sexta-feira, 19 de junho de 2015

A ESCALADA DE LORENZO


Jorge Lorenzo não deu chance as adversários em Barcelona, nem permitiu que Valentino Rossi consumasse sua perseguição implacável ao parceiro nas voltas finais da corrida (acima).

            Quem se acostumou a ver o desfile do espanhol Marc Márquez no Mundial de MotoGP nos últimos dois anos está assistindo a um campeonato bem diferente em 2015. E, nas últimas corridas da classe rainha do motociclismo, quem vem dando as cartas é o espanhol Jorge Lorenzo, que anda impossível, depois de conquistar, domingo passado, no GP da Catalunha, mais uma vitória. E já são 4 triunfos na temporada, o que o torna o maior vencedor do ano até aqui. Na luta dos bicampeões para chegar ao tricampeonato, neste momento Lorenzo leva grande vantagem sobre seu compatriota Márquez, que não vem tendo este ano a mesma desenvoltura exibida em 2013 e 2014.
            Depois de dominar a competição com Márquez nos últimos dois anos, a Honda este ano vem enfrentando mais percalços do que imaginava, e está vendo a arquirrival Yamaha tomar as rédeas da competição. A liderança do campeonato está com Valentino Rossi, que detém duas vitórias no ano, e com o triunfo em Barcelona, Lorenzo está agora apenas 1 ponto atrás do parceiro de equipe. Rossi começou o ano embalado, vencendo a etapa de abertura, no Qatar. No GP das Américas, em Austin, Marc Márquez fez questão de mostrar que continuaria a fazer a concorrência comer sua poeira, e venceu pela terceira vez consecutiva na pista texana. Mas, quem imaginava que a "Formiga Atômica" iria voltar a deitar e rolar no campeonato, se enganou, pelo menos na semântica do termo, que acabou ganhando, na verdade, ares de significado literal, com Marc a deitar e rolar para fora da pista em várias oportunidades.
            Começou na etapa da Argentina, onde o atual bicampeão, em disputa acirrada com Valentino Rossi pela vitória na prova, acabou tocando na moto do rival e se deu mal, caindo e dando adeus à prova portenha a poucas voltas da bandeirada. Márquez ainda se redimiria em Jerez de La Fronteira, subindo novamente ao pódio, em 2° lugar, mas sua reação acabou ficando nisso. Ainda salvou um 4° lugar na etapa da França mas, dali em diante, suas provas terminaram na caixa de brita dos circuitos visitados pela categoria, como vimos nas corridas da Itália, em Mugello, e domingo passado, em Barcelona.
            Em contrapartida à queda, ou às quedas de Márquez, Jorge Lorenzo veio numa escalada implacável e perfeita a partir da corrida de Jerez. Depois de começar o campeonato à sombra do parceiro Valentino Rossi, o espanhol desembestou de vez, e desde a prova na Andaluzia, tem largado praticamente sempre na frente, e vencido de ponta a ponta. Foi pole em Jerez, e comandou desde a largada; em Le Mans, largou em 3°, mas assumindo a ponta logo na largada; em Mugello tomou a dianteira também na largada, deixando o pole Andrea Iannone para trás; e em Barcelona, também não deu a menor bola para a dupla da Suzuki, deixando ambos para trás já na freada para a primeira curva. Pintou o campeão da temporada? Talvez, mas ainda tem muito chão pela frente, e a maior parte do campeonato a ser disputado, até a prova final em Valência, em novembro, que fecha o calendário. E a disputa pelo título, em que pese o momento favorável à Yamaha, pode apresentar uma boa briga. Resta saber se Lorenzo vai facilitar para os rivais, o que acho muito difícil.
            Seu pior resultado até agora foi o 5° lugar na etapa da Argentina. Nas duas primeiras etapas, foi o 4° colocado. E depois engatou 4 vitórias consecutivas. Pontuou em todas as provas até aqui, e no embalo em que está, todo mundo já dá como certo Lorenzo assumir a liderança do campeonato na próxima corrida, que será no fim de semana que vem, em Assen, na Holanda. Mas falta combinar isso com o líder da competição, Valentino Rossi.
            O heptacampeão, contudo, precisa melhorar sua performance em classificação, onde tem falhado nas últimas etapas, largando sempre atrás de seus principais rivais, o que o obriga a ter de recuperar o terreno perdido no início das corridas, o que o faz perder tempo e, por tabela, alcançar a disputa pela liderança em momento tardio da corrida, e com seu equipamento mais desgastado pelo duelo com os oponentes na luta para chegar à frente. Em Jerez, enquanto Lorenzo largou na pole, Valentino foi o 5° no grid, para chegar ao final em 3°, quase 12s atrás de Lorenzo. Da mesma forma, na França, enquanto Jorge largava em 3°, Rossi partiu em 7°, chegando em 2/, a quase 4s do parceiro. Na prova da Itália, a mesma situação: Lorenzo largando em 2°, e Rossi em 8°. O italiano da Yamaha foi 3° na bandeirada, com 6s6 de atraso para o parceiro espanhol. E em Barcelona, Lorenzo foi novamente 3° no grid, enquanto Valentino foi 7°. Demorou praticamente meia corrida para Rossi assumir a 2° colocação, e a partir daí iniciou a perseguição a Lorenzo. Este, porém, estava em alerta, e mesmo com a feroz perseguição do "Doutor", Lorenzo conseguiu rechaçar seus ataques, e cruzar a linha de chegada com 0s8 de vantagem para o parceiro da Yamaha.
