A F-1 está com os dias contados na Globo...? |
No último final de
semana, muitos amantes da velocidade não gostaram de saber quando foi anunciado
que a transmissão do treino de classificação para o Grande Prêmio da Alemanha
de F-1 teria apenas o Q3 transmitido em TV aberta, pela Globo. As duas
primeiras partes, o Q1 e o Q2, só para quem tem TV a cabo, no caso, os canais
do SporTV. O motivo, como de costume, é audiência, e a transmissão da F-1
estava perdendo, pasmem, para outros programas, como desenhos animados. Logo, o
espaço "sacrificado" do automobilismo ficou para a transmissão da TV
Globinho, com as sobras da programação infantil que um dia a emissora do Jardim
Botânico já teve mais consideração, hoje restritas às sobras de horário dos sábados.
Foi o suficiente para
um debate sobre o fim da F-1 na Globo. Que a audiência das corridas já não é
mais a mesma, isso nunca foi novidade. Desde a morte de Ayrton Senna, em 1994, a F-1 perdeu seu
apelo "popular" para a grande massa de telespectadores, que só
acompanhavam as corridas mesmo porque havia um brasileiro vencendo as provas. Quem
ficou é porque gostava de corrida, e torcia por nossos pilotos, mesmo que eles
nunca conseguissem um pódio, além claro daqueles que não tinham nenhuma
vergonha em admitir que torciam para pilotos estrangeiros, nada que parecesse
um bicho de sete cabeças, exceto para alguns idiotas que afirmavam, na cara
dura, que torcer para piloto "gringo" era dar as costas a nossos
representantes. Ignorância pura.
É exagero afirmar que
a F-1 vai sair da Globo. A emissora não iria correr o risco de deixar a
competição, por menor que fosse a chance, de ir parar em um canal concorrente,
e que de repente, deixasse um grande rombo em sua audiência na competição do
IBOPE. No início dos anos 1980, isso aconteceu, e a F-1 passou a ser exibida
pela Bandeirantes. Durou apenas uma temporada, e logo em seguida a Globo
recuperou os direitos e nunca mais os largou. Seria louca de cometer o mesmo
erro hoje. O que pode acontecer é deixarmos de ver as provas na TV aberta, no
caso, do canal da Globo, e as provas passarem a ser transmitidas apenas pelo
SporTV. Mesmo assim, ainda é uma decisão que a Globo irá considerar bastante. Mesmo
com a audiência claudicante, a emissora não tem opções muito mais atrativas
para colocar no tradicional horário das manhãs de domingo, onde a maioria das
corridas é exibida em nosso país. Claro que isso pode mudar, mas vai depender
mais da concorrência do que da Globo em si. Enquanto os rivais não conseguirem
ameaçar efetivamente a audiência aos domingos pela manhã, podemos contar com as
transmissões das corridas da categoria. E, em termos financeiros, mesmo que os
valores das cotas de transmissão venham a cair, a emissora ainda tem uma margem
de lucro folgada para flexibilizar seus custos. Verdade também que, possuindo a
maior audiência do mundo em um único mercado, é um número e trunfo importante
na hora de tentar renegociar valores com Bernie Ecclestone, chefão da FOM, que
sabe que não pode desprezar tais números. Perder TVs que transmitem a F-1 é um luxo
que o cartola sabe ser um risco potencial para a manutenção do esquema de
lucros da entidade que controla os acordos comerciais da categoria.
Parte das discussões
se focava na qualidade das transmissões da categoria, algo que a Globo nunca
deu muita atenção, preferindo há tempos investir apenas no "básico",
começando na transmissão do evento logo ao seu início, e descartando-lo
imediatamente logo após o seu término. E nada mais. Uma atitude que a Globo faz
com praticamente todos os eventos esportivos que transmite, não apenas com a
F-1. Recentemente, a emissora fez algo inédito: começou a transmitir cerca de
20 minutos antes do habitual, para mostrar um passeio de seus repórteres pelo
grid entrevistando pilotos e quaisquer notáveis que por ali estivessem. Para
tanto, chamou Rubens Barrichello, ex-piloto da categoria, para "turbinar"
o passeio, uma vez que o brasileiro, recordista de participações na categoria,
sempre foi bem visto por todos, e teria condições de puxar um papo rápido com
quase todo mundo que por ali estivesse. Uma idéia interessante, mas mal
aproveitada até hoje.
Se rolou alguns
encontros interessantes com o pessoal ali presente, por outro lado, Barrichello
poderia ter se preparado melhor para a função, fazendo por vezes perguntas mais
pertinentes aos acontecimentos do momento, pois a maior parte delas são
perguntas-padrão que qualquer pessoa menos gabaritada poderia fazer. Ao mesmo
tempo, a emissora poderia preparar matérias especiais para serem exibidas neste
espaço, a fim de informar melhor o telespectador. Mas parece pedir demais para
a emissora.
