Projeção de como ficará o paddock de Interlagos com as reformas, que só ficarão efetivamente concluídas em 2016. |
A Fórmula 1 chegou a
Interlagos para a disputa do Grande Prêmio do Brasil, e como não poderia deixar
de ser, mais uma vez nosso melhor autódromo precisou passar pelas costumeiras
obras para atender aos padrões cada vez mais exigentes da F-1, se quisesse
manter o GP em suas dependências. O paddock, acanhado para os padrões que a
categoria máxima do automobilismo se acostumou a ter nos últimos anos, já não
dava espaço suficiente para os times ajeitarem todos os seus equipamentos e
áreas de trabalho. De fato, era preciso dar uma modernizada no autódromo, e
isso foi feito.
Claro, em se tratando
de Brasil, ter uma obra em espaço público devidamente encaminhada é algo
considerado lucro, e as obras de reforma de Interlagos até seguiram
razoavelmente bem. Mesmo assim, contudo, o autódromo está com suas reformas
apenas pela metade, e pelo cronograma, só ficará mesmo pronto no ano que vem.
Portanto, eis que todo mundo no "circo" da F-1 está convivendo apenas
parcialmente com os novos espaços, e muitas partes do paddock estão com aquele
ar inconfundível de obra inacabada, o que nunca é algo agradável. Mas vai dar
para quebrar o galho no fim de semana.
As obras bem que
poderiam ser mais ágeis, e com isso, pelo menos deixar tudo com uma aparência
melhor. Mas, se levarmos em consideração que pelas maracutaias feitas em
Brasília, a capital federal praticamente ficou sem seu autódromo - afinal,
demoliram tudo antes que se verificasse que os obras não tinham amparo legal para
terem sido contratadas, o que se vê no autódromo paulistano é um alívio de ver
as coisas pelo menos construídas direito, e sem ter nenhum rolo - pelo menos
até o presente momento, a complicar e comprometer a situação.
O novo paddock - que
ficará coberto no ano que vem, e a nova torre de controle certamente serão um
ganho na estrutura do autódromo. Poderia ficar melhor, claro, mas diante das
possibilidades, está de bom tamanho. Pelo menos, mantém as estruturas em suas
atuais posições e locais. Vale lembrar que tinham a idéia de construir um
paddock e estrutura de boxes totalmente novo na reta oposta, o que seria
ridículo, pelo pouco espaço de reta ali existente, além de que seria gasto uma
fortuna de dinheiro que certamente o poder público teria de bancar, e sem
garantias de ser feito o melhor dos trabalhos. Para não mencionar que o novo
complexo iria bloquear parte da visão do restante da pista, uma das
características mais elogiadas pelo público que vem a este autódromo para
apreciar as corridas, seja de qual categoria for. O paddock, apesar da
ampliação, continuará um pouco apertado, se comparada com o que vemos em outros
autódromos mundo afora, mas tem quem veja um lado positivo nisso: Niki Lauda
diz que nas pistas mais novas, o paddock é tão grande que ninguém cruza com
ninguém. Em Interlagos, todo mundo dá de cara com alguém, e essa interação é
sempre bem-vinda, ainda mais numa categoria que anda ficando cada vez mais
hermética e sem contato entre vários de seus integrantes. E concordo com ele.
os novos e gigantescos paddocks das pistas mais novas são um show para se
fotografar, com cenários por vezes lindos e arrojados. O de Interlagos, por
outro lado, ainda mais neste momento, não é um cenário exatamente fotogênico,
mas todo mundo anda por ali, e gosto de ver todo mundo interagindo com todo
mundo. Nessas horas, reencontrando velhos conhecidos e parceiros de profissão,
a gente esquece a falta de espaço e aproveita o momento.
As escuderias tem agora um espaço maior, e onde podem instalar seus escritórios e cozinha. Mas o espaço de circulação continuará apertado. |
Pelo menos, a pista
está pronto, já desde o ano passado, e o novo asfalto realmente livrou todos
que aqui correm das grandes ondulações que o asfalto possuía. Mesmo assim,
ninguém cogitou a hipótese de recuperar o restante da pista, desativada desde a
reforma que no fim de 1989 e início de 1990, revitalizou o circuito para permitir
sua volta ao calendário da categoria. Seria um plus adicional para uso em
quaisquer outras categorias que aqui correm, pra não mencionar que um circuito
com menos de 5 Km
geralmente costumam ser muito curtos no tempo de volta.
Outro ponto que entra
ano, sai ano, é das arquibancada provisórias. Com décadas de uso, está mais do
que na hora de se construir estruturas definitivas de arquibancadas em vários
setores do autódromo onde elas só são montadas por ocasião das provas da F-1.
Isso gera custos de montagem e desmontagem, além de exigirem constante
verificação da integridade das estruturas, custos que seriam extintos e/ou
minimizados com arquibancadas permanentes.
