quarta-feira, 18 de novembro de 2015

ARQUIVO PISTA & BOX - JUNHO DE 1997 - 27.06.1997



            De volta com um de meus antigos textos, trago hoje a coluna do dia 27 de junho de 1997, e o assunto era o retorno da F-1 à Europa, após sua passagem pelo Canadá. E o palco era o Grande Prêmio da França, que seria disputado em Magny-Cours. O texto dissertava sobre algumas das diferenças entre a pista em Nevers, centro da França, e a sede anterior do GP francês, em Paul Ricard, que infelizmente nunca mais voltou a sediar um GP da categoria máxima do automobilismo após 1990. E a França, inclusive, perdeu seu GP há alguns anos, por conta da política de altas taxas cobradas por Bernie Ecclestone, que fizeram os organizadores franceses dizerem "au revoir" para a F-1. Ninguém sente muita saudade de Magny-Cours, é verdade, mas a França merecia melhor sorte na manutenção de sua corrida no calendário, e quando lembramos que Ecclestone anda ameaçando outras provas européias de serem expurgadas do calendário, eis o exemplo da França para lembrar que nenhuma corrida é sagrada para a FOM, especialmente no que tange ao fator financeiro nas cobranças.
            Nos tópicos, relatos de alguns outros acontecimentos na semana, como a F-Indy original, a F-Vauxhall, F-3, e Indy Lights. Uma boa leitura para todos...


DE VOLTA À EUROPA

            Depois do Grande Prêmio do Canadá, a Fórmula 1 começa agora uma nova fase do campeonato de 1997. A começar pela volta à Europa, com a etapa a ser disputada no circuito de Magny-Cours, sede do Grande Prêmio da França de F-1.
            Magny-Cours é um dos circuitos mais novos do calendário da categoria, servindo de sede para o GP francês desde 1991. Só que a grande maioria do pessoal da F-1 sente muita saudade do velho autódromo de Paul Ricard, em Le Castellet, que possui um traçado muito melhor, sem dúvida alguma. Também é a minha opinião: Paul Ricard era um circuito mais carismático do que este, especialmente quando ainda era usado em toda a sua extensão, de cerca de 5 Km. Depois, por questões de segurança, o circuito foi “encurtado” para cerca de 3 Km, mas mesmo assim mostrava muito charme. Em 1990, ano do último GP de F-1 disputado lá, o circuito foi totalmente recapeado, com um asfalto de altíssima qualidade que agradou a todos. Paul Ricard merecia melhor sorte: além de perder o GP da França, no início deste ano ainda foi relacionado pela FIA como circuito “perigoso e inadequado” para a F-1. Tem coisas que realmente não dá para entender direito...
            Outro ponto a favor do velho autódromo é a infraestrutura presente ao redor do circuito. A região de Le Castellet é simplesmente muito mais atrativa do que a de Nevers, onde se situa Magny-Cours. Enquanto em Nevers não há uma estrutura adequada à realização do GP, em Le Castellet tudo era de primeiro nível. Cada GP francês era simplesmente um prazer de assistir. Pena que em Nevers a coisa seja tão diferente. Situada a cerca de 230 Km de Paris, não há grande infraestrutura na região, fora o autódromo. Aliás, as únicas coisas de referência nesta região é o fato de Nevers ter sido o berço político de grandes figuras francesas, como o ex-presidente François Miterrand; isso sem mencionar que a equipe Prost, antiga Ligier, tem sua fábrica praticamente ao lado do autódromo. As estradas de acesso são poucas e estreitas, e em dia de GP, ficam literalmente entupidas de carros. Há alguns anos atrás, quando teve uma greve de caminhoneiros franceses, foi um caos para chegar ao circuito.
            Para completar, também não há grandes hotéis na região. A situação é tão grave que boa parte da imprensa especializada se hospeda nas casas de famílias da região ou em pensões. E não é fácil encontrar vagas. Se isso é um tormento, por outro lado serve para despertar o espírito de aventura dos velhos tempos, quando cobrir um GP exigia muita disposição para enfrentar todo tipo de eventualidade.
            Quanto ao circuito, Magny-Cours é considerado de alta segurança e muito moderno, seguindo padrões do mais alto nível técnico internacional. Pena que o traçado não seja dos melhores. É quase tão travado quanto o circuito de Hungaroring, na Hungria, e tem poucos pontos de ultrapassagem. Há curvas demais, sem espaço de reta suficiente entre elas. O melhor ponto de ultrapassagem fica na primeira parte do circuito, onde as curvas são bem mais suaves e há um trecho maior de reta. Apesar de ser uma pista travada, exige muito do motor, e a média horária é relativamente alta. Desde 1991, a equipe Williams sempre foi a favorita neste circuito, conseguindo 4 vitórias, 3 delas com dobradinha. E como é a pista onde a equipe Prost mais treina, é de esperar bom desempenho da escuderia neste circuito.
            O GP é disputado em 72 voltas no traçado de 4,25 Km, totalizando 306 Km de extensão. O recorde da pole-position do traçado é de Nigel Mansell, com 1min13s864, obtido em 1992 com Williams FW14B Renault. O recorde de volta na corrida também é de Mansell, com 1min17s07, também de 1992. O maior vencedor do GP da França foi justamente o melhor piloto francês que a F-1 já teve: Alain Prost, com 6 vitórias (1981 e 1983, com Renault; 1988 e 1989, com McLaren/Honda; 1990, com Ferrari; e 1993, com Williams/Renault). Na segunda posição temos Nigel Mansell, com 4 vitórias (1986 e 1987, com Williams/Honda; e 1991 e 1992, com Williams/Renault). O único piloto brasileiro até hoje a vencer o GP francês foi Nélson Piquet, em 1985, com Brabham BT54 BMW Turbo. Ayrton Senna e Émerson Fittipaldi não tiveram o gosto de vencer a prova francesa.
            Voltando ao presente, o GP da França promete muitas novidades. A Ferrari vem com um novo carro, com o qual Michael Schumacher promete derrubar a supremacia da Williams; Tarso Marques reestréia como piloto na Minardi, enquanto Jarno Trulli substitui Olivier Panis na Prost. Há ainda a estréia do argentino Norberto Fontana, como piloto da Sauber, substituindo Gianni Morbidelli, que quebrou o braço semana passada em um teste. A torcida é que a corrida também mostre novidades na disputa do campeonato.


