Findo o Grande Prêmio
da Itália de F-1, um dos pontos mais discutidos da prova italiana foi a
irregularidade da pressão de um dos pneus utilizados por Lewis Hamilton no
trecho inicial da prova, que estaria com 0,3 libras abaixo da
pressão recomendada pela Pirelli. O assunto tomou desenvoltura em virtude de,
na corrida da GP2, os pilotos Mitch Evans e Sergio Canamasas foram excluídos de
suas posições no grid da primeira corrida da categoria no fim de semana, justamente
por que estavam com seus pneus em calibragem errada da recomendada. Isso havia
ocorrido na classificação, e perderam apenas suas colocações no grid, podendo
largar. Mas, seguindo mesmo critério, Lewis Hamilton deveria ter sido
desclassificado da prova italiana, o que não aconteceu.
Na discussão que se
seguiu, a Mercedes teria conseguido argumentar melhor, sobre a indicação feita
pela Pirelli não ser uma regra, e aproveitando-se da brecha jurídica ali
existente, conseguiu sair ilesa do episódio, e Hamilton manteve sua vitória
conquistada na pista. Mas quem saiu no descrédito foi a FIA, que mais uma vez,
meteu os pés pelas mãos. O entendimento feito pela entidade junto com a Pirelli
às escuderias, atentando para o respeito às recomendações da fornecedora de
pneus acabou deixando uma área incerta no tocante às consequências do ocorrido.
Poderia ter ocorrido a desclassificação, ou o acréscimo de tempo à prova de
Hamilton, o que motivou o alerta do time para que o piloto acelerasse mais no
fim da corrida, talvez temendo uma punição, que conseguiu evitar. Não fosse o
caso da GP2, o assunto passaria batido. No fim, ficou a impressão de dois pesos
e duas medidas, o que não é bom para a credibilidade da FIA e da categoria. Já
foram feitos acordos de fim de semana muito melhores entre equipes e pilotos
nos tradicionais "briefings", com muito mais clareza e objetividade,
em tempos passados...
O caso dos pneus já
não é novo. Vale lembrar que, há dois anos atrás, a Pirelli precisou rever os
seus compostos, devido a vários estouros e problemas com eles durante o GP da
Inglaterra de 2013. Foi uma questão de segurança, uma vez que os pneus se
degradaram de forma inesperada e abrupta, gerando os estouros e dechapagens. E,
na corrida da Bélgica, antes da prova da Itália, Sebastian Vettel soltou os
cachorros contra a Pirelli em virtude de seu pneu estourar a uma volta e meia
do final da corrida, após rodar praticamente mais de 30 voltas, alegando que aquilo
não deveria acontecer com o composto, e que medidas deveriam ser tomadas. Nico
Rosberg fez coro, por ter tido também um pneu estourado num dos treinos, e
exigiu providências. Investigações feitas pela Pirelli apontaram que detritos
de pista teriam sido os responsáveis pelos estouros, o que pode ter convencido
a FIA, mas não Vettel e Rosberg. Se o estouro do pneu de Rosberg merecia maior
atenção, o de Vettel perde parte da suspeita pelo fato de o piloto da Ferrari
arriscar uma estratégia de fazer apenas uma parada na prova belga, estando já
com seu pneu muito rodado, e sob forte pressão de Romain Grosjean na luta pela
3ª colocação, que fez com que a aposta do piloto e do time desse errado.
Mas, pelo sim, pelo
não, a FIA, em conjunto com a Pirelli, resolveu estabelecer medidas
"padrão" para a calibragem dos pneus, como forma de garantir maior
integridade aos compostos, e tentar pacificar o assunto. Só que se esqueceu de
prever todas as hipóteses caso algo diferente acontecesse, e é nesse detalhe
que a entidade só ajuda a prejudicar a F-1, pra não falar de instituir, ainda que
implicitamente, mais uma regra que beira o ridículo na sua tentativa de
"padronizar" a categoria, cuja popularidade só leva mais um golpe de
descrédito por causa disso.
