Sébastien Buemi largou em último no e-Prix de Buenos Aires e por pouco não venceu a corrida. Mas encontrou Sam Bird pela frente, que resistiu ao ataque do suíço. |
A Formula-E disputou
em Buenos Aires no último sábado sua quarta corrida de seu segundo campeonato,
e ficou mais do que evidente que o suíço Sébastien Buemi é o grande favorito
para levar o título da competição. Vice-campeão na primeira temporada da
categoria de carros elétricos monopostos, o piloto suíço começou a nova
temporada com o pé direito no acelerador, vencendo a etapa de Pequim, e
mostrando aos concorrentes que além do talento e competência, possui o melhor
carro da competição, e que ao contrário do ano passado, está mais do que atento
aos rivais na pista, e que estes terão de se desdobrar para bater não apenas
Buemi, mas a equipe e.dams, que está esbanjando capacidade nesta segunda
temporada.
A equipe e.dams
conseguiu um notável progresso no acerto de seu carro nesta nova temporada.
Embora todos os chassis sejam iguais, parte do sucesso da escuderia, que já era
forte na primeira temporada, está no eficiente trem de força provido pela
Renault, parceria da escuderia, que agora também é construtora. Todos os demais
times já encararam a dura realidade: o time francês é a escuderia a ser batida,
mas a tarefa vai ser das mais complicadas. E uma prova cabal disso foi a etapa
de Buenos Aires, onde o líder do campeonato cometeu um erro no treino e acabou
tendo de largar em último. Era a deixa, na opinião de muitos, para conseguir
tirar parte da vantagem de Buemi na liderança do campeonato. Só não contavam
com a incrível recuperação do piloto suíço, que usou todo o seu talento e a
grande performance de seu carro para quase vencer a corrida - Sam Bird foi o
vencedor, e mesmo assim, precisou dar duro nas voltas finais para segurar o
ímpeto do piloto da e.dams. Buemi cruzou a bandeirada de chegada apenas 0s716 atrás
do piloto inglês da equipe DS Virgin, que largara na pole-position e liderou a
prova praticamente de ponta a ponta.
Para sorte da
concorrência, o grande potencial da e.dams não está sendo aproveitado
integralmente por seus pilotos. Enquanto Buemi já contabiliza 2 vitórias nas 4
provas disputadas até aqui, e lidera a competição, com 80 pontos, seu
companheiro de equipe Nicolas Prost é apenas o 9° colocado, com 21 pontos, uma
diferença abismal para quem possui o mesmo carro do líder do certame. Filho do tetracampeão
de F-1 Alain Prost, que inclusive é um dos diretores do time, Nicolas não tem
conseguido fazer frente ao parceiro suíço. Em Pequim, na abertura da nova
temporada, o francês até dava uma indicação de que a e.dams iria dominar o
campeonato, ao fazer o 2° tempo no grid e largar atrás de Buemi por uma
diferença de 0s284. Mas Prost não deu sorte na corrida, tendo problemas e
classificando-se numa pífia 16ª posição, enquanto o parceiro vencia a prova,
fazia a volta mais rápida, e garantia para si a pontuação máxima da etapa: 25
pontos pela vitória, e os pontos extras pela pole-position e a volta mais
rápida da corrida.
A corrida da F-E em Buenos Aires atraiu novamente um grande público, que viu boas disputas na pista, além do show de recuperação de Sébastien Buemi largando em último para subir ao pódio. |
A etapa de Putrajaya,
pelo menos nos treinos, dava a entender que Sébastien Buemi arrasaria a
concorrência sem maiores problemas: o suíço fez novamente a pole-position,
deixando o rival mais próximo, Stéphane Sarrazin, da equipe Venturi, a quase
0s5 atrás. Nicolas Prost, por sua vez, precisava de um binóculo para ver o
companheiro de equipe, tendo se classificado em 5° no grid, a quase 1s6 de
diferença atrás. Para sorte dos rivais, o forte calor na capital administrativa
da Malásia fez os sistemas de vários carros pipocarem com o calor abafado, e
ambos os carros da e.dams sofreram com isso, o que fez Prost chegar apenas em
10°, e Buemi ser classificado na 12ª posição. Teríamos alguma competição capaz
de equilibrar o campeonato, mas somente se imprevistos como o daquele dia se
tornassem a regra, o que estava longe de acontecer.
