O casamento da Red Bull com a Renault já teve melhores dias. E quem poderia substituir os motores franceses? Resposta talvez apenas em 2016... |
Se a Red Bull ficou
eufórica com a vitória obtida no Canadá, mesmo sabendo que as circunstâncias
foram anormais, a ducha de água fria vivida pela escuderia em Zeltweg parece
ter servido para deixar a direção do time em pé de guerra com sua fornecedora
de motores, a Renault. Christian Horner classificou a situação como
"inaceitável" e aproveitou para reclamar bastante da fábrica
francesa, afirmando que a unidade de potência deles não está sendo desenvolvida
a contento. Se a paciência da Red Bull com a Renault acabou, bem, eles que se
virem então, porque pelas informações disponíveis, ainda terão que utilizar a
mesma marca em 2015. Já para 2016, fica a dúvida do que pode acontecer.
Parcerias vão e vem.
Mesmo quando tudo dá certo, elas acabam, por motivos variados. E quando as
coisas não vão bem, então, é palco fértil para tensão constante. A união da
Renault com a Red Bull já tem 8 anos. Começou em 2007, e de lá para cá, tão
logo o time iniciou sua fase vencedora, o motor francês sempre foi uma das
peças fundamentais do sucesso da escuderia, junto com os modelos criados por
Adrian Newey, e claro, com Sebastian Vettel ao volante. Uma conjunção de
fatores que, apesar de alguns altos e baixos, mais tem a comemorar do que a
lamentar. Horner admite que Red Bull e Renault ganharam muitas corridas juntos,
mas que isso não diminui a cobrança que faz à fábrica francesa. E a Renault,
pelo seu lado, reconhece que no momento está fornecendo o pior equipamento da
F-1, mas está trabalhando duro dentro das limitações do regulamento, para
evoluir suas unidades de potência. O problema é que a evolução não está sendo
no ritmo desejado pelo time.
O modelo RB10 já
conseguiu uma evolução notável no ano, a ponto de poder ser classificado como o
melhor carro depois do modelo W05 da Mercedes. Adrian Newey conseguiu rever as
falhas do projeto que na pré-temporada deixaram o time mais parado nos boxes do
que fora deles, e tanto isso é verdade que a Red Bull já ocupa a vice-liderança
no Mundial de Construtores, um prêmio de consolação, porque ninguém conseguirá
chegar na Mercedes neste ano. E, se o time conseguiu resolver os problemas de
seu carro, agora fica dependendo unicamente do fornecedor de motor a chance de
melhorar o desempenho, o que, até o presente momento, está devendo tanto em
potência quanto em confiabilidade em suas unidades.
Na prova da Áustria,
justo no autódromo de seu proprietário, Dietrich Mateschitz, que gastou mundos
e fundos para adquirir e recuperar todo o autódromo, e que tentava fazer uma
autopromoção, ainda que modesta, de seu time, depois da vitória no Canadá, a
escuderia nunca conseguiu andar nas primeiras colocações. Sebastian Vettel nem
passou para o Q1, enquanto Daniel Ricciardo passou no limite, para conseguir
largar numa 5ª posição até festejada. Mas na corrida Vettel ficou pelo caminho,
com problemas eletrônicos no ERS, enquanto Ricciardo limitou-se a um 8° lugar
pouco entusiasmante. Ficar ruim na fita logo em casa pegou mal no time, afinal,
era a primeira corrida da Red Bull em seu país na F-1. Quando a categoria
correu no país pela última vez, em 2003, o time ainda era a Jaguar, que ao fim
de 2004 sairia da F-1 e venderia a estrutura para o fabricante de bebidas
energéticas. Dá para se entender a frustração e impaciência.
Para a Renault, também
é duro engolir a situação atual. A marca foi a introdutora do motor turbo na
F-1, em 1977, quando estreou com um time próprio no campeonato. Mas a marca
francesa penou com seus motores, que no início quebravam muito, e com isso,
acabavam equiparando as chances com os motores atmosféricos, muito menos
potentes, mas muito mais confiáveis. Apenas em 1983 a marca francesa
disputaria efetivamente o título da F-1, mas viu seu principal piloto à época,
Alain Prost, perder o duelo para o brasileiro Nélson Piquet, que daria à alemã
BMW a honra de conquistar o primeiro título de um motor turbo na história da
categoria. A potência dos motores franceses só foi suplantada logo a seguir
pela Honda, mas mesmo assim, a diferença de chassis onde seus motores eram
instalados fazia muita diferença: enquanto a Williams tinha o explêndido FW11,
a Renault tinha de se virar com os chassis da Lotus e da Ligier, sendo que a
Lotus só funcionava mesmo com o talento de Ayrton Senna. E ao fim de 1986, a Renault deixava a
F-1, tendo fechado seu time próprio ao fim de 1985.
O retorno, em 1989, na
nova era turbo, demorou um pouco a engrenar, mas a partir de 1991, a marca francesa
daria o troco nos japoneses da Honda, e com sua ex-parceira, a Williams. Em
1992, o motor francês seria finalmente campeão da F-1, com Nigel Mansell. O
sucesso se repetiria em 1993, 1996, e 1997, quando a parceria findou
oficialmente pela decisão da fábrica de deixar a F-1. Seus motores continuaram
na categoria de modo semi-oficial, preparados pela Mecachrome. A marca dizia, à
época, que havia conquistado tudo o que podia, e que tinha novos desafios a
procurar. Saiu por cima, e com méritos: era o melhor motor em todos os
aspectos: potência, dirigibilidade, fiabilidade, economia, etc.
No retorno, na década
passada, o motor francês enfrentou altos e baixos, mas voltou ao topo com os
títulos de Fernando Alonso em 2005 e 2006, agora como equipe completa, refeita
a partir da antiga Benetton. Os anos de 2007 e 2008 foram de vacas magras, mas
a parceria com a Red Bull começou a dar frutos em 2009, com a junção de
diversos fatores na estruturação da equipe dos energéticos dando seus frutos
concretos, e o time acabou vice-campeão naquele ano. Com o congelamento das
novas unidades V-8 de 2,4
litros, o motor francês não era o mais potente do grid,
mas era o que possuía as melhores qualidades "médias": potência na
medida certa, economia, flexibilidade e dirigibilidade, sendo um motor
"manso" no trato e com curva de potência ideal para aproveitamento em
todos os regimes, sem "picos" de comportamento que necessitassem ser
lapidados para um bom aproveitamento da unidade.
Desnecessário dizer
que os motores foram bons o suficiente para que o time se tornasse a nova
sensação da F-1, e um ingrediente que não pode ser subestimado nos 4 títulos
consecutivos ganhos por Vettel nas últimas 4 temporadas, ainda que muitos
insistam que o maior mérito é só do piloto e do carro, e ainda afirmem que o
motor é algo secundário. A impaciência da Renault só me faz ver que o sucesso
parece ter feito mal ao time. Quando a escuderia estreou, era muito mais
relaxada e descontraída, hoje, é muito mais sisuda e séria, a exemplo das
demais escuderias grandes da categoria. O único ponto positivo nesta reclamação
é romper com aquele clima de "politicamente correto" que anda
imperando há tempos na F-1. Horner reclama com uma intensidade que a categoria
não vê há algum tempo, mas que era bem mais comum em outras épocas. Quem não se
lembra quando Nélson Piquet classificava o próprio carro como
"porcaria" ou "merda" quando as coisas não iam bem?
Falava-se com mais sinceridade naqueles tempos, mesmo de forma mais educada e
polida, do que hoje, onde todo mundo parece ter medo de ofender alguém, e dizer
um palavrão ficou raro, mesmo quando a situação justifica.
