Novo carro da Sauber exibe uma bela pintura, mas patrocínios decentes são outra história... |
E a Fórmula 1 começa a
mostrar os seus bólidos para a temporada de 2017. Depois de uma “espiada”
promovida pela Williams na semana passada, mostrando as linhas gerais do seu
novo modelo FW40, que será lançado oficialmente apenas amanhã, foi a vez de
Sauber, Renault, Force India, e Mercedes, até ontem, exibirem suas armas para a
nova temporada, cuja primeira sessão coletiva de testes se inicia nesta
segunda-feira, no circuito de Barcelona, Espanha. Hoje, é a vez da Ferrari
mostrar o seu novo bólido, em Fiorano, na Itália; e da McLaren, em Woking.
Ficarão faltando, então, vermos como ficarão os carros de Red Bull, Toro Rosso,
e da Hass, que o farão apenas no domingo, já na Catalunha, antes de iniciarem
os testes da pré-temporada.
O que dizer dos novos
carros mostrados até agora? Todos parecem belos e elegantes, salvo um ou outro
detalhe. As maiores dimensões dos monopostos fazem lembrar os velhos tempos,
quando os carros eram mais “parrudos” e volumosos. Nos últimos tempos,
procurando deixá-los mais lentos, a FIA procurou “podar” sua sustentação
aerodinâmica, e para isso, valeu-se de diminuir a dimensão dos pneus, quando
não diminuiu também as dimensões dos carros, e limitou o uso de certos
apêndices aerodinâmicos. Dos carros apresentados, a Mercedes foi o que mostrou
menos diferenças estéticas em relação ao visto no modelo do ano passado,
confirmando a máxima de que em time que está ganhando não se mexe. Mas a
escuderia garantiu que, visual à parte, o novo modelo W08 é quase inteiramente
novo por dentro, indicando que o time campeão do mundo nas últimas temporadas
não pretende dormir sobre os louros conquistados, e mesmo com as novas regras
técnicas para este ano, pretende continuar dominando a competição.
Entre os novos carros,
a Sauber chama atenção pela beleza de sua pintura, mas que também denotou um
problema que promete ser crucial para a escuderia, que por pouco não fechou as
portas no ano passado, destino do qual a Manor não conseguiu escapar. O carro
do time suíço estava quase virgem de patrocínios, o que demonstra que o time,
comandado por Monisha Kaltelborn terá uma temporada com rédeas curtas no que
tange à situação financeira, o que certamente comprometerá o desempenho do novo
modelo C36. A escuderia também estará inferiorizada em termos de motor, por
optar com competir com a unidade de potência da Ferrari do ano passado, a qual
obviamente não sofrerá nenhum upgrade, já que o time de Maranello irá competir
com uma unidade completamente nova, à qual devotará seus esforços de melhorias,
agora que os fabricantes não terão mais o congelamento dos motores a obedecer.
Depois de um ano de transição em 2016 no retorno como time de fábrica, é hora da Renault começar a mostrar serviço com o novo modelo RS17. |
A Renault, por sua
vez, mostrou um carro de belas linhas no modelo RS17, e deve melhorar
significativamente este ano. Em 2016, eles competiram com o projeto adaptado da
Lotus, quando reassumiram o time, e desde o início, sua prioridade sempre foi a
temporada deste ano, já que não havia muito o que ganhar desenvolvendo o modelo
do ano passado, projetado inicialmente para o motor Mercedes, e adaptado para
usar a unidade da marca francesa. Fica a dúvida de quanto eles poderão avançar,
mas mesmo a direção da equipe descarta vôos muito ousados nesta temporada,
dizendo que a meta é voltar a vencer e disputar o título até 2020. Muito
provavelmente ainda há muito a se trabalhar, e o projeto do RS17 é o primeiro
de fato da fábrica francesa após retornar como time oficial à categoria, de
modo que nem eles devem saber exatamente qual o seu grau de performance, em
comparação com os demais times, algo que só passará a ser conhecido a partir de
segunda-feira.
Quem tem pretensões
ousadas mesmo é a Force India. Após seu melhor campeonato na categoria, quando
terminou o certame de 2016 na 4ª posição entre os construtores, a equipe do
bilionário indiano Vijay Mallya quer nada menos do que a 3ª posição na
temporada deste ano. E para isso, conta com seu modelo VJM10, além de seus
pilotos, o talentoso Sérgio Perez, e a promessa Esteban Ocon, para levar o time
a ficar atrás, teoricamente, apenas de Mercedes e Red Bull, superando a
Ferrari, só para início de conversa. Quanto ao visual do novo carro, que
comemora uma década do time na F-1, foi o único modelo até agora a adotar um
“degrau” no bico, além de manter o mesmo com o visual “tomada” exibido no ano
passado.