Em Punta del Este, no
Uruguai, a F-E teve de voltar à "normalidade": Embora tenha largado
em 5° e último lugar na "superpole", Buemi fez o tempo mais rápido na
classificação normal, e o fato de não largar na frente era uma tênue esperança
dos rivais de ver o suíço com menos chances na corrida. Não deu nem para o cheiro:
Buemi simplesmente partiu para cima dos líderes, e conseguiu sua segunda
vitória na temporada, e novamente marcando a volta mais rápida da prova e
garantindo quase de novo pontuação total de uma corrida. Nicolas Prost,
largando em 6°, pouco conseguiu fazer com o excelente carro que tinha à sua
disposição: foi apenas o 5° colocado, cruzando a bandeirada cerca de 21s atrás
do parceiro de equipe, que retomava ali a liderança da competição.
Em Buenos Aires, como
já mencionei, Buemi largou em 18° e último colocado. Prost, por sua vez, largou
novamente na primeira fila, superado apenas por Sam Bird, que marcou um tempo
0s3 mais rápido que o piloto da e.dams. E, embora Prost tenha se mantido entre
os líderes por boa parte da corrida na capital argentina, foi Buemi quem deu
show desde a largada, partindo para cima dos adversários e superando-os um a
um. Tanto que, quando chegou a hora do pit stop para troca de carros, Sébastien
já estava entre os primeiros colocados. Uma providencial bandeira amarela em
toda a pista, provocada pelo enguiço do carro do português Antonio Félix da
Costa, ajudou o suíço a eliminar a desvantagem para o pelotão da frente, assim
como a rodada de seu parceiro Nicolas Prost,que ainda acabou batendo de leve.
Na relargada, Buemi já era o 4° colocado, com Sarrazin, Lucas Di Grassi e Sam
Bird logo à sua frente. E ele não se demorou a deixar todos para trás, à
exceção do líder, que se até então vinha fazendo uma corrida burocrática para
quem largara na pole, surpreedentemente mostrou-se capaz de resistir ao forte
assédio do piloto da e.dams, e garantir sua vitória na etapa de Buenos Aires.
Nicolas Prost, depois dos percalços enfrentados, chegou em 5° lugar, com quase
12s de desvantagem para o vencedor.
Duas poles, duas
voltas mais rápidas, e três pódios: esse é o saldo de Buemi até aqui na
temporada. E com 80 pontos, ele tem uma vantagem até pequena para o rival mais
próximo na competição, o brasileiro Lucas Di Grassi, que tem uma vitória e 4
pódios na competição, e encontra-se, graças a essa constância e regularidade,
estar com 76 pontos, apenas 4 atrás de Buemi. Mas o brasileiro não se ilude, e
sabe que vencer o suíço vai ser bem complicado, e admitiu que o resultado de
Buenos Aires, se não foi ruim, também não foi considerado de todo bom por ele,
que admitiu que não teve condições de tomar a liderança de Bird quando esteve
em duelo direto com o inglês. Seu consumo de energia subiu e ele teve de
abrandar o duelo, permitindo a Buemi superá-lo. O brasileiro teve de reduzir
seu ritmo, e cruzou a linha de chegada 7s5 atrás de Bird. Não foi a maior
diferença obtida por Di Grassi de desvantagem para o vencedor numa prova nesta
nova temporada: em Pequim, ele cruzou a bandeirada com quase 12s de atraso para
o vencedor Buemi, mas lá ele foi o 2° colocado. Lucas venceu em Putrajaya, e
foi novamente 2° no Uruguai, com uma diferença de 3s5 para o vencedor, que foi
novamente Buemi. Na Argentina, a rigor, o brasileiro da equipe Audi ABT teve
seu pior resultado na temporada até aqui, pois foi o 3° colocado. E ele cobra
mais empenho da equipe para conseguirem reduzir a diferença de performance do
carro, assim como dele próprio em ter mais esforço para superar os rivais na
pista.
