Prosseguindo
em mais uma edição da seção Arquivo, trago hoje a coluna publicada no dia 10 de
janeiro de 1997, a
primeira coluna que escrevi naquele ano, com as primeiras atividades da Fórmula
1 para aquela temporada, quando os testes eram livres, e o pessoal só dava uma
pequena pausa para o Natal e Ano Novo, voltando quase imediatamente para a
pista, situação sempre meio complicada em virtude do inverno europeu, que
deixava várias pistas sem condições de uso. Havia naquele ano até a
possibilidade de virem fazer uma sessão de testes coletivos em São Paulo, que
acabou não se realizando, infelizmente. De resto, algumas notas rápidas sobre
outros acontecimentos. Uma boa leitura a todos, e em breve trago mais coluna
antigas por aqui...
DE VOLTA AO TRABALHO
Depois
de duas semanas de descanso, para se curtir o Natal e o Ano Novo, a Fórmula 1
volta ao trabalho, preparando-se para o mundial de 1997. E neste início de
serviço, a Ferrari sai na frente, ao apresentar, na última terça-feira, o seu
modelo 97, o F310B, ou 648, na preferência de alguns. Com isso, o time de
Maranello é a primeira escuderia de ponta a apresentar oficialmente o seu carro
deste ano. Depois vieram a Benetton, e a nova TWR-Arrows.
Até
o fim do mês, provavelmente todas as escuderias já terão apresentado seus
carros 97, e o mês de fevereiro será de testes intensivos para todos os times.
Há a previsão até de um teste coletivo da FOCA, planejado para fevereiro, no
circuito de Interlagos, em
São Paulo, com duração de uma semana. Com o forte inverno
europeu este ano, os circuitos utilizados habitualmente pela categoria estão
ainda em más condições de uso, devido à neve e ao frio intenso.
Enquanto
as escuderias trabalham intensivamente para se preparar para a nova temporada,
o otimismo toma conta da imprensa e dos torcedores. Todas as expectativas
conduzem para uma temporada que deverá ser a mais competitiva e disputada dos
últimos tempos: de um lado, a favorita Williams, que aposta no poderio da
Renault, fornecedora do ainda melhor motor da categoria, e na sua dupla de
pilotos, Jacques Villeneuve e Heinz-Harald Frentzen, sem falar no excelente
carro que deverá ter. Do outro lado, as demais escuderias de ponta, todas
prometendo uma temporada muito melhor do que a de 96. A começar pela Ferrari,
que agora diz que lutará pelo título. John Barnard recebeu ordens para não
exagerar na concepção do novo modelo 97. Em outras palavras, eles querem um
carro fiável e competitivo; o resto fica por conta de Michael Schumacher, o
melhor piloto da F-1 atual. A McLaren, com um novo visual cor de prata, prepara
seu retorno às vitórias, depois de dar mostras de grande evolução em 1996. O
time de Ron Dennis aposta na evolução do carro, bem como do bom motor Mercedes,
para levar Mika Hakkinen e David Couthard à disputa do título. E a Benetton,
também abastecida pela Renault, quer mostrar evolução em 97, contando com Jean
Alesi e Gerhard Berger, uma dupla de pilotos combativos que ainda tem muito o
que mostrar. E a escuderia, claro, quer mostrar que o ano mediano de 96 foi
apenas algo ocasional, e voltar a ditar os rumos do campeonato, como fez em 94
e 95.
Enquanto
as expectativas indicam que os times de ponta deverão ter uma boa disputa, os
times do pelotão intermediário também vêem 97 com otimismo. O novo Acordo de
Concórdia, assinado em 96 pela maioria das escuderias, garante maiores verbas
aos times menores das receitas publicitárias dos GPs, o que deverá aliviar suas
precárias condições financeiras. E com mais tanquilidade, possivelmente alguns
times encontrem sossego para produzir um trabalho mais bem acabado e digno de
melhores performances. Em outras palavras, mais competitividade no grid.
