sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

DE VOLTA À PISTA


Sebastian Vettel, ao volante da nova Ferrari SF16-H conseguiu o melhor tempo na primeira semana de testes em Barcelona, e o time italiano liderou 3 dos 4 dias. Mas tanto equipe quanto pilotos sabem que a Mercedes ainda será difícil de ser batida.

            Depois de mais de dois meses e meio, a F-1 voltou a acelerar fundo na pista esta semana, com a primeira metade da pré-temporada para o campeonato de 2016, que este ano será de ridículos 8 dias de testes. E, nesta semana, já se foi metade do tempo que os times terão para preparar seus carros para a temporada. Por isso mesmo, alguns times aproveitaram para andar tudo o que tiveram direito em Barcelona, onde todos permanecem, já que semana que vem os carros voltam à pista aqui de novo para os últimos 4 dias de testes, antes de tudo ser embarcado para a Austrália, para a primeira etapa do Mundial, dia 20 de março.
            De início, foi bom ver os novos bólidos apresentados pelas escuderias. Deu para ver detalhes interessantes nos carros, nos momentos em que os mecânicos não escondiam tudo o que podiam dos olhares dos jornalistas, tentando manter seus segredos sob sigilo o máximo possível. Com o regulamento técnico inalterado, a maioria dos times optou por evoluir seus carros, ao invés de promover mudanças radicais em seus novos bólidos. Em alguns casos, é preciso comparar as fotos dos novos carros com os modelos de 2015 para verificar onde as escuderias promoveram mudanças. Em outros casos, como foi o da Ferrari, com direito a nova pintura, o novo modelo SF16-H mostrou suas diferenças de forma bem mais nítida.
            Apenas a Sauber não esteve presente com seu novo modelo 2016 em Barcelona. O novo carro só fica pronto nos próximos dias, e isso já significa uma perda do aproveitamento da escassa pré-temporada de testes. Ruim para Felipe Nasr e Marcus Ericsson, que provavelmente terão de se desdobrar para conseguir bons resultados este ano. A disputa, pelo menos no meio do pelotão, tem tudo para ser embolada. E há bons indícios para se esperar boa briga neste setor.
            Mesmo sabendo que teste é teste, e corrida é corrida, e levando em conta que muitas vezes os tempos da pré-temporada não podem ser levados a ferro e fogo, deu para comprovar alguns fatos nestes primeiros 4 dias de trabalhos na pista. A temporada, como todos esperam, deve assistir a um embate entre Mercedes e Ferrari. Todos os demais times vem depois. A esquadra de Maranello terminou sua primeira bateria de testes com o melhor tempo da semana, com Sebastian Vettel, e o tetracampeão alemão foi o mais rápido no 1° e 2° dia. Já Kimi Raikkonem apenas ontem andou mais a fundo, terminando o 4° e último dia na frente. Usando os novos compostos da Pirelli, entre eles o novo ultramacio, Vettel conseguiu virar 1min22s810 na terça-feira, e foi praticamente 2s mais rápido que a pole nesta pista no GP do ano passado. Se levarmos em conta que a temperatura esteve amena a semana inteira, devemos presumir que os carros serão capazes de andar ainda mais rápido à frente, e ainda as escuderias poderão exigir seus novos modelos mais a fundo, evoluindo seu acerto e desenvolvimento. Tanto Vettel quanto Raikkonem elogiaram o comportamento e o desempenho do novo SF16-H, afirmando que o novo carro já é melhor do que o modelo de 2015. Isso é um fator positivo, pois a Ferrari parece ter produzido novamente um excelente carro, e se coloca efetivamente como real desafiadora da Mercedes. E disputa contra a toda-poderosa escuderia germânica é tudo o que os torcedores mais querem para tentar trazer alento à F-1.