E pelo menos a pista
continua mantendo seu desafio e qualidade do traçado. A grande maioria gosta de
correr aqui. Interlagos tem retas, descidas, subidas, e curvas variadas. O
acerto do carro precisa equilibrar o downforce necessário para o trecho de
curvas sem comprometer os trechos de reta, em especial o longo trecho da Junção
até a freada do S do Senna, principal ponto para ultrapassagens no circuito, e
que exige potência do motor, por ter início numa forte subida, até chegar ao
momento de descer morro abaixo novamente. Claro que há exceções: Daniel
Ricciardo, da Red Bull, fala que não gosta de Interlagos, mas isso é bom, pois
dizem que toda unanimidade é burra, e assim, não importa de 9 entre 10 pilotos
declararem gostar deste circuito: a média de popularidade de Interlagos
continua excelente.
Com o título já
decidido em favor de Lewis Hamilton, a briga na pista será pelo
vice-campeonato, que deve ficar com Nico Rosberg, que deu um passo importante
para isso no México, ao vencer a corrida e ver Sebastian Vettel abandonar a
prova. Com 21 pontos de vantagem, se marcar pelo menos mais 5, garante o vice,
o que é visto como obrigação moral diante da temporada dominante da Mercedes em
2015. Terminar atrás de Vettel no certame seria uma pá de cal a mais nas
críticas que o alemão já tem de aturar de ter feito um campeonato completamente
à sombra de Hamilton.
O novo tricampeão
mundial, aliás, chegou ontem ao circuito, e não estava muito animado. Teve
algum mal-estar na semana passada, e circularam rumores até de que não
participaria da corrida brasileira. Seria a oportunidade perfeita para Rosberg
carimbar de vez o vice. Mas Hamilton quer mostrar o seu melhor para o público
brasileiro, e vai correr até com uma homenagem a Ayrton Senna - seu grande
ídolo, em seu capacete. E nada melhor para completar essa homenagem do que
tentar vencer a corrida, como Senna fez em 1991 e 1993.
Hoje começam os
treinos, e por mais previsível que tenha sido a temporada, quem sabe tenhamos
algumas surpresas na pista brasileira. Pelo menos a Globo mostrará a
classificação na íntegra amanhã a partir das 14 horas, algo que veio desprezando
e ignorando sumariamente nas últimas corridas. Seria uma heresia não passar o
treino na corrida brasileira, mas como sabemos a quantas anda o respeito da
emissora para com o fã de automobilismo recentemente, é algo para se comemorar,
pelo menos, por cumprirem com suas obrigações um pouco melhor.
Com pole, e vitória de ponta a ponta, Jorge Lorenzo conquistou o tricampeonato na etapa final em Valência, na Espanha. |
E Jorge Lorenzo conquistou seu
tricampeonato ao vencer a etapa final da temporada domingo passado, em
Valência. Foi sua 7ª vitória no ano, e quando ele fala que foi melhor do que
Valentino Rossi em tudo na temporada, não está errado. O "Doutor"
venceu apenas 4 provas no ano, e fez da constância sua grande arma para chegar
à última etapa na liderança da competição. Infelizmente, a punição sofrida pelo
enrosco com Marc Márquez na Malásia pesou contra Rossi, e largando em último,
suas chances eram reduzidas, e tudo o que ele podia fazer era partir para o
ataque desde o início, mas também precisando de um duelo na ponta entre Jorge
Lorenzo, o pole, e a dupla da Honda, Dani Pedrosa e Marc Márquez, que largava logo
atrás. Rossi fez uma recuperação fenomenal, e quando atingiu a 4ª posição, já
tinha se passado praticamente metade da corrida, e com um ritmo muito similar
aos ponteiros, não havia como recuperar mais de 10s de desvantagem, correndo
sozinho a partir dali até a bandeirada. Na ponta, Lorenzo conseguiu se manter
firme, enquanto a dupla da Honda pouco fez para ameaçar sua liderança e a
vitória, o que deixou as suspeitas de que os espanhóis teriam se unido de fato
para manter o título da categoria na Espanha. Infelizmente isso jamais será
provado, mas as dúvidas ficaram, e o público presente no circuito Ricardo Tormo
certamente não pôde deixar de pensar se a "armação" realmente
existiu, tanto que Marc Márquez foi vaiado no pódio pela torcida, algo incomum
se levarmos em conta que o piloto da Honda tinha até então grande popularidade
depois de conquistar dois títulos consecutivos na categoria rainha do
motociclismo. Lorenzo chegou aos 325 pontos com a vitória, superando Rossi por
apenas 5 pontos, numa das decisões mais apertadas do Mundial de Motovelocidade
de todos os tempos. Foi uma temporada cheia de emoções, com uma decisão de
última etapa que deixou todos tensos, e Lorenzo teve seus méritos para vencer o
campeonato. Mas, certamente, não merecia a mancha que ficou pairando sobre a
decisão, e a dúvida se Márquez realmente agiu de forma antidesportiva para
favorecer seu compatriota a ser campeão. A MotoGP certamente não merecia isto.
