De
volta com meus antigos textos, trago hoje a coluna publicada em 14 de março de
1997. O assunto era o início do campeonato daquele ano, e o GP da Austrália,
que abria a temporada, já trazia uma notícia agradável: vitória da McLaren, que
havia passado 3 anos sem saber o que era vencer uma corrida, situação
impensável para um time que dominou várias temporadas entre 1984 e 1991. O time
também estreava sua nova pintura prateada, após encerrar a parceria de mais de
duas décadas com a Marlboro, que dava as cores vermelha e branca da pintura
anterior, lembrada hoje com carinho por muitos fãs do automobilismo. Então,
aproveitem o texto, e até a próxima postagem de novas colunas antigas por aqui
na sessão Arquivo...
FOI DADA A LARGADA!
O
Grande Prêmio da Austrália deu a largada para o Campeonato de Fórmula 1 de
1997. E, com grande estilo, a McLaren, com David Coulthard, venceu a prova de
abertura do mundial. E quase fez dobradinha no pódio em seus dois lugares mais
altos: Mika Hakkinen, companheiro de equipe de Coulthard, chegou na 3ª posição,
completando o pódio atrás de Michael Schumacher, da Ferrari.
A
Williams, disparada a favorita para vencer a corrida, não teve um bom dia, para
a alegria da concorrência. Jacques Villeneuve ficou fora de combate logo na
largada, em virtude das estripulias de Eddie Irvinne, que errou na freada para
a primeira curva e acabou jogando a Williams do canadense para fora da pista.
Heinz-Harald Frentzen, estreando em uma equipe de ponta, aproveitou para ir
embora dos demais, mas tanto a McLaren quanto a Ferrari surpreenderam na
estratégia de reabastecimentos. Mesmo assim, foi preciso que o segundo pit stop
de Frentzen apresentasse problemas para que Coulthard e Schumacher passassem à sua
frente. A poucas voltas do fim, entretanto, um dos freios dianteiros travou e
Frentzen teve de dizer adeus à corrida.
Mas
é bom que ninguém se engane: a Williams ainda está um passo acima da
concorrência, e isso ficou provado no treino classificatório, quando Michael
Schumacher, o 3º colocado no grid, ficou a mais de 2s de diferença da pole de
Jacques Villeneuve. Mas em situação de corrida, a diferença pode cair bastante.
Já
nos treinos livres, era boa a sensação de início de mais um campeonato mundial.
Melbourne estava praticamente voltada para a corrida. E nos boxes e paddock,
todo mundo se reencontrava com todo mundo. Nenhum teste coletivo consegue
igualar o ambiente de um Grande Prêmio. E a nova temporada prometia boas
emoções. Na primeira vez que a McLaren saiu para a pista, eu, por um momento,
nem reconheci que carro era... Força do hábito, afinal, todo mundo estava
acostumado ao velho visual dos carros da McLaren, que por mais de duas décadas
ostentaram o logotipo da Marlboro, em branco e vermelho, e agora mudou para a
cor prateada, com o novo patrocínio da West.
No
treino de classificação, muitas emoções, a começar pela luta das equipes
estreantes, Lola e Stewart. Embora haja 24 carros para um grid de no máximo 26
carros, a nova regra imposta pela FIA, em vigor desde o início do ano passado
exclui todos os carros cujos tempos excedam 7% do tempo do pole position.
Vincenzo Sospiri e Ricardo Rosset, da Lola, de cara já ficaram de fora, mas
tentaram. Já Rubens Barrichello surpreendeu, conseguindo o 11º posto no grid,
superando com larga vantagem seu companheiro de equipe Jan Magnussen, e dando
uma cutucada na Jordan, que o esnobou no ano passado, classificando-se à frente
de ambos os novos pilotos de sua ex-escuderia.
