sexta-feira, 28 de março de 2014

CHORADEIRA À TOA


Dietrich Mateschitz (ao lado de Christian Horner) não engoliu a desclassificação de Daniel Ricciardo na Austrália e as novas regras técnicas da F-1.

            Depois de Bernie Ecclestone e do promotor da prova da Austrália, mais duas vozes de peso se juntaram às críticas sobre a "nova" F-1 nesta semana. Dietrich Mateschitz, o dono do império da Red Bull, desandou a falar mal do novo regulamento, nitidamente contrariado em especial pela desclassificação de Daniel Ricciardo da corrida de Melbourne. Depois, como que para endossar a opinião do patrão, o tetracampeão Sebastian Vettel também andou criticando o barulho dos novos motores turbo na categoria.
            Para Vettel, o novo som dos motores é uma "merda", dizendo que os fãs perderam um dos maiores atrativos da categoria e que lamenta por isso. Considero um exagero, mas ele tem todo o direito de falar o que pensa. Da parte de Mateschitz, a descida de lenha foi mais contundente, ao afirmar que "a F-1 não foi feita para bater recordes de consumo de combustível e nem para se ter uma conversa sussurrada durante uma corrida", declarando ainda que os carros ficaram muito lentos e que até as corridas da GP2 estão mais atrativas do que a F-1. Mateschitz, claro, ainda defendeu plenamente a atitude de sua escuderia de usar um sensor próprio, mesmo depois dos alertas da FIA, afirmando que a peça oficial não dava informações confiáveis.
            Na minha opinião, é tudo choradeira à toa. Vettel teve o pior fim de semana de que há memória recente, e a Red Bull, depois de virar um time de ponta, aparentemente se deixou contaminar pelo ambiente prepotente que reina nos demais times vencedores da categoria. Em que pese ainda ser o time mais relaxado do paddock, o ambiente na escuderia já não é mais tão aberto e cativante quanto há alguns anos atrás, quando a escuderia, apesar de não vencer corridas, era o time mais divertido e carismático da categoria. Aparentemente, o sucesso subiu-lhe à cabeça, infelizmente. Das críticas feitas pelo dono da Red Bull, concordo apenas quando fala que a categoria tem muitas picuinhas políticas, o que é uma triste realidade, e que precisa de fato mudar. Os carros de F-1 ficaram lentos? Sim, mas nada tão drástico. Conforme mencionei na coluna da semana passada, a perda de tempo em volta em Melbourne ficou de bom tamanho levando-se em conta as mudanças pelos quais os carros e motores passaram, tendo menos pressão aerodinâmica, entre outros aspectos. E até esqueci de mencionar que os bólidos ficaram cerca de 50 Kg mais pesados do que os do ano passado, o que só reafirma que os carros de 2014 continuam rápidos e velozes, e devem melhorar a performance ainda mais com o avançar do campeonato.
            Mas voltando às reclamações sobre as novas regras, será que ambos estariam descontentes se o time tivesse vencido a corrida ou subido ao pódio sem problemas? Duvido muito. Quanto ao problema no fluxômetro, a Red Bull parece que foi o único time a fazer disso uma tempestade em copo d'água. Nenhuma outra escuderia, inclusive a Toro Rosso, que pertence à Red Bull, esquentou tanto a cabeça publicamente com isso. E fica uma dúvida: e se o ritmo impressionante de Ricciardo em Melbourne foi decorrente do gasto de combustível acima do permitido? Caso contrário, o panorama mostra ainda mais que a Red Bull está chiando por chiar, pois se o fluxo anormal de combustível não teve influência no ritmo do australiano, isso apenas mostra que o carro da equipe mostra potencial para vencer corridas, bastando apenas acertar melhor seus sistemas e ganhar mais confiabilidade. Por outro lado, se o bom desempenho se deveu ao maior fluxo de combustível, aí a situação ganha ares piores, de tentativa de ludibriar as regras para se dar bem.
            É algo a se pensar. Durante a pré-temporada, os pilotos enfrentaram vários problemas nos carros, tendo de trabalhar duro para pelo menos garantir a fiabilidade, o que nem estavam conseguindo. E, em Melbourne, vemos uma situação distinta entre os pilotos do time, com Ricciardo a fazer na pista a estréia dos seus sonhos, andando na frente e subindo ao pódio, sem enfrentar problema algum no seu equipamento, enquanto Vettel vivia o panorama vivenciado nos testes da pré-temporada. Será que foi mesmo apenas algo circunstancial? Prefiro pensar que não, do contrário, a honestidade do time dos energéticos fica suspeita.
