Montoya largou na pole e venceu as 500 Milhas de Pocono. E avisa: está na luta pelo título da temporada na IRL. |
Quando foi anunciado
por Roger Penske como terceiro piloto de sua escuderia para o campeonato 2014
da Indy Racing League, Juan Pablo Montoya encontrou a chance de voltar aos
campeonatos de monopostos, onde havia feito sua fama no fim da década de 1990,
não apenas na Europa, mas nos Estados Unidos. Tendo brilhado na F-3000
internacional, onde foi campeão em 1998, o colombiano foi para a América do
Norte, e na F-CART, a Fórmula Indy original, foi campeão logo em seu ano de
estréia, 1999, correndo pelo time de Chip Ganassi, que vinha de uma parceria
vitoriosa com o piloto italiano Alessandro Zanardi, que fora bicampeão nos anos
anteriores. O colombiano mostrou que estava à altura de ter substituído
Zanardi.
No ano seguinte, em
virtude de uma troca de equipamento da escuderia, a performance da Ganassi não
foi a mesma do ano anterior, mas nem por isso Montoya deixou de impressionar:
conquistou 3 vitórias e fez 7 poles, mostrando possuir uma velocidade ímpar e um
grande talento como piloto. Mas a falta de fiabilidade mostrou-se fatal: com 12
abandonos, foi apenas o 9° colocado, com 126 pontos, bem distante de Gil de
Ferran, campeão daquela temporada, com 168 pontos. O ponto alto, contudo, não
foi no campeonato da F-CART, mas nas 500 Milhas de Indianápolis daquele ano, prova
do campeonato da IRL, liga rival da Indy original. Com um esquema montado
apenas para a Indy500, Montoya simplesmente chegou e conquistou: foi
pole-position, e liderou a maior parte da corrida, obtendo uma vitória
inesquecível, e a Ganassi mostrando para Tony George, então dono da categoria,
que seus times não tinham a mesma qualidade dos da Indy original.
Montoya chegou à F-CART em 1999 e foi campeão com a Chip Ganassi. |
Consagrado, mesmo sem
o título de 2000, Juan Pablo enfim foi para a F-1, como novo contratado da
equipe Williams. Ficava uma dúvida: seria o colombiano um novo fenômeno na
categoria máxima do automobilismo, ou repetiria o fiasco de Alessandro Zanardi,
que em seu retorno à F-1 em 1999 foi uma decepção completa, não marcando um
ponto sequer? Montoya deu a resposta logo no GP do Brasil de 2001, ao
ultrapassar ninguém menos do que Michael Schumacher de forma arrojada no
"S" do Senna e mostrar que vinha para andar na frente. Mas, se era um
piloto rápido, era também veloz em se meter em algumas encrencas. Com 12
abandonos na sua temporada de estréia, Montoya ainda foi 6° colocado no final
do ano, contabilizando 1 vitória e 3 poles. Sua melhor temporada foi em 2003,
quando terminou o campeonato com 82 pontos, sendo 3° colocado no mundial. Em
2004, em um ano de altos e baixos, conquistou sua última vitória na Williams no
encerramento do campeonato, aqui no Brasil. Nos dois anos seguintes, iria
defender a McLaren.
Na F-1, o colombiano atrevido foi logo mostrando o "cartão de visitas" a Michael Schumacher no GP do Brasil de 2001. |
Apesar do bom ano de
2005, Montoya nunca se mostrou à vontade no time de Ron Dennis, muito mais
sério e sisudo do que a organização de Frank Williams. Foi 4° colocado naquele
ano, com 2 poles e 3 vitórias. Em 2006, a união desandou, com o colombiano
conseguindo a proeza de bater no próprio colega de equipe Kimmi Raikkonem em
duas provas seguidas, arruinando resultados potenciais do time em ambos os GPs.
