Jorge Lorenzo não deu chance as adversários em Barcelona, nem permitiu que Valentino Rossi consumasse sua perseguição implacável ao parceiro nas voltas finais da corrida (acima). |
Quem se acostumou a
ver o desfile do espanhol Marc Márquez no Mundial de MotoGP nos últimos dois
anos está assistindo a um campeonato bem diferente em 2015. E, nas últimas
corridas da classe rainha do motociclismo, quem vem dando as cartas é o
espanhol Jorge Lorenzo, que anda impossível, depois de conquistar, domingo
passado, no GP da Catalunha, mais uma vitória. E já são 4 triunfos na
temporada, o que o torna o maior vencedor do ano até aqui. Na luta dos bicampeões
para chegar ao tricampeonato, neste momento Lorenzo leva grande vantagem sobre
seu compatriota Márquez, que não vem tendo este ano a mesma desenvoltura
exibida em 2013 e 2014.
Depois de dominar a
competição com Márquez nos últimos dois anos, a Honda este ano vem enfrentando
mais percalços do que imaginava, e está vendo a arquirrival Yamaha tomar as rédeas
da competição. A liderança do campeonato está com Valentino Rossi, que detém
duas vitórias no ano, e com o triunfo em Barcelona, Lorenzo está agora apenas 1
ponto atrás do parceiro de equipe. Rossi começou o ano embalado, vencendo a
etapa de abertura, no Qatar. No GP das Américas, em Austin, Marc Márquez fez
questão de mostrar que continuaria a fazer a concorrência comer sua poeira, e
venceu pela terceira vez consecutiva na pista texana. Mas, quem imaginava que a
"Formiga Atômica" iria voltar a deitar e rolar no campeonato, se
enganou, pelo menos na semântica do termo, que acabou ganhando, na verdade,
ares de significado literal, com Marc a deitar e rolar para fora da pista em várias
oportunidades.
Começou na etapa da
Argentina, onde o atual bicampeão, em disputa acirrada com Valentino Rossi pela
vitória na prova, acabou tocando na moto do rival e se deu mal, caindo e dando
adeus à prova portenha a poucas voltas da bandeirada. Márquez ainda se
redimiria em Jerez de La Fronteira, subindo novamente ao pódio, em 2° lugar,
mas sua reação acabou ficando nisso. Ainda salvou um 4° lugar na etapa da
França mas, dali em diante, suas provas terminaram na caixa de brita dos
circuitos visitados pela categoria, como vimos nas corridas da Itália, em
Mugello, e domingo passado, em Barcelona.
Em contrapartida à
queda, ou às quedas de Márquez, Jorge Lorenzo veio numa escalada implacável e
perfeita a partir da corrida de Jerez. Depois de começar o campeonato à sombra
do parceiro Valentino Rossi, o espanhol desembestou de vez, e desde a prova na
Andaluzia, tem largado praticamente sempre na frente, e vencido de ponta a
ponta. Foi pole em Jerez, e comandou desde a largada; em Le Mans, largou em 3°,
mas assumindo a ponta logo na largada; em Mugello tomou a dianteira também na
largada, deixando o pole Andrea Iannone para trás; e em Barcelona, também não
deu a menor bola para a dupla da Suzuki, deixando ambos para trás já na freada
para a primeira curva. Pintou o campeão da temporada? Talvez, mas ainda tem
muito chão pela frente, e a maior parte do campeonato a ser disputado, até a
prova final em Valência, em novembro, que fecha o calendário. E a disputa pelo
título, em que pese o momento favorável à Yamaha, pode apresentar uma boa
briga. Resta saber se Lorenzo vai facilitar para os rivais, o que acho muito
difícil.
Seu pior resultado até
agora foi o 5° lugar na etapa da Argentina. Nas duas primeiras etapas, foi o 4°
colocado. E depois engatou 4 vitórias consecutivas. Pontuou em todas as provas
até aqui, e no embalo em que está, todo mundo já dá como certo Lorenzo assumir
a liderança do campeonato na próxima corrida, que será no fim de semana que
vem, em Assen, na Holanda. Mas falta combinar isso com o líder da competição, Valentino
Rossi.
O heptacampeão,
contudo, precisa melhorar sua performance em classificação, onde tem falhado
nas últimas etapas, largando sempre atrás de seus principais rivais, o que o
obriga a ter de recuperar o terreno perdido no início das corridas, o que o faz
perder tempo e, por tabela, alcançar a disputa pela liderança em momento tardio
da corrida, e com seu equipamento mais desgastado pelo duelo com os oponentes
na luta para chegar à frente. Em Jerez, enquanto Lorenzo largou na pole,
Valentino foi o 5° no grid, para chegar ao final em 3°, quase 12s atrás de
Lorenzo. Da mesma forma, na França, enquanto Jorge largava em 3°, Rossi partiu
em 7°, chegando em 2/, a quase 4s do parceiro. Na prova da Itália, a mesma
situação: Lorenzo largando em 2°, e Rossi em 8°. O italiano da Yamaha foi 3° na
bandeirada, com 6s6 de atraso para o parceiro espanhol. E em Barcelona, Lorenzo
foi novamente 3° no grid, enquanto Valentino foi 7°. Demorou praticamente meia
corrida para Rossi assumir a 2° colocação, e a partir daí iniciou a perseguição
a Lorenzo. Este, porém, estava em alerta, e mesmo com a feroz perseguição do
"Doutor", Lorenzo conseguiu rechaçar seus ataques, e cruzar a linha
de chegada com 0s8 de vantagem para o parceiro da Yamaha.