Lucas Di Grassi conquistou seu 4° pódio consecutivo, mas avisa que é preciso mais para enfrentar Buemi e a performance da e.dams no campeonato. |
A vitória em Buenos
Aires catapultou Sam Bird para a terceira colocação no campeonato, com 52
pontos, e em teoria, o inglês pode até pensar em se meter na briga pelo título,
até então restrita da Buemi e Di Grassi. Para isso, contudo, ele vai precisar
que a Virgin consiga manter nas próximas etapas o nível de performance que lhe
permitiu andar na frente na capital argentina. E a performance dos carros do
time ainda é instável, lembrando que seu companheiro Jean-Éric Vergne chegou
apenas em 11° nesta última corrida, sem conseguir pontuar. Mas a Virgin não é a
única escuderia a ter desempenhos díspares entre sua dupla de pilotos. Já
mencionei que a e.dams, o melhor time, tem conseguido seus melhores resultados
apenas com Buemi, enquanto Prost até agora não se achou no campeonato. Situação
parecida na Audi ABT, que vê Luca Di Grassi brigando pau a pau pelo campeonato,
enquanto Daniel ABT até aqui tem ocupado apenas a 13ª posição na classificação,
com meros 10 pontos. Na Virgin, enquanto Sam Bird já chegou a 52 pontos, Vergne
tem apenas 6, marcados em uma única prova, em Putrajaya, não tendo conseguido
chegar na zona de pontos em todas as outras provas. O único time com um
desempenho de resultados mais parelho entre seus pilotos é a Dragon Racing:
Loic Duval é o 4° colocado na competição, com 32 pontos, logo à frente de seu
companheiro de equipe Jérôme D'Ambrosio, com 30 pontos. Em pelo menos duas
corridas, seus dois pilotos terminaram praticamente um à frente do outro, em
desempenhos parecidos nas duas corridas.
Na classificação de
equipes, a e.dams lidera com 101 pontos. A Audi ABT segue na vice-liderança,
com 86 pontos, seguida pela Dragon, com 62 pontos. A vitória de Bird elevou a
Virgin à 4ª posição, com 58 pontos. E, por incrível que pareça, o time que foi
campeão no ano passado com Nelsinho Piquet, a China Racing, é a última
colocada, com apenas 14 pontos.
Ainda tem muito chão
pela frente até o encerramento da temporada, em julho, no Battersea Park, em
Londres. E ainda teremos pistas inéditas no campeonato deste ano, como a
próxima corrida, na Cidade do México, onde os monopostos elétricos andarão no
traçado oval existente no circuito Hermanos Rodriguez, com um trecho travado na
área interna da Peraltada, que terá ainda uma chicane. A F-E também estreará
sua prova em Paris, outra pista desconhecida para os times. E a prova de
Berlin, que no passado foi disputada no antigo aeroporto da cidade, Tempelhof,
este ano deve ser realizada em outro local, ainda a ser definido pelos
organizadores. Portanto, tudo ainda pode mudar de panorama, e vermos uma
reviravolta na competição. Pode ser difícil, e até concordo, pelo nível que a
e.dams conseguiu mostrar até aqui na temporada, enquanto todos os rivais tem
corrido atrás do time francês, mas nada impede que hajam algumas surpresas. A
e.dams e a Audi ABT tem se mostrado as melhores escuderias da competição até
aqui, e tanto Buemi quanto Di Grassi tem mostrado constância em extrair tudo de
seus carros em todas as provas disputadas, deixando até o momento pouco espaço
para brechas aos rivais. O que não quer dizer que ninguém ainda possa engrossar
essa disputa e embaralhar a briga pelo título.