Outro
ponto a melhorar o otimismo é a guerra dos pneus. Com o fim do fornecimento
exclusivo da Goodyear, que era a única fabricante na categoria desde 1992, a
disputa tende a ficar muito melhor. Especialmente por conta da
Firestone/Bridgestone, cujos compostos já demonstraram nos testes serem bem
superiores aos da Goodyear, a exemplo do que aconteceu no ano passado na
F-Indy. Para melhorar o panorama, apenas as equipes médias e/ou pequenas
resolveram apostar nos pneus japoneses, o que indica que suas performances
deverão ser otimizadas pela excelente qualidade dos compostos. Tudo isso leva a
crer que os times médios poderão se aproximar mais dos times de ponta,
aumentando a disputa e a emoção.
Para
completar, temos ainda a estréia da nova Stewart Racing como equipe oficial da
Ford. Apesar de Jackie Stewart ser cauteloso em admitir que o primeiro ano de
sua nova equipe deverá ser modesto, o grau de profissionalismo e competência
exibidos pela escuderia até agora a credenciam a repetir o feito de Eddie
Jordan, que em 1991, ano em que estreou seu time na F-1, acabou sendo a
sensação do campeonato. Outra boa novidade é o retorno da Lola, ausente do
circo desde 1993, quando teve uma pífia atuação em conjunto com a Scuderia
Itália. Desta vez, entretanto, a fábrica de Eric Broadley vem para uma
tentativa mais séria e planejada, inclusive com a utilização de um motor
próprio a partir de 1998. Este ano irá correr com os Ford Zetec-R V-8, o que
garante alguma competitividade ao time, que do mesmo modo que a Stewart,
prefere adotar uma postura cautelosa para o campeonato deste ano.
Finalizando,
resta declarar que o número de concorrentes mostra uma pequena recuperação na
categoria. Em 96 tivemos um máximo de 22 carros no grid. Este ano serão 24. E,
para 98, preparem-se: a a nova equipe Dome deverá fazer sua estréia, assim como
a Honda deverá retornar à F-1. É hora de torcer pelo novo futuro da F-1!
Na última semana de dezembro, a FIA andou relacionando alguns circuitos
europeus que considerou perigosos para testes com carros da F-1. Medida certa
ou não, só não sei que critérios utilizaram para determinar a qualidade dos
circuitos, pois até Paul Ricard, um dos melhores circuitos europeus, e sem
dúvida o melhor autódromo francês a receber a F-1 em sua história, foi
considerado perigoso e está proibido de ser utilizado por escuderias da
categoria.
Enzo Ferrari deve estar se revirando no túmulo: desde que o célebre
Comendador faleceu, em 1988, a escuderia que leva seu nome já derrubou quase
todas as normas que ele decretou na condução de seu time de F-1. A Marlboro,
patrocinadora que paga a maior parte dos salários dos pilotos Michael
Schumacher e Eddie Irvinne, colocou um imenso logotipo de sua marca nas
laterais do carro e no aerofólio traseiro, além de ter mudado a tonalidade do
vermelho dos carros italianos, que passaram a ser mais claros, abandonando o
tom “rosso” de tantos anos. Para completar, a escuderia contratou a peso de
ouro Michael Schumacher pela “bagatela” de cerca de US$ 25 milhões por ano
(quantia suficiente para manter um time pequeno na categoria), para que o
alemão leve o carro aonde nenhum outro piloto seria capaz de levar. Nos velhos
tempos, Enzo Ferrari preferia ver seus carros perderem corridas do que ver o
crédito de alguma vitória ir para o piloto, e não para o carro...
Está em andamento mais uma edição do Dakar, o rali mais perigoso do
mundo. Mais uma vez, o Brasil está presente na disputa: Jean e André Azevedo
estão competindo na categoria Motos Maratona, destinada a equipamentos de
série, sem preparação especial; e Klever Kolberg em conjunto com João Lara
Mesquita, competindo com uma picape. E todos eles vem tendo um excelente
desempenho até o momento, com destaque especial para Jean Azevedo, que luta
pela liderança em sua categoria...
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