sexta-feira, 5 de junho de 2015

PITO NA MOLECADA


A rodada tripla da F-3 Européia em Monza foi recheada de toques, rodadas, e excessos por parte dos pilotos na disputa na pista.

            A batida de Max Verstappen em Romain Grosjean em Mônaco rendeu muitas discussões mundo afora do automobilismo, sobre o garoto ser excessivamente agressivo, inexperiente, etc. Falou-se até que, vindo diretamente da F-3, onde o pessoal geralmente anda de forma muito arrojada, ele precisava "mudar" um pouco seus hábitos na F-1, onde bater demais nunca é algo bem visto. Bom, na minha coluna da semana passada, falei que as críticas ao jovem Max eram demasiado exageradas, pois o garoto errou e causou o acidente, mas estava longe de ser uma ameaça na pista, como muitos deram a entender nas críticas. O assunto, aliás, ainda rendeu ontem durante a entrevista coletiva dos pilotos para o Grande Prêmio do Canadá de F-1, onde o jovem holandês e Felipe Massa, um dos seus críticos, trocaram algumas alfinetadas perante os repórteres presentes.
            Só que, quando se fala que o pessoal anda exagerando na dose na F-3, se formos tomar como exemplo o fim de semana passado, na etapa de rodada tripla disputada em Monza pelo certame europeu da categoria, não se pode negar que a molecada anda pisando fundo no acelerador e esquecendo um pouco a prudência dentro da pista. Tivemos um acidente violento com o canadense Lance Stroll, que após um toque com o italiano Antonio Giovinazzi, decolou com seu carro, capotando e por pouco não sofrendo ferimentos graves, onde seu monoposto voou quase tão alto quanto o alambrado do circuito italiano, durante a segunda prova do fim de semana. Poderia ser um acidente isolado, se ambos já não tivessem se tocado na primeira corrida, com o italiano levando a pior, claro, que sem um acidente do mesmo grau sofrido pelo canadense. Quem também andou decolando foi o italiano Michele Beretta, após um enrosco com o chinês Matt Rao. Só que, além destes acidentes, tivemos vários outros incidentes, de menor gravidade, com os pilotos se enroscando uns com os outros, com competidores tendo suspensões quebradas, andando fora da pista, empurrões, etc. Todo mundo parecia não disposto a arredar o pé do acelerador, fosse nas retas, curvas, ou chicanes.
            Com 34 pilotos na pista, o mais incrível é que houveram incidentes por quase praticamente todo o pelotão, sendo poucos os pilotos que não tiveram "contato" com outro competidor. Com os carros oferecendo performances bem próximas, todo mundo parecia pilotar no estilo tudo ou nada: qualquer descuido poderia levar à perda de posição para um rival. Daí que, após duas provas cheias de confusão, a direção resolveu fazer uma reunião no fim do dia, para alertar aos pilotos que eles estavam exagerando nas disputas, e que se isso acontecesse, eles teriam de tomar providências, o que significava dar punição para todos, sendo que eles haviam recebido até reclamação da FIA para que fossem mais duros nas punições. Bom, o aviso pareceu não ter sido bem assimilado, pois a terceira prova, no domingo, voltou a apresentar encrenca entre os pilotos, o que motivou o cancelamento da prova após apenas 8 voltas, depois de termos uma nova capotagem, com o americano Ryan Tveter a fazer a decolagem da vez, logo na freada para a primeira chicane já na largada. Entre outros exageros, teve piloto saindo da pista e voltando a ela, no meio dos carros, mudanças de trajetória para ambos os lados na reta dos boxes - e isso quando havia quase 4 carros emparelhados um ao lado do outro tentando ultrapassagem. Teve 3 carros entrando juntos na Parabólica, e só não se dando mal porque agora há uma faixa de asfalto após a pista antes da caixa de brita, onde os competidores conseguiram completar suas manobras de curva, mas que oficialmente é fora do traçado. Aliás, fazer a Parabólica mais "aberta" dava ao carro a chance de entrar em melhor ângulo na reta dos boxes, e com isso levar ligeira vantagem sobre quem fazia a curva "dentro" do traçado da pista. A terceira corrida acabou interrompida pelo "baixo nível" de pilotagem, e todo mundo ficou sob investigação.
O canadense Lance Stroll voa alto após capotar depois de um toque em disputa de posição. O piloto saiu ileso do acidente, mas podia ter se machucado muito feio.
            Num momento em que na F-1 o público excomunga a postura "conservadora" e "burocrática" dos pilotos, preferindo quem é arrojado e que não se intimide, tentando a todo custo ganhar uma posição, o que fez com que Max Verstappen ganhasse muitos defensores por estar "tentando" algo na pista enquanto os demais apenas seguiam em fila indiana, é preciso conscientizar essa nova geração de pilotos de que a pilotagem dentro da pista tem de ser responsável. Por natureza, o automobilismo é um esporte perigoso, e acidentes sempre podem acontecer, mas nem por isso os pilotos podem se dar ao luxo de ficarem tocando rodas uns com os outros. Por mais seguros que os carros e os circuitos sejam, as consequências de um acidente podem ser imprevisíveis. E os jovens integrantes da F-3 precisam aprender seus limites e como se comportar dentro da pista. Eles estão lá para aprender isso tudo, e quanto antes se derem conta de o que podem e o que não podem fazer, melhor para todos.
            O problema é como passar essa lição aos jovens pilotos que estão iniciando sua carreira em monopostos. No kart europeu recentemente vem havendo uma série de batidas entre os participantes, e pela velocidade naturalmente menor, não tem havido acidentes de grande monta. Mas um monoposto é muito mais veloz, e a partir daí, não se pode simplesmente bater no adversário por bater. Lógico que toques sempre poderão surgir, mas na maior parte do tempo, disputas de posição não precisam ser resolvidas no corpo a corpo. Sempre há a possibilidade de se efetuar ultrapassagens limpas. Só que a impaciência para se resolver uma corrida logo de cara, ou sem planejar exatamente a manobra correta, está mostrando sua face na pista, e se não se tocarem do que pode acontecer, pode haver confusão grossa em breve numa disputa mais ferrenha.
            É verdade que a FIA, desde as mortes de Ayrton Senna e Roland Ratzemberger em Ímola, em 1994, adotou uma postura quase obscessiva em relação à segurança, onde até toques mínimos já são objetivo de investigação e até de punição, o que ajudou a inibir parte do arrojo de alguns pilotos, que temendo serem castigados, não rendem tudo o que podem. E as escuderias, pelo mesmo motivo, reprovam os incidentes que surgem na pista na maioria das vezes, justamente por não desejarem ser punidas também por confusões causadas por seus pilotos.
            Desse modo, os exageros vistos em Monza tendem a ser tratados com excessivo rigor até, como forma de resguardar a categoria, e a segurança dos pilotos. Mas só acaba dando razão à entidade quando esta é criticada pelo excesso de rigor e punições com que policia as corridas, porque no caso de Monza, infelizmente tudo foi exagerado mesmo. Os pilotos extrapolaram. Pode-se até dizer que foi sorte não haverem outros acidentes como o de Stroll, pois os carros andaram sempre muito juntos, e com quase ninguém tirando o pé nas divididas de pista e luta por posição. E, por incrível que pareça, a ida do jovem Verstappen para a F-1 parece incentivar o excesso de arrojo dos pilotos, pois todos querem mostrar do que são capazes, e se Max conseguiu se promovido para a F-1, teoricamente qualquer um deles também tem chances de conseguir o feito. E para isso, precisam impressionar desde já. Só que o certame da F-3 européia é longo: são 33 corridas divididas em 11 etapas, e como diz um tradicional ditado, "não se ganha corrida na primeira curva, se perde".
            Os pilotos não precisam deixar de ser arrojados, decididos e combativos na pista. Muito pelo contrário. Mas precisam aprender como efetuar uma disputa da maneira mais limpa possível. É necessário punir os excessos, mas atualmente a FIA parece ter mais dificuldade para acertar a quantidade de punição do que nunca. É preciso dar uma certa liberdade aos pilotos, para que estes não fiquem sempre com o temor de levar uma punição por qualquer coisa que se veja na pista. Caso contrário, o que teremos é uma geração de pilotos que ficará sempre com o pé atrás na hora de uma disputa de posição, porque tudo pode levar a um castigo, e isso só ajudará a prejudicar a imagem das competições. Mas, pior do que o exagero da FIA, é quando os pilotos mostram que este seu excesso é necessário. Nesse ponto, a FIA resolveu dar um pito na molecada pelo que viu nas corridas da F-3 em Monza. E eles a mereceram. Nem todos, é verdade, mas acabaram levando a bronca junto de quem precisava levar.
            Agora, é esperar que eles se comportem um pouco mais na pista, mas sem deixar de mostrar seu talento e capacidade, e sem serem "acomodados". É uma lição que eles precisarão aprender em sua evolução como pilotos e profissionais do esporte a motor. Precisamos de pilotos com atitude na pista, que possam oferecer shows de pilotagem e destreza ao público que ama as corridas, que sejam também responsáveis e zelosos. Que estes pilotos possam mostrar tudo isso sem serem prejudicados pela postura da FIA, que espero não venha a ter novos momentos como este para novamente bradar sempre seu discurso de segurança e "comportamento" que os pilotos devem ter na pista.


