Esse
assunto já devia ter sido tratado há mais de um mês, mas com o campeonato
mundial de F-1 apresentando alguns acontecimentos interessantes a serem
comentados, acabei atrasando um pouco. Agora que praticamente quase todas as
corridas do ano já acabaram, é chegada a hora de iniciar essa dissertação, que
nada mais é do que comemorar nada menos do que 20 anos desta coluna de
automobilismo que estão lendo. Pois é, já faz muuito tempo, muito tempo mesmo,
e nem parece já ter pelo menos duas décadas desde que minha primeira coluna foi
escrita.
Foi
em outubro de 1993. As colunas de automobilismo começavam a ganhar maior espaço
nos jornais. Não que fossem novidade, afinal, elas já existiam desde os anos
1970, quando algumas de nossas publicações voltadas ao universo dos automóveis
abriam espaço para as notícias de automobilismo, e por tabela, para colunas
periódicas assinadas por nomes de respeito da imprensa especializada, senão por
nossos pilotos profissionais. A revista 4 Rodas, da Editora Abril, em plenos
anos 1970, possuí um suplemento regular que mostrava os acontecimentos da F-1,
além de uma cobertura muito bem-feita da categoria máxima do automobilismo. E
trazia também colunas escritas especialmente por Émerson Fittipaldi, nosso
grande e primeiro campeão na categoria.
Nos
anos 1980, havia a saudosa revista Grid, da mesma Editora Abril, tentava
repetir o mesmo sucesso, e trazia coluna fixa de Reginaldo Leme, comentarista
da TV Globo, e até hoje um dos mais experientes e respeitáveis jornalistas
brasileiros de automobilismo. Nos jornais, no início dos anos 1990,
aproveitando a onda do sucesso de Ayrton Senna, também multiplicaram a
existência de colunistas. Vários nomes da imprensa especializada traziam para
os leitores sua visão dos acontecimentos, fazendo resenhas, análises, ou
simplesmente contando boas histórias das corridas. Nos maiores jornais,
estrearam em 1993 colunas regulares sobre automobilismo: no
"Estadão", Reginaldo Leme iniciava sua coluna "Grand Prix"
às sextas-feiras, que se mantém firme até hoje, tendo apenas mudado de sexta
para sábado. Na Folha de São Paulo, tínhamos a coluna "Warm Up",
escrita por Flávio Gomes, e atualmente escrita por Fábio Seixas.
Como
entusiasta do automobilismo, não demorou para eu abordar a idéia de também
escrever uma coluna nos mesmos moldes, depois de escrever, desde 1990, textos
curtos sobre os acontecimentos do esporte a motor. Se reportagens devem ser
objetivas e imparciais, escrever uma coluna permite ir além, noticiar, mas
também fazer uma análise, expôr sua opinião, concordando ou não com o que está
acontecendo, e tentar passar um pouco mais dos bastidores do mundo do
automobilismo em uma conversa mais franca e amigável do que um texto apenas
objetivo. E em outubro de 1993, saia minha primeira edição da "Pista &
Box". O nome foi inspirado na antiga seção de notas curtas do noticiário
de automobilismo trazido pelo "Estadão", que há anos já tinha adotado
outra nomenclatura para esta seção. Sempre gostei da expressão, por dar a idéia
de se contar tanto o que há na pista, quanto fora dela.
E
assim foi. Foram apenas 3 colunas naquele ano, que terminou com o
tetracampeonato de Alain Prost, e um empolgante vice-campeonato de Ayrton
Senna, que mostrava estar no auge de sua forma física e pilotagem. O ano
seguinte prometia, pois Senna passava a guiar a Williams, teoricamente o carro
favorito ao título, e tinha tudo para repetir o feito de Prost. Mas o destino
tinha outros planos. A morte de Ayrton Senna também foi a "morte"
para a maneira como o brasileiro encarava a F-1 e o automobilismo. Muitos ali
pararam de acompanhar as corridas, enquanto para muitos, ainda esperançosos, os
dias de alegrias nunca mais seriam os mesmos.