Regras demais e
confusas só ajudam a complicar a situação. Já falei aqui da situação esdrúxula
das limitações de motores e sistemas dos carros, que tem se convertido num
festival de punições a rodo que na Itália, mexeu com quase um terço do grid.
Mas tem outras regras ridículas na parada.
Lembram-se do caso do
fluxômetro, que desclassificou Daniel Ricciardo no GP da Austrália do ano
passado. A FIA inventou essa porcaria de fiscalização do aparelho para
"garantir" que nenhum piloto usasse mais combustível que os demais, a
fim de garantir a regra de limitação de 100 litros de consumo
máximo de gasolina por prova. A verdade é que isso deveria ser jogado fora, e
simplificar a regra dos 100
litros por corrida. Bastaria observar a limitação dos 100 litros ao pé da
letra, e ponto final. Quem consumisse mais, fatalmente sofreria uma pane seca,
abandonando a corrida. Isso acontecia antigamente, quando os carros também
tinham limitação de combustível, e não tinham essa frescura de monitoramento do
fluxo de combustível por parte da FIA. Quem quisesse consumir mais que se
virasse dentro do limite dos 100
litros, e que arcasse com os riscos do procedimento.
Simples assim. Porque é preciso complicar tudo?
O caso dos pneus segue
raciocínio parecido. Nada contra a Pirelli estipular as condições ideais de uso
de seus compostos, cabendo aos times determinar a melhor maneira de
utilizá-los. Mas, ficando claro que, em caso de não seguimento das
recomendações, os times fiquem por sua conta e risco. Nesse ponto, é claro,
para tal norma valer a contento, os parâmetros de segurança dos pneus deveriam
ser melhorados para evitar algumas surpresas. Mas, ao dar a liberdade aos times
de usarem os compostos como achassem melhor, simplificaria as coisas, e quem
arriscasse demais, que ficasse ciente disso. Logicamente, é complicado falar em
assumir o risco, em caso de um exagero no uso errado do pneu provocar um
acidente que poderia ser evitado. Por isso, um aprimoramento da segurança do
pneu para evitar que, em caso de desgaste tremendamente excessivo, estourasse
de forma inesperada, seria essencial para garantir melhor a integridade do
piloto. O que vemos agora é a FIA querer exercer controle ainda maior, com o
cumprimento exato das calibragens dos compostos.
As escuderias já tem
seus problemas, e agora, tendo de administrar mais uma variável, com o risco de
ser punida, só ajuda a depreciar a competição, cada vez mais regulada e
controlada, por vezes a torto e a direito. Já tivemos a proibição da mudança da
relação de marchas nos carros, é também proibido mudar o mapeamento do motor,
etc. Tudo regrado, e vigiado. E ainda temos as mudanças durante a temporada,
quando de repente, a FIA resolve que tal item não é mais legal, e passa a ser
irregular. Basta lembrar do sistema FRIC de suspensão, que no ano passado,
durante o campeonato, passou a ser considerado ilegal. E isso não é de hoje: em
2006, o sistema do amortecedor de massa utilizado pelos carros da equipe
Renault também foram tornados "ilegais" a partir do GP da Itália
daquele ano.
Com idas e vindas,
mudanças de atitude, e regras ridículas sendo implantadas, e ainda de difícil
compreensão do público, fica difícil querer que a F-1 apresente uma imagem
positiva perante o público. No caso da Itália, depois das recomendações de
pressão dos pneus, por mais que fosse correto Hamilton ser desclassificado, o
grande público, ferraristas à parte, pois com a exclusão do inglês Vettel
ficaria com a vitória na corrida italiana, e eles iriam à loucura, iria ver
nisso uma marmelada para restabelecer o interesse do campeonato, e alguns ainda
diriam que foi uma patifaria para favorecer a Ferrari. Hamilton, por sua vez,
veria o seu esforço na pista ir por água abaixo, por um detalhe absurdamente
mínimo, que para muitos não faria diferença na sua vitória. Mas, sucesso e
derrota na F-1 se medem justamente nos detalhes...
