E
eis que trago hoje mais um de meus antigos textos. Este foi publicado no dia 16
de janeiro de 1998, e o assunto era o modo como a Ferrari tinha uma postura de
“um piloto, dois carros”, para se referir ao modo como o time de Maranello só
tinha atenções para Michael Schumacher na escuderia, relegando o segundo piloto
na época, o irlandês Eddie Irvinne, a uma posição ínfima nas atenções do time.
Isso prejudicava muito a posição de Irvinne, que raras vezes conseguia andar próximo
de Schumacher, e obviamente não podia cumprir adequadamente sua função de
escudeiro tão bem como o time necessitava. Isso também criava outro problema:
quando Michael ficava fora de combate, o irlandês não tinha condições de
aproveitar a situação e defender o time, justamente porque este não lhe dava as
melhores condições de competição. Tudo era centrado em Schumacher.
A
escuderia estava plenamente confiante de que chegara a hora de voltar a ser
campeã, afinal, Michael Schumacher quase venceu a competição em 1997, antes até
do que todos esperavam. Portanto, o time vermelho se dava conta de que teria as
melhores condições de voltar a conquistar o título na temporada de 1998. Faltou
combinar com a McLaren, que atropelou as expectativas do time de Maranello e
fez Mika Hakkinen campeão do mundo. Schumacher ainda salvou o vice, uma vez que
David Coulthard não conseguiu fazer bom proveito do excelente carro do time de
Woking naquele ano. Mas Irvinne, ainda padecendo da atenção menor da Ferrari,
fez menos ainda, e isso certamente contribuiu para a ajuda menor que o irlandês
pôde dar ao time na luta pelo mundial de construtores, ficando novamente como
vice-campeão.
De
resto, alguns tópicos rápidos sobre alguns outros acontecimentos naquela
semana. Uma boa leitura, e em breve trago mais textos antigos por aqui...
AÇÃO EM EQUIPE
E
lá vamos nós de novo para mais um campeonato mundial da Fórmula 1. E, mais uma
vez, a Ferrari promete acabar com o seu jejum de títulos. Sem dúvida, é o mais
longo já enfrentado pela escuderia mais carismática da categoria, que há quase
20 anos conquistou o seu último título de pilotos, com o sul-africano Jody
Schekter.
Jean
Todt é contundente na afirmação. De quando foi feita a contratação de Michael
Schumacher, em fins de 1995, o cronograma era de arrumar a equipe em 1996,
partir para a evolução em 1997, e chegar ao título em 1998. Pois bem, chegamos
a 98, e a hora é esta. Se, em 97, Schumacher por pouco não chegou ao título, o
que poderá fazer este ano, quando a escuderia deverá estar ainda mais afinada
com o piloto alemão do que nunca? E o próprio Jean Todt admite que a equipe não
tem mais o que melhorar para chegar ao título. Será mesmo? Eu creio que não é
bem assim...
Será
que a Ferrari merece mesmo tal menção? Talvez sim, talvez não, mas a escuderia,
para mim, ainda precisa melhorar em um quesito para ser chamada de equipe. E
por quê? Bem, para começar, o time que se preza tanto para conseguir o título
está subaproveitando uma de suas peças básicas: o segundo piloto da equipe. É
isso mesmo, o time até agora não conseguiu dar tudo o que pode a Eddie Irvinne
para que o irlandês possa brilhar a tempo integral na esquadra de Maranello. E,
com tal atitude, não consegue fazer com que o piloto irlandês trabalhe a
contento para ajudar a escuderia.
Estou
sendo duro? Não creio. Quem está sendo dura é a própria Ferrari. Senão vejamos:
a grande maioria dos testes feitos pelo time italiano em 97 foram conduzidos
apenas por Michael Schumacher. Eddie Irvinne também testou, mas não tanto
quanto o piloto alemão. E Nicola Larini, o piloto de testes do time,
praticamente só fez figuração, testando quase nada. E mais: a atenção na
Ferrari é totalmente voltada apenas para Michael Schumacher. Ele é o principal
piloto, absoluto, e alguns dizem, com certa dose de gozação, que o alemão seria
também o 2º e o 3º piloto, enquanto Irvinne não passaria de um “4º” piloto.
Força de expressão? Talvez, mas não é tão falso quanto parece. O piloto
irlandês já se queixou algumas vezes de que a Ferrari não lhe dá condições
reais de competir, ao menos não no nível que é disponibilizado para Schumacher.
