sexta-feira, 4 de outubro de 2013

MOMENTO DECISIVO


Hélio Castro Neves defende a liderança do campeonato em Houston, e pode até conquistar o título no fim de semana.

            O campeonato da Indy Racing League chega a um momento decisivo neste final de semana, com a rodada dupla no circuito de rua de Houston, no Texas. O brasileiro Hélio Castro Neves defende a liderança da competição, com o neozelandês Scott Dixon como ameaça mais próxima ao possível título do piloto da Penske. Com 49 pontos de vantagem, Hélio pode ser dar ao luxo de correr marcando o rival da Ganassi, mas com 3 provas para fechar a competição, todo cuidado é pouco numa categoria onde o vencedor leva 50 pontos pela vitória, sem contar os pontos extras por liderar as corridas e fazer a pole-position.
            Por isso, é premente que o brasileiro consiga liquidar a fatura neste fim de semana. A etapa final do campeonato, em Fontana, é numa corrida em oval, da classe superspeedway, e é uma corrida longa, onde tudo pode acontecer. Basta lembrar do que ocorreu com Will Power no ano passado, quando tinha tudo para ser campeão, e mais uma vez ficou a ver navios. As provas de Houston se passam em um circuito de rua, que por outro lado, também podem virar uma tremenda loteria, com resultados imprevisíveis. Tomemos a última corrida do campeonato, em Baltimore, como exemplo. E surpresas inesperadas é o que menos Hélio e Dixon esperam neste momento.
            O brasileiro faz um campeonato constante como nunca. Embora tenha vencido apenas uma corrida, em Forth Worth, Texas, em todas as demais provas, terminou sempre entre os 10 primeiros, com alguns pódios importantes pelo caminho, e terminando todas as voltas das provas até o presente momento. Seu momento mais "baixo" no campeonato foi justamente em São Paulo, onde após uma corrida complicada, ficou em 13° lugar, no que foi sua pior posição de chegada no ano. E, nas últimas corridas, contou com uma tremenda sorte, pois teve provas atribuladas, se envolvendo em toques e até confusões, mas conseguiu permanecer firme na pista e terminar até relativamente bem. O problema é que em raras ocasiões esteve na luta pela vitória, ao contrário de Dixon, que desde que venceu 3 provas consecutivas a meio do ano, veio escalando a tabela da classificação de modo quase avassalador sobre Hélio. Nas últimas duas provas, tudo parecia indicar que o piloto do Chip Ganassi, detentor de dois títulos na categoria, iria superar o brasileiro na classificação e rumar para o terceiro título.
            Só que ninguém esperava que Dixon fosse ter alguns azares quase inacreditáveis. Em Sonoma, um toque em um mecânico no box da frente lhe custou uma penalização que arruinou suas expectativas de reduzir a desvantagem para Helinho. E, quando ninguém poderia imaginar o pior, eis que em Baltimore, na prova mais conturbada dos últimos tempos, com esbarrões, rodadas, e batidas entre vários pilotos, Scott acabou levando uma bela pancada por trás, e abandonou a corrida, ficando a ver navios em mais uma etapa, e perdendo nova chance de aplicar um golpe mortal nas pretensões de título do piloto brasileiro. A situação das últimas duas corridas fica ainda mais incendiária se levarmos em conta que em ambas as ocasiões, as encrencas que Dixon sofreu foram exatamente com o mesmo piloto: Will Power, que ainda por cima é companheiro de Hélio Castro Neves na equipe Penske.
            Antes que possam afirmar que o time de Roger Penske premeditou os incidentes para favorecer seu piloto brasileiro na luta pelo campeonato, esse tipo de atitude nunca seria usado pela escuderia. Se na Fórmula 1 o jogo de equipe por vezes já virou algo descarado, na IRL tal tipo de atitude é raro, e embora possa ocorrer, jogadas desleais deste tipo são totalmente descabidas. Vencedor como poucos no automobilismo americano, Roger Penske nunca tomaria tal tipo de atitude, e olha que nos últimos 3 anos, em que Power foi vice-campeão, teria sido muito fácil ele ordenar um jogo de equipe para fazer seu piloto campeão. Mas nada disso aconteceu. Foi coincidência que Dixon tenha tido Power como pivô de seu azar nas últimas corridas, e nada mais. Mas que isso foi suficiente para incendiar os ânimos e alimentar algumas teorias da conspiração, não há dúvidas de que foi. E o pior de tudo é que Dixon acusou o golpe, perdendo sua calma nos dias após a prova de Baltimore, disparando para todos os lados, em um momento onde manter a cabeça fria era o melhor a se fazer.
            Os carros entram na pista hoje, e podem apostar que o neozelandês precisa virar o jogo o quanto antes. Se ainda estiver com os ânimos exaltados pelos acontecimentos de Sonoma e Baltimore, pode se complicar e jogar tudo a perder. Mas como já faz praticamente um mês desde a última corrida, a aposta mais provável é que o piloto da Ganassi já esteja com a cabeça fria, e totalmente voltado para a corrida. O retrospecto da Ganassi nos últimos circuitos de rua dão vantagem ao time de Dixon tanto em classificação como em ritmo de corrida, e não há dúvidas de que no atual momento, só a vitória interessa, para não apenas diminuir o quanto antes a vantagem na pontuação de Hélio quanto aplicar um golpe certeiro na Penske.