            É importante ressaltar, porém, que Lorenzo sempre largou à frente de Rossi em todas as provas neste ano. Mas o espanhol acabou se complicando nas primeiras corridas, de modo que o italiano acabou se dando melhor nos resultados. No ano passado, Lorenzo iniciou o campeonato completamente ofuscado por Valentino, só reencontrando sua melhor forma na segunda metade do ano. Após a etapa da Argentina, com dois triunfos do parceiro, e sem nenhum pódio, parecia que veríamos uma reprise do panorama de 2014. Mas Lorenzo conseguiu recuperar a sua melhor forma, e desde então, tem sido imbatível na corrida, não dando chance a ninguém. Sua tática tem sido atacar de forma implacável logo na largada, assumir a ponta e dar tudo de si para fugir na dianteira, enquanto seus rivais digladiam-se atrás, permitindo seu distanciamento enquanto perdem tempo na disputa de suas posições. Na Catalunha, por exemplo, depois que se desvencilhou dos adversários, Rossi tinha cerca de 4s de desvantagem para Lorenzo, e partiu para o ataque. Mas o parceiro de equipe também passou a responder, não permitindo que a distância diminuísse tão rápido. Se Valentino quiser inverter o momento de ascenção de Lorenzo, terá de se aplicar para começar a batê-lo na classificação, de forma a permitir ter uma vantagem similar à que ele vem aplicando nas últimas corridas. Quando ambos estão com pista livre, seus ritmos são similares, ora o espanhol sendo mais rápido, ora o italiano.
            De qualquer maneira, Rossi está apertando a pressão sobre o companheiro de equipe: a vitória mais folgada de Lorenzo foi em Jerez, com vantagem de 5s576 sobre Márquez. Na França, a vantagem da vitória do espanhol foi menor, de 3s82 sobre Valentino. Na Itália, Jorge abriu 5s563 para Andrea Iannone na bandeirada. E em Barcelona, Rossi ficou apenas 0s885 atrás. E a disputa pelo título de 2015 parece que vai ficando restrita aos pilotos do time oficial da Yamaha: além de contar com sua dupla nas duas primeiras posições no campeonato, a marca também lidera o certame de construtores, com 410 pontos, com boa folga sobre a 2ª colocada, que é a Ducati, com 268 pontos. A Honda está em 3°, com apenas 213 pontos, o que dá uma boa idéia de como a equipe campeã dos últimos dois anos está enfrentando dificuldades nesta temporada.
Vitória em Barcelona foi o 4° triunfo consecutivo do espanhol em 2015. E ele quer mais...
            Enquanto Rossi lidera o campeonato com 138 pontos, e Lorenzo segue logo atrás com 137, o atual bicampeão Marc Márquez é apenas o 5° colocado, com 69 pontos, praticamente metade da pontuação de Valentino. A dupla da Ducati, Andrea Iannone, e Andrea Dovizioso, segue na 3° e 4° colocações, com 94 e 83 pontos, respectivamente. Para completar a desgraça da Honda, seu outro piloto, Dani Pedrosa, ficou de fora em 3 etapas, enquanto se recuperava de uma cirurgia no braço realizada no início de abril, e acumula como melhor resultado apenas um pódio, com o 3° lugar obtido justamente domingo passado em Barcelona. Acostumado a ter a moto mais competitiva da competição, Marc Márquez está tendo de se desdobrar este ano na disputa, onde as Yamaha, e até as Ducati, estão mostrando-se tão ou até mais competitivas do que as Honda, em ritmo de corrida. Nas classificações, Marc tem mostrado sua habitual velocidade, tendo até o momento 3 poles no ano, e largando apenas uma vez fora das 4 primeiras colocações. Na ânsia de tentar tirar no braço ou não arredar o pé da disputa, o jovem espanhol infelizmente tem cometido erros, como os que ocasionaram as quedas vistas na Argentina, Mugello, e Barcelona. A Honda aumentou a potência de seu motor para esta temporada, mas as mudanças introduzidas também tornaram o propulsor mais indócil e temperamental, sendo mais difícil de se conduzir. O pouco tempo de testes da pré-temporada não permitiu que a Honda solucionasse o problema a contento, então, o comportamento de sua moto é mais arisco nesta temporada, enquanto as Yamaha tem uma performance mais homogênea. E esse comportamento mais agressivo é também parte da causa dos problemas de performance em corrida que tem sido observados. Márquez, que tenta sempre dar tudo por tudo, está tendo literalmente que segurar o touro a unha nos GPs. E ele já garantiu que não vai abaixar os braços e deixar de lutar.
            Ainda há tempo para o atual bicampeão reagir, o que ajudaria a tornar o campeonato ainda mais disputado, mas a parada vai ser dura para os atuais campeões do mundo, e as chances vão diminuindo a cada corrida. Além de uma revigorada Yamaha, que conta com os talentos incontestáveis de dois campeões, os italianos da Ducati estão andando mais forte do que muitos esperavam, e estão bem perto de voltar a vencer corridas na categoria, complicando os planos de uma reação por parte da Honda. Andrea Iannone e Andrea Dovizioso têm largado sempre nas primeiras colocações, com raras exceções, já tendo conquistado até duas pole-positions, e estão decididos a encerrar o jejum da marca, que não vence há anos na MotoGP.
            A disputa do campeonato promete altas doses de emoção ate o final do ano, e todos aguardam para ver se a escalada de Jorge Lorenzo iniciada em Jerez vai se estender pelas próximas corridas. Já são 4 triunfos consecutivos, e quando foi bicampeão nas temporadas de 2010 e 2012, o espanhol se caracterizou por ser extremamente regular na competição, tendo apenas dois abandonos nas corridas destes dois certames. Portanto, os rivais que partam para o ataque desde já para interromper a festa de Jorge, caso contrário poderão ver outra leva de vitórias enfileiradas pelo piloto da Yamaha. E ele não vai se contentar apenas com as 4 vitórias que já conquistou este ano, vai querer muito mais...