            Dietrich ainda termina declarando que há limite para o que podem tolerar, e que se a F-1 não oferecer o ambiente desejado, ele pode muito bem se retirar da categoria. Ameaça séria se de fato ele resolver fazer isso, mas é uma solução radical, e até suicida, a menos que queira jogar muito dinheiro fora. Investiu-se muito na criação da estrutura de ponta da escuderia, montada a partir da base da antiga Jaguar, pra não falar da volta do GP da Áustria, bancado pela Red Bull. De um momento para o outro, jogar tudo para o ar, seria também desmerecer o trabalho duro e competente que fizeram até agora, e ainda passa a imagem de mal perdedor, que simplesmente resolve cair fora só porque a situação ficou difícil e deixaram de serem dominadores.
            Se fosse por não ganhar, então não haveria quase ninguém mais na F-1, depois de verem a Red Bull ganhar os 4 últimos campeonatos. E o que dizer das 9 corridas do ano passado, ganhas por Vettel quase sem sofrer oposição? Imagino que naquele momento, as opiniões eram mais do que diferentes de agora. Jovem e arrojado, porque Vettel simplesmente não aceita o desafio de mostrar como pode levar seu time de novo ao topo? Acusar as regras é fácil, mas elas foram iguais para todos, e no caso dos motores, há mais de 2 anos todos já sabiam o que viria pela frente, de modo que todos os fabricantes tiveram tempo de sobra para se prepararem.
            Não vejo os demais times fazendo essa chiadeira toda. Até mesmo a Ferrari, que costuma reclamar mais do que todo mundo, está particularmente quieta, e até mesmo Fernando Alonso não está falando pelos cotovelos das dificuldades que o novo modelo F14T está enfrentando. Jenson Button, por sua vez, deu uma resposta mais contundente, ao falar que se eles não estão contentes, que vão correr em outro lugar. Ele tem razão, e opções não faltam. Nico Rosberg, líder do mundial, também apóia as novas regras, ao afirmar que elas deram uma chacoalhada na hierarquia da F-1, o que é bom para atrair a torcida. O que não quer dizer que quem andava na frente não possa fazê-lo de novo.
            É cedo demais para tantas críticas e reclamações. Hoje iniciaram-se os treinos para a segunda corrida desta "nova" F-1, e à medida que o campeonato for avançando, as escuderias irão acertar melhor seus carros, oferecendo um espetáculo melhor e com certeza mais disputado. E, afinal, o que os torcedores querem: ver uma boa corrida ou ficar prestando atenção se carro X ou Y é "gastão" de combustível? Pra mim, os novos motores têm seu rugido particular, e servem a meus gostos, além de não deixarem ninguém surdo como antes. Se o pessoal curte barulho, que vá andar no meio de um dos engarrafamentos de São Paulo, onde com certeza as centenas de buzinadas lhes proporcionarão o barulho em alto e bom tom.
            Uma boa corrida vale mais do que toda esta choradeira que estou vendo. Pra não falar que os novos carros, mais ariscos nas curvas, estão obrigando os pilotos a dominarem os bólidos no braço, corrigindo freadas e trajetórias que o novo torque mais potente dos motores ajuda a deixar mais instável, em cenas bonitas de se ver. Minha expectativa é que Sepang apresente uma prova melhor do que a de Melbourne. Então, vamos para a pista...


Diferente da Austrália, os novos motores turbo da F-1 vão enfrentar um bom desafio em Sepang. Além do forte calor na pista malaia, as duas grandes retas do autódromo deverão ser um teste de monta para as novas unidades de potência, colocando sua fiabilidade à prova. Espera-se um número de quebras potencialmente maior do que o visto em Melbourne, onde os novos propulsores e seus sistemas Ers se saíram relativamente bem, desmistificando o panorama de quebradeira generalizada que muitos esperavam. Mas o clima mais ameno da Austrália, e o fato do traçado do Albert Park não ter grandes retas também contribuíram para o bom resultado, panorama que será bem distinto na pista de Sepang.


O campeonato da Indy Racing League começa neste domingo, com a prova de São Petesburgo. Para felicidade dos fãs da categoria, a Bandeirantes  continua mostrando o campeonato, mas 2014 já começa inferior a 2013: a prova de São Petesburgo será mostrada apenas no Bandsports, às 16 horas, seu canal por assinatura. No ano passado, a emissora exibiu a corrida no canal aberto, com boa propaganda do início da competição.

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