O "novo" Red Bull Ring está pronto para receber novamente a F-1 como sede do GP da Áustria. Pena que não é o circuito com seu traçado original, mas a "miniatura" criada por Hermann Tilke em 1997... |
Com Copa ou sem Copa
do Mundo, o mundial de Fórmula 1 segue em frente, e uma das boas novidades
deste ano é o retorno de uma prova na Europa que há tempos estava de fora do
calendário. É a Áustria, no tradicional circuito de Zeltweg, que já foi chamado
de Osterreichring e A1-Ring, sendo este último sua denominação quando a F-1
esteve aqui pela última vez, em 2003. São portanto, 10 anos de ausência do
calendário da categoria, enquanto sua última fase de ausência, de 1988 a 1996, durou 9 anos.
O mérito do retorno da
Áustria é de Dietrich Mateschitz, dono do império da Red Bull, e também
proprietário do time de F-1 que dominou a categoria nas últimas 4 temporadas,
com Sebastian Vettel. Mateschitz comprou o circuito, que havia sido abandonado
na última década, tendo até parte de suas instalações desmanteladas, e
reconstruiu tudo, tornando a pista um autódromo de altíssimo padrão, chamado
agora oficialmente de Red Bull Ring. Na verdade, recuperou quase tudo: o
circuito ainda é o mesmo de quando a F-1 se apresentou aqui pela última vez,
isto é, sua versão reduzida do original, no qual a F-1 correu até 1987, e que
era simplesmente muito mais desafiador e veloz do que o traçado atual, que
virou uma miniatura do antigo, que tinha cerca de 1,5 Km a mais de extensão.
Comparação dos traçados: em vermelho, a pista atual, bem menor do que a antiga. |
Chato é ver que a
parte "abandonada" da velha pista continua ali, do outro lado do
morro, que poderia muito bem ter sido recuperada também, para proporcionar à
F-1 uma pista mais condizente com suas capacidades. O circuito atual, apesar de
ter tido algumas boas corridas, nunca caiu no meu agrado. Apesar de ainda ser
considerado um circuito de alta velocidade, a comparação com a pista antiga lhe
é desfavorável. Em 1987, a
corrida foi vencida por Nigel Mansell, com Williams/Honda, que fez as 52 voltas
da prova em 1h18min44s898, com média horária de 235,42 Km/h. A
pole-position foi de Nélson Piquet, também com Williams/Honda, com o tempo de
1min23s357, à média de 256,62
Km/h. Piquet terminou a corrida na 2ª colocação. Em
2003, na última prova aqui realizada, Michael Schumacher foi o vencedor, ao
efetuar as 69 voltas da prova no tempo de 1h24min04s890, com média de 213 Km/h. A corrida
deveria ter tido 71 voltas, mas problemas na largada obrigaram a uma nova, com
a consequente diminuição do percurso. O alemão da Ferrari também fez a pole,
com o tempo de 1min09s150, dando média de 225,21 Km/h. A pista
também ficou mais travada, e a reta dos boxes perdeu praticamente metade de sua
extensão original, tirando do público um dos melhores pontos de ultrapassagem,
na subida do morro para descer do outro lado. Hoje, a reta, muito mais curta,
termina abruptamente em um cotovelo de 90° onde a chance de os carros se
enroscarem logo após o arranque da largada é potencialmente grande. Falam que a
pista antiga se tornou perigosa justamente por causa das altas velocidades, mas
bem que podiam ter reincorporado todo o antigo traçado modernizando-o também no
que tange à segurança. E, embora o dono do império da Red Bull tenha reconstruído
as instalações e deixado todas tinindo, podia ter feito coisa melhor na pista
do que apenas recuperar o traçado mais recente. Um projeto chegou a ser
divulgado que reaproveitaria parte da antiga pista do outro lado do morro, mas
não se concretizou. Na minha opinião, não seria preciso mudar o traçado
original usado até 1987, só recapear mesmo, e colocar as devidas caixas de
brita, instalação de alguns muros e barreiras amortecedoras, aumentar algumas zonas
de escape para readequar a pista e mais alguns pequenos detalhes, a fim de devolver-lhe
toda a majestade que um dia já teve. Algo que espero que um dia seja feito
também em Hockenhein, na Alemanha, mas confesso ter poucas esperanças, do jeito
que as coisas andam no mundo atual.
Depois de deixar o calendário da F-1, o circuito teve suas instalações praticamente destruídas. |
Visualmente, Zeltweg continua
lindo. As montanhas ao redor, com suas florestas, fornecem um cenário de cartão
postal que está entre minhas paisagens preferidas dos circuitos europeus, entre
os quais incluo Monza, Spa, e o antigo Hockenhein, antes de ter sido
"capado" na década passada. E é um alento voltar a ter novamente um
velho GP europeu no calendário, que nos últimos anos, direcionado pela gula
financeira de Bernie Ecclestone, largou provas tradicionais em vários lugares
para encher o campeonato de pistas onde os governos aceitam pagar as
exorbitantes taxas cobradas pelo chefão da FOM. Mesmo assim, foi preciso que
alguns dos planos de Bernie dessem errado para que a Áustria voltasse ao
calendário.
