Fernando Alonso e a Ferrari: Fim da parceria depois de 5 temporadas... |
O Grande Prêmio do Japão
sempre ocupou um lugar de destaque na minha preferência das corridas no
campeonato da Fórmula 1. É assim desde 1987, quando a F-1 aqui se apresentou
pela primeira vez no circuito de Suzuka, de propriedade da Honda, que em 2015
estará de volta ao circo, de onde saiu no fim de 2008 com o rabo entre as
pernas, fugindo da crise econômica mundial. Bem, os japas vêm aí de novo, e a
parceria com a McLaren já anunciada há tempos ganhou um atrativo extra aqui no
paddock: a contratação de Fernando Alonso pela McLaren para liderar a nova
parceria nipo-britânica.
Como este texto foi
fechado antes dos carros entrarem na pista para os primeiros treinos oficiais
nesta sexta-feira em Suzuka, oficialmente ainda não houve um comunicado
"oficial" da ida do bicampeão espanhol para o time inglês. Mas
jornalistas com fontes confiáveis, como Américo Teixeira Jr., do site www.diariomotorsport.com.br,
já cravaram que o asturiano estará de volta à escuderia de Ron Dennis na próxima
temporada. Fernando já pilotou para a escuderia em 2007, e ficou apenas um ano
por lá: recém-coroado bicampeão da F-1, Alonso não suportou o embate com o
novato Lewis Hamilton, teve um de seus famosos chiliques, e ainda ajudou a
complicar o time no caso vexaminoso da espionagem de projetos da Ferrari. Quem
viu, na época, poderia jurar de pés juntos que Alonso nunca mais pisaria em
Woking enquanto Ron Dennis estivesse vivo...
Bom, estamos em 2014,
Ron Dennis segue firme na McLaren, e parece que o passado ficará no passado, e
Alonso terá a chance de tentar ser novamente campeão pelo time inglês. Para a
Honda, seria o momento perfeito anunciar o nome de Alonso em sua pista. Se no
momento em que esta coluna estiver sendo lida ainda não ocorreu, nada impede
que isso ainda aconteça, afinal, o fim de semana do GP vai até domingo, e não
termina necessariamente com a bandeirada de chegada da corrida.
A "era"
Alonso na Ferrari chega ao fim sem conseguir realizar todos os objetivos que se
propôs. Quando desembarcou em Maranello para a temporada de 2010, piloto e
escuderia tinham como meta repetir o domínio demonstrado por Michael Schumacher
entre 2000 e 2004, e que também quase levara os títulos de 1997, 1998, e 2006. Se
no primeiro ano quase conseguiram, nos anos seguintes a coisa desandou, ainda
que em 2012 Alonso novamente quase tenha chegado lá. Mas o clima na escuderia
nunca esteve exatamente otimista ou esperançoso como nos tempos de Schumacher. A
escuderia italiana não conseguia manter uma estabilidade em seus projetos, e
para piorar, a supremacia do binômio Sebastian Vettel-Red Bull ajudou a
complicar as coisas. Sem um carro à altura, por mais que pilotasse como nunca,
o abismo de performance para o carro dos energéticos, que tinha um piloto de
grande talento, era quase sempre intransponível.
Nem é preciso dizer
que em 2013, vendo Vettel faturar 9 corridas consecutivas, Alonso certamente
sentiu a ponta de arrependimento bater se for lembrar que o espanhol já teve
oportunidade de pilotar para o time, quando este estava se estruturando para se
tornar uma equipe vencedora. O asturiano preferiu ir para a Ferrari. A Red Bull
pegou Vettel e, bem...todo mundo sabe o que aconteceu. E este ano, vendo a
dupla da Mercedes decidir o título do campeonato, e tendo nas mãos outro carro
complicado com o qual depende mais da sorte do que de seu talento para sequer
subir ao pódio, a paciência de Fernando estava nas últimas. Com contrato até
2016 para correr em Maranello, aguentaria outros dois anos nebulosos?
Tencionando reverter a
situação, a Ferrari promoveu grandes mudanças em seu corpo técnico. Mas essa
reestruturação só deve começar a dar algum fruto em 2015, com o novo carro
concebido por James Allison, que deu à Lotus os seus bons carros de 2012 e 2013.
Para muitos, seria a chance final de Alonso ter um carro que atendesse às suas
expectativas. Quase todo mundo concordava que, em caso de novo fracasso, Alonso
pularia fora do time vermelho ao fim de 2015. Só que houve outros
acontecimentos que mudaram o panorama. O primeiro deles, foi a demissão de
Stefano Domenicalli, que foi chefe da escuderia nos últimos anos. Considerado
fraco por muitos, o italiano não teria pulso firme para colocar a escuderia nos
eixos. Luca de Montezemolo, que já havia perdido a paciência com Alonso em 2013
e recontratado Kimi Raikkonem com o intuito de acabar com a postura de dono do
pedaço que o asturiano gozava no time, ao ver que as perspectivas de 2014 eram
piores do que imaginava, precisou encontrar alguém para pagar o pato. Sobrou
para Domenicalli. Entrou então Marco Mattiacci para tentar encontrar uma direção
para a escuderia. Até aí, vá lá. O relacionamento entre Alonso e o novo chefe,
se não era da mesma intimidade que desfrutava com Domenicalli, ainda era amigável.