Nada menos do que 4 equipes já conquistaram poles no atual campeonato da MotoGP: além das favoritas Yamaha e Honda, a Ducati também já teve a chance de largar na frente em 2015, e na última etapa, em Barcelona, quem surpreendeu foi a Suzuki, que alinhou seus dois pilotos nas duas primeiras posições do grid da prova catalã, com Aleix Espargaró largando na posição de honra. Pena que a felicidade da Suzuki não durou muito: tanto Aleix quanto seu companheiro Maverick Viñales foram superados logo na largada por Jorge Lorenzo, e na corrida, as motos não apresentaram o mesmo rendimento. Viñales terminou em 6° lugar, enquanto Espargaró deixou a corrida após uma queda, arruinando seus planos de obter um bom resultado para a equipe. A Suzuki é a 4ª colocada no campeonato de construtores, com 77 pontos. Maverick Viñales é apenas o 8° colocado no campeonato, com 46 pontos, enquanto Aleix Espargaró ocupa a 12ª posição, com 31 pontos.


Depois da etapa do Canadá, a F-1 voltou à Europa, e hoje começam os treinos para o GP da Áustria, no Red Bull Ring, antigo Osterreichring, pista que era de altíssima velocidade até 1987. O circuito retornou uma década depois, reduzido, com o traçado após o morro ao lado da pista praticamente ignorado, o que se manteve na reconstrução do autódromo efetuada recentemente por Dietrich Mateschitz, dono do império da Red Bull, e proprietário da escuderias de F-1 homônima e Toro Rosso. No Canadá, os carros de ambas as equipes sofreram com a falta de potência do motor Renault V-6 turbo e seus sistemas de recuperação de energia, que mostraram seu déficit de performance nos trechos de reta do circuito canadense. E aqui na Áustria a situação deve ser ainda pior para os carros da turma dos energéticos: mesmo sem contar com os longos trechos de retas que eram usados até 1987, a pista austríaca ainda exige muito motor, o que sinaliza um fim de semana dos mais complicados para a Red Bull e a Toro Rosso. No ano passado, quando o motor Renault já não ajudava, mas o chassi ainda era um dos melhores da categoria, o desempenho foi pífio, com Daniel Ricciardo terminando apenas em 8° lugar, depois de um esperançoso 5° tempo no grid. Sebastian Vettel abandonou a corrida, depois de largar apenas em 12° lugar. Já a dupla da Toro Rosso também ficou pelo caminho, depois de largarem em 7° (Daniil Kvyat) e 14° (Jean-Éric Vergne). Para piorar o clima, a Red Bull já anunciou que tanto Daniel Ricciardo quanto Daniil Kvyat trocarão o motor para a etapa de seu país, utilizando cada um a 5ª unidade de potência no ano, e por isso, perderão 10 posições no grid como penalização, por excederem o limite regulamentar de apenas 4 unidades por ano disponíveis. Parafraseando seu famoso slogan publicitário, na Áustria a Red Bull "não terá asas". Justo na etapa de seu país. Depois de provarem as delícias de ganhar 4 campeonatos consecutivos, a nova fase é de fato bem dura...
O belo visual da Áustria no entorno do Red Bull Ring contrasta com o clima de pouca esperança de bons resultados no time da casa. A Mercedes é a favorita para vencer, como fez em 2014...

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