sexta-feira, 7 de março de 2014

UMA NOVA WILLIAMS?


A Martini está de volta à F-1, e o visual já faz da Williams o carro com a pintura mais bonita de todo o campeonato.

            Não é segredo para ninguém que o time de Frank Williams vem despertando as atenções na expectativa do campeonato de Fórmula 1 desta temporada. Depois de apresentar desempenhos irregulares nos últimos anos, sempre com tendência de queda, eis que a temporada de 2014 pode significar o renascimento efetivo de um dos times mais tradicionais da categoria, ao lado de McLaren e Ferrari. Mas, será que vai conseguir?
            Pior do que o que vimos nas temporadas de 2011 e 2013 não pode ficar. E, felizmente, o desempenho do carro na pré-temporada parece sugerir que o time pode enfim ter motivos para comemorar mesmo um renascimento. Mas, como treino é treino, e corrida é corrida, é prudente aguardarmos as duas primeiras corridas do ano para vermos qual é o real potencial de cada escuderia, e confirmarmos se de fato a Williams vai voltar a ser protagonista, ou pelo menos se posicionar como rainha do pelotão intermediário.
            Não é querer ser chato, mas nos últimos tempos o time sempre prometeu "renascer", e o que se viu não foi exatamente isso. Em 2010, com a contratação de Rubens Barrichello, e a nova parceria com a Cosworth, o time prometia ir além do que havia conseguido nos anos anteriores, quando usava motores da Toyota. A escuderia fez um campeonato apenas mediano, pontuando com regularidade em algumas corridas, mas sendo incapaz de fazê-lo em algumas outras. Então, veio o desastroso ano de 2011, o pior do time, mesmo depois de uma pré-temporada que sugeria, pelo menos, a manutenção do status no pelotão intermediário, com direito até mesmo a Rubens Barrichello liderar um dia das sessões de testes. E, se na primeira corrida o carro dava sinais de pelo menos ser razoável, nas corridas seguintes a situação ficou irreconhecível, com Barrichello e Pastor Maldonado lutando simplesmente para conseguir pontuar.
            Em 2012, agora equipados com o motor Renault, o time produziu um bom carro, mas que não rendeu o que poderia devido à dupla de pilotos. O time dispensara Barrichello em prol dos dólares trazidos por Bruno Senna, mas apesar de algumas boas corridas de Bruno, durante a maior parte da temporada ele nunca conseguiu superar o seu ponto fraco nas qualificações, precisando começar lá de trás na maioria das corridas e tendo de lutar para chegar ao pelotão da frente. Maldonado, por sua vez, em que pese a bela e inesperada vitória no GP da Espanha daquele ano, perdeu a maior parte das provas sequentes se envolvendo em confusões na pista, e jogando fora muitos pontos potenciais. O time tinha retornado ao meio do pelotão, mas podia ter ido melhor. Ao menos o bom modelo de 2012 prenunciava uma possibilidade de melhora em 2013. Infelizmente, a escuderia errou novamente a mão no carro, e o FW35 praticamente repetiu a performance desastrada do carro de 2011, e deixou ambos os pilotos sem condições de pontuar, o que só ocorreu no final da temporada. Era preciso inverter a direção, do contrário, a Williams corria o mesmo destino que já ceifara outros times tradicionais da categoria, como Brabham, Tyrrel, e a Lotus (a original, não a atual), que de potências sucumbiram de forma agonizante em suas últimas temporadas.
            Em primeiro lugar, conseguir manter as finanças em ordem foi a maior façanha da escuderia nas últimas temporadas. Mesmo tendo de preferir pilotos pagantes em 2012, soube pelo menos manter o time pronto para aproveitar as oportunidades que surgissem. E, no ano passado, com a Lotus passando por uma crise financeira, foi vital para o time de Frank Williams ser visto como um porto seguro e uma oportunidade profissional para vários nomes do staff técnico do time de Enstone, que não pensaram duas vezes em aceitar o convite para ingressar em Grove. Profissionais de outras escuderias também foram elencados ao time, fazendo da Williams a escuderia que mais reforçou seu staff técnico de 2013 para cá. Ao mesmo tempo, o fato do time ainda contar com participação acionária de Toto Wolf, que foi dirigente do time até recentemente, ajudou no acordo para receber os novos motores turbo da Mercedes, que à altura dos recentes acontecimentos vivenciados na pré-temporada, revelou-se um tremendo golpe de sorte para o time de Frank, uma vez que ninguém esperava que as novas unidades francesas de potência da renault fossem enfrentar tantos problemas técnicos. Pat Symmonds, projetista que esteve envolvido no "cingapuragate" de 2008, foi outra contratação acertada do time. Symmonds sempre foi um bom profissional, e apesar do ocorrido na antiga equipe Renault, já merecia a chance de voltar à F-1, e começou a mostrar serviço, o que é muito bom para todos no time.
            Ao mesmo tempo que manteve Valtteri Bottas, o time contratou Felipe Massa, que depois de anos como piloto da Ferrari, estava nitidamente desgastado em Maranello e precisava mais do que nunca respirar novos ares. E Massa chega trazendo sua experiência como piloto do time rosso, algo bastante valioso para saber indicar parâmetros de comparação e caminhos a seguir para o time de Grove. Pastor Maldonado, já sem clima na escuderia, foi a peça chave para abrir o lugar que o brasileiro precisava. E com um bom acordo, Maldonado se foi mas a sua patrocinadora, a PDVSA, deixou uma boa soma a título de indenização, uma vez que contrato foi encerrado antes do tempo. Isso ajudou o brasileiro, que não precisou se valer de patrocínio para achar sua nova escuderia, como tem virado requisito indispensável na F-1 atual.
 