Traçado para a prova da F-E em Moscou. Campeonato entra na reta final.
A F-E prepara-se para a disputa de sua penúltima etapa de seu primeiro campeonato, na cidade de Moscou, que ocorrerá neste sábado. A prova terá transmissão ao vivo do canal pago Fox Sports, às 9:30 Hrs., pelo horário de Brasília. A pista montada nas ruas tem 2,29 Km de extensão, e a prova terá 35 voltas. Com a desclassificação de Lucas di Grassi da etapa de Berlim, a liderança do campeonato ficou para Nelsinho Piquet, que tem intenção de partir para o ataque e não deixar mais a ponta. Para Lucas Di Grassi, o momento é de esquecer a frustração de ver o trabalho de Berlim ter ido por água abaixo, e resolver na pista os problemas, e é esse clima quente de rivalidade que está sendo o assunto mais comentado em relação à categoria dos carros elétricos. De fato, fazia muito tempo que dois pilotos brasileiros não exibiam uma rivalidade deste tipo numa disputa de título em uma categoria automobilística. A última vez que tivemos algo parecido foi em 2004, na Indy Racing League, onde Tony Kanaan e Hélio Castro Neves disputaram o título da competição, com Tony a conquistar o troféu de campeão, e Helinho ficando apenas em 4° no campeonato, mas naquela disputa, nas etapas finais Kanaan já não podia ser ameaçado pelo compatriota, que estava matematicamente fora da briga. Na F-E, a parada está bem mais dura: Nelsinho tem 10 pontos de vantagem para Di Grassi, e vai fazer valer essa diferença na pontuação. Por outro lado, é bom não subestimar Sébastien Buemi, que se encontra apenas 2 pontos atrás de Nelsinho, e também promete vir forte para a luta pelo título, sendo o único piloto no ano com duas vitórias, ao contrário dos rivais.