            O problema é qual será sua real capacidade de enfrentar o time alemão. A Mercedes em nenhum momento figurou entre os carros mais velozes propriamente, com exceção do primeiro dia, mas foi outro ponto que deixou a concorrência assustada na pista da Catalunha: a fiabilidade e constância dos tempos obtidos tanto por Nico Rosberg quanto por Lewis Hamilton, que rodaram impressionantes 675 voltas, praticamente 10 GPs da Espanha, durante os 4 dias, e sem que o novo modelo W07 apresentasse o menor sinal de problemas mecânicos ou de qualquer outra natureza. E durante toda a semana, todo o time da Mercedes esbanjava tranquilidade e calmaria. Um presságio de mau agouro para os rivais. Em nenhum momento seus pilotos foram para a pista em busca de voltas rápidas, efetuando sempre long runs, sequências de voltas com tanque cheio e variações de ajustes aqui e ali. Se o W07 será o carro a ser batido novamente, parece ser apenas questão de tempo para se comprovar. A única dúvida será o quanto ele será veloz, algo que provavelmente só seu corpo técnico saiba responder.
A Mercedes não fez os melhores tempos, mas seu novo modelo W07 rodou o equivalente a 10 GPs sem apresentar um defeito sequer, e sem forçar o ritmo. Deve vir chumbo grosso por aí em cima dos concorrentes...
            Pelo seu lado, a Ferrari acumulou 353 voltas na pista, mas apesar dos bons tempos marcados em voltas rápidas, o time italiano teve alguns percalços com Kimi Raikkonem, quando o carro apresentou alguns problemas técnicos. Nada grave, e prontamente solucionado, mas que roubaram ao time italiano algum tempo que poderia ter sido melhor aproveitado. Mesmo assim, seus pilotos conseguiram angariar também bons long runs, mostrando que o bólido italiano também tem um excelente grau de confiabilidade. Se a Ferrari também estiver escondendo muito bem o jogo do potencial do novo SF16-H, poderemos ver um bom embate entre os italianos e os alemães. Talvez na semana que vem tenhamos uma idéia mais clara de qual o real potencial de velocidade de cara bólido, ou no mais tardar apenas em Melbourne, ou na segunda etapa da temporada, em Sakhir, no Bahrein.
            Se é consenso de que Mercedes e Ferrari estão à frente na lista de favoritos, no restante do grid a situação é bem mais complicada de se prever, o que não deixa de ser bom. Red Bull, Williams e Force India tem tudo para fazerem uma briga de foice pela posição de 3ª força no campeonato. O time dos energéticos apresentou um monoposto que conseguiu impressionar em alguns momentos pela velocidade alcançada, e se considerarmos que o motor Renault, agora com preparação da Ilmor para o time austríaco, ainda não está rendendo o que eles esperam, pode-se esperar um incremento de performance que dará a Daniel Ricciardo e Daniil Kvyat a chance de apresentarem bons resultados. O chassi RB12, produzido com ajuda de Adrian Newey, mostrou equilíbrio e o melhor de tudo, fiabilidade, conseguindo rodar tanto quanto a Ferrari durante os 4 dias, ou seja, 330 voltas na pista. E Daniel Ricciardo apresentou ritmos constantes e firmes durante seus long runs, indício altamente positivo, se levarmos em conta os infortúnios enfrentados pelo time austríaco nas duas últimas pré-temporadas. Se a base do novo chassi corresponder ao potencial, só mesmo a unidade de potência irá segurar a evolução do time de Dietrich Mateschitz, porque recursos para desenvolver o chassi não faltarão, e mesmo com um bom orçamento para desenvolver o motor de forma independente, há limites para o que poderá ser implementado, por força do regulamento.
            Pelo seu lado, a Force India não andou tanto quanto o time dos energéticos. Acumulou apenas 294 voltas, e contou com seus pilotos titulares, Nico Hulkenberg e Sérgio Perez, por apenas um dia cada um, tendo treinado os outros dois dias com Alfonso Celis. Mas o time de Vaijay Mallya não deixou de impressionar quando Hulkenberg foi o mais veloz na quarta-feira, com um tempo apenas 0s3 mais lento que a marca obtida por Vettel no dia anterior. É cedo para afirmar que a Force India será a 3ª força no campeonato, mas tem tudo para embolar a disputa neste terreno com a Red Bull e a Williams, pelo menos no início do campeonato. O problema maior da escuderia será o desenvolvimento efetivo do novo modelo VJM09: enquanto o time tiver orçamento para investir em sua melhoria, a Force India poderá ter a chance de fazer sua melhor temporada desde que estreou na F-1.
O novo modelo RB12 tem tudo para ser um excelente carro. E se o motor colaborar, os rivais que se cuidem...
