sexta-feira, 9 de outubro de 2015

21 CORRIDAS: É A F-1 DE 2016


Baku, no Azerbaijão, será o mais novo GP de F-1 no calendário em 2016.

            Se não houverem imprevistos, o campeonato de Fórmula 1 do ano que vem será o maior de sua história. O calendário oficial, divulgado há poucos dias, prevê nada menos do que 21 corridas para a próxima temporada. Equipes e profissionais já antecipam a correria que será manter este número de etapas, seus custos, e as necessidades logísticas que precisarão ser combinadas para aguentar o tranco da competição. E, como de costume, não vai sair barato para ninguém.
            Todas as corridas deste ano estão mantidas em 2016, e deveremos ter o retorno da Alemanha, em Hockenhein, além da "estréia" do GP da Europa, no novo circuito de Baku, no Azerbaijão. A tão falada etapa de Nova Jérsey, nos Estados Unidos, parece ter ido definitivamente para o vinagre, depois de ser tão propalada nos últimos anos. Os organizadores simplesmente não conseguiram levantar a grana exigida por Bernie Ecclestone, e portanto, a corrida não deverá acontecer mais. Pelo menos até o próximo projeto de ter mais uma corrida nos EUA surgir.
            Os planos eram iniciar o campeonato apenas em abril, de forma a dar mais tempo às escuderias para se prepararem adequadamente para a competição. Mas o projeto de termos uma pré-temporada com apenas 8 dias de testes é ridículo, ainda mais se levarmos em conta que os times só deverão ir para a pista no final de fevereiro e início de março. Antigamente, quando não havia essa frescura de limitação de testes extremada, muitos times já entravam na pista logo no início de janeiro. Bom, é verdade que naqueles tempos o campeonato terminava em outubro, de modo que os times iniciavam sua preparação para o ano seguinte mais cedo. Mas, mesmo assim, sempre haviam sessões de testes em novembro e início de dezembro. De qualquer forma, com a competição terminando praticamente às vésperas do mês de dezembro, as escuderias têm de ficar focadas no campeonato quase um mês e meio a mais do que antigamente, e isso faz diferença, pois é preciso não apenas ficar concentradas no campeonato, especialmente se estiverem firmes na disputa por melhores classificações no mundial de construtores, que pode lhes render uma boa diferença de premiação, o que num momento atual de patrocínios escassos, sempre é muito útil para manter as finanças do time em dia.
            Conciliar as datas das corridas foi complicado, pois os promotores pediram mudanças de datas, e nem todas puderam ser atendidas, e é preciso levar em conta a logística de transporte, a fim de maximizar os custos e manter os deslocamentos coerentes. Nesse sentido, a única bizarrice do novo calendário são as provas do Canadá e Europa: ambas estão separadas por apenas uma semana no mês de junho. Na prática, a corrida canadense, desde que os Estados Unidos perderam sua prova em Indianápolis, sempre ficaram como caso isolado na logística de transporte, tendo seu GP disputado em meio à "fase" européia da competição, o que aumenta os gastos de transporte, por ser apenas uma corrida. Mas em 2016, todo mundo terá de partir para o aeroporto praticamente no fim do dia da corrida, pois dali a 4 dias, terão de ter tudo já montado para a disputa da corrida em Baku, no Azerbaijão. Vai ser uma tremenda correria dos times para desmontarem toda a sua estrutura no circuito Gilles Villeneuve, empacotar tudo, jogar nos aviões e seguir para o extremo da Europa. O pessoal vai adorar tudo isso. Será que vamos ter a competição para ver qual escuderia guarda seus materiais mais rápido? Os mecânicos só torcerão para os pilotos não se envolverem em acidentes na corrida canadense, do contrário, o trabalho de catar os pedaços dos carros complica tudo mais do que já estará... A destacar que a corrida em Baku também deverá ser disputada à noite, a exemplo do que já acontece em Singapura. Resta esperar que o novo circuito pelo menos ofereça corrida mais empolgantes do que a da Cidade-Estado asiática...
            Entre as demais mudanças do calendário, Rússia e Malásia trocaram de semestre. A prova em Sochi será a primeira etapa na Europa em 2016, abrindo o mês de maio. A Austrália continuará abrindo a competição, seguida pelas etapas do Bahrein e em seguida a China. Uma vez no Velho Continente, as escuderias terão as etapas da Rússia, Espanha, e Mônaco, antes de embarcarem para o Canadá e irem correndo para Baku. Em seguida, mais uma vez em solo europeu, teremos um mês de julho bem agitado, com nada menos do que 4 etapas, começando pela Áustria, passando pela Inglaterra, Hungria, e fechando com a Alemanha, com uma semana apenas de diferença entre as duas primeiras, e entre as duas últimas. Aí teremos as tradicionais férias de meio de ano europeu, com a F-1 reunindo-se apenas no último fim de semana de agosto, para a disputa da etapa da Bélgica, seguida pela corrida da Itália, com apenas uma semana de diferença. Com isso, encerramos, mais uma vez, o giro pela Europa. É hora de seguirmos novamente rumo ao Oriente e às Américas e Oriente Médio.
