sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

PISTA & BOX: 20 ANOS



            Esse assunto já devia ter sido tratado há mais de um mês, mas com o campeonato mundial de F-1 apresentando alguns acontecimentos interessantes a serem comentados, acabei atrasando um pouco. Agora que praticamente quase todas as corridas do ano já acabaram, é chegada a hora de iniciar essa dissertação, que nada mais é do que comemorar nada menos do que 20 anos desta coluna de automobilismo que estão lendo. Pois é, já faz muuito tempo, muito tempo mesmo, e nem parece já ter pelo menos duas décadas desde que minha primeira coluna foi escrita.
            Foi em outubro de 1993. As colunas de automobilismo começavam a ganhar maior espaço nos jornais. Não que fossem novidade, afinal, elas já existiam desde os anos 1970, quando algumas de nossas publicações voltadas ao universo dos automóveis abriam espaço para as notícias de automobilismo, e por tabela, para colunas periódicas assinadas por nomes de respeito da imprensa especializada, senão por nossos pilotos profissionais. A revista 4 Rodas, da Editora Abril, em plenos anos 1970, possuí um suplemento regular que mostrava os acontecimentos da F-1, além de uma cobertura muito bem-feita da categoria máxima do automobilismo. E trazia também colunas escritas especialmente por Émerson Fittipaldi, nosso grande e primeiro campeão na categoria.
            Nos anos 1980, havia a saudosa revista Grid, da mesma Editora Abril, tentava repetir o mesmo sucesso, e trazia coluna fixa de Reginaldo Leme, comentarista da TV Globo, e até hoje um dos mais experientes e respeitáveis jornalistas brasileiros de automobilismo. Nos jornais, no início dos anos 1990, aproveitando a onda do sucesso de Ayrton Senna, também multiplicaram a existência de colunistas. Vários nomes da imprensa especializada traziam para os leitores sua visão dos acontecimentos, fazendo resenhas, análises, ou simplesmente contando boas histórias das corridas. Nos maiores jornais, estrearam em 1993 colunas regulares sobre automobilismo: no "Estadão", Reginaldo Leme iniciava sua coluna "Grand Prix" às sextas-feiras, que se mantém firme até hoje, tendo apenas mudado de sexta para sábado. Na Folha de São Paulo, tínhamos a coluna "Warm Up", escrita por Flávio Gomes, e atualmente escrita por Fábio Seixas.
            Como entusiasta do automobilismo, não demorou para eu abordar a idéia de também escrever uma coluna nos mesmos moldes, depois de escrever, desde 1990, textos curtos sobre os acontecimentos do esporte a motor. Se reportagens devem ser objetivas e imparciais, escrever uma coluna permite ir além, noticiar, mas também fazer uma análise, expôr sua opinião, concordando ou não com o que está acontecendo, e tentar passar um pouco mais dos bastidores do mundo do automobilismo em uma conversa mais franca e amigável do que um texto apenas objetivo. E em outubro de 1993, saia minha primeira edição da "Pista & Box". O nome foi inspirado na antiga seção de notas curtas do noticiário de automobilismo trazido pelo "Estadão", que há anos já tinha adotado outra nomenclatura para esta seção. Sempre gostei da expressão, por dar a idéia de se contar tanto o que há na pista, quanto fora dela.
            E assim foi. Foram apenas 3 colunas naquele ano, que terminou com o tetracampeonato de Alain Prost, e um empolgante vice-campeonato de Ayrton Senna, que mostrava estar no auge de sua forma física e pilotagem. O ano seguinte prometia, pois Senna passava a guiar a Williams, teoricamente o carro favorito ao título, e tinha tudo para repetir o feito de Prost. Mas o destino tinha outros planos. A morte de Ayrton Senna também foi a "morte" para a maneira como o brasileiro encarava a F-1 e o automobilismo. Muitos ali pararam de acompanhar as corridas, enquanto para muitos, ainda esperançosos, os dias de alegrias nunca mais seriam os mesmos.
            Mas a vida segue, e nos primeiros dois anos, minha coluna ficou firme, com publicação mensal, com direito a algumas edições "extras" neste período. E, a partir de outubro de 1995, começou a ser escrita semanalmente, como está até hoje. A única exceção são as festas de fim de ano, afinal, ninguém é de ferro, então, desde 1996, até os dias de hoje, são cerca de 50 colunas escritas por ano, e não fosse os dois primeiros anos certamente eu já teria passado da milésima coluna, um número deveras respeitável. O que não muda é o desafio de escrever, sempre tentando achar um bom equilíbrio entre opinar e informar. Por vezes, dependendo do assunto a ser escrito, fica até fácil, mas em outras ocasiões, torna-se mais complicado fazer um bom texto.
            Não vou esconder que já fiz textos que considero insossos e sem inspiração nenhuma. Também já cometi erros, e mesmo hoje, 20 anos depois da primeira coluna, ainda me considero um peixe pequeno no mar de profissionais que cobrem e escrevem regularmente sobre o mundo do automobilismo. Já ganhei elogios de gente respeitável no meio, assim como críticas de leitores que acharam meus pontos de vista merecedores de adjetivos que iam dos mais educados aos mais grosseiros. Não se pode agradar a todos, mas também não dá para dar atenção a pessoas que não sabem criticar de forma sensata e fundamentada. Já vi leitores de todo o tipo, e se é agradável receber elogios por um texto bem feito, também é necessário ouvir críticas e apreciar outros pontos de vista, que podem ser tão válidos quanto os meus. E não é pelo fato de conhecer o mundo do automobilismo há mais de 25 anos que posso me achar no direito de saber escrever muito melhor do que os outros. Tenho uma boa bagagem, e se quero ser respeitado pelo que escrevo, também tenho de respeitar quem tem outras opiniões. A todos aqueles que já fizeram observações pertinentes e bem-fundamentadas, tanto elogiando ou criticando meus textos, meus agradecimentos pela paciência de terem lido o que escrevi. Já àqueles que criticam só por criticar, bem, podem perder tempo com outras coisas, mas se continuam a me criticar sem bases, é porque ainda assim lêem meus textos, curioso, não?
            A maioria de meus textos sempre foi focada na Fórmula 1. É a maior categoria do mundo, a mais famosa, a mais badalada, e a que concentra a maior atenção da imprensa especializada sobre esporte a motor. Mas também é a mais egocêntrica, arrogante, gastadora, fútil, e intragável em muitos aspectos humanos. Nem sempre ela foi assim, mas desde que comecei a escrever, a F-1 já não era mais humana como havia sido em outras épocas. No início dos anos 1990, contudo, ainda dava para se respirar ares menos conturbados na categoria, que foram piorando ao longo dos tempos, e que hoje estão maculados por frescuras e regulamentos ainda mais bestas do que há 20 anos atrás. O politicamente correto, e as obsessões por segurança fizeram a categoria máxima do automobilismo perder sua franqueza, e o espírito combativo dos pilotos hoje enfrenta limitações ridículas em certos aspectos. Mesmo assim, os carros da F-1 ainda exercem um fascínio arrebatador, bem como a complexidade da categoria, e a aura de glamour que o "circo" ainda exala em determinados momentos, hoje mais restritos a algumas provas apenas.
            A Fórmula Indy era, depois da F-1, minha categoria favorita. Apesar de taxada por alguns de "F-1 B", era atrativa, e quando a conheci, ainda em 1989, a partir da grande vitória de Émerson Fittipaldi nas 500 Milhas de Indianápolis, ela tinha charme e personalidade próprias. Uma pena que uma briga fraticida desencadeada por um de seus integrantes, Tony George, em 1996, tenha levado ao fim deste campeonato, na segunda metade da década passada, tendo sobrado apenas a "cria" bastarda de George, a Indy Racing League, tentando resgatar o charme que a finada maior categoria de monopostos americanos já teve um dia. Mas a F-Indy não foi a única categoria a fenecer nestes 20 anos. O automobilismo brasileiro, pujante e criador de talentos em profusão, hoje praticamente não existe mais, tendo sobrado apenas duas categorias fortes em nosso país, a Stock Car, e a F-Truck, certamos que infelizmente não são formadores de pilotos. A F-Chevrolet já se foi há tempos, e a F-3 brasileira e sul-americana viraram sombras pálidas de seus melhores dias. De fato, escrever sobre automobilismo há 20 anos atrás era muito mais fácil do que agora...
