Dietrich Mateschitz (ao lado de Christian Horner) não engoliu a desclassificação de Daniel Ricciardo na Austrália e as novas regras técnicas da F-1. |
Depois de Bernie
Ecclestone e do promotor da prova da Austrália, mais duas vozes de peso se
juntaram às críticas sobre a "nova" F-1 nesta semana. Dietrich
Mateschitz, o dono do império da Red Bull, desandou a falar mal do novo
regulamento, nitidamente contrariado em especial pela desclassificação de
Daniel Ricciardo da corrida de Melbourne. Depois, como que para endossar a
opinião do patrão, o tetracampeão Sebastian Vettel também andou criticando o
barulho dos novos motores turbo na categoria.
Para Vettel, o novo
som dos motores é uma "merda", dizendo que os fãs perderam um dos
maiores atrativos da categoria e que lamenta por isso. Considero um exagero,
mas ele tem todo o direito de falar o que pensa. Da parte de Mateschitz, a
descida de lenha foi mais contundente, ao afirmar que "a F-1 não foi feita
para bater recordes de consumo de combustível e nem para se ter uma conversa
sussurrada durante uma corrida", declarando ainda que os carros ficaram
muito lentos e que até as corridas da GP2 estão mais atrativas do que a F-1.
Mateschitz, claro, ainda defendeu plenamente a atitude de sua escuderia de usar
um sensor próprio, mesmo depois dos alertas da FIA, afirmando que a peça
oficial não dava informações confiáveis.
Na minha opinião, é
tudo choradeira à toa. Vettel teve o pior fim de semana de que há memória
recente, e a Red Bull, depois de virar um time de ponta, aparentemente se
deixou contaminar pelo ambiente prepotente que reina nos demais times
vencedores da categoria. Em que pese ainda ser o time mais relaxado do paddock,
o ambiente na escuderia já não é mais tão aberto e cativante quanto há alguns
anos atrás, quando a escuderia, apesar de não vencer corridas, era o time mais
divertido e carismático da categoria. Aparentemente, o sucesso subiu-lhe à
cabeça, infelizmente. Das críticas feitas pelo dono da Red Bull, concordo
apenas quando fala que a categoria tem muitas picuinhas políticas, o que é uma
triste realidade, e que precisa de fato mudar. Os carros de F-1 ficaram lentos?
Sim, mas nada tão drástico. Conforme mencionei na coluna da semana passada, a
perda de tempo em volta em Melbourne ficou de bom tamanho levando-se em conta
as mudanças pelos quais os carros e motores passaram, tendo menos pressão
aerodinâmica, entre outros aspectos. E até esqueci de mencionar que os bólidos
ficaram cerca de 50 Kg
mais pesados do que os do ano passado, o que só reafirma que os carros de 2014
continuam rápidos e velozes, e devem melhorar a performance ainda mais com o
avançar do campeonato.
Mas voltando às
reclamações sobre as novas regras, será que ambos estariam descontentes se o
time tivesse vencido a corrida ou subido ao pódio sem problemas? Duvido muito.
Quanto ao problema no fluxômetro, a Red Bull parece que foi o único time a
fazer disso uma tempestade em copo d'água. Nenhuma outra escuderia, inclusive a
Toro Rosso, que pertence à Red Bull, esquentou tanto a cabeça publicamente com
isso. E fica uma dúvida: e se o ritmo impressionante de Ricciardo em Melbourne
foi decorrente do gasto de combustível acima do permitido? Caso contrário, o
panorama mostra ainda mais que a Red Bull está chiando por chiar, pois se o
fluxo anormal de combustível não teve influência no ritmo do australiano, isso
apenas mostra que o carro da equipe mostra potencial para vencer corridas,
bastando apenas acertar melhor seus sistemas e ganhar mais confiabilidade. Por
outro lado, se o bom desempenho se deveu ao maior fluxo de combustível, aí a
situação ganha ares piores, de tentativa de ludibriar as regras para se dar
bem.
É algo a se pensar.
Durante a pré-temporada, os pilotos enfrentaram vários problemas nos carros,
tendo de trabalhar duro para pelo menos garantir a fiabilidade, o que nem
estavam conseguindo. E, em Melbourne, vemos uma situação distinta entre os
pilotos do time, com Ricciardo a fazer na pista a estréia dos seus sonhos,
andando na frente e subindo ao pódio, sem enfrentar problema algum no seu
equipamento, enquanto Vettel vivia o panorama vivenciado nos testes da
pré-temporada. Será que foi mesmo apenas algo circunstancial? Prefiro pensar
que não, do contrário, a honestidade do time dos energéticos fica suspeita.