Com o GP de Nova Jérsey
ainda enrolado no planejamento para entrar efetivamente no calendário, e a
perda das provas na Coréia do Sul, Valência, Turquia e Índia, e tendo apenas a
Rússia estreando na categoria este ano, Ecclestone precisou ceder para não
ficar com uma prova a menos do que gostaria. Mateschitz já tinha reformado completamente
o circuito, e tentado sua reinclusão no calendário da F-1, mas teve seu pedido
negado por Ecclestone. Com a perda de GPs recentes, Bernie teve de voltar
atrás, e em nova proposta, enfim aceitou trazer de volta o GP da Áustria.
Ganham os fãs e torcedores europeus, que há muito anseiam pela volta de outras
provas que já tiveram tradição no campeonato, como a da França, ou Portugal.
Mas a ganância financeira de Ecclestone, que sabe que pode arrancar mais
dinheiro de outros países interessados em sediar um GP, até agora barrou a
volta destas corridas, uma vez que tanto Portugal quanto França se recusaram a
aceitar as extorsivas taxas da FOM.
Mesmo assim, Dietrich
desembolsou uma grana preta nestas taxas para garantir a volta do GP da
Áustria. Um feito e tanto, mas deve-se relativizar: a Red Bull é um império
mundial que fatura bilhões por ano com a venda de latas de energéticos. E a
empresa é uma das que mais apóia atividades esportivas, e na F-1, é
proprietária do time que se tornou a sensação nos últimos anos, tornando-se a
força dominante da categoria, até o ano passado. Nesta temporada, o domínio
mudou de mãos, com a introdução dos novos motores turbo e os novos sistemas de
recuperação de energia. Mesmo assim, a Red Bull já se tornou praticamente o segundo
time no atual campeonato, vindo inclusive de uma vitória na última corrida, no
Canadá, onde o australiano Daniel Ricciardo quebrou a sequência de vitórias da
equipe Mercedes no atual campeonato. Portanto, a Red Bull chegou para sua prova
doméstica com a moral em alta.
Mas deve-se cair na
real: o triunfo em Montreal, sem desmerecer a performance de Ricciardo,
deveu-se mais aos problemas enfrentados pela Mercedes em seus carros do que
pela performance propriamente dita do carro atual, que em confronto direto
ainda está quase 1s atrás das Mercedes por volta, dependendo do circuito. Se os
carros alemães não tiverem problemas aqui, a tendência é que eles dominem
novamente tanto a classificação quanto a corrida. E a própria Red Bull, apesar
do seu avanço no ano, não está só em seu setor do grid: Williams, Force India e
Ferrari, e talvez a McLaren, estão ali por perto, de modo que brigar por um
pódio pode ser tanto uma realidade quanto uma tarefa complicada. Só poderemos
ter uma idéia mais clara de quanto cada carro pode render hoje nos treinos
livres.
Zeltweg em sua forma original, utilizada de 1970 a 1987. Circuito de alta velocidade para piloto nenhum botar defeito... |
E corridas na Europa
tem um clima todo especial. Nesta quinta-feira o circuito já recebeu um grande
número de visitantes, que puderam ver de perto novamente os carros, mesmo que
estivessem apenas sendo empurrados pelos mecânicos no pit line para as
verificações de rotina. Os torcedores entram no clima da corrida como se vê em
poucos lugares fora do Velho Continente. Não me lembro de ver tamanha empatia
do público nos novos GPs que povoam o calendário. E isso é muito legal de se
ver, pois cria uma atmosfera única, que apenas aumenta o gosto de acompanhar um
GP de F-1. Os austríacos mais do que mereciam recuperar sua corrida.
Na última corrida
disputada aqui, deu vitória da Ferrari, com Schumacher. Kimmi Raikkonem foi o
2° colocado, na época pilotando a McLaren. Rubens Barrichello, com Ferrari,
completou o pódio. Daquela corrida, aliás, apenas Raikkonem, Felipe Massa,
Fernando Alonso, e Jenson Button ainda estão na F-1. Mark Webber, que também
participou daquela prova, deu adeus à F-1 no fim do ano passado. Já Michael
Schumacher, por sua vez, aposentou-se definitivamente da categoria ao fim de
2012. Dos times que correram aqui naquele último ano, a BAR virou Honda, que
virou Brawn, e hoje é a Mercedes. A Jordan virou Midland, que virou Spyker, e
por fim tornou-se a Force India; a Minardi virou a Toro Rosso; a Jaguar se
tornou a Red Bull; e a Renault tornou-se a atual Lotus. Apenas a Toyota
resolveu abandonar a F-1. Eram 20 carros naquele grid. Hoje temos 22, o que significa
que a situação não melhorou muito em termos de participantes. Apenas Ferrari,
McLaren, Williams e Sauber continuam sem mudanças em seus nomes.