Mas
a vida segue, e nos primeiros dois anos, minha coluna ficou firme, com
publicação mensal, com direito a algumas edições "extras" neste
período. E, a partir de outubro de 1995, começou a ser escrita semanalmente,
como está até hoje. A única exceção são as festas de fim de ano, afinal,
ninguém é de ferro, então, desde 1996, até os dias de hoje, são cerca de 50
colunas escritas por ano, e não fosse os dois primeiros anos certamente eu já
teria passado da milésima coluna, um número deveras respeitável. O que não muda
é o desafio de escrever, sempre tentando achar um bom equilíbrio entre opinar e
informar. Por vezes, dependendo do assunto a ser escrito, fica até fácil, mas
em outras ocasiões, torna-se mais complicado fazer um bom texto.
Não
vou esconder que já fiz textos que considero insossos e sem inspiração nenhuma.
Também já cometi erros, e mesmo hoje, 20 anos depois da primeira coluna, ainda
me considero um peixe pequeno no mar de profissionais que cobrem e escrevem
regularmente sobre o mundo do automobilismo. Já ganhei elogios de gente
respeitável no meio, assim como críticas de leitores que acharam meus pontos de
vista merecedores de adjetivos que iam dos mais educados aos mais grosseiros.
Não se pode agradar a todos, mas também não dá para dar atenção a pessoas que
não sabem criticar de forma sensata e fundamentada. Já vi leitores de todo o
tipo, e se é agradável receber elogios por um texto bem feito, também é
necessário ouvir críticas e apreciar outros pontos de vista, que podem ser tão
válidos quanto os meus. E não é pelo fato de conhecer o mundo do automobilismo
há mais de 25 anos que posso me achar no direito de saber escrever muito melhor
do que os outros. Tenho uma boa bagagem, e se quero ser respeitado pelo que
escrevo, também tenho de respeitar quem tem outras opiniões. A todos aqueles
que já fizeram observações pertinentes e bem-fundamentadas, tanto elogiando ou
criticando meus textos, meus agradecimentos pela paciência de terem lido o que
escrevi. Já àqueles que criticam só por criticar, bem, podem perder tempo com
outras coisas, mas se continuam a me criticar sem bases, é porque ainda assim
lêem meus textos, curioso, não?
A
maioria de meus textos sempre foi focada na Fórmula 1. É a maior categoria do
mundo, a mais famosa, a mais badalada, e a que concentra a maior atenção da
imprensa especializada sobre esporte a motor. Mas também é a mais egocêntrica,
arrogante, gastadora, fútil, e intragável em muitos aspectos humanos. Nem
sempre ela foi assim, mas desde que comecei a escrever, a F-1 já não era mais
humana como havia sido em outras épocas. No início dos anos 1990, contudo,
ainda dava para se respirar ares menos conturbados na categoria, que foram
piorando ao longo dos tempos, e que hoje estão maculados por frescuras e
regulamentos ainda mais bestas do que há 20 anos atrás. O politicamente
correto, e as obsessões por segurança fizeram a categoria máxima do
automobilismo perder sua franqueza, e o espírito combativo dos pilotos hoje
enfrenta limitações ridículas em certos aspectos. Mesmo assim, os carros da F-1
ainda exercem um fascínio arrebatador, bem como a complexidade da categoria, e
a aura de glamour que o "circo" ainda exala em determinados momentos,
hoje mais restritos a algumas provas apenas.
A
Fórmula Indy era, depois da F-1, minha categoria favorita. Apesar de taxada por
alguns de "F-1 B", era atrativa, e quando a conheci, ainda em 1989, a partir da grande
vitória de Émerson Fittipaldi nas 500 Milhas de Indianápolis, ela tinha charme e
personalidade próprias. Uma pena que uma briga fraticida desencadeada por um de
seus integrantes, Tony George, em 1996, tenha levado ao fim deste campeonato,
na segunda metade da década passada, tendo sobrado apenas a "cria"
bastarda de George, a Indy Racing League, tentando resgatar o charme que a
finada maior categoria de monopostos americanos já teve um dia. Mas a F-Indy não
foi a única categoria a fenecer nestes 20 anos. O automobilismo brasileiro,
pujante e criador de talentos em profusão, hoje praticamente não existe mais,
tendo sobrado apenas duas categorias fortes em nosso país, a Stock Car, e a
F-Truck, certamos que infelizmente não são formadores de pilotos. A F-Chevrolet
já se foi há tempos, e a F-3 brasileira e sul-americana viraram sombras pálidas
de seus melhores dias. De fato, escrever sobre automobilismo há 20 anos atrás
era muito mais fácil do que agora...
