A F-1 chega à China para mais uma corrida. Disputas mais empolgantes do que na Austrália, ou outra corrida sem empolgação? |
Depois de uma primeira
etapa sem muitas alternativas e disputas emocionantes, do qual se salvou apenas
a vitória de Sebastian Vettel, a Fórmula 1 inicia hoje os treinos na pista de
Shangai disposta a mostrar um espetáculo melhor do que o visto no Albert Park.
Por melhor que tenha sido o triunfo da Ferrari e de Vettel na etapa
australiana, o restante da corrida foi de poucas disputas, com raras
ultrapassagens, e com vários pilotos constatando o óbvio: ultrapassar ficou
muito mais complicado com os novos carros, que se mostraram efetivamente mais
velozes e difíceis de pilotar, mas também muito mais sensíveis ao fluxo
aerodinâmico, e quando vemos um piloto do naipe de Max Verstappen também não
conseguir atacar para tentar uma ultrapassagem, é sinal de que a situação pode
ser mesmo bem mais complicada do que muitos imaginam.
Alexander Wurz,
presidente da Associação de Pilotos da F-1, declarou que agora a F-1 é mais
honesta, com os pilotos podendo acelerar mais livremente, e não ter de contar
com artificialidades para gerar emoção. Pode até ser, e eu também não defendo
que as ultrapassagens fiquem banalizadas. Porém, do que adiantam as disputas,
se os carros são tão sensíveis a ponto de até mesmo pilotos arrojados terem de
pensar para tentar uma investida de ultrapassagem? Não dá para fazermos uma
avaliação precisa na primeira corrida porque a pista de Melbourne sempre foi
complicada neste sentido, até mesmo com o uso da asa traseira móvel, e é uma
pista de baixa aderência, já que é usada para competições apenas no fim de
semana do GP.
A situação é diferente
agora. A pista de Shangai é um autódromo, e conta com uma das maiores retas do
calendário, e com dois pontos de ativação da asa móvel. Pelas suas características,
é um palco muito mais válido para verificarmos se os novos carros apenas
dificultaram as ultrapassagens, e não as inviabilizaram completamente. Se o
grau de dificuldade for demais elevado, os pilotos optarão por se manterem
atrás e garantirem um resultado menor, mas chegando ao final, do que
arriscarem-se e saírem da pista por perder o controle de seus carros, e talvez
até darem adeus à prova. O temor é que isso gere filas de carros circulando uns
atrás dos outros, sem duelos pelas posições, no caso de nenhum dos pilotos
abrirem brechas na sua defesa na pista. No ano passado, foram cerca de 175
ultrapassagens aqui na corrida, muitas delas na longa reta de 1,2 Km de
extensão. Se nem mesmo este setor aliviar a situação, e os carros continuarem
empacados toda hora que encostam na traseira do carro da frente, vai ser um ano
complicado em termos de disputas. E vale lembrar que em 2010, em Abu Dhabi,
Fernando Alonso não conseguiu superar Vitaly Petrov nem mesmo na maior reta do
circuito, que não era exatamente um trecho curto, mesmo dispondo do carro da
Ferrari, muito mais eficiente do que o da Renault do russo...
Com relação à
competitividade da Ferrari em Melbourne, a Mercedes realmente acabou
surpreendida com Vettel. Lewis Hamilton não conseguiu ir-se embora como
imaginava, e a vantagem que abriu na pista até seu primeiro e único pit stop
foi mais em virtude de o alemão da Ferrari controlar a distância para não pegar
o ar sujo da Mercedes, e com isso, garantir a maior integridade de seus pneus. Tanto
deu certo que Hamilton, forçando o ritmo para tentar se distanciar, acabou
consumindo mais rápido seus compostos, indo ao box antes do esperado. Com pista
livre à frente, Vettel enfim pôde acelerar, e o fato de Lewis ter ficado
encaixotado atrás de Verstappen na pista acelerou a situação. Mas Vettel tinha
reais condições de andar no ritmo das Mercedes. O alemão andou 6 voltas a mais
que Hamilton, e no mesmo ritmo que o inglês vinha até então demonstrando quando
seus pneus ainda estavam em bom estado. Mas o pior, para a Mercedes, veio
depois do pit stop: como se não bastasse ter voltado atrás do piloto da
Ferrari, Hamilton ainda viu Vettel começar a abrir vantagem, sem conseguir
responder à altura, jogando por terra qualquer possibilidade de vitória em
condições normais. A boa impressão vista em Barcelona realmente se confirmou, e
o time prateado poderá se ver às voltas com uma Ferrari que deverá realmente
incomodar nesta temporada. Mas ainda fica a pergunta: até quando, e quanto?