            Singapura abre a rodada asiática, de onde os times partirão para Sepang, na Malásia, e de lá, com apenas uma semana de diferença novamente, para Suzuka, no Japão, fechando mais um ciclo. Duas semanas depois, é hora de voltar à América, para outras 3 provas: começamos em Austin, no Texas, para a corrida dos Estados Unidos, e duas semanas depois, desembarcamos na Cidade do México, que retorna ao calendário após 22 anos de ausência na categoria. O pessoal não terá muito tempo para matar a saudade do país latino, pois logo em seguida, com outra semana apenas de diferença, é a vez do Brasil, que fecha o giro pelo continente americano.
Etapa do México, que retorna este ano ao calendário, será realizada uma semana antes da etapa do Brasil na temporada 2016.
            Mais uma vez, a competição será encerrada em Abu Dhabi, uma vez que os árabes pagam uma taxa especial para serem a etapa final do calendário, e como Bernie Ecclestone não se faz de rogado quando o assunto é dinheiro, veremos mais um encerramento da disputa no visualmente espetacular circuito de Yas Marina, ainda que na prática o circuito seja uma negação em oferecer boas corridas e duelos.
            Então, tudo deverá estar pronto para a F-1 ter o seu maior campeonato de todos os tempos, não? Talvez. Este ano, deveríamos ter 20 provas, mas estamos apenas com 19, uma vez que a corrida da Alemanha, que deveria ter ocorrido em julho, após a prova da Inglaterra, acabou cancelada devido à falta de fundos do circuito de Nurburgring para pagar as altas taxas da FOM para sediar a corrida. E para o ano que vem, nada garante que todas as corridas estejam plenamente confirmadas. Esta semana, o diretor administrativo do circuito de Silverstone, Patrick Allen, disparou várias críticas contra a F-1, culpando o atual estado da categoria máxima do automobilismo pelas dificuldades de se "vender" a corrida aos torcedores, cujo público vem diminuindo a cada ano, e reduzindo com isso os ganhos necessários para se manter a prova. Para a etapa de 2016, Bernie Ecclestone aceitou pagamento parcelado dos valores de taxas da FOM, a fim de garantir a permanência da etapa no calendário da próxima temporada, mas e em 2017? "O público quer ver disputa na pista, não pilotos economizando isso e aquilo", bradou o inglês, expondo os motivos do declínio do interesse do público pela F-1. E olhe que estamos falando dos ingleses, que são apaixonados por corridas, mas "os fãs não querem ver uma 'procissão'", segundo Allen retruca. E quando os ingleses dizem isso da F-1, é de preocupar, ainda mais se levarmos em consideração que eles têm Lewis Hamilton dominando a categoria, o que deveria ser um chamariz imbatível para lotar Silverstone, como acontecia nos tempos de Nigel Mansell, se bem que pelo menos naquela época os pilotos não ficavam administrando tanto a prova como tem de fazer hoje...
Silverstone, na Inglaterra, corre risco de sair do calendário após o ano que vem. Altas taxas da FOM e queda do público são preocupações.
            Outra prova que está em risco é Monza. Bernie já avisou que os italianos terão de cumprir com os pagamentos das taxas, o que pode excluir a corrida italiana do calendário de 2017, se a situação não piorar já em 2016. O problema dos italianos ficarem de fora é preocupante, pois ao lado dos ingleses, são os europeus mais apaixonados por automobilismo. Se ambas as corridas ficarem de fora, será uma perda tremenda para a F-1, capaz de colocar em xeque a popularidade da categoria.
            O problema é Bernie Ecclestone controlar sua sanha de cobrar taxas cada vez mais altas. Mesmo dando "um desconto" para as provas européias, isso não está bastando para deixar estas corridas pelo menos no azul em termos financeiros. E não pensem que é fácil ter lucro com um GP: os organizadores praticamente só tem a venda de ingressos como principal fonte de renda. Toda a área do Paddock Club, onde ficam o público mais VIP do GP, assim como todas as placas de publicidade vistas em um autódromo, tem suas rendas geridas pela FOM, não rendendo praticamente nada aos promotores do GP, os quais ainda precisam arcar com os custos de realização da corrida. Se o público cai, então, pior ainda, pois a renda dos ingressos vai junto.
            Como não bastasse esses problemas, os próprios times também andam com a corda no pescoço, e vários deles estão competindo na penúria financeira. Quanto mais provas, mais deslocamentos, e mais viagens, e isso significa mais despesas e custos. A FOM paga uma franquia de transporte para os times mais bem colocados, mas às vezes, nem essa ajuda impede que eles passem por problemas. Por percalços financeiros, a Lotus, por exemplo, não teve como arrumar sua cozinha no paddock de Suzuka, e para evitar que seus mecânicos ficassem sem comer, Bernie Ecclestone teve de permitir que eles pudessem comer na área do Paddock Club do circuito japonês.
            Nos velhos tempos, um calendário com mais e mais provas era tudo que os fãs mais queriam ter. Hoje, este desejo está sendo satisfeito, mas infelizmente, as demais condições apresentadas pela F-1, seja financeira, seja de apresentação da categoria, com seu excesso de regras, não oferece o melhor dos espetáculos que a categoria já teve chance de mostrar. Resta esperar que a F-1 melhore suas regras e apresentações para 2016, ou poderemos correr o risco de ver o maior dos calendários que a categoria já teve virar um potencial maior fiasco de atração para os fãs do automobilismo mundial.
            Confiram o calendário de 2016:

DATA
GRANDE PRÊMIO
CIRCUITO
20.03
Austrália
Albert Park - Melbourne
03.04
Bahrein
Sakhir
17.04
China
Shanghai
01.05
Rússia
Sochi
15.05
Espanha
Barcelona
29.05
Mônaco
Monte Carlo
12.06
Canadá
Gilles Villeneuve - Montreal
19.06
Europa
Baku - Azerbaijão
03.07
Áustria
Red Bull Ring - Zeltweg
10.07
Inglaterra
Silverstone
24.07
Hungria
Hungaroring - Budapeste
31.07
Alemanha
Hockenhein
28.08
Bélgica
Spa-Francorchamps
04.09
Itália
Monza
18.09
Singapura
Marina Bay
02.10
Malásia
Sepang - Kuala Lumpur
09.10
Japão
Suzuka
23.10
Estados Unidos
Circuito das Américas - Austin
06.11
México
Hermanos Rodriguez - Cidade do México
13.11
Brasil
Interlagos - São Paulo
27.11
Abu Dhabi
Yas Marina


Hoje começam os treinos oficiais em Sochi, para a disputa do GP da Rússia, uma prova que ficou muito marcada pelo puxassaquismo de Bernie Ecclestone para com o presidente Vladimir Putin no ano passado, que deixou muita gente incomodada pelo descaramento do presidente da FOM, que fala sempre que a F-1 não se mistura com política, mas que na prática, a situação não é bem essa. Já tínhamos visto conversa parecida quando a categoria teimou em correr na África do Sul nos tempos violentos do apartheid, quando o país sul-africano tinha uma política oficial de discriminação de sua população negra, até que as pressões conseguiram fazer a F-1 cair um pouco na real e deixar de competir lá. Putin vem agindo para desestabilizar a Ucrânia, tomou a Criméia do país vizinho, e ainda tem a cara de pau de dizer que não tem nada a ver com isso. É nessas horas que a F-1 dá nojo em bajular esse tipo de gente. Não é só no Brasil que tem picaretas intragáveis comandando a política de toda uma nação...e até de outras, indevidamente.

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