            Pelo seu lado, a Williams mostrou um certo conservadorismo talvez até exagerado no seu novo modelo FW38, muito similar ao do ano passado. Em nenhum momento o time de Frank Williams procurou andar entre os primeiros, acumulando muita quilometragem, rodando 356 voltas com Felipe Massa e Valtteri Bottas nos 4 dias. Ambos os pilotos, porém, elogiaram bastante o comportamento do carro, mas já anteviram, pelo que os adversários mostraram, que a luta para o time se manter como 3ª força será bem mais árdua este ano, e o próprio Felipe Massa já adiantou que Red Bull e Force India provavelmente darão trabalho. Competir com Ferrari e a própria Mercedes já parecem metas difíceis de se alcançar.
            Um pouco mais atrás, vamos encontrar a Toro Rosso, a Renault, McLaren, e a estreante Hass. O time "B" dos energéticos começou a se entender com a unidade de potência da Ferrari, que diga-se de passagem, é a do ano passado. Como o time competia com a unidade da Renault, toda a parte traseira precisou ser revista para acomodar o propulsor italiano, que em tese pode oferecer mais performance do que a unidade francesa atual. Com cerca de 412 voltas completadas, a Toro Rosso foi o time que mais andou depois da Mercedes, e apesar de alguns percalços técnicos, o novo modelo STR11 conseguiu apresentar boa fiabilidade e consistência em sua performance, que deverá evoluir assim que todos tiverem melhor conhecimento das potencialidades do motor Ferrari, e conseguirem desenvolver melhor o monoposto. Assim como a maioria dos times que testaram na pista catalã, o objetivo da escuderia foi conhecer melhor seu novo carro, antes de colocar sua velocidade efetivamente à prova.
            Enquanto isso, a Renault procurou verificar tanto quanto possível o seu novo modelo RS16, nascido ainda sob o nome Lotus. Como a fábrica francesa concluiu a reaquisição do time apenas em dezembro, o projeto do carro acabou prejudicado em seu desenvolvimento, que deveria ter começado bem antes. O atraso também significou mudanças radicais na traseira do bólido, pela troca de propulsores, dos Mercedes para os Renault. Como a fábrica francesa já foca o campeonato de 2017, este ano deverá ser de transição, o que não significa que a escuderia vai se contentar em ter um desempenho pífio no campeonato. E a pré-temporada já está mostrando as dificuldades da empreitada: o time francês foi um dos que menos andou na semana, tendo sempre apresentado problemas variados no carro que consumiram bom tempo de pista. Só nesta quinta-feira é que Kevin Magnussem conseguiu andar num ritmo mais forte, terminando em 2° lugar, e mesmo assim, com um tempo quase 2s mais lento que a Ferrari de Kimi Raikkonem, mesmo estando com pneus mais lentos. Mas o foco em consertar os problemas apresentados pelo novo carro foi sendo sentido gradativamente, de modo que na quarta-feira, Magnussem conseguiu dar 111 voltas, e a quilometragem foi valiosa para a escuderia.
            A McLaren até conseguiu ter um início mais decente nesta pré-temporada, pelo menos nos dois primeiros dias. Jenson Button e Fernando Alonso conseguiram dar mais de 200 voltas, e se os tempos não foram exatamente empolgantes, deixou todo mundo na equipe animado com a possibilidade de fazer bem mais do que em 2015. Até Fernando Alonso se entusiasmou, dando a entender que o potencial do novo carro é certamente bom, e que a unidade de potência da Honda, se não está no nível desejado, pelo menos avançou significativamente. Mas se tudo correu de forma até dentro do script na segunda e na terça, quarta e quinta a história foi diferente: Button ainda conseguiu dar cerca de 50 voltas, mas o time se viu às voltas com problemas mecânicos no carro, e nesta quinta-feira, foi ainda pior, com Alonso praticamente nem conseguindo treinar, dando apenas 3 giros na pista e ficando o resto do tempo nos boxes, enquanto os mecânicos consertavam novos problemas que surgiram. Mais comedido, Eric Bouiller preferiu não fazer expectativas sobre o real potencial do time de Woking para esta temporada. Depois do ano desastroso de 2015, um pouco de prudência vem bem a calhar, mas é desejo de todos que a escuderia consiga se reerguer, não apenas por ser a McLaren, mas também pela Honda, que terá um ano decisivo para apagar a má impressão deixada no ano passado, quando não conseguiu mostrar uma unidade de força decente, perdendo feio em todos os parâmetros possíveis de comparação. Nesta semana, Yasuhisa Arai, que comandava o projeto da fábrica nipônica na F-1, acabou dispensado, e certamente o ano de 2015 pesou na decisão da Honda. Agora, é preciso redobrar esforços para evitar um novo vexame em 2016.
