A Martini está de volta à F-1, e o visual já faz da Williams o carro com a pintura mais bonita de todo o campeonato. |
Não é segredo para
ninguém que o time de Frank Williams vem despertando as atenções na expectativa
do campeonato de Fórmula 1 desta temporada. Depois de apresentar desempenhos
irregulares nos últimos anos, sempre com tendência de queda, eis que a
temporada de 2014 pode significar o renascimento efetivo de um dos times mais
tradicionais da categoria, ao lado de McLaren e Ferrari. Mas, será que vai
conseguir?
Pior do que o que
vimos nas temporadas de 2011 e 2013 não pode ficar. E, felizmente, o desempenho
do carro na pré-temporada parece sugerir que o time pode enfim ter motivos para
comemorar mesmo um renascimento. Mas, como treino é treino, e corrida é
corrida, é prudente aguardarmos as duas primeiras corridas do ano para vermos
qual é o real potencial de cada escuderia, e confirmarmos se de fato a Williams
vai voltar a ser protagonista, ou pelo menos se posicionar como rainha do
pelotão intermediário.
Não é querer ser
chato, mas nos últimos tempos o time sempre prometeu "renascer", e o
que se viu não foi exatamente isso. Em 2010, com a contratação de Rubens
Barrichello, e a nova parceria com a Cosworth, o time prometia ir além do que
havia conseguido nos anos anteriores, quando usava motores da Toyota. A
escuderia fez um campeonato apenas mediano, pontuando com regularidade em
algumas corridas, mas sendo incapaz de fazê-lo em algumas outras. Então, veio o
desastroso ano de 2011, o pior do time, mesmo depois de uma pré-temporada que
sugeria, pelo menos, a manutenção do status no pelotão intermediário, com
direito até mesmo a Rubens Barrichello liderar um dia das sessões de testes. E,
se na primeira corrida o carro dava sinais de pelo menos ser razoável, nas
corridas seguintes a situação ficou irreconhecível, com Barrichello e Pastor
Maldonado lutando simplesmente para conseguir pontuar.
Em 2012, agora
equipados com o motor Renault, o time produziu um bom carro, mas que não rendeu
o que poderia devido à dupla de pilotos. O time dispensara Barrichello em prol
dos dólares trazidos por Bruno Senna, mas apesar de algumas boas corridas de
Bruno, durante a maior parte da temporada ele nunca conseguiu superar o seu
ponto fraco nas qualificações, precisando começar lá de trás na maioria das
corridas e tendo de lutar para chegar ao pelotão da frente. Maldonado, por sua
vez, em que pese a bela e inesperada vitória no GP da Espanha daquele ano,
perdeu a maior parte das provas sequentes se envolvendo em confusões na pista,
e jogando fora muitos pontos potenciais. O time tinha retornado ao meio do
pelotão, mas podia ter ido melhor. Ao menos o bom modelo de 2012 prenunciava
uma possibilidade de melhora em 2013. Infelizmente, a escuderia errou novamente
a mão no carro, e o FW35 praticamente repetiu a performance desastrada do carro
de 2011, e deixou ambos os pilotos sem condições de pontuar, o que só ocorreu
no final da temporada. Era preciso inverter a direção, do contrário, a Williams
corria o mesmo destino que já ceifara outros times tradicionais da categoria,
como Brabham, Tyrrel, e a Lotus (a original, não a atual), que de potências
sucumbiram de forma agonizante em suas últimas temporadas.
Em primeiro lugar,
conseguir manter as finanças em ordem foi a maior façanha da escuderia nas
últimas temporadas. Mesmo tendo de preferir pilotos pagantes em 2012, soube
pelo menos manter o time pronto para aproveitar as oportunidades que surgissem.
E, no ano passado, com a Lotus passando por uma crise financeira, foi vital
para o time de Frank Williams ser visto como um porto seguro e uma oportunidade
profissional para vários nomes do staff técnico do time de Enstone, que não
pensaram duas vezes em aceitar o convite para ingressar em Grove. Profissionais
de outras escuderias também foram elencados ao time, fazendo da Williams a
escuderia que mais reforçou seu staff técnico de 2013 para cá. Ao mesmo tempo,
o fato do time ainda contar com participação acionária de Toto Wolf, que foi
dirigente do time até recentemente, ajudou no acordo para receber os novos
motores turbo da Mercedes, que à altura dos recentes acontecimentos vivenciados
na pré-temporada, revelou-se um tremendo golpe de sorte para o time de Frank,
uma vez que ninguém esperava que as novas unidades francesas de potência da
renault fossem enfrentar tantos problemas técnicos. Pat Symmonds, projetista
que esteve envolvido no "cingapuragate" de 2008, foi outra
contratação acertada do time. Symmonds sempre foi um bom profissional, e apesar
do ocorrido na antiga equipe Renault, já merecia a chance de voltar à F-1, e
começou a mostrar serviço, o que é muito bom para todos no time.
Ao mesmo tempo que
manteve Valtteri Bottas, o time contratou Felipe Massa, que depois de anos como
piloto da Ferrari, estava nitidamente desgastado em Maranello e precisava mais
do que nunca respirar novos ares. E Massa chega trazendo sua experiência como
piloto do time rosso, algo bastante valioso para saber indicar parâmetros de
comparação e caminhos a seguir para o time de Grove. Pastor Maldonado, já sem
clima na escuderia, foi a peça chave para abrir o lugar que o brasileiro
precisava. E com um bom acordo, Maldonado se foi mas a sua patrocinadora, a
PDVSA, deixou uma boa soma a título de indenização, uma vez que contrato foi
encerrado antes do tempo. Isso ajudou o brasileiro, que não precisou se valer
de patrocínio para achar sua nova escuderia, como tem virado requisito
indispensável na F-1 atual.