Mas foi aqui também
que em 2002 a
Ferrari apresentou sua maior presepada na categoria, ao impedir que Rubens
Barrichello, superior a Michael Schumacher na pista e na corrida em todo aquele
final de semana, vencesse a corrida, por causa de sua estúpida maneira de
tratar a hierarquia de seus pilotos. Rubens dominou a prova de cabo a rabo, e
na reta de chegada, foi obrigado pelo time a deixar Schumacher vencer. Uma
atitude covarde e antiesportiva que lhes rendeu uma multa por parte da FIA, mas
por outra razão: no pódio, em meio às vaias generalizadas, Schumacher
simplesmente trocou de lugar com o brasileiro no pódio, talvez tentando
amenizar o ocorrido. Mas isso quebrou as regras de protocolo da FIA para o
momento, e isso gerou a multa, não a palhaçada da ordem de equipe. As ordens de
equipe acabaram proibidas depois daquele ato vergonhoso, mas depois de muita insistência
e de outros exemplos "disfarçados" perpetrados pela própria Ferrari,
como o famoso "Fernando está mais rápido" visto na Alemanha em 2010
em cima de Felipe Massa em relação a seu companheiro Fernando Alonso, a FIA
voltou a liberar o jogo de equipe. E a Ferrari, acreditem, tem muito orgulho de
sua cara de pau em relação a este assunto...
Eles poderiam aprender
muito com a Mercedes nesta temporada, mas Luca de Montezemolo já mostrou ser um
sujeito teimoso, e ele insiste em manter os velhos hábitos, ainda que o time
rosso tenha enfim dois campeões como titulares nesta temporada, o que demonstra
algum avanço, o que não se vê exatamente fora da pista nas atitudes do chefão
do Grupo Ferrari, que aliás voltou a reclamar das regras atuais da F-1 nos últimos
dias, conclamando os chefes de equipe para uma reunião para discutir o assunto.
Claro, como a Ferrari está indo mal no campeonato, vê-se o principal motivo da
reclamação. De minha parte, não me importo que eles se ferrem, fazem por
merecer por toda a soberba e arrogância que demonstram, se bem que isso não é
exclusividade do time de Maranello.
Aguardemos os treinos
e esperemos que a corrida pelo menos seja interessante.
Todo mundo ficou animado esta
semana com a "notícia" de que Michael Schumacher saiu do coma e foi
transferido para um outro hospital, este na Suíça, bem mais próximo onde ele
possui sua residência. mas vamos devagar com a empolgação: a notícia sugere que
pelo menos seu estado está melhor, o que possibilitou a transferência de
instalação para um local onde a família terá mais facilidades em estar
presente, do que em Grenoble, que era um lugar mais distante. E
"sair" do coma, de certa forma, Schumacher já havia saído. Só que
isso não quer dizer que ele praticamente acordou e já está falando e tudo o
mais. Pelas poucas informações, o ex-piloto já teria momentos de consciência, e
reage a estímulos e conversas externas. Mas nenhum outro detalhe é mencionado.
A família ainda mantém uma blindagem implacável sobre seu estado, e na melhor
das hipóteses, o que se pode especular é que ele está recuperando de fato a
consciência e a capacidade de reagir ao mundo exterior. Mas, de que modo, e de
quanto é essa recuperação, não dá para mensurar ainda. Michael sofreu ferimento
sério na cabeça, e sua recuperação, apesar da notícia sugerir um quadro mais
animador, de possibilidade de recuperação, a verdade é que está ainda é
incerta. Não há garantias de que ele volte a ser quem já foi, e na opinião de
médicos que têm experiência no tipo de lesão e situação traumática que ele
passou, vai ser necessário ainda muita recuperação para se voltar a ter um
nível de vida relativamente básico, onde ele possa respirar e se locomover sem
ajuda de alguém, dependendo das sequelas. Claro que todos gostaríamos de vê-lo
plenamente recuperado, mas dadas as raras informações que são disponibilizadas,
não se tem condições de se fazer uma avaliação precisa de seu estado, se já é
possível avaliar a extensão total das sequelas do acidente, nem de como ele
está reagindo exatamente aos estímulos da família, se está conseguindo se
comunicar com eles, entendendo a situação, etc. Por mais que queiram
privacidade e discrição neste momento, o bloqueio de divulgação de informações
imposto pela família só ajuda a aumentar as especulações do estado real de
Michael Schumacher. Um jornal publicou que Michael esteve consciente durante
todo o transporte e, mesmo sem falar, conseguia fazer movimentos com a cabeça
para se comunicar. Se isso foi mesmo verdade, muito bom mesmo, pois indica que
ele poderia estar melhor do que esperávamos. Mas e saber o que é real e o que é
especulação e fofoca de repórter para vender jornal? Por enquanto, a verdade é
uma só: sua recuperação continua, e ele ainda está travando a batalha de sua
vida. Pode não correr mais risco de morrer, talvez, mas certamente, ainda terá
um longo caminho a percorrer. Que ele tenha sorte e condições para vencer este
desafio. E os fãs, que aprendam a ter muita, mas muita paciência para aguardar
novidades sobre o assunto.
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