Foi demais para Ron Dennis, que nunca gostou muito da postura do colombiano,
por achar que não tinha o comprometimento necessário para defender um time de
ponta. E a carreira de Montoya na F-1, infelizmente, terminou ali. Seria apenas
mais um grande talento desperdiçado pela categoria, ainda que Juan Pablo também
tenha tido parte da culpa por talvez se envolver em confusões nos momentos mais
impróprios. E colidir com um companheiro de equipe nunca causa uma boa
impressão...
A saída foi retornar
aos Estados Unidos, e surgiu o convite de seu velho patrão, Chip Ganassi, para
correr em seu time. Mas, quando muitos imaginavam um ingresso na Indy Racing
League, o colombiano optou por um território inexplorado em sua carreira: a
Nascar. E lá foi ele defender seu velho time correndo na Stock americana. Em
2007, disputando pela primeira vez o campeonato na íntegra, venceu sua primeira
corrida e ainda foi o estreante do ano. Um início bem satisfatório, considerando
o estilo de carro completamente diferente do que havia guiado até então.
Só que Juan Pablo não
conseguiu despontar na Nascar. Tornou-se apenas mais um, deixou de ser
protagonista, salvo raros momentos, quando conquistava uma de suas poucas
vitórias, ou se envolvia em confusões na pista, sendo que até nisso ele se
tornou apenas mais um, pois a stock americana tem lá sua cota de confusões, e o
que Montoya aprontava não era nada além do normal. Seu melhor ano foi em 2009,
quando finalizou o certame na 8ª posição. Havia sido 20° em 2007, e 25° em
2008. Nos últimos anos, só foi caindo: 17° colocado em 2010, 21° em 2011, 22°
em 2012, e por fim, terminou 2013 em 21° lugar, já sabendo por parte de Ganassi
que não o teria mais ao volante de seus carros no ano seguinte. Certamente Chip
tinha expectativas maiores em relação aos resultados de Montoya na Nascar, mas
infelizmente o colombiano não conseguiu corresponder aos anseios de seu patrão.
Montoya na Nascar: 7 temporadas completas e poucos resultados de monta. |
Não é uma situação
anormal. Há pilotos extremamente talentosos que, por diversas razões, parecem
não conseguir demonstrar seu talento em determinados carros ou campeonatos.
Montoya correu na Nascar sempre com um esquema competente: a Ganassi não era
uma superpotência, mas não era um time pequeno. Mas a extrema competitividade
da categoria, e sua dinâmica própria, fizeram de Juan Pablo um piloto apenas
normal. Ele conseguiu dar continuidade à sua carreira após o fim de sua
participação na F-1, e conseguiu voltar a se divertir pilotando, no ambiente
muito menos carregado e mais cordial que sempre caracterizou o automobilismo
americano. Fosse alguém com menos currículo, e competindo por um time menos
visado, talvez ainda estivesse por lá, quem sabe. Com o anúncio de sua
dispensa, seu futuro ficou em aberto. Tudo apontava para achar outro time na
Nascar, ou então abandonar o automobilismo, ou quem sabe, tentar até outra
categoria. Várias opções foram especuladas, até que surgiu a idéia de Michael
Andretti contar com Montoya em um de seus carros nesta temporada, se
conseguisse fechar o apoio de um patrocinador disposto a bancar a empreitada.
Mas foi Roger Penske
quem se mostrou mais rápido, e o anúncio da entrada do colombiano na categoria,
onde havia disputado apenas a Indy500 de 2000, foi saudada por todos como um
grande incentivo para a IRL, que tentara algo parecido em 2012, quando teve o
brasileiro Rubens Barrichello correndo por lá e pouco resultado se viu disso.
Claro que é preciso mencionar que Barrichello correu em um time médio, a KV
Racing, que mesmo em seus momentos mais inspirados, não conseguia manter a
constância, como se viu nas temporadas em que Tony Kanaan defendeu a escuderia.
