sexta-feira, 7 de abril de 2017

CHINA: SEGUNDO ROUND


A F-1 chega à China para mais uma corrida. Disputas mais empolgantes do que na Austrália, ou outra corrida sem empolgação?
            Depois de uma primeira etapa sem muitas alternativas e disputas emocionantes, do qual se salvou apenas a vitória de Sebastian Vettel, a Fórmula 1 inicia hoje os treinos na pista de Shangai disposta a mostrar um espetáculo melhor do que o visto no Albert Park. Por melhor que tenha sido o triunfo da Ferrari e de Vettel na etapa australiana, o restante da corrida foi de poucas disputas, com raras ultrapassagens, e com vários pilotos constatando o óbvio: ultrapassar ficou muito mais complicado com os novos carros, que se mostraram efetivamente mais velozes e difíceis de pilotar, mas também muito mais sensíveis ao fluxo aerodinâmico, e quando vemos um piloto do naipe de Max Verstappen também não conseguir atacar para tentar uma ultrapassagem, é sinal de que a situação pode ser mesmo bem mais complicada do que muitos imaginam. 
            Alexander Wurz, presidente da Associação de Pilotos da F-1, declarou que agora a F-1 é mais honesta, com os pilotos podendo acelerar mais livremente, e não ter de contar com artificialidades para gerar emoção. Pode até ser, e eu também não defendo que as ultrapassagens fiquem banalizadas. Porém, do que adiantam as disputas, se os carros são tão sensíveis a ponto de até mesmo pilotos arrojados terem de pensar para tentar uma investida de ultrapassagem? Não dá para fazermos uma avaliação precisa na primeira corrida porque a pista de Melbourne sempre foi complicada neste sentido, até mesmo com o uso da asa traseira móvel, e é uma pista de baixa aderência, já que é usada para competições apenas no fim de semana do GP.
            A situação é diferente agora. A pista de Shangai é um autódromo, e conta com uma das maiores retas do calendário, e com dois pontos de ativação da asa móvel. Pelas suas características, é um palco muito mais válido para verificarmos se os novos carros apenas dificultaram as ultrapassagens, e não as inviabilizaram completamente. Se o grau de dificuldade for demais elevado, os pilotos optarão por se manterem atrás e garantirem um resultado menor, mas chegando ao final, do que arriscarem-se e saírem da pista por perder o controle de seus carros, e talvez até darem adeus à prova. O temor é que isso gere filas de carros circulando uns atrás dos outros, sem duelos pelas posições, no caso de nenhum dos pilotos abrirem brechas na sua defesa na pista. No ano passado, foram cerca de 175 ultrapassagens aqui na corrida, muitas delas na longa reta de 1,2 Km de extensão. Se nem mesmo este setor aliviar a situação, e os carros continuarem empacados toda hora que encostam na traseira do carro da frente, vai ser um ano complicado em termos de disputas. E vale lembrar que em 2010, em Abu Dhabi, Fernando Alonso não conseguiu superar Vitaly Petrov nem mesmo na maior reta do circuito, que não era exatamente um trecho curto, mesmo dispondo do carro da Ferrari, muito mais eficiente do que o da Renault do russo...
            Com relação à competitividade da Ferrari em Melbourne, a Mercedes realmente acabou surpreendida com Vettel. Lewis Hamilton não conseguiu ir-se embora como imaginava, e a vantagem que abriu na pista até seu primeiro e único pit stop foi mais em virtude de o alemão da Ferrari controlar a distância para não pegar o ar sujo da Mercedes, e com isso, garantir a maior integridade de seus pneus. Tanto deu certo que Hamilton, forçando o ritmo para tentar se distanciar, acabou consumindo mais rápido seus compostos, indo ao box antes do esperado. Com pista livre à frente, Vettel enfim pôde acelerar, e o fato de Lewis ter ficado encaixotado atrás de Verstappen na pista acelerou a situação. Mas Vettel tinha reais condições de andar no ritmo das Mercedes. O alemão andou 6 voltas a mais que Hamilton, e no mesmo ritmo que o inglês vinha até então demonstrando quando seus pneus ainda estavam em bom estado. Mas o pior, para a Mercedes, veio depois do pit stop: como se não bastasse ter voltado atrás do piloto da Ferrari, Hamilton ainda viu Vettel começar a abrir vantagem, sem conseguir responder à altura, jogando por terra qualquer possibilidade de vitória em condições normais. A boa impressão vista em Barcelona realmente se confirmou, e o time prateado poderá se ver às voltas com uma Ferrari que deverá realmente incomodar nesta temporada. Mas ainda fica a pergunta: até quando, e quanto? Apesar do bom resultado na Austrália, se Hamilton tivesse conseguido voltar à frente de Sebastian, muito provavelmente teria vencido a corrida, muito mais pelas dificuldades que os novos carros oferecem às ultrapassagens do que pela performance propriamente dita.
            Devemos ter uma resposta mais elucidativa aqui na China sobre a relação de forças. Se Sebastian Vettel ou Kimi Raikkonen conseguirem duelar firme pela vitória contra Lewis Hamilton e Valtteri Botas, deveremos enfim ver um duelo entre os dois times pelo título, e isso poderá ser o grande lance do campeonato, uma vez que a última oportunidade em que pilotos de mais de um time duelaram efetivamente pelo título foi em 2012, entre Sebastian Vettel, então na Red Bull, e Fernando Alonso, na Ferrari. De lá para cá, apenas pilotos de um mesmo time monopolizaram a contenda pelo título da temporada.
 