Dietrich ainda termina
declarando que há limite para o que podem tolerar, e que se a F-1 não oferecer
o ambiente desejado, ele pode muito bem se retirar da categoria. Ameaça séria
se de fato ele resolver fazer isso, mas é uma solução radical, e até suicida, a
menos que queira jogar muito dinheiro fora. Investiu-se muito na criação da
estrutura de ponta da escuderia, montada a partir da base da antiga Jaguar, pra
não falar da volta do GP da Áustria, bancado pela Red Bull. De um momento para
o outro, jogar tudo para o ar, seria também desmerecer o trabalho duro e
competente que fizeram até agora, e ainda passa a imagem de mal perdedor, que
simplesmente resolve cair fora só porque a situação ficou difícil e deixaram de
serem dominadores.
Se fosse por não
ganhar, então não haveria quase ninguém mais na F-1, depois de verem a Red Bull
ganhar os 4 últimos campeonatos. E o que dizer das 9 corridas do ano passado,
ganhas por Vettel quase sem sofrer oposição? Imagino que naquele momento, as
opiniões eram mais do que diferentes de agora. Jovem e arrojado, porque Vettel
simplesmente não aceita o desafio de mostrar como pode levar seu time de novo
ao topo? Acusar as regras é fácil, mas elas foram iguais para todos, e no caso
dos motores, há mais de 2 anos todos já sabiam o que viria pela frente, de modo
que todos os fabricantes tiveram tempo de sobra para se prepararem.
Não vejo os demais times
fazendo essa chiadeira toda. Até mesmo a Ferrari, que costuma reclamar mais do
que todo mundo, está particularmente quieta, e até mesmo Fernando Alonso não
está falando pelos cotovelos das dificuldades que o novo modelo F14T está
enfrentando. Jenson Button, por sua vez, deu uma resposta mais contundente, ao
falar que se eles não estão contentes, que vão correr em outro lugar. Ele tem
razão, e opções não faltam. Nico Rosberg, líder do mundial, também apóia as
novas regras, ao afirmar que elas deram uma chacoalhada na hierarquia da F-1, o
que é bom para atrair a torcida. O que não quer dizer que quem andava na frente
não possa fazê-lo de novo.
É cedo demais para
tantas críticas e reclamações. Hoje iniciaram-se os treinos para a segunda
corrida desta "nova" F-1, e à medida que o campeonato for avançando,
as escuderias irão acertar melhor seus carros, oferecendo um espetáculo melhor
e com certeza mais disputado. E, afinal, o que os torcedores querem: ver uma
boa corrida ou ficar prestando atenção se carro X ou Y é "gastão" de
combustível? Pra mim, os novos motores têm seu rugido particular, e servem a
meus gostos, além de não deixarem ninguém surdo como antes. Se o pessoal curte
barulho, que vá andar no meio de um dos engarrafamentos de São Paulo, onde com
certeza as centenas de buzinadas lhes proporcionarão o barulho em alto e bom
tom.
Uma boa corrida vale
mais do que toda esta choradeira que estou vendo. Pra não falar que os novos
carros, mais ariscos nas curvas, estão obrigando os pilotos a dominarem os bólidos
no braço, corrigindo freadas e trajetórias que o novo torque mais potente dos
motores ajuda a deixar mais instável, em cenas bonitas de se ver. Minha
expectativa é que Sepang apresente uma prova melhor do que a de Melbourne.
Então, vamos para a pista...
Diferente da Austrália, os novos
motores turbo da F-1 vão enfrentar um bom desafio em Sepang. Além do forte
calor na pista malaia, as duas grandes retas do autódromo deverão ser um teste
de monta para as novas unidades de potência, colocando sua fiabilidade à prova.
Espera-se um número de quebras potencialmente maior do que o visto em
Melbourne, onde os novos propulsores e seus sistemas Ers se saíram
relativamente bem, desmistificando o panorama de quebradeira generalizada que
muitos esperavam. Mas o clima mais ameno da Austrália, e o fato do traçado do
Albert Park não ter grandes retas também contribuíram para o bom resultado,
panorama que será bem distinto na pista de Sepang.
O campeonato da Indy Racing
League começa neste domingo, com a prova de São Petesburgo. Para felicidade dos
fãs da categoria, a Bandeirantes
continua mostrando o campeonato, mas 2014 já começa inferior a 2013: a
prova de São Petesburgo será mostrada apenas no Bandsports, às 16 horas, seu
canal por assinatura. No ano passado, a emissora exibiu a corrida no canal
aberto, com boa propaganda do início da competição.
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