Depois das conturbadas corridas da rodada dupla da etapa de Detroit, a turma da Indy Racing League volta à pista hoje mesmo, com os primeiros treinos para a corrida seguinte, no Texas Motor Speedway, em Forth Worth, para a segunda prova em circuito oval da temporada. O pista oval do Texas tem 1,45 milhas de extensão, e a corrida será disputada em 248 voltas, com transmissão ao vivo pelo canal pago Bandsports neste sábado.


A F-1 inicia hoje os treinos oficiais para o Grande Prêmio do Canadá, no tradicional circuito Gilles Villeneuve, pista que sempre gostei muito, pelas surpresas que costuma apresentar nas provas disputadas nesta pista. No ano passado, foi aqui que a Mercedes, então dominando amplamente a temporada, teve seu primeiro problema atingindo sua dupla de pilotos ao mesmo tempo, o que ocasionou o abandono de Lewis Hamilton, e a diminuição de ritmo de Nico Rosberg, que ainda assim conseguiu chegar em 2° lugar na corrida, que foi vencida por Daniel Ricciardo, seu primeiro triunfo na F-1. Depois de perder uma vitória praticamente certa em Mônaco, Lewis Hamilton pretende mostrar aqui que o incidente não o perturbou tanto como falam, e que já é passado. De fato, Lewis tem boas lembranças desta pista, pois foi aqui que fez sua primeira pole e venceu pela primeira vez na F-1. Hamilton também venceu aqui em 2010 e 2012. Nico Rosberg, que venceu as duas últimas corridas, ainda precisa convencer que pode lutar pelo título a fundo com Hamilton, e um triunfo nesta pista será crucial para manter a pressão e, quem sabe, até assumir a liderança do campeonato. Mas o atual bicampeão, a exemplo do que ocorreu em Mônaco, não vai dar mole para o rival, e pretende mostrar quem é que manda na pista. Só que, a exemplo de Mônaco, a presença do Safety Car também costuma ser frequente neste GP, uma vez que boa parte da pista não tem áreas de escape grandes, e em vários trechos, os guard-rails estão muito próximos dos carros, onde uma batida costuma causar bons estragos. Depois da confusão que a Mercedes causou em Monte Carlo com a parada de box extra com Hamilton, tudo o que eles não precisam é de uma nova confusão aqui, ainda mais porque existe a possibilidade dos rivais, especialmente a Ferrari e Sebastian Vettel, se aproveitarem do descuido. E tanto a Mercedes quanto a Ferrari vem com várias novidades em seus carros para esta prova, o que deve apimentar a disputa.


Depois de marcar seus primeiros pontos no ano em Mônaco, a McLaren espera poder manter suas esperanças na prova canadense de continuar na zona de pontuação, mas já sabe que a situação aqui é totalmente diferente da etapa monegasca. O circuito de Montreal tem uma longa reta, e bons trechos onde o motor é bastante exigido, e potência não é o melhor adjetivo da unidade de potência da Honda, que prometeu liberar mais força do motor para esta corrida. Situação certamente constrangedora para a McLaren, se não conseguir andar bem, ou com um mínimo de desempenho aceitável, ainda mais depois de ter ganho, nos últimos anos, 3 vezes consecutivas nesta pista, em 2010, 2011, e 2012. A McLaren, contudo, mantém seu otimismo de continuar evoluindo, e é bom que o faça mesmo, pois os rivais não estão nem um pouco parados.

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