É preciso simplificar
as coisas. A regra que manda usar dois tipos de pneu durante a corrida não tem
ajudado a dar tanta emoção como se deveria. Porque não então liberar o uso dos
compostos? Ao invés dos dois tipos oficiais para o fim de semana, que fossem
disponibilizados todos os 4 tipos existentes, além dos 2 tipos para piso
molhado. E simplificasse a regra para uso mínimo de 2 compostos na corrida. E
fim de papo. Cada escuderia que escolhesse cada tipo de pneu usar na corrida, e
em caso de fazer 2 paradas, que pudesse usar até 3 compostos diferentes na
corrida, se achasse isso vantajoso. E, se quisesse misturar os compostos, como
ocorreu inadvertidamente no carro de Valtteri Bottas em Spa-Francorchamps, que
fizesse isso e pronto, não sendo considerado algo irregular. Hoje, a frescura é
tanta que os pneus já são "nomeados" para cada piloto e carro, de
modo que uma troca de pneus no carro "errado" já é passível de
punição. Que se libere o seu uso, como acontecia antigamente. E pilotos e
equipes que se virem para achar a melhor maneira e estratégia de uso dos pneus.
Antigamente, fazer a corrida toda sem parar para troca era uma aposta ousada,
onde era preciso que o piloto soubesse conservar seu equipamento e tivesse um
estilo polido, para aguentar uma corrida inteira sem precisar trocar os
compostos. Mas quem fazia isso admitia correr seus riscos, como Nigel Mansell,
ao ver um de seus pneus traseiros estourados durante o Grande Prêmio da
Austrália de 1986, levando-o ao abandono que lhe custaria o título. Por outro
lado, a tática de seguir a corrida inteira sem parar foi fundamental para
Nélson Piquet vencer o mesmo GP da Austrália em 1990, uma vez que seu carro não
era tão competitivo quanto McLaren e Ferrari.
Menos regras e mais
liberdade para pilotos e equipes seriam muito bem-vindos para melhorar a imagem
da F-1, que cada vez mais vai se enterrando em novas regras e recomendações sem
uma força jurídica clara e objetiva. Uma categoria que se orgulha da tecnologia
dos carros que produz não pode ficar refém de regulamentos e normas que só
confundem mais do que esclarecem, e ainda por cima permitem brechas que tornam
inúteis sua implantação. E como desgraça pouca é bobagem, os próprios times têm
sua parcela de culpa na situação, uma vez que cada um puxa a sardinha para o
seu lado, de modo que muitas vezes não se atinge um consenso que permita regras
que beneficiem a todos da melhor maneira.
Tem se falado muito
sobre mudanças nas regras a partir de 2017, inclusive com a adoção de motores
mais potentes e pneus maiores, com o objetivo de melhorar a competição e as
disputas na pista. Bem, a mudança dos motores V-8 atmosféricos para os atuais
V-6 turbo com sistemas híbridos de recuperação de energia também tinha este
propósito, só que deixaram junto inúmeras regras e limitações que só atrapalham
e em nada contribuem para melhorar a competição. O "congelamento" de
desenvolvimento das novas unidades de potência híbridas que o diga: lembram do
rolo sobre a data de homologação dos motores, clara no ano passado e totalmente
esquecida neste ano? E das idas e vindas do uso das "fichas" de
desenvolvimento das unidades permitidas? Esta temporada já bateu o recorde de
punições para uso de novos motores, e ainda temos muito chão pela frente. E nem
mencionei as punições "cumulativas" pelo uso de novos motores, que se
aplicada ao pé da letra, faria os carros da McLaren/Honda largar sempre em
último até o fim do ano, tendo de pagar punições acumuladas oriundas de apenas
uma prova.
