha foi o esforço do grupo Liberty Media em tentar aproximar o torcedor dos pilotos e equipes. A entrevista dos três primeiros colocados foi feita bem no meio da pista, em frente às arquibancadas da reta dos boxes, e vários torcedores ganharam camisetas que foram jogadas para a multidão, além de outras iniciativas válidas para tentar furar aquele ambiente asséptico que a categoria máxima do automobilismo se transformou nos últimos tempos. Neste caso, nada melhor do que a iniciativa certeira da Ferrari ao trazer à sua área VIP um pequeno torcedor que foi flagrado pelas câmeras da TV chorando após ver seu ídolo Kimi Raikkonen abandonar a corrida logo no início. Pois o time foi buscar o garoto e sua família, torcedora do time de Maranello, e o pequeno torcedor conheceu Raikkonen em pessoa, e ainda ganhou um boné autografado pelo piloto, e ainda acompanhou o restante da prova ali, junto ao pessoal convidado do time de Maranello, tendo a oportunidade de comemorar o 2º lugar de Vettel junto ao pessoal próximo ao pódio, no pit line. Algo impensável nos tempos comandados por Bernie Ecclestone, que em certa ocasião, chegou até mesmo a dizer que o público nos autódromos era uma chateação e completamente dispensável. Aliás, Bernie esteve presente em Barcelona, mas felizmente não manda em mais nada. Atitudes como a da Ferrari para com o pequeno torcedor, e as iniciativas que o Liberty Media vem tomando são mais do que bem-vindas, e tomara que sejam decisivas na recuperação da empatia da categoria para com o seu público. Na pista, pelo menos, os pilotos estão dando a sua contribuição.
Kimi Raikkonen encontra com seu pequeno fã Thomas, flagrado pelas câmeras de TV chorando por seu abandono logo no início da corrida. A Ferrari promoveu o encontro do garoto com seu ídolo, e deu uma tremenda bola dentro com a nova mentalidade de aproximar a F-1 de seu público. Como não elogiar a iniciativa?


Aliás, outra atitude acertada da entidade que comanda a F-1 foi ser bem mais tolerante com as atitudes dos pilotos na pista. Durante a corrida espanhola vimos vários entreveros entre os pilotos que, em tempos recentes, teria gerado um festival de punições que certamente teria estragado a disputa na pista. Só Stoffel Vandoorne é que acabou punido por dar uma fechada em Felipe Massa, e perderá posições de largada no grid em Mônaco. O resto do pessoal conseguiu enfim ter uma corrida mais solta e sem ter de temer as frescuras exageradas dos comissários de pista. Que essa nova postura tenha vindo para ficar, e possamos ver o pau comer solto, no bom sentido, claro, nas disputas entre os pilotos na pista. O pessoal quer ver competição a fundo, e não um bando de comadres guiando zelosamente seus carros nas corridas...


Este fim de semana serão realizados os treinos de classificação para as500 Milhas de Indianápolis, com a pole-position sendo decidida no domingo. O canal pago Bandsports mostrará o treino de classificação na pista do Indianapolis Motor Speedway tanto no sábado como no domingo ao vivo a partir das 17:00 Hrs. E Fernando Alonso será a grande atração da corrida. O espanhol treinou bastante durante esta semana, e começou a girar tempos expressivos conforme ia ganhando mais experiência e intimidade com a pista. A expectativa para ver o que o piloto da McLaren-Andretti poderá render tem sido a tônica da semana inteira, desde o primeiro dia de treinos. E Fernando está empolgado com a experiência, também. Boa sorte para ele, e todos os demais pilotos que disputarão a classificação.

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