De
volta com um de meus antigos textos, trago hoje a coluna do dia 27 de junho de
1997, e o assunto era o retorno da F-1 à Europa, após sua passagem pelo Canadá.
E o palco era o Grande Prêmio da França, que seria disputado em Magny-Cours. O
texto dissertava sobre algumas das diferenças entre a pista em Nevers, centro
da França, e a sede anterior do GP francês, em Paul Ricard, que infelizmente
nunca mais voltou a sediar um GP da categoria máxima do automobilismo após
1990. E a França, inclusive, perdeu seu GP há alguns anos, por conta da
política de altas taxas cobradas por Bernie Ecclestone, que fizeram os
organizadores franceses dizerem "au revoir" para a F-1. Ninguém sente
muita saudade de Magny-Cours, é verdade, mas a França merecia melhor sorte na
manutenção de sua corrida no calendário, e quando lembramos que Ecclestone anda
ameaçando outras provas européias de serem expurgadas do calendário, eis o
exemplo da França para lembrar que nenhuma corrida é sagrada para a FOM,
especialmente no que tange ao fator financeiro nas cobranças.
Nos
tópicos, relatos de alguns outros acontecimentos na semana, como a F-Indy
original, a F-Vauxhall, F-3, e Indy Lights. Uma boa leitura para todos...
DE VOLTA À EUROPA
Depois
do Grande Prêmio do Canadá, a Fórmula 1 começa agora uma nova fase do
campeonato de 1997. A começar pela volta à Europa, com a etapa a ser disputada
no circuito de Magny-Cours, sede do Grande Prêmio da França de F-1.
Magny-Cours
é um dos circuitos mais novos do calendário da categoria, servindo de sede para
o GP francês desde 1991. Só que a grande maioria do pessoal da F-1 sente muita
saudade do velho autódromo de Paul Ricard, em Le Castellet, que
possui um traçado muito melhor, sem dúvida alguma. Também é a minha opinião:
Paul Ricard era um circuito mais carismático do que este, especialmente quando
ainda era usado em toda a sua extensão, de cerca de 5 Km. Depois, por questões
de segurança, o circuito foi “encurtado” para cerca de 3 Km, mas mesmo assim
mostrava muito charme. Em 1990, ano do último GP de F-1 disputado lá, o
circuito foi totalmente recapeado, com um asfalto de altíssima qualidade que
agradou a todos. Paul Ricard merecia melhor sorte: além de perder o GP da França,
no início deste ano ainda foi relacionado pela FIA como circuito “perigoso e
inadequado” para a F-1. Tem coisas que realmente não dá para entender
direito...
Outro
ponto a favor do velho autódromo é a infraestrutura presente ao redor do
circuito. A região de Le Castellet é simplesmente muito mais atrativa do que a
de Nevers, onde se situa Magny-Cours. Enquanto em Nevers não há uma estrutura
adequada à realização do GP, em
Le Castellet tudo era de primeiro nível. Cada GP francês era
simplesmente um prazer de assistir. Pena que em Nevers a coisa seja tão
diferente. Situada a cerca de 230 Km de Paris, não há grande infraestrutura na
região, fora o autódromo. Aliás, as únicas coisas de referência nesta região é
o fato de Nevers ter sido o berço político de grandes figuras francesas, como o
ex-presidente François Miterrand; isso sem mencionar que a equipe Prost, antiga
Ligier, tem sua fábrica praticamente ao lado do autódromo. As estradas de
acesso são poucas e estreitas, e em dia de GP, ficam literalmente entupidas de
carros. Há alguns anos atrás, quando teve uma greve de caminhoneiros franceses,
foi um caos para chegar ao circuito.
Para
completar, também não há grandes hotéis na região. A situação é tão grave que
boa parte da imprensa especializada se hospeda nas casas de famílias da região
ou em pensões. E
não é fácil encontrar vagas. Se isso é um tormento, por outro lado serve para
despertar o espírito de aventura dos velhos tempos, quando cobrir um GP exigia
muita disposição para enfrentar todo tipo de eventualidade.