            Há público para as corridas em nosso país? Certamente. Mas é duro fomentar iniciativas quando quem deveria fazê-lo, a Confederação Brasileira de Automobilismo (CBA), virou uma pasmaceira que não serve para nada além de cobrar as taxas de plantão de quem quer tentar seguir carreira de piloto em nosso país. Na TV aberta, a Globo ainda segue firme com a F-1, embora sem ostentar a mesma audiência de antigamente. A TV fechada ainda exibe melhor os campeonatos de automobilismo que possui em suas grades, embora seja triste ver que um esporte que já chamou tanta atenção esteja hoje em sua maior parte restrito à TV paga. A perda de Senna, que fez com que apenas em raras ocasiões nestes últimos 20 anos tivéssemos um piloto de fato disputando o título na F-1 fez o automobilismo perder fama no país. Dizer que brasileiro gostava de corridas era uma meia-verdade: ele gostava é de ver brasileiro vencendo. O verdadeiro fã de automobilismo daquela época continuou fiel às corridas, e isso hoje se reflete no fato de que o futebol é o único esporte realmente popular no Brasil. Até o tênis, que teve sua "era" com as façanhas de Gustavo Kuerten, murchou depois que ele deixou o esporte. Nosso país raramente soube aproveitar o bom momento de um esporte para difundi-lo e ajudar a tornar nosso país uma referência no gênero. Em contrapartida, a Alemanha aproveitou muito bem os anos de sucesso de Michael Schumacher, e nos últimos tempos, os germânicos se tornaram os mais numerosos do grid da F-1, e hoje já temos um novo fenômeno alemão, Sebastian Vettel, e pelo menos dois excelentes nomes como campeões em potencial, Nico Rosberg, e Nico Hulkemberg, além do sempre combativo Adrian Sutil. Um momento de fama e reconhecimento na formação de talentos que nosso país já foi um dia, e que atualmente encontra-se praticamente em estado terminal, com poucas possibilidades de continuarmos a formar pilotos de nível como já fizemos.
            Em 2014, estarei acompanhando minha 25ª temporada de F-1 desde que comecei a escrever, e estarei em meu 21° ano como colunista de automobilismo. Mais do que escrever, hoje em dia é um desafio também publicar os textos. Os jornais já foram mais receptivos a textos sobre corridas do que hoje. Hoje, muitos já não abrem espaços para matérias sobre F-1 ou corridas de qualquer categoria que seja, nem mesmo para colunas especializadas. Felizmente, a internet consegue suprir parte desta perda. Há quase 3 anos, resolvi colocar parte de meus textos na internet, criando um blog, justamente com o nome de minha coluna, PISTA & BOX, onde passei a disponibilizar minhas colunas semanais, bem como alguns dos demais textos que escrevo, além de algumas matérias especiais. Toda semana, como hoje, há sempre uma coluna nova, e há também a publicação de minhas antigas colunas, na seção ARQUIVO, que são publicadas regularmente. O blog é sempre atualizado duas vezes por semana, sejam as colunas, atuais ou antigas, ou notas rápidas, além da Cotação Automobilística.
            Agradeço a todos os meus leitores, antigos e novos, e os convido a sempre acompanharem meus textos. Estou sempre me esforçando para melhorar, e o fato de que sempre tem aumentado a visitação do blog é uma mostra que pelo menos estou conseguindo fazer algo digno de ser lido e acompanhado. Tudo bem que, mesmo após 20 anos, não criei fama nem nada, mas não dá para ter tudo, apesar de que fama também não é sinônimo de qualidade, mas prefiro ter qualidade em meus textos do que fama, e hoje em dia esse equilíbrio é algo relativo.
            Já se foram 20 anos, e desde que comecei, não esperava chegar a tanto. Mas agora espero conseguir chegar pelo menos a 40 anos escrevendo sempre. Ainda não está na hora de eu ver a bandeirada de chegada, e ainda tenho muito por que acelerar nos teclados da vida. Novamente, muito obrigado a todos os leitores, e espero que continuemos juntos sempre. E vamos seguir em frente, acelerando cada vez mais...

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