É importante
ressaltar, porém, que Lorenzo sempre largou à frente de Rossi em todas as
provas neste ano. Mas o espanhol acabou se complicando nas primeiras corridas,
de modo que o italiano acabou se dando melhor nos resultados. No ano passado,
Lorenzo iniciou o campeonato completamente ofuscado por Valentino, só
reencontrando sua melhor forma na segunda metade do ano. Após a etapa da
Argentina, com dois triunfos do parceiro, e sem nenhum pódio, parecia que veríamos
uma reprise do panorama de 2014. Mas Lorenzo conseguiu recuperar a sua melhor
forma, e desde então, tem sido imbatível na corrida, não dando chance a ninguém.
Sua tática tem sido atacar de forma implacável logo na largada, assumir a ponta
e dar tudo de si para fugir na dianteira, enquanto seus rivais digladiam-se atrás,
permitindo seu distanciamento enquanto perdem tempo na disputa de suas posições.
Na Catalunha, por exemplo, depois que se desvencilhou dos adversários, Rossi
tinha cerca de 4s de desvantagem para Lorenzo, e partiu para o ataque. Mas o
parceiro de equipe também passou a responder, não permitindo que a distância
diminuísse tão rápido. Se Valentino quiser inverter o momento de ascenção de
Lorenzo, terá de se aplicar para começar a batê-lo na classificação, de forma a
permitir ter uma vantagem similar à que ele vem aplicando nas últimas corridas.
Quando ambos estão com pista livre, seus ritmos são similares, ora o espanhol
sendo mais rápido, ora o italiano.
De qualquer maneira,
Rossi está apertando a pressão sobre o companheiro de equipe: a vitória mais
folgada de Lorenzo foi em Jerez, com vantagem de 5s576 sobre Márquez. Na França,
a vantagem da vitória do espanhol foi menor, de 3s82 sobre Valentino. Na Itália,
Jorge abriu 5s563 para Andrea Iannone na bandeirada. E em Barcelona, Rossi
ficou apenas 0s885 atrás. E a disputa pelo título de 2015 parece que vai
ficando restrita aos pilotos do time oficial da Yamaha: além de contar com sua
dupla nas duas primeiras posições no campeonato, a marca também lidera o
certame de construtores, com 410 pontos, com boa folga sobre a 2ª colocada, que
é a Ducati, com 268 pontos. A Honda está em 3°, com apenas 213 pontos, o que dá
uma boa idéia de como a equipe campeã dos últimos dois anos está enfrentando
dificuldades nesta temporada.
Vitória em Barcelona foi o 4° triunfo consecutivo do espanhol em 2015. E ele quer mais... |
Enquanto Rossi lidera
o campeonato com 138 pontos, e Lorenzo segue logo atrás com 137, o atual
bicampeão Marc Márquez é apenas o 5° colocado, com 69 pontos, praticamente
metade da pontuação de Valentino. A dupla da Ducati, Andrea Iannone, e Andrea
Dovizioso, segue na 3° e 4° colocações, com 94 e 83 pontos, respectivamente. Para
completar a desgraça da Honda, seu outro piloto, Dani Pedrosa, ficou de fora em
3 etapas, enquanto se recuperava de uma cirurgia no braço realizada no início
de abril, e acumula como melhor resultado apenas um pódio, com o 3° lugar
obtido justamente domingo passado em Barcelona. Acostumado a ter a moto mais
competitiva da competição, Marc Márquez está tendo de se desdobrar este ano na
disputa, onde as Yamaha, e até as Ducati, estão mostrando-se tão ou até mais
competitivas do que as Honda, em ritmo de corrida. Nas classificações, Marc tem
mostrado sua habitual velocidade, tendo até o momento 3 poles no ano, e
largando apenas uma vez fora das 4 primeiras colocações. Na ânsia de tentar
tirar no braço ou não arredar o pé da disputa, o jovem espanhol infelizmente
tem cometido erros, como os que ocasionaram as quedas vistas na Argentina,
Mugello, e Barcelona. A Honda aumentou a potência de seu motor para esta
temporada, mas as mudanças introduzidas também tornaram o propulsor mais indócil
e temperamental, sendo mais difícil de se conduzir. O pouco tempo de testes da
pré-temporada não permitiu que a Honda solucionasse o problema a contento, então,
o comportamento de sua moto é mais arisco nesta temporada, enquanto as Yamaha
tem uma performance mais homogênea. E esse comportamento mais agressivo é também
parte da causa dos problemas de performance em corrida que tem sido observados.