Quanto
ao circuito, Magny-Cours é considerado de alta segurança e muito moderno,
seguindo padrões do mais alto nível técnico internacional. Pena que o traçado
não seja dos melhores. É quase tão travado quanto o circuito de Hungaroring, na
Hungria, e tem poucos pontos de ultrapassagem. Há curvas demais, sem espaço de
reta suficiente entre elas. O melhor ponto de ultrapassagem fica na primeira
parte do circuito, onde as curvas são bem mais suaves e há um trecho maior de
reta. Apesar de ser uma pista travada, exige muito do motor, e a média horária
é relativamente alta. Desde 1991, a equipe Williams sempre foi a favorita neste
circuito, conseguindo 4 vitórias, 3 delas com dobradinha. E como é a pista onde
a equipe Prost mais treina, é de esperar bom desempenho da escuderia neste
circuito.
O
GP é disputado em 72 voltas no traçado de 4,25 Km, totalizando 306 Km de
extensão. O recorde da pole-position do traçado é de Nigel Mansell, com
1min13s864, obtido em 1992 com Williams FW14B Renault. O recorde de volta na
corrida também é de Mansell, com 1min17s07, também de 1992. O maior vencedor do
GP da França foi justamente o melhor piloto francês que a F-1 já teve: Alain
Prost, com 6 vitórias (1981 e 1983, com Renault; 1988 e 1989, com
McLaren/Honda; 1990, com Ferrari; e 1993, com Williams/Renault). Na segunda
posição temos Nigel Mansell, com 4 vitórias (1986 e 1987, com Williams/Honda; e
1991 e 1992, com Williams/Renault). O único piloto brasileiro até hoje a vencer
o GP francês foi Nélson Piquet, em 1985, com Brabham BT54 BMW Turbo. Ayrton
Senna e Émerson Fittipaldi não tiveram o gosto de vencer a prova francesa.
Voltando
ao presente, o GP da França promete muitas novidades. A Ferrari vem com um novo
carro, com o qual Michael Schumacher promete derrubar a supremacia da Williams;
Tarso Marques reestréia como piloto na Minardi, enquanto Jarno Trulli substitui
Olivier Panis na Prost. Há ainda a estréia do argentino Norberto Fontana, como
piloto da Sauber, substituindo Gianni Morbidelli, que quebrou o braço semana
passada em um teste. A torcida é que a corrida também mostre novidades na
disputa do campeonato.
Espetacular a bandeirada de chegada do GP de Portland de F-CART
disputado no último domingo. Gil de Ferran, Mark Bundell e Raul Boesel cruzaram
a linha de chegada praticamente lado a lado. Infelizmente para os torcedores
brasileiros, Blundell ficou com a vitória e estragou a melhor chance que nossos
pilotos tiveram até agora de fazer um pódio completamente brasileiro na
categoria. Gil ficou em 2º, com Boesel e 3º, e Christian Fittipaldi na 4ª
posição (um desempenho espetacular do piloto na sua volta à competição, após o
forte acidente na Austrália). Maurício Gugelmim, mais uma vez foi derrubado
pelo azar e teve de se contentar com o 6º lugar.
Na Indy Lights, nossos pilotos estão praticamente monopolizando a
disputa do campeonato. Hélio Castro Neves lidera o certame com 106 pontos,
seguido de Tony Kanaan com 81, e Cristiano da Matta com 74.
Alain Prost teve de engolir o piloto Jarno Trulli para ocupar o lugar
de Olivier Panis nas etapas em que o piloto francês estiver de recuperação de
seu acidente no Canadá. Prost queria testar Trulli e o brasileiro Tarso Marques
para medir o desempenho dos pilotos, mas Flavio Briatore não quis ceder o
piloto brasileiro. Decididamente, Briatore azarou Marques, que possui muito
mais experiência de competição do que o italiano. Só para lembrar que ética é
coisa muito rara na F-1 hoje em dia...
No último fim de semana, na 6ª etapa da F-Vauxhall, disputada no
circuito de Oulton Park, teve vitória de Luciano Burti, seu 3º triunfo este ano
no campeonato da categoria, que está liderando com relativa vantagem. Mais um
brasileiro para arrepiar os ingleses...
Na F-3 inglesa, por outro lado, a sorte não tem andado muito boa para
os nossos pilotos. Mário Haberfeld foi apenas o 5º colocado na 7ª etapa do
campeonato, disputada também em Oulton Park.
O vencedor foi Peter Dumbreck, que lidera o campeonatocom 99
pontos. Haberfeld é o melhor brasileiro na competição, com 42 pontos (4º lugar).
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