Barrichello: trunfo mal explorado pela Globo. |
Na equipe de narração,
muita gente prefere mais o Sérgio Maurício do que o locutor-mor da empresa,
Galvão Bueno. No período da Copa, quando Sérgio narrou as provas da Áustria e
da Inglaterra, muitos consideraram a transmissão bem melhor equilibrada, e até
mesmo Rubens Barrichello e Luciano Burti parecem ter ficado mais à vontade em
seus papéis de comentaristas. Não é de hoje que muita gente acha que Galvão
polariza demais a transmissão em volta de si, deixando pouco espaço para os
demais colegas de trabalho. Para muitos, combinar a narração de Sérgio Maurício
com os comentários de Reginaldo Leme e Lito Cavalcante seria a melhor pedida na
cabine de transmissão. Já com relação às reportagens nos boxes durante as
corridas, tanto Mariana Becker quanto Carlos Gil já demonstraram boa desenvoltura
para a função. A questão é: a Globo promoveria uma mudança dessas na cabine? Com
Galvão já anunciando sua possível aposentadoria para breve, essa era uma
possibilidade que realmente poderia ser aventada pela emissora. Ocorre que Galvão,
há pouco, resolveu postergar um pouco mais sua aposentadoria, divulgando que até
a próxima Copa do Mundo, em 2018, podemos "contar" com ele firme nas
narrações da emissora, o que descarta a probabilidade de mudanças substanciais
no modus operandi de transmissão das provas. Então, "guenta" mais Galvão
por pelo menos 4 anos...
Na hipótese de as
transmissões irem mesmo para o SporTV, nada garante que a qualidade da
transmissão vire uma maravilha. No caso das provas de automobilismo, o esquema
no SporTV é o mesmo que se vê na Globo: a transmissão começa quase
imediatamente antes da largada, e após a bandeirada de chegada, temos o pódio,
e puff... fim da transmissão. Nada além disso. Aliás, o espaço dedicado no
SporTV ao automobilismo não vai muito além da exibição das corridas. Não há
programas dedicados ao automobilismo em si, destinados exclusivamente a cobrir
o mundo da velocidade, e explorar a história do esporte a motor. A única exceção
é o Linha de Chegada, programa de entrevistas que é capitaneado por Reginaldo
Leme, que embora seja uma boa opção, já teve um formato diferente algum tempo
atrás, quando era praticamente uma "mesa" redonda destinada a
discutir os acontecimentos das corridas da semana que passara. Reginaldo
comandava a discussão, sempre com a presença firme de Lito Cavalcante, e alguns
jornalistas e/ou pilotos convidados, em um papo descontraído e instrutivo, onde
se trocavam idéias e pontos de vista sobre os acontecimentos recentes. Nada
contra as entrevistas que Reginaldo faz atualmente no programa, mas poderiam
muito bem ter mantido o velho formato ao lado do novo, em edições distintas. No
mais, ainda há o Linha de Chegada - Na Pista, exibido às sextas, com um
apanhado da semana, até com alguns quadros legais, mas que poderiam ser melhor
explorados, se o programa tivesse maior duração - pouco mais de 30 minutos, em
média, e um horário fixo na grade - é preciso ficar "caçando" o
programa nos 3 canais SporTV para ver onde ele irá passar, e a que horas,
podendo ser exibido tanto às 23 horas de sexta quanto ir parar no meio da
madrugada de sábado, o que é um tormento para quem não tem como passar a noite
esperando.
Reginaldo Leme no antigo Linha de Chegada: jornalistas e pilotos convidados discutiam sobre o mundo do automobilismo. |
Com 3 canais
esportivos, a Globo poderia muito bem ter melhores opções para fidelizar o fã
de automobilismo, aquele telespectador que vai assistir fielmente as corridas,
seja quem for o vencedor, seja lá que fim tiver o piloto brasileiro na prova. O
mundo da velocidade é tremendamente rico, cheio de histórias, personagens,
lugares, etc. Um universo que poderia ser muito bem explorado e exibido, se a
Globo decidisse fazer mesmo um investimento sério de trasmissão das corridas. Mas
nem a Stock Car ganha um tratamento diferenciado nos canais SporTV, que dirá
então de transmissão de um campeonato internacional. E o problema não é
restrito apenas à Globo. Quem acompanha a MotoGP há anos só tem mesmo a opção
da TV por assinatura, e mesmo assim, o que é mostrado, além da transmissão das
provas, é mínimo, quase inexistente. E, mesmo em eventos especiais, como as 24
Horas de Le Mans, mesmo sabendo que é inviável transmitir a prova na íntegra,
nenhum material especial sobre a corrida, um programa dedicado para despertar o
interesse dos fãs em potencial, nada disso é feito, e quando ainda surge algo,
não é explorado como deveria. E isso não se resume apenas à F-1 na Globo/SporTV.