Mas a demissão de Luca
de Montezemolo, e sua substituição por Sergio Marchionne mostraram ao espanhol
que as coisas em Maranello iam definitivamente ser diferentes dali em diante. Significava
uma nova reestruturação no time, e pior, suas regalias seriam diminuídas. E
quem conhece o espanhol sabe que, sem ter o time gravitando ao seu redor, seu
humor logo fica bem azedo. E tudo indica que a proposta de renovação
apresentada pela nova direção da escuderia, em negociação com o piloto, não
teria agradado ao bicampeão. Falou-se em condições impossíveis de serem
atendidas por parte do time ao piloto. O espanhol gostava de dar as opiniões de
como direcionar o desenvolvimento dos projetos, e esta prerrogativa deixaria de
existir já para o projeto do carro de 2015. E para quem há anos acostumou-se a
dar palpites de como os carros devem ser, nem é preciso dizer o quanto ele
ficou contrariado...
Stefano Domenicalli: "Eu sou você amanhã...". Diretor foi demitido por Luca de Montezemolo, que por sua vez, também seria demitido... |
A nova postura da
direção da Ferrari, mais "empresarial" do que de um time de F-1, pode
ter lá seus méritos. Vai depender dos resultados. A bagunça em que o time
italiano se transformou por muitos anos, responsável pelo jejum de títulos
entre 1979 e 2000, estava de volta nos últimos tempos, onde a escuderia, apesar
dos imensos recursos de que dispunha, não conseguia agregar seus esforços de
maneira a produzir um carro competitivo em tempo integral. Michael Schumacher
conseguiu fazer boa parte de seu sucesso em Maranello levando para lá
praticamente a nata do staff técnico da Benetton, seu antigo time. Jean Todt,
que dirigia o time italiano na época, tinha a competência de deixar cada um se
concentrar no que sabia fazer melhor, e coordenava tudo para o denominador
comum de união de esforços. Fernando Alonso não conseguiu reunir esse grupo técnico
tão capacitado. Talvez agora com Allison, os esforços frutifiquem, mas o clima
da direção do time, depois de sofrer tamanha mudança, pode minar o êxito da nova
reestruturação técnica. E Fernando não está disposto a dar essa chance, pelo
menos não com a nova mentalidade administrativa em curso. Se a Ferrari voltar a
ser uma força, bom, mas isso só ajudaria o espanhol a ficar menos influente na
escuderia. Por outro lado, se o time continuar ruim de resultados, quem deve
levar mais culpa é mesmo a nova administração. Mas Fernando prefere estar em
outra a esta altura...
As desavenças já
atingiram um nível tão crítico que explica a rescisão "amigável" do
contrato da escuderia com o espanhol. Com duração até o fim de 2016, o contrato
previa uma altíssima multa de rescisão a quem desse fim ao acordo, o que muitos
consideravam o principal empecilho para a ruptura, mesmo que para muitos a
Honda não se importasse em gastar o que fosse necessário para solucionar isso. Agora,
nem piloto e nem time pagariam multa alguma, a exemplo do que aconteceu com o
próprio Alonso ao fim de 2007, quando encerrou prematuramente seu acordo com a
McLaren para retornar à Renault. Tanto naquela época quanto agora, ambas as
partes agiram de forma pragmática, sabendo que era melhor cada um seguir seu
caminho a fim de retomar as atividades o quanto antes. Para a nova direção
ferrarista, um Alonso desgostoso a menos no box seria mais um bônus do que uma
perda. Aliás, Marchionne declarou esta semana mesmo que a Ferrari é maior que
qualquer colaborador, e se rifaram Luca de Montezemolo, que era o presidente da
empresa a fim de mostrar quem é que manda, claro que não se incomodariam com um
de seus pilotos, mesmo que este seja o melhor do mundo no momento. E mostra
também como Alonso se importa mais em ter o time voltado para si, mesmo que
esse time não seja o melhor. Ao voltar à Renault em 2008, o time não era mais a
potência de dois anos antes, enquanto a McLaren, deixada por ele, foi campeã após
sua saída, com Lewis Hamilton. Mas na Renault ele voltou a dar todas as cartas,
o que não ocorreria na McLaren, apesar das melhores chances de sucesso ser com
o time inglês.
O retorno da Honda e
sua parceria com a McLaren evoca nos fãs os bons tempos vividos pelas duas em
fins dos anos 1980 e início dos anos 1990. Mas nada indica que isso irá se
repetir, contudo. Por mais que digam que os japoneses não brincam em serviço e
vêm para voltarem a ser protagonistas, é preciso lembrar que a última
empreitada da fábrica não conseguiu bons resultados: a Honda adquiriu a equipe
BAR em 2005, transformando-a na equipe oficial da marca em 2006. O que se viu
na temporada não foi muito empolgante: apenas 1 vitória, ainda assim,
ocasional, de Jenson Button na Hungria. Mas 2007 e 2008 foram tenebrosos, com
carros horríveis e um motor que nem de longe lembrava os imbatíveis propulsores
de antigamente. No fim daquele ano, com a crise econômica mundial, a Honda
pulou fora da categoria. O carro projetado para 2009 foi finalizado por Ross
Brawn, que comprou o espólio do time, e com um motor da Mercedes adaptado ao projeto,
conseguiu a façanha de ser campeão em 2009.