Mas
a maior sensação da classificação foi o duelo de Damon Hill com seu novo carro
da TWR-Arrows. O atual campeão mundial só conseguiu tempo para largar no
finalzinho do treino, numa demonstração de braço para domar um carro totalmente
instável: não havia curva que ele não precisasse lutar para corrigir a
trajetória. Por alguns instantes, Hill lembrou Ayrton Senna, quando o piloto
brasileiro tinha que tourear seu carro na busca de um bom tempo. Diniz andou um
pouco melhor do que Hill mas não teve sorte na classificação. Mas entrou no grid
com uma apelação.
Destaque
também para a Sauber: Johnny Herbert foi outra sensação do treino
classificatório, ficando entre os 5 primeiros durante quase toda a sessão,
sendo superado apenas no final e mesmo assim perdendo apenas 2 posições.
Infelizmente, Herbert não conseguiu mostrar todo o potencial da Sauber na
corrida, já que ficou fora logo na largada, sendo atingido pela Williams de
Villeneuve e indo parar também fora da pista.
Apesar
de ter faltado ultrapassagem entre os líderes, o GP da Austrália foi uma boa
corrida, e dá esperanças de que este seja o melhor campeonato dos últimos anos.
É claro que não se pode esperar que Villeneuve e Frentzen abandonem todas as
corridas, por isso as escuderias se reúnem nesta semana em Silverstone para uma
nova sessão de testes, visando a segunda etapa do campeonato, que será aqui, em São Paulo. O bom resultado na
Austrália é um ânimo para melhorar ainda mais a performance da concorrência e
melhorar a competição.
O
mais importante já foi conseguido em Melbourne: a McLaren está de volta ao topo
do pódio, pondo fim a um jejum de 3 temporadas completas sem uma vitória
sequer. No pódio, era patente a alegria de Coulthard e Hakkinen, e
principalmente de Ron Dennis, que tanto havia se acostumado a este tipo de
acontecimento na era Prost-Senna. Mais do que voltar às vitórias, a McLaren
honrou a tradição das “flechas prateadas”, como eram conhecidos os carros da
Mercedes na década de 1950.
A McLaren foi a equipe de ponta que melhor se preparou
para este mundial, testando intensivamente com os seus dois pilotos. E, pela
primeira vez desde 1993, o time deu mostras de voltar a ser um time vencedor. E
conseguiu já na primeira corrida. Agora é torcer para que estas vitórias se
repitam mais durante o resto da temporada. E seja bem-vinda de volta ao lugar
mais alto do pódio, McLaren!
Para a Grã-Bretanha, o GP da Austrália significou o início de uma nova
era nas transmissões da F-1. Depois de inúmeros anos transmitido pela BBC, o
mundial da categoria passa agora a ser exibido pela ITV, nova concessionária da
FOCA nas ilhas britânicas. O contrato foi acertado com Bernie Ecclestone em
meados de 1996. Felizmente para os ingleses, a ITV contratou como comentarista
oficial Murray Walker, o mais popular comentarista de automobilismo da Grã-Bretanha,
função que exerce há exatos 49 anos...
Heinz-Harald Frentzen decepcionou no treino classificatório em
Melbourne: durante todo o treino, ficou entre a 6ª e a 8ª posição, e só no
finalzinho conseguiu o 2º lugar no grid, mas a mais de 1,5s de Jacques
Villeneuve. Em 1996, Villeneuve também foi pole, mas sua vantagem para Damon
Hill, então seu companheiro de equipe, foi de míseros 0s137. Das duas uma: ou
Frentzen não é tão bom como se esperava, ou Hill é um piloto melhor do que se
imaginava...
Jean Alesi abusou da ousadia durante o GP australiano de F-1: o piloto
francês ficou tanto tempo na pista que acabou abandonando a prova em
combustível, depois de rodar 35 voltas sem fazer nenhuma parada no Box...
David Coulthard deverá aparecer no GP do Brasil de visual novo. O
piloto escocês apostou que se a McLaren vencesse este ano, iria tingir o cabelo
de prateado. Logo ao fim da corrida, Norbert Haug, diretor técnico da Mercedes,
já advertiu Coulthard: “É hora de cumprir sua promessa...”
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