Valentino Rossi terminou o ano
como vice-campeão da MotoGP, mas para o público em Valência, ele foi o vencedor
moral da competição. O italiano foi o foco das atenções em Valência, e na
primeira metade da corrida, a transmissão da prova se concentrou na corrida de
recuperação do "Doutor", enquanto esquecia Lorenzo, Márquez e Pedrosa
na ponta. Estes só aparecerem mais depois que Rossi estabilizou na 4ª
colocação. Ao fim da corrida, Valentino foi aplaudido por todos na chegada ao
pit line, mostrando que ele é realmente o grande nome da categoria, e cujo
carisma não tem rivais no atual momento da categoria. A derrota, contudo,
deixou marcas no italiano, que anunciou que não iria à cerimônia de premiação
do campeonato por estar indisposto. É compreensível: para Rossi, a tal
"armação" que teria havido entre Márquez e Lorenzo, teria sido a
principal causa da perda do título, que seria uma manobra antiesportiva. Mas o
assunto ficará marcado, para muitos, como uma desculpa conveniente de Rossi
para a sua derrota no campeonato deste ano. O fato é que em Valência, Márquez,
apesar de declarar jurando de pés juntos que deu tudo de si para tentar vencer,
ficou esquisito no final da corrida quando ele e Dani Pedrosa se estranharam,
com Dani a tentar partir para o ataque em cima tanto de Márquez quanto de
Lorenzo. Isso permitiu a Jorge recuperar um pouco de dianteira, enquanto a
dupla da Honda, para evitar se tocarem, fizeram mal a tangência de uma curva e
com isso "perderam" a oportunidade do ataque decisivo. Para alguns,
Márquez se estranhou com seu parceiro de equipe para evitar que ele atacasse Lorenzo
de fato, e que o bicampeão da Honda em nenhum momento fez um ataque decisivo,
como sempre costuma fazer nas corridas. Poderia não ser nada demais, mas após a
prova, eis que o novo tricampeão Jorge Lorenzo ainda faz uma declaração
desastrada de que só venceu porque atrás dele haviam dois espanhóis, e que eles
sabiam o quão importante era o que estava em jogo naquela corrida para ele.
Lorenzo tentou se retratar depois, mas a declaração teve o efeito de tentar
apagar um incêndio jogando mais gasolina, ao dar uma afirmação quase direta de
que houve um conluio entre a dupla espanhola da Honda para que seu compatriota
da Yamaha fosse campeão. Claro que isso não deu em nada, mas reforçam as
suspeitas de que houve alguma "patriotada" para Lorenzo ser campeão,
de modo que as suspeitas na mente dos torcedores vão demorar para serem
dissipadas, e que o respeito e fama da MotoGP acabam bem arranhados com o
episódio, que se não teve nada realmente de tramóia nesse sentido, não
conseguiu deixar que alguns indícios continuassem dando pano para a manga no
quesito "conspirações". Márquez sofreu um abalo em sua popularidade e
sua fama, assim como a própria categoria. A "Formiga Atômica" aliás,
não gostou de ter sido vaiado no pódio em Valência, reclamando novamente da falta
de respeito que os fãs deveriam ter. Só que ele se esquece que os fãs da
competição, se podem aclamar os pilotos, também podem vaiá-los, no reverso da
moeda. Querer aceitar apenas as boas atenções da torcida e repudiar as atenções
negativas é algo que só pode piorar sua imagem, e ser associado a um gênio de
mau perdedor. Se isso vai ter sequelas na reputação de Márquez, só o tempo
dirá...
Bicampeão da F-3 Brasil, Pedro
Piquet vai disputar a F-3 Européia em 2016, e esta semana foi divulgado o time
pelo qual o brasileiro irá competir na categoria. A equipe escolhida será a Van
Amersfoort, escuderia sediada na Holanda, para onde Pedro deverá se mudar em
breve. No ano passado, o time ficou em 3° lugar na competição, com o holandês
Max Verstappen, hoje piloto da Toro Rosso na F-1. O piloto brasileiro fez
alguns testes com o carro da escuderia, e gostou do que viu, certo de que o
profissionalismo e competência do time, que tem praticamente 40 anos de
existência, lhe darão boas condições de disputar a fundo o campeonato da F-3
Européia na próxima temporada. Serão 11 etapas, todas em rodadas triplas, e a
disputa no grid, composto de mais de 30 carros, serão das mais acirradas, como
mostrou o campeonato deste ano. Pedro Piquet praticamente não teve adversários à
altura na F-3 Brasil, onde competiu pela Cesário Fórmula, o time mas bem
estruturado que havia. Na disputa que terá em 2016, Pedro irá poder se medir a
fundo, em seu planejamento traçado para chegar à F-1 um dia. E a disputa na F-3
Européia vai ser mesmo dura. Boa sorte a Pedro Piquet no novo estágio de sua
carreira, agora no automobilismo internacional.
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