Tudo bem, não estou querendo dizer que Irvinne é tão bom quanto Michael. É
lógico que o bicampeão alemão é melhor piloto do que o irlandês, e como
primeiro piloto, deve ter a primazia das atenções da escuderia, como é direito
do piloto Nº 1 de uma equipe.
Só
que isso não quer dizer que o segundo piloto mereça um subtratamento do time.
Do jeito que a coisa foi feita em 97, Irvinne só teve chance e condições de
brilhar em pouquíssimos momentos. Quando a equipe o apoiou e lhe deu as
condições devidas para competir, o irlandês surpreendeu a todos em Suzuka,
fazendo o seu papel de escudeiro com uma atuação ímpar até àquela altura do
campeonato. Mesmo que depois ele tenha feito uma pilotagem morna e terminado em
4º, deu-se um exemplo do que Eddie pode fazer para ajudar o time. Mas isso só
ocorreu porque a Ferrari lhe deu um tratamento de atenção e equipamento menos
discrepante em relação ao que é oferecido normalmente a Schumacher.
Com
um tratamento decente a Irvinne, o piloto irlandês poderia fazer muito mais na
pista, e condizentemente, ajudar mais Schumacher, e ajudando o time melhor nas
corridas de forma mais efetiva e interessante, uma vez que ele, Irvinne, também
poderia entrar na luta por vitórias. E, também no caso de Schumacher ficar fora
da corrida, o time precisaria conseguir pontos com igual ou similar potencial.
Alguém se lembra de como a McLaren conseguiu tantas vitórias e títulos nos anos
1980 e no início desta década? Com um verdadeiro trabalho de equipe. Não apenas
com dois pilotos de igual quilate, como Ayrton Senna e Alain Prost, ou Alain
Prost e Niki Lauda, mas também quando havia um piloto definido, como foi quando
Keke Rosberg correu ao lado de Prost, ou quando Senna teve Gerhard Berger como
colega de equipe. Mesmo nesses casos, Rosberg e Berger não foram exatamente esquecidos
pela equipe McLaren, tiveram um tratamento de equipamento à altura, e mesmo não
sendo tão talentosos quanto Prost e Senna, eles entravam na luta pelas
vitórias, ajudando a escuderia a conquistar títulos, e também fazendo o papel
de escudeiros quando era necessário.
E
a Ferrari? No tempo de Gerhard Berger e Jean Alesi, o tratamento era
igualitário. Agora, com Michael Schumacher, a conversa é outra. Irvinne tem que
ficar quieto em seu devido lugar, e só o piloto alemão pode brilhar a contento.
Se forem confirmadas as expectativas de ascenção da McLaren, o favoritismo da
Williams se mantiver, e a Benetton e a Prost ascenderem, a Ferrari terá de
mudar este pensamento, e fornecer a irvinne tratamento técnico condizente com o
de Schumacher, caso contrário a Ferrari estará lutando com cerca de “meia”
equipe, quando deveria encarar a briga como uma equipe “inteira”. Espero que o
time italiano corrija essa atitude, se quiser mesmo ser campeã com todos os
méritos...
A Stewart apresentou na última terça-feira o seu modelo SF02, equipado
com a última versão do motor Ford V-10. O novo carro teve um desenvolvimento
ainda maior na aerodinâmica e mecânica, e no túnel de vento. E o novo motor da
Ford, garantem Jackie Stewart e Rubens Barrichello, é muito melhor concebido do
que o usado em 1997. Stewart está confiante em conseguir finalmente resultados
de porte este ano, e quem sabe,m chegar a disputar vitórias e até o título em
2000...
Hélio Castro Neves fechou contrato para disputar a temporada 98 da
F-CART pela equipe Bettenhausen. Com isso, Roberto Moreno, que também vinha
disputando a vaga, terá de encontrar outro caminho. Na Hogan, Jirky Jarvi Letho
assinou para ser o único piloto do time na temporada 98.
O GP de Portugal está novamente cancelado. Em 1997, foram as obras
exigidas pela FIA que não foram realizadas no circuito que motivaram o
cancelamento; agora, é a briga entre o governo português e a Autodril, que
administra o autódromo. Kyalami, na África do Sul, deve entrar no lugar da
etapa lusitana.
Maurício Gugelmim estreou esta semana o novo chassi Reynard 981R, bem
como sua nova versão do motor Mercedes. Se depender do chassi, a temporada tem
tudo para ser excelente. Falta agora melhorar o gerenciamento eletrônico do
motor Mercedes, que a cargo da Magnetti Marelli, ainda precisa entrar nos
eixos...
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