Apesar do bom resultado na Austrália, se Hamilton tivesse conseguido voltar à
frente de Sebastian, muito provavelmente teria vencido a corrida, muito mais
pelas dificuldades que os novos carros oferecem às ultrapassagens do que pela
performance propriamente dita.
Devemos ter uma
resposta mais elucidativa aqui na China sobre a relação de forças. Se Sebastian
Vettel ou Kimi Raikkonen conseguirem duelar firme pela vitória contra Lewis
Hamilton e Valtteri Botas, deveremos enfim ver um duelo entre os dois times
pelo título, e isso poderá ser o grande lance do campeonato, uma vez que a
última oportunidade em que pilotos de mais de um time duelaram efetivamente
pelo título foi em 2012, entre Sebastian Vettel, então na Red Bull, e Fernando
Alonso, na Ferrari. De lá para cá, apenas pilotos de um mesmo time
monopolizaram a contenda pelo título da temporada.
As duas grandes retas da pista chinesa e suas zonas de ativação do DRS. |
A pista chinesa também
deverá mostrar melhor a relação de forças das demais escuderias. Em Melbourne,
a Red Bull foi facilmente a terceira força, mas ficou longe de discutir a
vitória com Ferrari e Mercedes. Mas superou com facilidade a Williams, de quem
se esperava um pouco mais, não para desafiar o duo ítalo-germânico, mas pelo
menos com um ritmo mais próximo dos carros dos energéticos. Max Verstappen
cruzou a linha de chegada quase um minuto à frente de Felipe Massa, que afirmou
ter tirado tudo de seu carro na Austrália. O time de Frank Williams pelo menos
parece ter condições melhores de disputa neste início de temporada do que no
final do ano passado, mas não pode se acomodar. Na classificação, Felipe foi
surpreendido por um inspirado Romain Grosjean, que conseguiu ser mais rápido
que ele. Massa conseguiu largar melhor e se posicionar à frente, mas demorou um
pouco para conseguir se desgarrar dos carros que vinham de trás. Com as
particularidades do circuito italiano, ainda pesam algumas dúvidas sobre a real
competitividade de cada carro. Williams, Hass, Toro Rosso, Renault e Force
India ainda estão por demarcar suas verdadeiras posições na pista.
De quem pouco se
espera é da Sauber e da McLaren. O time suíço surpreendeu apenas pela excelente
corrida de Antonio Giovinazzi, piloto reserva do time que teve de entrar no
lugar de Pascal Wehrlein, que sentiu dores nas costas após os treinos livres da
sexta e viu que não teria condições físicas de guiar a contento na corrida. O
italiano cumpriu bem o seu papel, andando forte e não cometendo um erro sequer
com aquele que é considerado o carro mais lento do grid, em termos técnicos,
mas que está se saindo melhor do que o esperado neste início de temporada. Em
compensação, a situação na McLaren está bem complicada. O time de Woking até
conseguiu uma posição de largada razoável com Fernando Alonso, mais uma vez
tirando leite de pedra do calvário que o time inglês vive há três temporadas de
sua união com a Honda. O espanhol até conseguiu se manter em 10° lugar durante
boa parte da corrida, posição que conseguiu manter um pouco com seu talento, e
um pouco com a dificuldade dos carros atuais de serem ultrapassado, pois se
formou uma fila atrás do bicampeão tentando passar. Só conseguiram no final da
corrida, quando o carro de Fernando apresentou problemas, e ele foi forçado a
abandonar. O resultado confirmou o péssimo ritmo tanto da McLaren quanto da
Sauber: Stoffel Vandoorne foi o último colocado, 2 voltas atrás do líder,
enquanto Giovinazzi foi o penúltimo, também a 2 voltas de diferença de Vettel.