Felipe Massa terá a tarefa de liderar o time da Williams nas pistas em 2014, e a melhor chance de resgatar sua imagem e prestígio como piloto. |
Sua escolha pela
Williams surpreendeu parte da imprensa especializada, quando todo mundo
imaginava que poderia acabar na Force India após ser recusado pela Lotus, ou
até mesmo ficar sem lugar na F-1. Houve quem chiasse pela sua escolha, uma vez
que, àquela altura, muitos achavam que o time de Frank Williams parecida fadado
aos últimos lugares do pelotão. Mas muitos também esqueciam da situação
financeira precária da Lotus, em que pese sua boa participação no campeonato.
Foi Kimmi Raikkonem quem denunciou que o barco negro e dourado estava quase a pique
financeiramente, a ponto de ter até mesmo sua participação este ano
questionada, bem como seu fornecimento de motores da Renault. Hoje, a Lotus
pode estar preparada para participar da competição, mas com os desfalques que
sofreu em seu corpo técnico, certamente seu novo carro pode não ser tão bom, e
mesmo que seja, a falta de recursos pode comprometer sua evolução ao longo do
ano, e para completar, o novo motor Renault turbo e seus sistemas do Ers
ajudaram a comprometer a pré-temporada com seus inúmeros problemas, impedindo
que a Lotus tenha uma idéia exata de seu potencial. Certamente, uma jogada que
se revelou mais do que certeira, e indo contra o que todos imaginavam. É fácil
falar agora, mas na época, Felipe precisou ter fé de estar fazendo a escolha
certa, e após conhecer os planos do time para 2014, felizmente piloto e
escuderia chegaram a termo bem rapidamente.
O novo FW36 mostrou-se
fiável e relativamente veloz na pré-temporada, a ponto de Massa ter feito o
melhor tempo na última sessão de testes coletivos, no Bahrein. Apesar do
otimismo, o próprio Felipe é quem anuncia que mais do que nunca, é preciso
manter os pés no chão. De fato, o novo modelo parece rápido e confiável, e
conseguiu rodar bastante na pré-temporada, fato importantíssimo para conhecer
todos os detalhes imprescindíveis dos novos sistemas de energia e motores
turbo, além de atestar a qualidade do novo carro de acordo com o novo
regulamento técnico. Assim como Felipe, o time também está cauteloso com relação
às suas possibilidades, a fim de não se iludir desnecessariamente, mas a direção
do time tem motivos para crer que tem, de fato, o melhor carro em anos, desde o
fim da parceria com a BMW. Mesmo que a Williams ainda não esteja em condições
de vencer, parece ter um monoposto para pelo menos lutar pelo pódio, ou pontuar
regularmente. O desafio será não apenas manter a competitividade esperada, mas
evoluir a performance ao longo da temporada.
Felizmente neste
quesito a Williams conseguiu dar a volta por cima em um detalhe importantíssimo
que é crucial para se ter sucesso na F-1: recursos financeiros. Apesar do
reforço financeiro da indenização da PDVSA, a Williams fechou parcerias
importantes, como a da Petrobrás, que retorna ao time com o qual já trabalhou
por mais de uma década em tempos recentes. E nesta quinta-feira, confirmou o
que já se anunciava há semanas: fechou acordo com a Martini para ser a
patrocinadora master da escuderia nesta temporada, resgatando uma marca
clássica de um passado distante da F-1 e mostrando uma pintura que de cara já
faz do modelo FW36 o carro mais bonito da temporada, com um visual que honra a
memória da Martini nos seus tempos de Brabham e resgata o carisma da marca de
bebidas, que está comemorando nada menos que 150 anos de fundação. Com outros
patrocínios, como os trazidos por Felipe Nasr, e da seguradora americana
Genworth, a Williams conseguiu fechar um bom orçamento para 2014, que se não é tão
grande quando os das grandes Mercedes, Red Bull, Ferrari ou McLaren, certamente
coloca o time de Grove em vantagem em relação aos demais times do grid, e deve
providenciar o suporte de recursos para manter o desenvolvimento do modelo
FW36.
Foram várias mudanças
e adições à escuderia nos últimos meses, paralelamente ao trabalho de
desenvolver um novo carro, sob novas normas técnicas, e contando com um motor e
sistema de aproveitamento de energia totalmente novos. Já seria um desafio e
tanto conseguir se reerguer depois de um ano catastrófico como o de 2013, mesmo
com as antigas regras. Agora, então, com a mudança radical a partir desta
temporada, a Williams parece ter conseguido reunir as condições mais oportunas
para promover enfim seu renascimento. Resta apenas confirmar as boas
expectativas a partir da semana que vem.
Para os brasileiros, é
a chance de voltar a ter pelo menos dias menos sofridos, embora não se devam
fazer projeções ufanistas, achando que Massa vai disputar o título. Pode até
ser que aconteça, e Felipe volte a vencer corridas, mas no momento, é apenas
recordar que a escuderia de Frank Williams foi o time de F-1 com maior
participação de brasileiros na história da F-1, desde os tempos de José Carlos
Pace, ainda nos tempos pré-Williams, passando pelo tricampeonato de Nélson
Piquet, a infeliz morte de Ayrton Senna, às contratações de Felipe Massa e
Felipe Nasr na atual temporada.
Que venha a
"nova" Williams para o campeonato de 2014...
Nenhum comentário:
Postar um comentário