Basta lembrar que no
primeiro campeonato, Nelsinho Piquet chegou de trás para se intrometer na luta
entre os mesmos Lucas Di Grassi e Sébastien Buemi para conseguir chegar ao
título da competição, e isso aconteceu apenas a partir da etapa de Long Beach,
com praticamente metade do campeonato em andamento. A F-E até agora tem
conseguido apresentar boas corridas, e vem agradando ao fã dos esportes a
motor, com boas disputas, e acima de tudo, por se apresentar muito mais acessível
e aberta ao público, ao contrário da atualmente insípida e cada vez mais
hermética F-1, que teima em exibir seu nariz alto onde quer que vá.
Bruno Senna não teve vida fácil para marcar um suado ponto em Buenos Aires. |
Portanto, não deixa de
ser por acaso que a categoria vem atraindo cada vez mais atenções, que são
ainda modestas, se comparadas com a F-1, ou mesmo o Mundial de Endurance ou a
MotoGP, mas vem crescendo paulatinamente. Para Nelsinho Piquet, a F-1 não é
tudo o que existe no mundo do automobilismo, e declarou que a categoria máxima
do automobilismo já faz parte de um passado distante para ele, embora não
descarte um eventual retorno que, obviamente, só se daria nos seus termos, como
estar em um time competitivo e capaz de vencer corridas. Caso contrário, ele se
considera feliz por fazer parte da F-E. Não por acaso, Bruno Senna é outro
piloto da categoria que aponta a F- como o futuro do automobilismo, não apenas
por sua proposta mais ecologicamente correta e pelo desafio tecnológico dos
carros elétricos, mas pela postura de apresentar um show mais acessível e sem tantas
frescuras e politicagens como a F-1.
E vejo isso a cada
etapa, especialmente após as corridas, com o público cercando o pódio, e vendo
os pilotos que lá sobem passar entre o pessoal, cumprimentando todos que possam
estar perto com leves toques de punho. E, sem nenhuma exceção até agora, o
público tem ficado animado com as disputas vistas na pista, algumas melhores do
que outras, é verdade, mas mesmo assim, boas o suficiente para encantar quem
adora carros de competição. Há um ambiente muito mais simples, menos asséptico,
e por que não dizer, menos estressante e carregado que o da F-1. E isso já
ajuda a fazer uma grande diferença, não apenas nos participantes, mas também no
próprio público, que pode apreciar melhor a competição no que ela se propõe a ser.
A F-E veio para ficar,
e tem tudo para ser ainda melhor. Aguardem...
Sébastien Buemi se dirige ao pódio em meio ao público, numa proximidade da F-E com os fãs que não é vista na F-1 atualmente. |
Nelsinho Piquet e Bruno Senna não
levaram boas recordações da prova de Buenos Aires do atual campeonato da F-E.
Nelsinho até que conseguiu fazer uma boa classificação, largando em 9° e tendo
um início de corrida promissor, mas não demorou para perder desempenho e ir
ficando um pouco para trás. Acabou a prova em 12°, sem marcar pontos, mas
considerou o aprendizado na prova argentina positivo para que seu time consiga
dar passos na direção de voltarem a ser competitivos. Oliver Turvey, seu
companheiro de equipe na China Racing, teve um pouco mais de sorte e foi o 9°
colocado, marcando mais alguns pontos. Turvey, aliás, é o 12° colocado no
campeonato, com 10 pontos, enquanto Nelsinho com apenas 4 pontos marcados até
aqui, ocupa a 15ª colocação. Bruno Senna teve uma classificação complicada,
largando apenas em 16° em Buenos Aires, e a duras penas conseguiu chegar em
10°, marcando apenas 1 ponto. Seu companheiro na Mahindra, Nick Heidfeld, largou
em 13° e terminou na 7ª posição. No campeonato, Bruno ocupa a 11ª colocação,
com 11 pontos, enquanto Heidfeld é o 7°, com 23 pontos, tendo inclusive subido
ao pódio na etapa de Pequim na 3ª posição.
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