O novo conjunto McLaren MP4/31 Honda até que começou bem os testes em Barcelona, mas problemas não demoraram a surgir no carro. Mas pior do que 2015 esta temporada não poderá ser...ou pode?
            O time estreante da temporada, a Hass, começou mostrando serviço, e embora tenha sido a escuderia a rodar menos que todas na pista de Barcelona, mostrou um carro bem construído, e com potencial para fazer bonito no bloco intermediário. Mesmo assim, o noviciado se fez sentir quando Romain Grosjean por pouco não sofreu um acidente feio quando seu carro perdeu a asa traseira no primeiro dia de testes, na segunda-feira. A escuderia tratou de reforçar a peça, e pelo menos não sofreu nenhum outro incidente similar no restante dos dias. E Grosjean até conseguiu mostrar um pouco da velocidade do bólido do time norte-americano, ao fechar a quarta-feira com o 2° melhor tempo, ainda que na casa de 1min25s8. O ano de preparação de 2015 mostra que Gene Hass iniciará sua trajetória na F-1 com o pé direito, e quem sabe, com direito a brilhar na temporada de estréia na categoria, dependendo de como conseguir evoluir e desenvolver seu carro, que conta com boa parte dos sistemas fornecidos pela Ferrari, inclusive a unidade de potência.
            Ainda é cedo para dizer onde Sauber e Manor estarão. Esta última, agora com uso da unidade de força da Mercedes, e contando com assistência técnica dos alemães em alguns setores, conseguiram fazer o novo carro rodar 5s mais rápido em Barcelona do que em 2015. Uma evolução notável, mas que precisa ser relativizada pelo fato de que no ano passado o time correu com o modelo 2014 apenas adaptado, e ainda com o problemático motor Ferrari do ano anterior, que não tinha a mesma eficiência da unidade 2015. Mas com a perspectiva de desenvolvimento do carro, a Manor já se sente no direito de sonhar a, pelo menos, não ser candidata certa à última fila do grid. Se irá além disso, vai depender de como os concorrentes se comportarão. Assim como a Sauber ainda precisará mostrar onde poderá se colocar este ano. Sem ter o novo carro pronto para esta semana, o time suíço testou os sistemas do novo monoposto no carro de 2015, o que não dá uma idéia certa de qual será o incremento de performance que o novo carro poderá oferecer. Mas como o orçamento pelos lados de Hinwill continua apertado, é bom que eles consigam acerta com o novo carro logo de cara, para poderem capitalizar no início da temporada, antes que fiquem novamente para trás pela impossibilidade de conseguirem desenvolvê-lo a contento, como aconteceu em 2015, quando o modelo C34 só foi receber atualizações dignas do nome na parte final da temporada, e que mesmo assim não deram os resultados esperados.
            Mais do que nunca, será preciso esperar para ver os resultados da segunda sessão coletiva de testes, na semana que vem, para termos uma idéia mais precisa, ou menos equivocada, do que o times poderão apresentar nesta temporada da F-1. A única certeza mesmo é que Mercedes e Ferrari deverão comandar o pelotão, com alguma vantagem para o time alemão, que alguns estimam que pode ser de até 1s por volta, baseada em algumas observações do que se viu em Barcelona nesta semana. Seria um balde de água fria nas expectativas de todos que esperam um campeonato mais equilibrado se isso se confirmar. No restante do grid, poderemos ter algumas boas disputas e até equilíbrio de forças, mas mesmo que isso venha a acontecer, não irá compensar totalmente a falta de disputa que poderá ocorrer na dianteira das provas. Será que a F-1 resiste a mais um ano de possível domínio da Mercedes?
            Eu diria que resiste, se tomasse algumas atitudes que ajudariam a categoria a ser menos careta, menos arrogante, e menos prepotente, , ajudaria muito, mas infelizmente as decisões que andam tomando para tentar revigorar sua imagem até o momento me parecem mais furadas que pneu estourado...

Nenhum comentário: