sexta-feira, 25 de abril de 2014

JÁ TEMOS O CAMPEÃO DE 2014?


Lewis Hamilton vem deixando todo mundo para trás nas últimas corridas, inclusive o parceiro de equipe Nico Rosberg. Será que o alemão consegue brecar a escalada do inglês rumo ao bi? Não é impossível, mas está parecendo cada vez mais difícil...

            O Grande Prêmio da China não foi tão divertido e emocionante quanto a corrida do Bahrein, mas serviu para vermos algumas coisas interessantes. A primeira delas, para citar o óbvio, é em qual momento Lewis Hamilton poderá comemorar o bicampeonato. Sim, depois de 3 vitórias consecutivas, o inglês é o favorito mesmo para o título deste ano na F-1. Caberá a Nico Rosberg quebrar esta escrita, mas sua tarefa não vai ser nada fácil.
            Nico pode ser um talento subestimado e tudo o mais, porém, se quiser mesmo ser campeão, vai precisar dar tudo e mais um pouco para bater seu companheiro de equipe. Por enquanto, ele ainda lidera o campeonato, mas Hamilton vem chegando bem rápido. E o alemão pode bater o inglês na pista efetivamente? Pode, mas vai precisar que os fatores se alinhem para favorê-lo: em uma disputa direta, sem que nenhum deles enfrente problema algum, Hamilton já mostrou que tem braço e determinação para permanecer na frente, como vimos no Bahrein, onde defendeu-se de forma espetacular contra um Rosberg muito mais eficiente com os pneus de que dispunha, e que mesmo assim não conseguiu vencer.
            Não é querer desmerecer Nico, mas pelo que vimos até agora na pista este ano, o alemão só esteve mesmo à altura de bater Hamilton no Bahrein mesmo. Na Austrália, uma vez que Lewis abandonou logo no começo, não dá para fazer uma avaliação precisa de como ele se sairia se tivesse que duelar roda a roda pela vitória com o companheiro de equipe. E, se na Malásia ele creditou a diferença de performance ao modo como fez o ajuste de seu carro - o que não soa de todo inverídico, por outro lado, na China, a largada complicada atrás das duas Red Bull e o toque com Valtteri Bottas tornaram a prova de Rosberg uma corrida de recuperação, com o alemão tendo de se livrar dos concorrentes enquanto Hamilton simplesmente corria solto. Uma vez em 2° lugar, a diferença para o companheiro de equipe já era grande, e mesmo que tentasse uma reação, era nítido ver que Hamilton tinha reservas para responder conforme a necessidade.
            Hamilton, por sua vez, está aproveitando o momento, e acelerando o que pode. Enquanto mantiver a cabeça no lugar, e seu carro corresponder como vem fazendo, bater o inglês será tarefa duríssima. Lewis é considerado o piloto mais rápido da F-1 atual, em se tratando da velocidade que consegue arrancar de seu bólido, e o estilo de condução mais arisco dos carros atuais parece ter casado com seu estilo arrojado de pilotagem. Rosberg, que já tem um estilo mais neutro, parece estar sofrendo mais para tirar a mesma velocidade do modelo W05, pelo menos com a mesma constância do inglês.
            E a concorrência? Por enquanto, ela não consegue se manter estável. Na Austrália, a Red Bull surpreendeu com a performance de Daniel Ricciardo, e de fato, o australiano tem se mostrado tremendamente rápido, e ajudando a equipe dos energéticos a se recuperar na competição. Mas o modelo RB10, em que pese parecer enfim demonstrar suas qualidades após o time dar duro nestas primeiras etapas, ainda tem um déficit de performance a ser superado apenas quando a Renault conseguir dar mais desenvolvimento a sua unidade de potência, algo um pouco difícil de fazer a curto prazo com o congelamento de desenvolvimento imposto pelo regulamento, que permite poucas mudanças. Mas a unidade francesa ainda tem espaço para melhorar, e a montadora trabalha com afinco para conseguir isso. O problema é que, enquanto isso, o time alemão dispara no campeonato com seus pilotos, tornando a reação tardia apenas um campeonato para ver quem será o melhor do "resto" do grid.
            E, neste "resto" dos times, as escuderias têm apresentado performances variáveis. Se a Red Bull até o momento tem sido mais constante em se apresentar como "segunda força", dependendo das corridas, outras equipes tem brilhado momentaneamente. Na Austrália, a McLaren subiu ao pódio, e dava a entender que o ano tenebroso de 2013 havia ficado para trás. Mas, dali em diante, o time foi despencando, a ponto de em Shangai nem ter conseguido pontuar. Depois de brilhar na pré-temporada e se credenciar até a voltar a ser um time de ponta, a Williams confirma parte do potencial exibido nos testes, mas uma série de empecilhos e azares momentâneos têm impedido a escuderia de aproveitar totalmente o que pode render. No Albert Park, Felipe Massa deu adeus cedo à corrida, abalroado por Kamui Kobayashi, e Valtteri Bottas acertou o muro de leve, precisando de uma parada extra no box e tendo de fazer uma corrida de recuperação. Na Malásia, más posições de largada obrigaram ambos os pilotos a corridas de recuperação; no Bahrein, o Safety Car veio na hora errada para validar a estratégia de uma parada a mais; enquanto na China, um pit stop desastroso arruinou a corrida de Massa.
            Na Bahrein, quem mostrou força no pelotão do "resto" foi a Force India, que subiu ao pódio e até assumiu a 2ª colocação no mundial de construtores. O time parece ter regularidade para pontuar, mas é difícil apontar o seu real potencial. Da mesma maneira, a Ferrari ainda é uma incógnita este ano. Fernando Alonso fez uma grande corrida na China, conseguindo um pódio que salva o time de afundar ainda mais na crise, que precipitou a demissão de Stefano Domenicali na semana passada, mas que ninguém se iluda: o F14T ainda é um carro abaixo da média para um time de ponta, e a menos que o corpo técnico de Maranello faça milagres, o time não tem muito o que aspirar nesta temporada.
            No restante do grid, não dá para esperar nada demais além de brilhos ocasionais, pelo menos em se tratando de disputa pelas primeiras posições. E enquanto os times com maiores recursos não acertarem seus carros ou as circunstâncias de fazer uma corrida perfeita para seus pontos fortes, a Mercedes vai se distanciando. No mundial de construtores, a equipe sediada em Brackley já tem 154 pontos, enquanto a Red Bull, 2ª colocada, apenas 57. O que impressiona é quanto os times estão equilibrados na pontuação, ignorando-se as flechas prateadas de Stuttgart: Red Bull em 2° com 57 pontos; Force India em 3° com 54; Ferrari em 4° com 52; McLaren em 5° com 43; e Williams em 6° com 36 pontos. Da mesma forma, do 3° ao 8° lugar no campeonato, temos 6 pilotos separados por 18 pontos, o equivalente a um 2° lugar: Fernando Alonso (41), Nico Hulkenberg (36), Sebastian Vettel (33), Valtteri Bottas e Daniel Ricciardo (24), e Jenson Button (23).
            Podemos ver que está havendo uma boa competição na F-1 este ano, se ignorarmos a supremacia da Mercedes. Uma supremacia que deve demorar a ser desafiada de fato. Por mais que os times da Red Bull, Ferrari, e talvez Williams e Force India, evoluam seus carros, a escuderia de Hamilton e Rosberg também não está parada, projetando modificações e evoluções para aplicar no seu bom modelo. Daqui a duas semanas, no início da fase européia da competição, é previsto um grande rol de novidades em todos os carros do grid, com trabalhos desenvolvidos com os dados acumulados nestas primeiras corridas do campeonato. Com a dianteira que possui, a Mercedes tem mais tranquilidade para trabalhar, enquanto as demais estarão sob pressão para tentarem não passar o ano em branco.
            A rigor mesmo, a maior ameaça à Mercedes vem de seus próprios pilotos. Lewis Hamilton e Nico Rosberg até agora só duelaram roda a roda em uma única corrida, e apesar do panorama amistoso entre ambos, o clima andou esquentando um pouco nos bastidores da prova de Sakhir. Ainda estamos no início da competição, e é prematuro afirmar que Hamilton já ganhou o campeonato. Tudo pode mudar durante o ano, mas numa expectativa teórica, Hamilton leva vantagem sobre Nico Rosberg, o que não quer dizer que o alemão vai ficar sobrando novamente. Nico tem condições de surpreender e assumir as rédeas da disputa. Por enquanto, sua regularidade vai lhe garantindo a liderança do campeonato, mas vai precisar mostrar mais do que já demonstrou até agora se quiser brecar a escalada de Lewis, que se repetir a dose em Barcelona, assumirá efetivamente a liderança do mundial.
            Em 1988, o arrojo e determinação ímpar de Ayrton Senna, que foi campeão em cima de Alain Prost, provocaram certo abalo na imagem do bicampeão francês. Conhecido por ser um piloto mais cerebral do que arrojado, muitos diziam que o "Professor", como era chamado por raramente errar, agora precisava voltar a ser aluno e aprender a ser "arrojado". Mas Prost deu o troco, ainda que de forma questionável na decisão em Suzuka, na pista em 1989, mantendo-se veloz e até surpreendendo Senna algumas vezes, por mais que o brasileiro sempre se mostrasse mais rápido na pista.
            Portanto, se Hamilton agora parece imbatível, mesmo frente ao companheiro de equipe, seria um erro menosprezar Nico Rosberg. O problema é que fica a dúvida se o filho de Keke pode realmente efetuar uma reviravolta nas expectativas da disputa, que por enquanto dão o inglês como favorito destacado, até mesmo dentro da Mercedes. Se não houver nada que quebre a concentração de Hamilton, como seu namoro novamente entrar em crise, tudo parece ficar mesmo difícil para Nico finalmente desencalhar como piloto de ponta na F-1. E Lewis, por sua vez, parece estar mais maduro e confiante depois que saiu da McLaren e assumiu o desafio de vencer pelo time alemão. Tudo de fato parece conspirar a favor de presenciarmos o bicampeonato do inglês no fim do ano.
            Mas, nada impede que tenhamos alguma surpresa, e tenhamos outro resultado. Seja qual for o piloto da Mercedes a ser campeão - isso sim, parece certo, que a disputa seja na pista e de forma limpa e direta, sem os favoritismos que existiram nos times da categoria nos últimos anos. Que a Mercedes permita uma briga direta e franca entre seus pilotos. É o mínimo que os fãs merecem em um ano que promete ser dominado pelas flechas de prata. Esse, aliás, é o maior perigo que ronda a escuderia prateada. Se a concorrência conseguir se aproximar, Toto Wolf já admitiu que o time pode rever sua política de deixar a briga na pista correr solta, como forma de garantir a conquista do título. Resta saber se os pilotos vão aceitar isso passivamente. Por enquanto, o relacionamento da dupla se mantém calmo e sem atritos, mas as disputas na pista já começam a deixar evidentes alguns sinais de acirramento dos ânimos, que até agora não atingiram níveis que preocupem, mas que sinalizam que mais à frente a situação pode exigir ser trabalhada com mais afinco, a fim de se evitar desgastes que possam ser evitados.
            Um clima de guerra interno é tudo o que a Mercedes não precisa neste momento...

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