O modelo VJM10 marca a décima temporada da Force India na F-1. |
A Mercedes exibiu seu
novo carro mostrando um modelo elegante e sóbrio, e até o presente momento, é o
único modelo, ao lado da Williams, a não exibir a “barbatana” sobre a tampa do
motor. Há uma aleta curta, mas nada comparável à “parede” exibida por Sauber,
Renault e Force India. Foi um recurso já utilizado pela F-1 na década passada,
e que retorna agora, pelas novas regras técnicas adotadas pela categoria, que
prometem, mais uma vez, melhorar a competição.
Se a disputa vai
melhorar, só saberemos vendo na prática. Pela primeira vez na história, as
mudanças implantadas visaram aumentar o downforce dos carros, tornando-os mais
velozes. Estima-se que os bólidos possam ser pelo menos 5s mais velozes este
ano em relação ao apresentado no ano passado. A esperança de todos é que, com
as novas regras, a relação de forças mude na categoria, e a Mercedes perca sua
posição de força dominante na categoria, permitindo a mais times disputarem as
primeiras colocações. A chance existe, mas até vermos o resultado dos testes,
por enquanto só temos mesmo são esperanças de que isso aconteça. Até prova em
contrário, nada garante que o time alemão perca sua força. O que pode acontecer
é pelo menos a Red Bull conseguir equilibrar a briga, e os demais, chegarem
mais perto, a ponto de incomodar, mas nem tanto.
Em relação às disputas
na pista, as ultrapassagens deverão ficar mais complicadas neste ano. Mesmo com
a asa móvel, o fato de os novos pneus da Pirelli serem mais resistentes indica
que eles serão também mais duros, e isso significa menos aderência. E agora,
com um ganho aerodinâmico em torno dos 30%, os novos carros poderão ficar ainda
mais dependentes do fluxo de ar “limpo” para chegarem perto dos bólidos que vão
à frente, requisito essencial para tentar a ultrapassagem. O novo tamanho dos
pneus deve ajudar a dar maior sustentação, mas fica a dúvida do quanto eles
poderão compensar a perda do fluxo aerodinâmico ideal. O que pode ajudar é o
fato dos novos compostos serem mais resistentes ao superaquecimento, o que deve
permitir-lhes manterem o monoposto mais próximo do carro imediatamente à
frente, mesmo pegando o ar quente que este carro deixa para trás, o que até o
ano passado, era uma dificuldade a mais para os compostos conseguirem manter a
aderência ideal sem comprometer as diferentes taxas de desgaste com os variados
compostos à disposição deveriam oferecer, para melhorar o show, dependendo das
estratégias aplicadas por times e pilotos. Para tentar driblar isso, as medidas
das asas foram modificadas. O spoiler ganhou maior largura e comprimento, e com
maior área, sua função canalizadora de ar para o bólido deve ser otimizada,
ajudando a manter a estabilidade, mesmo com um fluxo de ar mais “sujo”. Para
isso também contribuirão as novas medidas do difusor, as laterais mais largas,
e o assoalho igualmente maior.
Lewis Hamilton e o novo Mercedes W08. Meta é manter a hegemonia das últimas temporadas. |
Mesmo assim, como os
pneus deverão durar mais, o número de paradas nos boxes deverá diminuir, e com
isso, as estratégias tenderão a ficar mais homogêneas, diminuindo a
possibilidade de algum time ou piloto surpreender o adversário. Por outro lado,
posições precisam ser ganhas mesmo na pista, e não nos boxes, e com menos
opções para tentar subir de posições com trocas mais rápidas no box, os pilotos
terão de partir para o ataque com mais determinação e agressividade na pista
mesmo, que é onde o público quer ver de fato a disputa por posições. E, para
incentivar os pilotos a aumentarem suas disputas, a FIA confirmou no mês
passado que os pilotos da F-1 não serão punidos por colisões nesta temporada, a
menos que seja absolutamente claro e inegável saber quem foi o responsável de
fato pelo acidente. Até o ano passado, os pilotos ficavam intimidados pelo fato
de que qualquer atitude na pista, que gerasse qualquer esbarrão de um carro no
outro, era imediatamente colocado “sob investigação”, podendo gerar uma punição
ou não. Para ajudar a devolver o brilho das disputas, os pilotos estarão
liberados para serem mais ousados a partir de agora. O que é ótimo, aliás.
Ninguém que está na F-1 é exatamente um irresponsável ao volante, ainda que
alguns pilotos sejam mais “barbeiros” do que outros.
Mas sem a
possibilidade de serem punido por coisas banais, os pilotos tenderão a partir
para o ataque com maior decisão, contribuindo para deixar as corridas mais
emocionantes, e não ficando a pensar se o risco de uma manobra seria
compensador ou não pela possibilidade de tomar uma punição. A medida, contudo,
também precisa que os pilotos deixem de ter a postura de ficarem reclamando de
qualquer coisa na pista, como começou a ficar comum nos últimos tempos, quando
vários pilotos começavam a chiar pelo rádio de manobras dos concorrentes na
pista. Chega de frescura por nada. O piloto que quiser superar o adversário que
parta para o ataque, simplesmente, e deixe de enrolar, mas também pare de reclamar
se o adversário for duro na disputa de posição.