O tratamento que a Indy Racing League recebe da Bandeirantes/Bandsports também é
lamentável, praticamente quase nada sendo mostrado além das corridas.
Lembro-me de quando a
TV Manchete transmitia a finada Fórmula Indy em 1993 e 1994: nos sábados dos
domingos de corridas, antes do telejornal, havia um programa de meia hora, o
"A Caminho da Indy", onde era mostrada a reportagem da classificação,
e curiosidades do local onde acontecia a etapa. Durante o mês, em pelo menos
uma oportunidade, havia uma edição especial do programa, com 1 hora de duração
ou mais um pouco, onde era apresentado um pequeno resumo do campeonato
disputado até aquele momento, e o resto eram matérias sobre o universo da categoria:
história, reportagens técnicas, fofocas de bastidores, tudo. A equipe, formada
basicamente pelo locutor Téo José, mais o comentarista Dedê Gomes, e o repórter
Luiz Carlos Azenha, era pequena, mas conseguia trazer um material muito
interessante, ainda mais por se tratar de um canal aberto. Que categoria no
Brasil hoje em dia tem tal tratamento e exibição dedicada?
A própria Globo também
tem culpa por sua atitude de monopolizar a audiência, de modo que índices
baixos, ainda que bons, são considerados "fracassos" pela emissora,
haja visto o tititi quando suas novelas ficam "apenas" nos 30% de
audiência aferida pelo Ibope, sendo considerada um fiasco. Exigências excessivas
fazem a emissora "queimar" muita coisa do que exibe, onde a ordem é
audiência quase na base do tudo ou nada. Já perdi a conta de quantos programas
a Globo cancelou apenas por que eles não atingiam suas metas de audiência, mesmo
que estivessem em segundo lugar no número de TVs ligadas no momento. Outro
problema é a postura da emissora de tratar tudo o que não lhe pertence como
"acessório" em sua programação, enquanto produtos "da casa"
são mostrados quase à exaustão... Basta ver o estardalhaço que eles fazem
quando estréiam uma nova novela: tem chamadas a rodo nos intervalos, matérias
no Fantástico, Videoshow, Mais Você, Fátima Bernardes, etc...
Decadência dos índices
de audiência da F-1 não é algo exclusivamente nacional: até mesmo na
Inglaterra, berço e capital mundial do automobilismo, os índices estão caindo,
e falo isso de um país onde as transmissões começam muito antes da largada e se
estendem muito tempo depois, com direito a análises técnicas, esportivas,
reportagens especiais, e tudo o que um fã de corridas pode desejar, e com boa
qualidade de transmissão. E se onde há transmissões em que o fã e telespectador
é respeitado já acontece isso, o que dizer do que acontece no Brasil, com o famoso
"padrão Globo de qualidade"?
Antigamente, tudo o
que tínhamos era a transmissão das corridas nos domingos. Quando muito, o
programa "Sinal Verde", aos sábados, de poucos minutos na maior parte
das vezes, falando exclusivamente da F-1, sob comando de Reginaldo Leme. Dava
para o gasto na época. Hoje, com a internet, e a profusão de canais esportivos,
já não basta. Não sei o que irá acontecer exatamente nas transmissões de F-1 no
futuro próximo no Brasil, onde se fala até que nosso país poderia ficar
totalmente sem transmissão da categoria, algo que considero exagerado e radical.
Só sei que, no atual andar da carruagem, o futuro não será dos melhores. Resta
sabermos o quanto poderá piorar. Melhorar parece querer esperar por um
milagre...
A Globo iniciou a transmissão dos
treinos de classificação das corridas da F-1 na temporada de 1991. Inicialmente,
a idéia era apresentar flashes dos treinos durante a programação, ou até mesmo
um compacto logo após, em algum momento da programação de sábado. Mas os fãs
ficaram mesmo felizes quando a emissora passou a exibir logo de cara, na
primeira corrida daquele ano, o treino de classificação de sábado na íntegra, e
ao vivo. Na época, havia também um treino de classificação às sextas, com os
pilotos tendo suas posições de largada determinadas pelo melhor tempo de ambas
as sessões, sexta e sábado. Os treinos de sexta nunca eram exibidos, com exceção
do GP do Brasil, onde a Globo também mostrava a sessão. De lá para cá, os
treinos de classificação passaram por várias mudanças, até chegar ao formato
adotado hoje, sempre com transmissão da Globo, ao vivo, com raríssimas exceções.
Na primeira transmissão apenas do Q3, quem não tinha SporTV deu sorte: a batida
de Lewis Hamilton provocou bandeira vermelha, atrasando todo o restante do
treino, o que deu chance do pessoal ver também o Q2. E neste sábado, treino na íntegra
novamente só no canal por assinatura com a classificação para a prova da
Hungria...
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