Montoya, por outro lado, viria para a Penske, o time mais poderoso do certame,
e com garantia de ter um equipamento competitivo e certamente vencedor. Claro
que ficava a dúvida: o Montoya de 2014 seria o Montoya arrojado e audacioso que
vimos até 2005, ou o Montoya "normal" que competiu na Nascar? Foi uma
aposta ousada de Roger Penske visando fortalecer seu time, e não sem motivos: a
Ganassi, campeã em 2013 com Scott Dixon, havia perdido Dario Franchiti para
este ano, com a aposentadoria forçada do escocês após seu violento acidente em
Houston, mas havia contratado Tony Kanaan. Se em um time médio o baiano
inspirava respeito, de volta a uma escuderia grande, seria um adversário tão
temível quanto Dixon, talvez até mais. Era preciso buscar reforços para alinhar
ao lado de seus pilotos Will Power e Hélio Castro Neves.
Para alegria de todos,
Montoya entrou firme em uma dieta e um forte programa de exercícios, para
perder os quilos a mais que ganhou pilotando os pesados carrões da stock
americana, onde espaço nunca era problema. Era preciso recuperar a forma física
para poder encarar com a desenvoltura necessária o desafio de pilotar novamente
um carro monoposto. Juan Pablo recebeu uma segunda chance de continuar sua
carreira, e se deu conta de que teria de dar duro para fazer por merecer, pois
poderia não ter outra. Quando testou enfim o chassi DW12 da Dallara, foi um
alívio ver que já estava sentindo a velha intimidade de antes com um monoposto.
O talento ainda estava lá. Mas precisava tirar a ferrugem, que certamente ainda
iria exibir.
De fato, nas primeiras
corridas da temporada, se não foi um desastre, também não foi bonito. Na
primeira corrida, em São Petesburgo, alinhou apenas em 18°, para terminar em
15°, muito pouco levando-se em conta que Power e Helio lutaram pela vitória e
terminaram no pódio, em 1° e 3°. O resultado deixou dúvidas em muita gente que
apostava no retorno triunfal de Juan Pablo. Felizmente, as dúvidas começaram a
clarear logo na segunda corrida, em Long Beach, onde após largar em 16°, fez
uma prova combativa, terminando em 4° lugar. No Alabama, outro resultado ruim,
sendo apenas o 21° colocado, e 16° no GP de Indianápolis. Na Indy500, os bons
ventos voltaram a soprar, agora com mais frequência: finalizou a corrida mais
famosa dos EUA em 5° lugar; e apesar do mau fim de semana na rodada dupla de
Detroit, conseguiu seu primeiro pódio no ano em Forth Worth, com um 3° lugar;
conseguiu novo pódio na primeira corrida de Houston, e nas 500 Milhas de Pocono,
conquistou sua 2° pole-position na categoria. E ganhou a corrida andando sempre
em ritmo forte e no pelotão da frente. É nítido que vai se acostumando cada vez
mais com o carro e com as características do campeonato da IRL, e vai cada vez
andando mais no ritmo de seus companheiros de equipe, que ocupam a liderança da
competição, com 446 pontos cada um. Juan Pablo ocupa agora a 4° posição, com
391 pontos. Entre o colombiano e seus companheiros de equipe, encontra-se o
francês Simon Pagenaud, que faz uma temporada excelente pela equipe de Sam
Schmidt, com 402 pontos e 2 vitórias.