Em relação aos
motores, uma boa e uma má notícia. A boa notícia é que o congelamento do
desenvolvimento das unidades, tal como foi adotado nos últimos anos, finalmente
foi abolido. Os fabricantes poderão desenvolver suas unidades de potência à
vontade, o que deve auxiliar quem tiver uma performance menor a conseguir tirar
a diferença, buscando melhorar seu equipamento. Desde 2014, com as regras do
congelamento, e depois das “fichas” de desenvolvimento, o que se viu foi que
quem errou no projeto de seu motor praticamente ficava a temporada inteira
marcando passo até o ano seguinte, quando poderia enfim revisar o seu projeto.
Isso deixou a Ferrari sem condições de apresentar uma melhor performance em
2014, e em 2015, foi a vez da Renault e Honda serem as penalizadas,
contribuindo, com isso, para a manutenção da hegemonia da Mercedes, cujo
propulsor se tornou o melhor da categoria. Com essa liberação, Renault, e
especialmente Honda, já fizeram novos projetos para melhorarem de forma
substancial a performance de suas unidades, com vistas a enfrentarem melhor a
toda-poderosa Mercedes, que obviamente não ficou parada também, assim como a
Ferrari. E, se no ano passado estimava-se que a potência da unidade alemã já alcançava
os 950 Hps, tudo indica que a marca de mil HPs será superada este ano, até com
alguma folga, preveem alguns.
Mas nem tudo é para se
comemorar: continua valendo o limite ridículo de apenas 4 unidades por ano para
cada piloto, o que significa que os pilotos ainda não poderão exigir tudo de
seus equipamentos, e o desenvolvimento das unidades ficará restrito a este
número. Se uma marca implantar um desenvolvimento que precise mudar algo no
motor, só poderá disponibilizar isso quando uma nova unidade for usada, a menos
é claro que este desenvolvimento possa ser empregado em um motor que já está
sendo utilizado. Como cada unidade tendo de aguentar pelo menos 5 corridas,
isso limitará um pouco a disponibilidade dos avanços, que terão de ser
implementados em lotes, e não paulatinamente, dependendo do avanço a ser
introduzido.
Com relação à evolução
da performance dos novos bólidos, ainda é incerto sobre qual será o ganho de
velocidade. Os carros não apenas ficaram maiores este ano: eles ficaram também
mais pesados. Houve um incremento de 26 quilos no peso dos monopostos, que
passaram de 702 para 728 quilos de peso mínimo. Parte desse peso “extra” veio
das novas dimensões dos pneus, que ficaram no seu conjunto 6 quilos mais
pesados. Com um cálculo de perda de performance estimado em 0s3 por volta, em
média, a cada 10 quilos a mais no monoposto, isso deve significar uma perda
potencial de cerca de 0s8 na performance dos carros. Os bólidos, dada a maior
dimensão, também se tornarão mais lentos na reta, sofrendo mais resistência do
vento. Em contrapartida, o maior apoio aerodinâmico deverá permitir que eles
ganhem imensa vantagem nas curvas, advindo daí o incremento de performance por
volta que todos imaginam ocorrer. Obviamente isso variará de pista para pista, sendo
que em algumas o incremento deverá ser mais significativo do que em outras. Se
em uma pista cheia de curvas como Mônaco os carros deverão ser bem mais
rápidos, por outro lado, em Monza, com suas longas retas e poucas curvas, os
carros deste ano não deverão apresentar um desempenho tão melhor como se
imaginam, tanto que alguns times estão planejando asas especiais para uso
apenas na pista italiana, em virtude desse detalhe.
Outro detalhe
interessante que deverá ajudar a melhorar a performance é a nova dimensão dos
tanques de combustível, que poderão ter 5 Kg a mais a partir deste ano. O que
significa que todos os pilotos terão um pouco mais de combustível para utilizar
por corrida. Pode parecer pouco, mas como as novas unidades híbridas conseguem
fazer um GP com apenas um terço a menos do que as antigas unidades V-8
aspiradas utilizavam, estes 5 Kg a mais de capacidade nos tanques deverão
ajudar os motores a roncarem ainda mais alto (força de expressão, já que o
barulho deles é muito menor), podendo consumir um pouco mais de combustível, e
consequentemente, gerando muito mais potência que poderá ser utilizada pelos
pilotos.
Tudo parece indicar
que os novos bólidos deste ano serão bem interessantes em seu comportamento,
que exigirão serem bem domados pelos pilotos, que certamente terão um belo
desafio pela frente, tendo que conduzirem carros com muito mais downforce do
que no ano passado. Até domingo, veremos todo os carros do novo grid serem
mostrados, para segunda-feira entrarem logo na pista e mostrarem do que serão
capazes de produzir. Que venham portanto os novos carros! Se a pré-temporada,
com apenas 8 dias de testes, desaponta quem esperava mais ação, ver os novos
bólidos pelo menos continua sendo tão legal quanto antes. É hora de pisar
novamente no acelerador e mandar ver. Que venha a F-1 de 2017!