Felipe Massa terá a tarefa de liderar o time da Williams nas pistas em 2014, e a melhor chance de resgatar sua imagem e prestígio como piloto.
          
Para Felipe, é a chance de mostrar que pode voltar a ser aquele piloto combativo e arrojado que por pouco não foi campeão em 2008. Massa nunca teve a chance de liderar de fato um time desde que estreou na F-1, e terá a grande responsabilidade de conduzir a Williams nesta temporada. Bottas, apesar de já ter uma temporada completa como titular, reconhece a maior experiência do brasileiro e sua capacidade para ser o líder do time, o que não significa que ambos não se digladiarão nas corridas. Massa sucumbiu no confronto com Fernando Alonso, conseguindo derrotar o espanhol apenas em ocasiões momentâneas, mas o maior problema estava fora da pista, com o espanhol centralizando as atenções do time para si, e deixando Felipe com as sobras. Mas isso era apenas parte do problema: o fato de ter virado "escudeiro" certamente pesou em seu lado psicológico, com o golpe desferido no GP da Alemanha de 2010, quando teve de ceder posição ao asturiano na pista, numa ordem quase direta. Mesmo tendo levado tempo para recuperar-se do baque, Felipe nunca mais ficou exatamente confortável em Maranello, mesmo tendo dito várias vezes que aquilo não o incomodava. Mesmo tendo recorrido a ajuda psicológica para superar o desgaste, sua constância ainda falhava, e isso não ajudava em sua luta na pista.
            Sua escolha pela Williams surpreendeu parte da imprensa especializada, quando todo mundo imaginava que poderia acabar na Force India após ser recusado pela Lotus, ou até mesmo ficar sem lugar na F-1. Houve quem chiasse pela sua escolha, uma vez que, àquela altura, muitos achavam que o time de Frank Williams parecida fadado aos últimos lugares do pelotão. Mas muitos também esqueciam da situação financeira precária da Lotus, em que pese sua boa participação no campeonato. Foi Kimmi Raikkonem quem denunciou que o barco negro e dourado estava quase a pique financeiramente, a ponto de ter até mesmo sua participação este ano questionada, bem como seu fornecimento de motores da Renault. Hoje, a Lotus pode estar preparada para participar da competição, mas com os desfalques que sofreu em seu corpo técnico, certamente seu novo carro pode não ser tão bom, e mesmo que seja, a falta de recursos pode comprometer sua evolução ao longo do ano, e para completar, o novo motor Renault turbo e seus sistemas do Ers ajudaram a comprometer a pré-temporada com seus inúmeros problemas, impedindo que a Lotus tenha uma idéia exata de seu potencial. Certamente, uma jogada que se revelou mais do que certeira, e indo contra o que todos imaginavam. É fácil falar agora, mas na época, Felipe precisou ter fé de estar fazendo a escolha certa, e após conhecer os planos do time para 2014, felizmente piloto e escuderia chegaram a termo bem rapidamente.
