Baku, no Azerbaijão, será o mais novo GP de F-1 no calendário em 2016. |
Se não houverem
imprevistos, o campeonato de Fórmula 1 do ano que vem será o maior de sua
história. O calendário oficial, divulgado há poucos dias, prevê nada menos do
que 21 corridas para a próxima temporada. Equipes e profissionais já antecipam
a correria que será manter este número de etapas, seus custos, e as
necessidades logísticas que precisarão ser combinadas para aguentar o tranco da
competição. E, como de costume, não vai sair barato para ninguém.
Todas as corridas
deste ano estão mantidas em 2016, e deveremos ter o retorno da Alemanha, em
Hockenhein, além da "estréia" do GP da Europa, no novo circuito de
Baku, no Azerbaijão. A tão falada etapa de Nova Jérsey, nos Estados Unidos,
parece ter ido definitivamente para o vinagre, depois de ser tão propalada nos
últimos anos. Os organizadores simplesmente não conseguiram levantar a grana
exigida por Bernie Ecclestone, e portanto, a corrida não deverá acontecer mais.
Pelo menos até o próximo projeto de ter mais uma corrida nos EUA surgir.
Os planos eram iniciar
o campeonato apenas em abril, de forma a dar mais tempo às escuderias para se
prepararem adequadamente para a competição. Mas o projeto de termos uma
pré-temporada com apenas 8 dias de testes é ridículo, ainda mais se levarmos em
conta que os times só deverão ir para a pista no final de fevereiro e início de
março. Antigamente, quando não havia essa frescura de limitação de testes
extremada, muitos times já entravam na pista logo no início de janeiro. Bom, é
verdade que naqueles tempos o campeonato terminava em outubro, de modo que os
times iniciavam sua preparação para o ano seguinte mais cedo. Mas, mesmo assim,
sempre haviam sessões de testes em novembro e início de dezembro. De qualquer forma,
com a competição terminando praticamente às vésperas do mês de dezembro, as
escuderias têm de ficar focadas no campeonato quase um mês e meio a mais do que
antigamente, e isso faz diferença, pois é preciso não apenas ficar concentradas
no campeonato, especialmente se estiverem firmes na disputa por melhores
classificações no mundial de construtores, que pode lhes render uma boa
diferença de premiação, o que num momento atual de patrocínios escassos, sempre
é muito útil para manter as finanças do time em dia.
Conciliar as datas das
corridas foi complicado, pois os promotores pediram mudanças de datas, e nem
todas puderam ser atendidas, e é preciso levar em conta a logística de
transporte, a fim de maximizar os custos e manter os deslocamentos coerentes.
Nesse sentido, a única bizarrice do novo calendário são as provas do Canadá e
Europa: ambas estão separadas por apenas uma semana no mês de junho. Na
prática, a corrida canadense, desde que os Estados Unidos perderam sua prova em
Indianápolis, sempre ficaram como caso isolado na logística de transporte,
tendo seu GP disputado em meio à "fase" européia da competição, o que
aumenta os gastos de transporte, por ser apenas uma corrida. Mas em 2016, todo
mundo terá de partir para o aeroporto praticamente no fim do dia da corrida,
pois dali a 4 dias, terão de ter tudo já montado para a disputa da corrida em
Baku, no Azerbaijão. Vai ser uma tremenda correria dos times para desmontarem
toda a sua estrutura no circuito Gilles Villeneuve, empacotar tudo, jogar nos aviões
e seguir para o extremo da Europa. O pessoal vai adorar tudo isso. Será que
vamos ter a competição para ver qual escuderia guarda seus materiais mais
rápido? Os mecânicos só torcerão para os pilotos não se envolverem em acidentes
na corrida canadense, do contrário, o trabalho de catar os pedaços dos carros
complica tudo mais do que já estará... A destacar que a corrida em Baku também
deverá ser disputada à noite, a exemplo do que já acontece em Singapura. Resta
esperar que o novo circuito pelo menos ofereça corrida mais empolgantes do que
a da Cidade-Estado asiática...
Entre as demais
mudanças do calendário, Rússia e Malásia trocaram de semestre. A prova em Sochi
será a primeira etapa na Europa em 2016, abrindo o mês de maio. A Austrália
continuará abrindo a competição, seguida pelas etapas do Bahrein e em seguida a
China. Uma vez no Velho Continente, as escuderias terão as etapas da Rússia,
Espanha, e Mônaco, antes de embarcarem para o Canadá e irem correndo para Baku.