Enquanto a Renault não
consegue deixar suas unidades de potência no desenvolvimento exigido pela Red
Bull, o time estuda as opções. Já descartou a idéia de produzir seus próprios
motores, o que poderia ser inviável, ainda que dinheiro não seja o problema. E
que outro motor utilizar? Quando estreou, em 2005, o motor era o Cosworth,
abandonado para 2006 em favor dos Ferrari, que foram então substituídos pelos
Renault. A ligação da Ferrari até continuou, só que fornecendo motores para a
Toro Rosso, o time satélite, parceria encerrada neste ano, quando também
passaram a usar os mesmos Renault do time matriz. Será que reatariam a parceria
com os italianos? Quem sabe? Só ficaria ruim mesmo para o ego de Maranello ver
outro time andar melhor do que eles com o próprio motor, hipótese que não pode
ser desconsiderada, e que mesmo se valendo do lema de que "negócios são
negócios" para justificar vender motores a mais um time, receio que o
orgulho dos italianos possa emperrar um acordo do tipo. E, se levantarmos o
histórico de fornecimento de motores da Ferrari, que até o início da década de
1990 nunca havia fornecido motores a terceiros, eles até hoje só os forneceram
a escuderias médias ou pequenas. Topariam equipar um adversário
"grande", e torná-lo um rival ainda mais forte?
Pelos lados da
Mercedes, que conta atualmente com 4 times, e que ano que vem perde a McLaren
com a volta da Honda, poderia ser uma opção. O pessoal de Stuttgart parece não
ter receios de equipar rivais fortes, mas é verdade que isso até agora também
foi quando seu time próprio não dominava a categoria. Será que manterão a
filosofia agora que seu time está dando as cartas? A escuderia alemã confessou
que levou um susto na Áustria com o desempenho da Williams, equipada com o
mesmo motor. Se eles começarem a incomodar demais, quem garante que a fábrica
alemã não vai se resguardar de equipar times potencialmente
"perigosos"?
Temos a estréia da
Honda em 2015, e embora o acordo dê a entender que a McLaren é parceiro único,
nada disso está garantido para o ano seguinte. A vantagem dos japoneses é que
como eles não têm time próprio, certamente não colocarão empecilhos para
fornecer a mais times, mesmo grandes. Se os novos propulsores turbo nipônicos
mostrarem a força que tinham na velha era turbo dos anos 1980, vai ter gente
fazendo fila querendo as unidades, o que vai ser ótimo para a Honda. Pode ser
uma opção interessante e mais viável. Mas vai depender do que eles mostrarem no
próximo ano, quando retornam à F-1. Pelo menos, em caso de acordo, a Red Bull
poderá ter certeza do que eles podem render.
Por fora, surgiram
rumores de que a Infiniti poderia construir um motor para a escuderia, mas se
lembrarmos que a fábrica pertence ao conglomerado Nissan-Renault, a hipótese
perde força, a menos que a Nissan esteja interessada em promover sua marca. Mesmo
assim, muito provavelmente poderiam se basear na tecnologia desenvolvida pela
Renault. Mas o grupo iria aumentar gastos na F-1 utilizando duas marcas? Carlos
Ghosn, executivo brasileiro que dirige a empresa atualmente, nunca escondeu sua
antipatia pela F-1, alegando que o dinheiro poderia ser mais bem gasto em
outras áreas. Enquanto a marca lucrava com os títulos conquistados pela Red
Bull, vá lá. O grande trunfo atual é a capacidade de desenvolver a tecnologia híbrida,
a fim de ser implantada nos carros de rua, mas muito provavelmente isso será
feito em uma frente única, e não dividindo forças na companhia. E,
comercialmente falando, a marca Renault é muito mais popular e famosa do que a
Nissan.