Márquez, que tenta sempre dar tudo por tudo, está tendo literalmente que
segurar o touro a unha nos GPs. E ele já garantiu que não vai abaixar os braços
e deixar de lutar.
Ainda há tempo para o atual
bicampeão reagir, o que ajudaria a tornar o campeonato ainda mais disputado,
mas a parada vai ser dura para os atuais campeões do mundo, e as chances vão
diminuindo a cada corrida. Além de uma revigorada Yamaha, que conta com os
talentos incontestáveis de dois campeões, os italianos da Ducati estão andando
mais forte do que muitos esperavam, e estão bem perto de voltar a vencer
corridas na categoria, complicando os planos de uma reação por parte da Honda. Andrea
Iannone e Andrea Dovizioso têm largado sempre nas primeiras colocações, com
raras exceções, já tendo conquistado até duas pole-positions, e estão decididos
a encerrar o jejum da marca, que não vence há anos na MotoGP.
A disputa do
campeonato promete altas doses de emoção ate o final do ano, e todos aguardam
para ver se a escalada de Jorge Lorenzo iniciada em Jerez vai se estender pelas
próximas corridas. Já são 4 triunfos consecutivos, e quando foi bicampeão nas
temporadas de 2010 e 2012, o espanhol se caracterizou por ser extremamente
regular na competição, tendo apenas dois abandonos nas corridas destes dois
certames. Portanto, os rivais que partam para o ataque desde já para
interromper a festa de Jorge, caso contrário poderão ver outra leva de vitórias
enfileiradas pelo piloto da Yamaha. E ele não vai se contentar apenas com as 4
vitórias que já conquistou este ano, vai querer muito mais...
Nada menos do que 4 equipes já
conquistaram poles no atual campeonato da MotoGP: além das favoritas Yamaha e
Honda, a Ducati também já teve a chance de largar na frente em 2015, e na última
etapa, em Barcelona, quem surpreendeu foi a Suzuki, que alinhou seus dois
pilotos nas duas primeiras posições do grid da prova catalã, com Aleix Espargaró
largando na posição de honra. Pena que a felicidade da Suzuki não durou muito:
tanto Aleix quanto seu companheiro Maverick Viñales foram superados logo na
largada por Jorge Lorenzo, e na corrida, as motos não apresentaram o mesmo
rendimento. Viñales terminou em 6° lugar, enquanto Espargaró deixou a corrida
após uma queda, arruinando seus planos de obter um bom resultado para a equipe.
A Suzuki é a 4ª colocada no campeonato de construtores, com 77 pontos. Maverick
Viñales é apenas o 8° colocado no campeonato, com 46 pontos, enquanto Aleix
Espargaró ocupa a 12ª posição, com 31 pontos.
Depois da etapa do Canadá, a F-1
voltou à Europa, e hoje começam os treinos para o GP da Áustria, no Red Bull
Ring, antigo Osterreichring, pista que era de altíssima velocidade até 1987. O
circuito retornou uma década depois, reduzido, com o traçado após o morro ao
lado da pista praticamente ignorado, o que se manteve na reconstrução do autódromo
efetuada recentemente por Dietrich Mateschitz, dono do império da Red Bull, e
proprietário da escuderias de F-1 homônima e Toro Rosso. No Canadá, os carros
de ambas as equipes sofreram com a falta de potência do motor Renault V-6 turbo
e seus sistemas de recuperação de energia, que mostraram seu déficit de
performance nos trechos de reta do circuito canadense. E aqui na Áustria a
situação deve ser ainda pior para os carros da turma dos energéticos: mesmo sem
contar com os longos trechos de retas que eram usados até 1987, a pista austríaca
ainda exige muito motor, o que sinaliza um fim de semana dos mais complicados
para a Red Bull e a Toro Rosso. No ano passado, quando o motor Renault já não
ajudava, mas o chassi ainda era um dos melhores da categoria, o desempenho foi
pífio, com Daniel Ricciardo terminando apenas em 8° lugar, depois de um
esperançoso 5° tempo no grid. Sebastian Vettel abandonou a corrida, depois de
largar apenas em 12° lugar. Já a dupla da Toro Rosso também ficou pelo caminho,
depois de largarem em 7° (Daniil Kvyat) e 14° (Jean-Éric Vergne). Para piorar o
clima, a Red Bull já anunciou que tanto Daniel Ricciardo quanto Daniil Kvyat
trocarão o motor para a etapa de seu país, utilizando cada um a 5ª unidade de
potência no ano, e por isso, perderão 10 posições no grid como penalização, por
excederem o limite regulamentar de apenas 4 unidades por ano disponíveis. Parafraseando
seu famoso slogan publicitário, na Áustria a Red Bull "não terá asas".
Justo na etapa de seu país. Depois de provarem as delícias de ganhar 4
campeonatos consecutivos, a nova fase é de fato bem dura...
O belo visual da Áustria no entorno do Red Bull Ring contrasta com o clima de pouca esperança de bons resultados no time da casa. A Mercedes é a favorita para vencer, como fez em 2014... |
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