Em seguida, mais uma vez em solo europeu, teremos um mês de julho bem agitado,
com nada menos do que 4 etapas, começando pela Áustria, passando pela
Inglaterra, Hungria, e fechando com a Alemanha, com uma semana apenas de
diferença entre as duas primeiras, e entre as duas últimas. Aí teremos as
tradicionais férias de meio de ano europeu, com a F-1 reunindo-se apenas no
último fim de semana de agosto, para a disputa da etapa da Bélgica, seguida
pela corrida da Itália, com apenas uma semana de diferença. Com isso,
encerramos, mais uma vez, o giro pela Europa. É hora de seguirmos novamente
rumo ao Oriente e às Américas e Oriente Médio.
Singapura abre a
rodada asiática, de onde os times partirão para Sepang, na Malásia, e de lá,
com apenas uma semana de diferença novamente, para Suzuka, no Japão, fechando
mais um ciclo. Duas semanas depois, é hora de voltar à América, para outras 3
provas: começamos em Austin, no Texas, para a corrida dos Estados Unidos, e
duas semanas depois, desembarcamos na Cidade do México, que retorna ao
calendário após 22 anos de ausência na categoria. O pessoal não terá muito
tempo para matar a saudade do país latino, pois logo em seguida, com outra
semana apenas de diferença, é a vez do Brasil, que fecha o giro pelo continente
americano.
Etapa do México, que retorna este ano ao calendário, será realizada uma semana antes da etapa do Brasil na temporada 2016. |
Mais uma vez, a
competição será encerrada em Abu Dhabi, uma vez que os árabes pagam uma taxa
especial para serem a etapa final do calendário, e como Bernie Ecclestone não
se faz de rogado quando o assunto é dinheiro, veremos mais um encerramento da
disputa no visualmente espetacular circuito de Yas Marina, ainda que na prática
o circuito seja uma negação em oferecer boas corridas e duelos.
Então, tudo deverá
estar pronto para a F-1 ter o seu maior campeonato de todos os tempos, não?
Talvez. Este ano, deveríamos ter 20 provas, mas estamos apenas com 19, uma vez
que a corrida da Alemanha, que deveria ter ocorrido em julho, após a prova da
Inglaterra, acabou cancelada devido à falta de fundos do circuito de
Nurburgring para pagar as altas taxas da FOM para sediar a corrida. E para o
ano que vem, nada garante que todas as corridas estejam plenamente confirmadas.
Esta semana, o diretor administrativo do circuito de Silverstone, Patrick
Allen, disparou várias críticas contra a F-1, culpando o atual estado da
categoria máxima do automobilismo pelas dificuldades de se "vender" a
corrida aos torcedores, cujo público vem diminuindo a cada ano, e reduzindo com
isso os ganhos necessários para se manter a prova. Para a etapa de 2016, Bernie
Ecclestone aceitou pagamento parcelado dos valores de taxas da FOM, a fim de
garantir a permanência da etapa no calendário da próxima temporada, mas e em
2017? "O público quer ver disputa na pista, não pilotos economizando isso
e aquilo", bradou o inglês, expondo os motivos do declínio do interesse do
público pela F-1. E olhe que estamos falando dos ingleses, que são apaixonados
por corridas, mas "os fãs não querem ver uma 'procissão'", segundo
Allen retruca. E quando os ingleses dizem isso da F-1, é de preocupar, ainda
mais se levarmos em consideração que eles têm Lewis Hamilton dominando a
categoria, o que deveria ser um chamariz imbatível para lotar Silverstone, como
acontecia nos tempos de Nigel Mansell, se bem que pelo menos naquela época os
pilotos não ficavam administrando tanto a prova como tem de fazer hoje...
Silverstone, na Inglaterra, corre risco de sair do calendário após o ano que vem. Altas taxas da FOM e queda do público são preocupações. |
Outra prova que está
em risco é Monza. Bernie já avisou que os italianos terão de cumprir com os
pagamentos das taxas, o que pode excluir a corrida italiana do calendário de
2017, se a situação não piorar já em 2016. O problema dos italianos ficarem de
fora é preocupante, pois ao lado dos ingleses, são os europeus mais apaixonados
por automobilismo. Se ambas as corridas ficarem de fora, será uma perda
tremenda para a F-1, capaz de colocar em xeque a popularidade da categoria.