Mas Montoya quer mais,
e à medida que fica mais à vontade com o carro, sua confiança de que pode lutar
pelo título deixa de ser uma bravata para se tornar algo real. A Penske tem o
melhor carro da temporada, e contabiliza 4 triunfos em 2014: 2 vitórias de Will
Power, 1 de Hélio Castro Neves, e 1 de Montoya agora. Com desempenhos iniciais
abaixo de seus companheiros, o colombiano evoluiu bastante, embora ainda
precise ter um melhor desempenho nos circuitos de rua, onde ainda está devendo
um pouco para seus parceiros de time. Nos ovais, circuito ao qual está mais
adaptado, até pelos tempos da Nascar, que corre quase que exclusivamente neste
tipo de pista, Montoya não apenas já está à vontade como passa a ser um
adversário poderoso. Ainda é cedo para dizer se ele vai desbancar Power ou
Hélio na classificação, mas certamente seus companheiros já sabem que precisão prestar
atenção em seu avanço. Diferente da F-1, na Indy é cada um por si, sem jogos de
equipe. Se precisarem duelar entre eles, assim será. Dependendo da situação, se
houver um rival de outro time ameaçando na etapa final, pode até haver uma
pequena ajuda na corrida, mas nada de sacrificar ou ceder posição, como já
vimos na F-1.
O melhor de tudo é ver
um Montoya concentrado, voltando a pilotar com afinco, e determinado como há
tempos não se via. O retorno aos monopostos fez-lhe muito bem. Ainda é preciso
desenferrujar em certos aspectos, mas o maior desafio o colombiano já superou:
voltou a largar na frente, e a vencer. Um feito que não é de se desdenhar,
visto que o campeonato da IRL deste ano tem sido de um grande equilíbrio de
performances, tendo até o presente momento visto nada menos do que 8 pilotos
diferentes a vencerem corridas. E Montoya não pode se descuidar: atrás dele vem
3 pilotos da Andretti, um deles, Ryan Hunter-Reay, campeão de 2012,
praticamente em seus calcanhares, com 388 pontos. Carlos Munõz, com 340 pontos;
e Marco Andretti, com 325, estão um pouco distantes, mas de um momento para o
outro, tudo pode mudar, e todos eles não apenas virem para cima como até o
superarem. Ainda há 7 corridas pela frente, 3 delas em ovais, como a prova
deste fim de semana, na pista de Iowa, onde Juan Pablo tem tudo para mostrar um
bom resultado, considerando seu retrospecto em ovais do ano. Depois, ainda
teremos o pequeno oval de Milawukee, e a corrida de encerramento no superoval
de Fontana, em outra prova de 500 milhas.
Outro ponto a ser
considerado extremamente positivo é que Juan Pablo vem tendo uma temporada
praticamente sem acidentes, algo que não se via há muito tempo, e um revés para
seus adversários, que volta e meia tem se envolvido em alguns problemas. Só
para dar o exemplo, Hélio acabou abandonando a segunda corrida em Houston
depois de dar uma fechada e ser atingido por Sebastién Bourdais, jogando fora
um provável pódio; e Will Power, por sua vez, já teve várias punições durante o
ano, em decorrência de algumas estripulias na pista, o que fez o australiano
perder pontos muito preciosos em várias oportunidades, a última delas em Pocono
mesmo, onde quase deu uma fechada em Helinho na reta dos boxes, fazendo um
movimento duplo de mudança de direção, quando o regulamento permite apenas uma
mudança na defesa de posição. Montoya até deu um toque em Power, mas para sua
sorte, ele foi leve, e na proteção do pneu traseiro, o que o fez perder apenas
parte da lateral da asa dianteira, que felizmente não afetou seu desempenho.
A aposta de Roger
Penske se mostrou foi certeira, e podemos dizer que Juan Pablo Montoya está
realmente de volta ao lugar onde nunca deveria ter saído. Tivesse vindo para a
IRL logo de cara em 2007, talvez tivesse feito muito sucesso de lá para cá.
Agora em 2014, ele mostra, mesmo com vários anos de atraso, que ainda possui
aquele talento que o tornou um piloto diferenciado nos campeonatos de 1999 e
2000 da finada Fórmula Indy e de seus primeiros anos na F-1. Pode não estar com
a mesma exuberância de antigamente, mas pode ser questão de tempo até o vermos
novamente com carga total. Brilho, ele já mostrou que ainda tem.
Seja bem-vindo de
volta, Montoya. Sentimos muito sua falta!
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