Espetacular a bandeirada de chegada do GP de Portland de F-CART disputado no último domingo. Gil de Ferran, Mark Bundell e Raul Boesel cruzaram a linha de chegada praticamente lado a lado. Infelizmente para os torcedores brasileiros, Blundell ficou com a vitória e estragou a melhor chance que nossos pilotos tiveram até agora de fazer um pódio completamente brasileiro na categoria. Gil ficou em 2º, com Boesel e 3º, e Christian Fittipaldi na 4ª posição (um desempenho espetacular do piloto na sua volta à competição, após o forte acidente na Austrália). Maurício Gugelmim, mais uma vez foi derrubado pelo azar e teve de se contentar com o 6º lugar.


Na Indy Lights, nossos pilotos estão praticamente monopolizando a disputa do campeonato. Hélio Castro Neves lidera o certame com 106 pontos, seguido de Tony Kanaan com 81, e Cristiano da Matta com 74.


Alain Prost teve de engolir o piloto Jarno Trulli para ocupar o lugar de Olivier Panis nas etapas em que o piloto francês estiver de recuperação de seu acidente no Canadá. Prost queria testar Trulli e o brasileiro Tarso Marques para medir o desempenho dos pilotos, mas Flavio Briatore não quis ceder o piloto brasileiro. Decididamente, Briatore azarou Marques, que possui muito mais experiência de competição do que o italiano. Só para lembrar que ética é coisa muito rara na F-1 hoje em dia...


No último fim de semana, na 6ª etapa da F-Vauxhall, disputada no circuito de Oulton Park, teve vitória de Luciano Burti, seu 3º triunfo este ano no campeonato da categoria, que está liderando com relativa vantagem. Mais um brasileiro para arrepiar os ingleses...


Na F-3 inglesa, por outro lado, a sorte não tem andado muito boa para os nossos pilotos. Mário Haberfeld foi apenas o 5º colocado na 7ª etapa do campeonato, disputada também em Oulton Park. O vencedor foi Peter Dumbreck, que lidera o campeonatocom 99 pontos. Haberfeld é o melhor brasileiro na competição, com 42 pontos (4º lugar).
 



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