O problema é Bernie
Ecclestone controlar sua sanha de cobrar taxas cada vez mais altas. Mesmo dando
"um desconto" para as provas européias, isso não está bastando para
deixar estas corridas pelo menos no azul em termos financeiros. E não pensem
que é fácil ter lucro com um GP: os organizadores praticamente só tem a venda
de ingressos como principal fonte de renda. Toda a área do Paddock Club, onde
ficam o público mais VIP do GP, assim como todas as placas de publicidade
vistas em um autódromo, tem suas rendas geridas pela FOM, não rendendo
praticamente nada aos promotores do GP, os quais ainda precisam arcar com os
custos de realização da corrida. Se o público cai, então, pior ainda, pois a
renda dos ingressos vai junto.
Como não bastasse
esses problemas, os próprios times também andam com a corda no pescoço, e
vários deles estão competindo na penúria financeira. Quanto mais provas, mais
deslocamentos, e mais viagens, e isso significa mais despesas e custos. A FOM
paga uma franquia de transporte para os times mais bem colocados, mas às vezes,
nem essa ajuda impede que eles passem por problemas. Por percalços financeiros,
a Lotus, por exemplo, não teve como arrumar sua cozinha no paddock de Suzuka, e
para evitar que seus mecânicos ficassem sem comer, Bernie Ecclestone teve de
permitir que eles pudessem comer na área do Paddock Club do circuito japonês.
Nos velhos tempos, um
calendário com mais e mais provas era tudo que os fãs mais queriam ter. Hoje,
este desejo está sendo satisfeito, mas infelizmente, as demais condições
apresentadas pela F-1, seja financeira, seja de apresentação da categoria, com
seu excesso de regras, não oferece o melhor dos espetáculos que a categoria já
teve chance de mostrar. Resta esperar que a F-1 melhore suas regras e
apresentações para 2016, ou poderemos correr o risco de ver o maior dos
calendários que a categoria já teve virar um potencial maior fiasco de atração
para os fãs do automobilismo mundial.
Confiram o calendário
de 2016:
DATA
|
GRANDE
PRÊMIO
|
CIRCUITO
|
20.03
|
Austrália
|
Albert Park - Melbourne
|
03.04
|
Bahrein
|
Sakhir
|
17.04
|
China
|
Shanghai
|
01.05
|
Rússia
|
Sochi
|
15.05
|
Espanha
|
Barcelona
|
29.05
|
Mônaco
|
Monte Carlo
|
12.06
|
Canadá
|
Gilles Villeneuve - Montreal
|
19.06
|
Europa
|
Baku - Azerbaijão
|
03.07
|
Áustria
|
Red Bull Ring - Zeltweg
|
10.07
|
Inglaterra
|
Silverstone
|
24.07
|
Hungria
|
Hungaroring - Budapeste
|
31.07
|
Alemanha
|
Hockenhein
|
28.08
|
Bélgica
|
Spa-Francorchamps
|
04.09
|
Itália
|
Monza
|
18.09
|
Singapura
|
Marina Bay
|
02.10
|
Malásia
|
Sepang - Kuala Lumpur
|
09.10
|
Japão
|
Suzuka
|
23.10
|
Estados Unidos
|
Circuito das Américas - Austin
|
06.11
|
México
|
Hermanos Rodriguez - Cidade do México
|
13.11
|
Brasil
|
Interlagos - São Paulo
|
27.11
|
Abu Dhabi
|
Yas Marina
|
Hoje começam os treinos oficiais
em Sochi, para a disputa do GP da Rússia, uma prova que ficou muito marcada
pelo puxassaquismo de Bernie Ecclestone para com o presidente Vladimir Putin no
ano passado, que deixou muita gente incomodada pelo descaramento do presidente
da FOM, que fala sempre que a F-1 não se mistura com política, mas que na
prática, a situação não é bem essa. Já tínhamos visto conversa parecida quando
a categoria teimou em correr na África do Sul nos tempos violentos do
apartheid, quando o país sul-africano tinha uma política oficial de
discriminação de sua população negra, até que as pressões conseguiram fazer a
F-1 cair um pouco na real e deixar de competir lá. Putin vem agindo para
desestabilizar a Ucrânia, tomou a Criméia do país vizinho, e ainda tem a cara
de pau de dizer que não tem nada a ver com isso. É nessas horas que a F-1 dá
nojo em bajular esse tipo de gente. Não é só no Brasil que tem picaretas
intragáveis comandando a política de toda uma nação...e até de outras,
indevidamente.
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