Chegou-se a cogitar da
Audi fornecer motor, mas a fábrica alemã vem dando de ombros para a F-1,
afirmando que tem muito mais retorno e menos dor de cabeça, politicamente
falando, no Mundial de Endurance, onde já atua com uma tecnologia de motores híbridos,
e não tem planos para a categoria máxima do automobilismo. Pelo seu lado, a
Porshe, que já foi fornecedora de motores na F-1, acaba de voltar para as
provas de longa duração, e com uma arquitetura de motor de 4 cilindros,
incompatível com as regras técnicas atuais dos turbos da F-1, pelo que não vai
se ocupar de produzir um novo motor só para voltar à categoria, onde amealhou 3
títulos em parceria com a McLaren e o grupo TAG de 1984 a 1986. A Toyota tem um
raciocínio parecido com o da Porshe, mas por outros motivos: ficou praticamente
uma década competindo na F-1 sem conseguir resultados, tanto como equipe própria,
como fornecedora de motor, e agora está colhendo muito mais lucros na
Endurance. Ela pode até retornar à F-1, mas não pensa nisso agora. Talvez mude
de idéia se a Honda obter sucesso em seu retorno, mas isso pode levar alguns
anos. E duvido que a paciência da equipe dos energéticos dure tanto tempo.
Mas, apesar da crise
de relacionamento que estamos vendo, também não é improvável a Renault resolver
seus problemas, e voltar a ter um desempenho que a Red Bull considere
"aceitável". E, se isso acontecer, a marca francesa pode até
continuar como parceria do time dos energéticos. Tudo vai depender de como os
franceses conseguirem empreender seu programa de recuperação de performance dos
motores e sistemas de recuperação de energia. Se a Red Bull tiver a paciência
necessária, e manter um pouco a cabeça fria, pode ter a chance de colher estes
frutos. Não se pode ignorar a possibilidade de mudar de fornecedor e de repente
a Renault acertar o passo, o que seria ainda mais depreciativo para a imagem da
escuderia.
Tudo na vida tem seus
altos e baixos. O sucesso da Red Bull na F-1 é notável, se levarmos em conta
que o time tem na prática 10 anos, oriundo da velha Jaguar. Claro que o
objetivo é buscar sempre o melhor resultado, contar com os melhores pilotos, e
almejar os melhores resultados. Mas, por melhor que sejam os recursos, técnicos,
financeiros ou humanos disponíveis, sempre haverá um período de vacas magras. É
preciso manter a perseverança, a determinação, e o foco nos momentos ruins para
recuperar a condição vitoriosa dos bons momentos anteriores. A impaciência nos
momentos ruins, contudo, pode complicar tudo, e se não souber dosá-la, pode se
tornar o maior problema da escuderia.
Resta esperar que a
direção da Red Bull mantenha a cabeça fria, e siga em frente trabalhando firme
para voltar a conquistar os melhores resultados.
De volta com o visual amarelo da Pennzoil no seu carro, Helinho espera ter melhor sorte este ano em Houston do que no ano passado. |
A Indy Racing League volta à
pista neste fim de semana, em Houston, para uma rodada dupla, com provas neste
sábado e no domingo. Para o brasileiro Hélio Castro Neves, é a chance de
exorcizar os fantasmas do fim de semana negro do ano passado, quando o piloto
da Penske abandonou as duas corridas disputadas no circuito urbano da maior
cidade do Texas, com problemas mecânicos causados pelo péssimo piso do
circuito, que fez inclusive rachar o chassi. O resultado negativo provocou uma
reviravolta no campeonato de 2013: até então Helinho vinha administrando a
vantagem na liderança da competição para Scott Dixon, que vinha muito forte nas
corridas anteriores, mas enfrentava pequenos problemas que ainda davam alguma
folga ao brasileiro. Uma vantagem frágil, contudo, que foi a pique com os dois
abandonos sofridos em Houston, enquanto Dixon teve um fim de semana quase
perfeito, vencendo uma corrida e sendo 2° colocado na outra, assumindo a
liderança da competição, que era de Hélio. De desafiante, Dixon virou o
favorito, e o neozelandês foi para a etapa final, em Fontana, com a
possibilidade de fazer uma corrida mais calma, podendo se concentrar em marcar
Hélio, o que acabou acontecendo: Dixon chegou imediatamente à frente do rival
na prova de Fontana, e faturou o tricampeonato com 27 pontos de vantagem para o
brasileiro.