Os rumores que se
ouvem é que a unidade de potência da Honda está atrasada no seu
desenvolvimento, o que significa que sua performance em 2015 terá de ser vista
com reservas. Só para lembrar, falavam o mesmo nesta época a respeito das
unidades da Renault, e a marca francesa só não está pagando um mico total
porque a Red Bull conseguiu acertar e desenvolver seu carro de forma impecável,
conseguindo 3 vitórias que muitos considerariam impossíveis frente ao poderio
da Mercedes. Assim, nada garante que os japoneses vão abafar no próximo
campeonato. Vai ser um ano de retorno e de muito aprendizado. Até aí, Fernando
Alonso parece já estar aceitando esse panorama.
E também não é de se
esquecer que a McLaren também precisa produzir um bom carro, algo que não
consegue há duas temporadas. Se o motor Honda não ajudar, o carro precisa
compensar, caso contrário, será um ano de vacas bem magras. É só ver o que eles
estão mostrando este ano: o time inglês conta com o melhor motor do campeonato,
o Mercedes. Mas o chassi MP4/29 não permite a seus pilotos sequer chegar ao pódio,
e por vezes, até pontuar é complicado. Assim como a Ferrari, a McLaren também
reforçou seu staff técnico com nomes importantes a fim de produzirem um carro
decente para o próximo ano. Mesmo assim, nada garante que o futuro MP4/30 vá
assombrar todo mundo.
Não fosse a mudança de
comando na Ferrari, teoricamente era mais plausível e menos arriscado Alonso
permanecer no time rosso em 2015, mudando-se para a McLaren, em caso de um novo
fracasso de Maranello, apenas para 2016. Ele daria a chance de o novo grupo técnico
do time italiano mostrar a que veio, e quem sabe, até mesmo permanecer na Itália.
Não apenas o novo carro gerava expectativa, mas também a evolução do propulsor
turbo, que terá inúmeras modificações para evoluir sua performance, ajudando no
incremento de desempenho esperado. Seria, a princípio, um porto mais seguro
para competir do que a McLaren, onde só o que há no momento mesmo é expectativa
do retorno da parceria com a Honda. Alonso poderia então ver a que veio o
retorno da união McLaren-Honda, e calcular melhor as possibilidades da mudança
de ares.
Ao mudar para a
McLaren, mesmo diante das incertezas de desempenho do time inglês e sua nova
velha parceira nipônica, Alonso faz o que pode ser a última aposta de sua
carreira. Já vão 8 anos desde seu último título, e sua confiança em presumir
ser o melhor piloto do grid, relegado a ter sido apenas vice-campeão nos últimos
anos, superado por pilotos com carros melhores, o fazem sedento como nunca por
mais um título. Aos 33 anos, ainda tem um bom tempo de carreira pela frente,
mas sua aposta na Ferrari não se concretizou, e nisso já se foram 5 temporadas.
Até quando ele poderá manter seu alto desempenho uma vez que não se pode frear
o avanço do tempo. Se permanecer mais 5 anos na F-1, terá 38 anos ao fim deste
tempo. Levar a McLaren de volta ao topo pode levar tempo, e sua esperança é
pelo menos encurtar esse tempo tanto quanto possível. A seu favor, joga o fato
de a Honda querer o melhor homem disponível, o que significa que poderá ter
suas costumeiras regalias no time, além de um polpudo salário, como é de seu
feitio. Numa estimativa talvez conservadora, a McLaren, se as coisas correrem
bem, poderá voltar a lutar pelo título em 3 anos, ou antes. Isso daria ao
asturiano teoricamente 2 temporadas para ser tricampeão, ou tetra, ou talvez
mais, quem sabe...
Quando a McLaren se
associou à Mercedes, os dois primeiros anos foram de resultados apenas razoáveis,
em 1996 e 1997. Apenas em 1998 o time voltou a dominar a F-1 como fazia anos
antes. É a estimativa de tempo que o novo projeto de união McLaren-Honda pode
levar para despontar. Mas, como já mencionei, é apenas estimativa. Pode demorar
mais, ou menor. Nas próximas semanas, dissertarei melhor sobre as consequências
e desdobramentos desta mudança na F-1 para 2015, muito provavelmente já com o
anúncio oficial firmado.
Por hora, tudo o que
temos mesmo é que Alonso está dizendo "Hasta la vista, Ferrari..."
A parceria de Fernando Alonso com a McLaren em 2007 começou bem, até que este sorridente Lewis Hamilton resolveu dar o ar da graça...Uma graça que o espanhol não gostou nem um pouco... |
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