Há
público para as corridas em nosso país? Certamente. Mas é duro fomentar
iniciativas quando quem deveria fazê-lo, a Confederação Brasileira de
Automobilismo (CBA), virou uma pasmaceira que não serve para nada além de
cobrar as taxas de plantão de quem quer tentar seguir carreira de piloto em
nosso país. Na TV aberta, a Globo ainda segue firme com a F-1, embora sem
ostentar a mesma audiência de antigamente. A TV fechada ainda exibe melhor os
campeonatos de automobilismo que possui em suas grades, embora seja triste ver
que um esporte que já chamou tanta atenção esteja hoje em sua maior parte
restrito à TV paga. A perda de Senna, que fez com que apenas em raras ocasiões
nestes últimos 20 anos tivéssemos um piloto de fato disputando o título na F-1
fez o automobilismo perder fama no país. Dizer que brasileiro gostava de
corridas era uma meia-verdade: ele gostava é de ver brasileiro vencendo. O
verdadeiro fã de automobilismo daquela época continuou fiel às corridas, e isso
hoje se reflete no fato de que o futebol é o único esporte realmente popular no
Brasil. Até o tênis, que teve sua "era" com as façanhas de Gustavo
Kuerten, murchou depois que ele deixou o esporte. Nosso país raramente soube
aproveitar o bom momento de um esporte para difundi-lo e ajudar a tornar nosso
país uma referência no gênero. Em contrapartida, a Alemanha aproveitou muito
bem os anos de sucesso de Michael Schumacher, e nos últimos tempos, os germânicos
se tornaram os mais numerosos do grid da F-1, e hoje já temos um novo fenômeno
alemão, Sebastian Vettel, e pelo menos dois excelentes nomes como campeões em
potencial, Nico Rosberg, e Nico Hulkemberg, além do sempre combativo Adrian
Sutil. Um momento de fama e reconhecimento na formação de talentos que nosso país
já foi um dia, e que atualmente encontra-se praticamente em estado terminal,
com poucas possibilidades de continuarmos a formar pilotos de nível como já
fizemos.
Em
2014, estarei acompanhando minha 25ª temporada de F-1 desde que comecei a
escrever, e estarei em meu 21° ano como colunista de automobilismo. Mais do que
escrever, hoje em dia é um desafio também publicar os textos. Os jornais já
foram mais receptivos a textos sobre corridas do que hoje. Hoje, muitos já não
abrem espaços para matérias sobre F-1 ou corridas de qualquer categoria que
seja, nem mesmo para colunas especializadas. Felizmente, a internet consegue suprir
parte desta perda. Há quase 3 anos, resolvi colocar parte de meus textos na
internet, criando um blog, justamente com o nome de minha coluna, PISTA &
BOX, onde passei a disponibilizar minhas colunas semanais, bem como alguns dos
demais textos que escrevo, além de algumas matérias especiais. Toda semana,
como hoje, há sempre uma coluna nova, e há também a publicação de minhas
antigas colunas, na seção ARQUIVO, que são publicadas regularmente. O blog é
sempre atualizado duas vezes por semana, sejam as colunas, atuais ou antigas,
ou notas rápidas, além da Cotação Automobilística.
Agradeço
a todos os meus leitores, antigos e novos, e os convido a sempre acompanharem
meus textos. Estou sempre me esforçando para melhorar, e o fato de que sempre
tem aumentado a visitação do blog é uma mostra que pelo menos estou conseguindo
fazer algo digno de ser lido e acompanhado. Tudo bem que, mesmo após 20 anos, não
criei fama nem nada, mas não dá para ter tudo, apesar de que fama também não é
sinônimo de qualidade, mas prefiro ter qualidade em meus textos do que fama, e
hoje em dia esse equilíbrio é algo relativo.
Já
se foram 20 anos, e desde que comecei, não esperava chegar a tanto. Mas agora
espero conseguir chegar pelo menos a 40 anos escrevendo sempre. Ainda não está
na hora de eu ver a bandeirada de chegada, e ainda tenho muito por que acelerar
nos teclados da vida. Novamente, muito obrigado a todos os leitores, e espero
que continuemos juntos sempre. E vamos seguir em frente, acelerando cada vez
mais...
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