Que a FIA abra os
olhos, e comece a pensar em elaborar um regulamento mais racional, objetivo, e
muito menos complicado, com regras claras, dando maior liberdade aos times
sobre como proceder em situações mais básicas, e se preocuparem mais com
detalhes realmente importantes. É pedir muito? Não. Mas, na prática, em se
tratando da FIA, parece que é pedir por um milagre, do jeito que a situação
anda nos últimos tempos...
Lewis Hamilton largou na pole e dominou a corrida em Monza sem dar chance aos adversários. E ainda ganhou de brinde o abandono de Nico Rosberg... |
O abandono de Nico Rosberg no GP
da Itália praticamente implode as chances de o piloto alemão disputar o título
da temporada. Com a vitória em Monza, Lewis Hamilton abriu 53 pontos de
vantagem para o seu parceiro de equipe, o que significa que, mesmo que abandone
as próximas duas corridas e Rosberg vença ambas, ainda assim o atual bicampeão
do mundo chegará ao GP da Rússia como líder do campeonato por 3 pontos de
diferença. Mesmo que não tivesse abandonado, e mantivesse a 3ª posição, Nico
veria sua desvantagem aumentar para 38 pontos, diferença considerável. Apesar
de ainda faltarem 7 provas para fechar a temporada, pelo que já se viu este
ano, Rosberg não parece demonstrar a mesma capacidade de reação do ano passado,
quando chegou a estar quase 30 pontos à frente de Hamilton na classificação.
Aliás, mesmo que o alemão vença todas as 7 corridas restantes, se Lewis fosse o
2° colocado em todas elas, ele ainda conquistaria o título da temporada 2015.
Mas, como seguro morreu de velho, mesmo que as possibilidades sejam remotas,
ainda não dá para cravar o inglês como mais novo tricampeão da F-1. Basta um
abandono do piloto inglês, com vitória de Rosberg, para as possibilidades de
luta pelo título melhorarem para Nico, mas mesmo assim, Hamilton ainda teria 28
pontos de dianteira, o que ainda tornaria a luta bem complicada. Uma
reviravolta parece cada vez mais improvável, mas no ano passado, Lewis
conseguiu sair das cordas quando parecia batido por Rosberg. Não dá para
garantir que algo assim não aconteça ainda, por menores que sejam as
possibilidades. Pelo sim, pelo não, Hamilton vai querer garantir logo o título
matematicamente, para evitar ao máximo surpresas indesejáveis...
Lewis Hamilton sempre disse que
Ayrton Senna era o seu grande ídolo no automobilismo. E, por uma grande
coincidência, o inglês pode repetir dois números do piloto brasileiro caso
vença a próxima corrida, em Cingapura: seria o seu 41° triunfo na F-1, obtido
com 161 GPs disputados na categoria, exatamente as mesmas marcas de Senna em
sua carreira, de 1984 a
1994, quando também ganhou 41 corridas, em um total de 161 provas disputadas. E
a probabilidade disso acontecer é grande, por dispor do melhor carro da
categoria, e estar dominando a temporada. Dali em diante, Hamilton poderá se
orgulhar de estar superando as marcas de Ayrton na F-1, indo além do que seu
ídolo conquistou. Há somente uma marca do piloto brasileiro que ficará a ser
batida, a de poles, o que demandará pelo menos mais um ano, caso a Mercedes
mantenha seu nível de domínio atual. Hamilton já contabiliza 49 poles, estando
apenas 16 atrás de Senna, com 65. E nessa toada, até o número de poles de
Michael Schumacher (68) poderá ser alcançado e superado por Hamilton. Já o
impressionante número de vitórias do heptacampeão, 91, irá exigir muito mais
tempo e determinação para ser superado pelo atual bicampeão inglês.
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