A situação de ambos
deve ficar ainda mais complicada aqui na China. A pista tem duas longas retas
onde a velocidade das unidades de potência serão colocadas à prova com a
aerodinâmica muito mais eficiente dos carros, que deve deixá-los mais lentos
nestes trechos, devido ao maior arrasto que as dimensões maiores dos bólidos
possuem. E com a Sauber utilizando a unidade Ferrari de 2016, e a McLaren com
os percalços de falta de potência e fiabilidade da Honda, não devem permitir
vôos mais ousados. O próprio Eric Boullier já declarou que a pista chinesa
deverá ser particularmente cruel com o modelo MCL-32, expondo não apenas o
déficit de performance da unidade de potência da Honda, como as deficiências do
chassi, que está longe de empolgar como deveria. Se os demais times renderem o
que se espera, as duas escuderias deverão brigar pelos últimos lugares do grid.
A dúvida é saber quem será mais lento. E, na teoria, a McLaren tem tudo para
ocupar a última fila. O carro da Sauber, em tese de menor potencial, tem a seu
favor a confiabilidade, um fator crítico do modelo da McLaren, no que tange ao
propulsor, que tem de ser usado em modo limitado para garantir maior
fiabilidade. Como desgraça pouca é bobagem, Alonso ainda revelou ter tido que
andar em modo de “economia de combustível”, pois sua unidade demonstrou
consumir mais do que o esperado, mais um ponto que terá de ser trabalhado para
melhorar a performance.
O time inglês, ao lado
da Honda, corre contra o tempo para apresentar melhoras. A Honda prometeu um
motor completamente novo para a etapa de Mônaco, e comenta-se que finalmente os
japoneses tiveram que aceitar colaboração externa para ajudar a salvar o
projeto do seu motor. Embora não tenham revelado quem está auxiliando, circula
na Europa a notícia de que a Ilmor, que deu um grande impulso à recuperação da
competitividade dos propulsores da Renault no ano passado, estaria efetuando
essa colaboração a nível de “consultoria’. Resta esperar que dê resultados
efetivos. Esta semana o próprio Yusuke Hasegawa, chefe do projeto Honda para a
F-1, admitiu finalmente que o desafio imposto pela F-1 à empresa na criação das
novas unidades de potência está sendo um desafio maior do que todos esperavam,
e que é frustrante não conseguir apresentar os resultados esperados.
A Honda finalmente admitiu que o desafio da F-1 está sendo mais difícil do que todos imaginavam. Resta agora conseguir reverter a situação, o que vai ser mais complicado. |
Admitir que estavam
despreparados para o desafio que encontraram e esperavam poder responder melhor
já é um sinal positivo. Por mais que a Honda estivesse ciente dos percalços que
estava enfrentando, os japoneses relutavam em admitir a situação de forma tão
pública, uma vez que seria admitir seu fracasso. Mas reconhecer o fracasso é
positivo quando você se conscientiza de que precisa rever suas opções e aceitar
mudar seu método de ação. A “consultoria” da Ilmor, apesar de negada
oficialmente, mas admitida nos bastidores, de forma muito discreta, talvez seja
o melhor caminho para que a fábrica japonesa deixe um pouco o orgulho
tradicional de seu povo e encare que precisa de ajuda para salvar o seu
projeto. Ninguém é excelente em tudo, e de certa forma, deve ser tremendamente
desconcertante a Honda admitir que hoje tem ainda muito a aprender nesta nova
era de unidades híbridas de força, e não a ensinar, como ocorreu em fins de
1989 e início dos anos 1990. Aguardemos para ver o que pode resultar desta
união de forças.
Vejamos então se a
China poderá nos dar uma imagem mais definitiva do que a F-1 será nesta
temporada. As expectativas ainda são otimistas... Esperemos que possam
continuar assim...
A Indycar acelera novamente neste
final de semana, agora nas ruas de Long Beach, uma das corridas mais populares
do calendário Indy. Na pista, Sébastien Bourdais tentará defender sua liderança
do campeonato, após a vitória nas ruas de São Petesburgo. A Bandeirantes e o
canal pago Bandsports transmitirão a prova ao vivo a partir das 17 horas no
domingo.
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