As duas grandes retas da pista chinesa e suas zonas de ativação do DRS.
          
A Mercedes confirmou que chamar Hamilton antes da hora certamente foi equivocado. Tivesse o inglês se mantido mais tempo na pista, mesmo com os pneus degradados, muito provavelmente ele teria conseguido manter Vettel atrás de si, e na hora do pit stop, talvez conseguisse voltar à frente, e novamente, aproveitando-se das dificuldades de ultrapassagem, segurado o piloto da Ferrari. Lewis, por sua vez, afirmou que agora tem uma compreensão melhor dos pneus, e deve aproveitar melhor o seu potencial. De fato, correndo sozinha em quase todas as corridas das últimas três temporadas, começar um campeonato sem a tradicional supremacia dos últimos três anos pode ter deixado o time alemão com a guarda baixa frente a uma Ferrari bem mais competitiva do que se esperava, ou talvez não tanto como se gostaria, mas que soube fazer sua lição de casa e destronar a equipe prateada na prova inaugural da temporada. Mas também há que considerar os acertos dos carros: se Vettel não só pressionou Hamilton no início, e depois da parada foi-se embora, Raikkonen, com um carro idêntico, sofreu problemas em seus pneus, e justo ele, que conseguiu fazer corridas memoráveis na Lotus em seu retorno à F-1, certamente não esteve com seu carro com o acerto mais adequado. Ainda mais depois de ter feito o melhor tempo na pré-temporada, era de se esperar que tivesse um desempenho mais próximo de Vettel. E se Hamilton não tivesse tido problemas com seus pneus? Sebastian conseguiria superá-lo? Ou o inglês conseguiria reverter a desvantagem de estar atrás da Ferrari na pista? Perguntas que todos querem saber as respostas, e que poderemos ver algumas delas neste final de semana.
            A pista chinesa também deverá mostrar melhor a relação de forças das demais escuderias. Em Melbourne, a Red Bull foi facilmente a terceira força, mas ficou longe de discutir a vitória com Ferrari e Mercedes. Mas superou com facilidade a Williams, de quem se esperava um pouco mais, não para desafiar o duo ítalo-germânico, mas pelo menos com um ritmo mais próximo dos carros dos energéticos. Max Verstappen cruzou a linha de chegada quase um minuto à frente de Felipe Massa, que afirmou ter tirado tudo de seu carro na Austrália. O time de Frank Williams pelo menos parece ter condições melhores de disputa neste início de temporada do que no final do ano passado, mas não pode se acomodar. Na classificação, Felipe foi surpreendido por um inspirado Romain Grosjean, que conseguiu ser mais rápido que ele. Massa conseguiu largar melhor e se posicionar à frente, mas demorou um pouco para conseguir se desgarrar dos carros que vinham de trás. Com as particularidades do circuito italiano, ainda pesam algumas dúvidas sobre a real competitividade de cada carro. Williams, Hass, Toro Rosso, Renault e Force India ainda estão por demarcar suas verdadeiras posições na pista.
            De quem pouco se espera é da Sauber e da McLaren. O time suíço surpreendeu apenas pela excelente corrida de Antonio Giovinazzi, piloto reserva do time que teve de entrar no lugar de Pascal Wehrlein, que sentiu dores nas costas após os treinos livres da sexta e viu que não teria condições físicas de guiar a contento na corrida. O italiano cumpriu bem o seu papel, andando forte e não cometendo um erro sequer com aquele que é considerado o carro mais lento do grid, em termos técnicos, mas que está se saindo melhor do que o esperado neste início de temporada. Em compensação, a situação na McLaren está bem complicada. O time de Woking até conseguiu uma posição de largada razoável com Fernando Alonso, mais uma vez tirando leite de pedra do calvário que o time inglês vive há três temporadas de sua união com a Honda. O espanhol até conseguiu se manter em 10° lugar durante boa parte da corrida, posição que conseguiu manter um pouco com seu talento, e um pouco com a dificuldade dos carros atuais de serem ultrapassado, pois se formou uma fila atrás do bicampeão tentando passar. Só conseguiram no final da corrida, quando o carro de Fernando apresentou problemas, e ele foi forçado a abandonar. O resultado confirmou o péssimo ritmo tanto da McLaren quanto da Sauber: Stoffel Vandoorne foi o último colocado, 2 voltas atrás do líder, enquanto Giovinazzi foi o penúltimo, também a 2 voltas de diferença de Vettel.