            O novo FW36 mostrou-se fiável e relativamente veloz na pré-temporada, a ponto de Massa ter feito o melhor tempo na última sessão de testes coletivos, no Bahrein. Apesar do otimismo, o próprio Felipe é quem anuncia que mais do que nunca, é preciso manter os pés no chão. De fato, o novo modelo parece rápido e confiável, e conseguiu rodar bastante na pré-temporada, fato importantíssimo para conhecer todos os detalhes imprescindíveis dos novos sistemas de energia e motores turbo, além de atestar a qualidade do novo carro de acordo com o novo regulamento técnico. Assim como Felipe, o time também está cauteloso com relação às suas possibilidades, a fim de não se iludir desnecessariamente, mas a direção do time tem motivos para crer que tem, de fato, o melhor carro em anos, desde o fim da parceria com a BMW. Mesmo que a Williams ainda não esteja em condições de vencer, parece ter um monoposto para pelo menos lutar pelo pódio, ou pontuar regularmente. O desafio será não apenas manter a competitividade esperada, mas evoluir a performance ao longo da temporada.
A apresentação oficial do time da Williams para 2014, com seus pilotos titulares, Felipe Massa e Valtteri Bottas, ao lado de Frank Williams e sua filha Claire, com o esperançoso FW36 ao fundo. Expectativa de renascimento na F-1.
            Felizmente neste quesito a Williams conseguiu dar a volta por cima em um detalhe importantíssimo que é crucial para se ter sucesso na F-1: recursos financeiros. Apesar do reforço financeiro da indenização da PDVSA, a Williams fechou parcerias importantes, como a da Petrobrás, que retorna ao time com o qual já trabalhou por mais de uma década em tempos recentes. E nesta quinta-feira, confirmou o que já se anunciava há semanas: fechou acordo com a Martini para ser a patrocinadora master da escuderia nesta temporada, resgatando uma marca clássica de um passado distante da F-1 e mostrando uma pintura que de cara já faz do modelo FW36 o carro mais bonito da temporada, com um visual que honra a memória da Martini nos seus tempos de Brabham e resgata o carisma da marca de bebidas, que está comemorando nada menos que 150 anos de fundação. Com outros patrocínios, como os trazidos por Felipe Nasr, e da seguradora americana Genworth, a Williams conseguiu fechar um bom orçamento para 2014, que se não é tão grande quando os das grandes Mercedes, Red Bull, Ferrari ou McLaren, certamente coloca o time de Grove em vantagem em relação aos demais times do grid, e deve providenciar o suporte de recursos para manter o desenvolvimento do modelo FW36.
            Foram várias mudanças e adições à escuderia nos últimos meses, paralelamente ao trabalho de desenvolver um novo carro, sob novas normas técnicas, e contando com um motor e sistema de aproveitamento de energia totalmente novos. Já seria um desafio e tanto conseguir se reerguer depois de um ano catastrófico como o de 2013, mesmo com as antigas regras. Agora, então, com a mudança radical a partir desta temporada, a Williams parece ter conseguido reunir as condições mais oportunas para promover enfim seu renascimento. Resta apenas confirmar as boas expectativas a partir da semana que vem.
            Para os brasileiros, é a chance de voltar a ter pelo menos dias menos sofridos, embora não se devam fazer projeções ufanistas, achando que Massa vai disputar o título. Pode até ser que aconteça, e Felipe volte a vencer corridas, mas no momento, é apenas recordar que a escuderia de Frank Williams foi o time de F-1 com maior participação de brasileiros na história da F-1, desde os tempos de José Carlos Pace, ainda nos tempos pré-Williams, passando pelo tricampeonato de Nélson Piquet, a infeliz morte de Ayrton Senna, às contratações de Felipe Massa e Felipe Nasr na atual temporada.
            Que venha a "nova" Williams para o campeonato de 2014...

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