            A situação de ambos deve ficar ainda mais complicada aqui na China. A pista tem duas longas retas onde a velocidade das unidades de potência serão colocadas à prova com a aerodinâmica muito mais eficiente dos carros, que deve deixá-los mais lentos nestes trechos, devido ao maior arrasto que as dimensões maiores dos bólidos possuem. E com a Sauber utilizando a unidade Ferrari de 2016, e a McLaren com os percalços de falta de potência e fiabilidade da Honda, não devem permitir vôos mais ousados. O próprio Eric Boullier já declarou que a pista chinesa deverá ser particularmente cruel com o modelo MCL-32, expondo não apenas o déficit de performance da unidade de potência da Honda, como as deficiências do chassi, que está longe de empolgar como deveria. Se os demais times renderem o que se espera, as duas escuderias deverão brigar pelos últimos lugares do grid. A dúvida é saber quem será mais lento. E, na teoria, a McLaren tem tudo para ocupar a última fila. O carro da Sauber, em tese de menor potencial, tem a seu favor a confiabilidade, um fator crítico do modelo da McLaren, no que tange ao propulsor, que tem de ser usado em modo limitado para garantir maior fiabilidade. Como desgraça pouca é bobagem, Alonso ainda revelou ter tido que andar em modo de “economia de combustível”, pois sua unidade demonstrou consumir mais do que o esperado, mais um ponto que terá de ser trabalhado para melhorar a performance.
            O time inglês, ao lado da Honda, corre contra o tempo para apresentar melhoras. A Honda prometeu um motor completamente novo para a etapa de Mônaco, e comenta-se que finalmente os japoneses tiveram que aceitar colaboração externa para ajudar a salvar o projeto do seu motor. Embora não tenham revelado quem está auxiliando, circula na Europa a notícia de que a Ilmor, que deu um grande impulso à recuperação da competitividade dos propulsores da Renault no ano passado, estaria efetuando essa colaboração a nível de “consultoria’. Resta esperar que dê resultados efetivos. Esta semana o próprio Yusuke Hasegawa, chefe do projeto Honda para a F-1, admitiu finalmente que o desafio imposto pela F-1 à empresa na criação das novas unidades de potência está sendo um desafio maior do que todos esperavam, e que é frustrante não conseguir apresentar os resultados esperados.
A Honda finalmente admitiu que o desafio da F-1 está sendo mais difícil do que todos imaginavam. Resta agora conseguir reverter a situação, o que vai ser mais complicado.
            Admitir que estavam despreparados para o desafio que encontraram e esperavam poder responder melhor já é um sinal positivo. Por mais que a Honda estivesse ciente dos percalços que estava enfrentando, os japoneses relutavam em admitir a situação de forma tão pública, uma vez que seria admitir seu fracasso. Mas reconhecer o fracasso é positivo quando você se conscientiza de que precisa rever suas opções e aceitar mudar seu método de ação. A “consultoria” da Ilmor, apesar de negada oficialmente, mas admitida nos bastidores, de forma muito discreta, talvez seja o melhor caminho para que a fábrica japonesa deixe um pouco o orgulho tradicional de seu povo e encare que precisa de ajuda para salvar o seu projeto. Ninguém é excelente em tudo, e de certa forma, deve ser tremendamente desconcertante a Honda admitir que hoje tem ainda muito a aprender nesta nova era de unidades híbridas de força, e não a ensinar, como ocorreu em fins de 1989 e início dos anos 1990. Aguardemos para ver o que pode resultar desta união de forças.
            Vejamos então se a China poderá nos dar uma imagem mais definitiva do que a F-1 será nesta temporada. As expectativas ainda são otimistas... Esperemos que possam continuar assim...
 

A Indycar acelera novamente neste final de semana, agora nas ruas de Long Beach, uma das corridas mais populares do calendário Indy. Na pista, Sébastien Bourdais tentará defender sua liderança do campeonato, após a vitória nas ruas de São Petesburgo. A Bandeirantes e o canal pago Bandsports transmitirão a prova ao vivo a partir das 17 horas no domingo.
 

 E a MotoGP também inicia hoje os treinos para sua segunda etapa do campeonato, em Termas de Rio Hondo, na Argentina. Depois da bela vitória no Qatar, Maverick Viñales é o piloto a ser batido, e pretendentes para isso não faltam, começando por seu próprio companheiro de equipe, Valentino Rossi, além da dupla do time oficial da Honda, Marc Márquez e Dani Pedrosa. Transmissão ao vivo no SporTV2 a partir das 16 horas de domingo.

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