            O brasileiro, por sua vez, precisa também manter a cabeça fria, e concentrar-se em terminar da melhor maneira possível. Pistas de rua são sempre propensas a apresentar acidentes, e sofrer um a esta altura do campeonato seria catastrófico para as pretensões de título. Helinho precisa tentar não apenas se manter longe das confusões, mas também torcer pela sorte de não estar por perto quando surgir um acidente de percurso. E precisa também melhorar sua performance: nas duas últimas corridas o brasileiro correu por pontos, enquanto Dixon lutava pela vitória. Terminar na frente do neozelandês é o objetivo principal, mas se puder andar melhor do que o rival, ótimo. Se não for possível, é preciso minimizar o prejuízo, e o perigo é dobrado: serão duas corridas, uma amanhã, e a outra no domingo. Se houver um acidente na prova de amanhã, o prejuízo pode comprometer a corrida de domingo.
            O circuito, aliás, joga contra os times: Houston está estreando no calendário da IRL, e logo em uma rodada dupla. O traçado do circuito tem alguns trechos que podem favorecer ultrapassagens, mas é preciso esperar os carros entrarem de fato na pista para ver se a teoria corresponde na realidade. A Fórmula Indy já correu em Houston nas temporadas de 1998 a 2001, mas o traçado não é igual ao atual. Dois times que participaram daquelas corridas da finada F-Indy, coincidentemente, Penske e Ganassi, são as equipes que lutam pelo título atualmente na IRL.
            Se Helinho tem como preocupação maior Scott Dixon, este, por sua vez, não pode se preocupar apenas em caçar o brasileiro, mas também em defender sua posição no campeonato. Atrás do piloto da Ganassi vem nada menos do que 3 pilotos, em campanhas bem regulares, e se o título lhes parece mais distante, isso não vai impedi-los de se intrometerem na briga e roubar a cena, e até algo mais, se as circunstâncias permitirem. O francês Simon Pagenaud, da equipe de Sam Schmidt, vem fazendo uma boa campanha no ano, e com 2 vitórias, já se acha no direito de sonhar pelo menos com o vice-campeonato. E embolado junto com ele vem dois pilotos da Andretti Autosport, Ryan Hunter-Reay, o atual campeão, e Marco Andretti, ambos ávidos para subir posições na classificação. E eles estão bem mais próximos de Dixon na pontuação do que este de Hélio, o que pode significar dor de cabeça maior nas pretensões de luta pelo título por parte do neozelandês. Se Pagenaud, Hunter-Reay e Andretti se embolarem com Dixon, Helinho pode se beneficiar e aumentar sua vantagem, e quem sabe definir matematicamente a conquista do título já na prova de domingo.
            Mas o brasileiro não pode dar moleza, pois essa turma toda pode vir para cima ao mesmo tempo e complicar a situação do piloto da Penske. Hélio, por sua vez, garante que vai manter o mesmo foco de trabalho das últimas corridas, mantendo sempre a calma e visando o título, procurando garantir o melhor resultado de pista ao alcance dependendo das oportunidades que surgirem, procurando se focar em uma coisa de cada vez. Arriscar demais em busca da vitória pode levar a atitudes precipitadas, como a do próprio Hélio em Baltimore, onde fazendo uma largada agressiva acabou danificando o bico do carro logo no início da prova, obrigando-o a uma parada que o jogou para o fundo do pelotão, o que poderia ter comprometido qualquer possibilidade de um bom resultado, o que acabou não acontecendo, devido à corrida ter sido muito mais complicada e acidentada do que todos previam. Na opinião de Rick Mears, tricampeão da antiga Fórmula Indy, e atual consultor da Penske, Hélio está mantendo a atitude correta, e apóia a postura do brasileiro, que até o presente momento vem garantindo sua liderança na competição. E Helinho merece conquistar finalmente um título: está na Penske desde 2000, e de lá para cá já foi 2 vezes vice-campeão. E para 2014, já teve seu contrato renovado com Roger Penske, para defender o time mais poderoso da categoria pelo 15° ano consecutivo, que continua tendo fé no piloto brasileiro, que nunca passou um ano sem vencer corridas, mesmo em seus piores momentos na categoria. Aliás, ao fim da temporada de 2014, Hélio igualará Rick Mears como o piloto que mais defendeu a Penske em toda a sua história nas categorias Indy: Mears correu por 15 temporadas para Roger Penske, de 1978 a 1992, na Fórmula Indy. Contando a F-Indy e IRL, Hélio poderá superar Mears se permanecer na escuderia em 2015. Não é pouco, conhecendo-se o nível de exigência de Roger Penske em relação a seus pilotos, e olha que ele já teve nomes como Mario Andretti, Al Unser, Émerson Fittipaldi, Gil de Ferran, Al Unser Jr. e Sam Hornish Jr. como seus maiores pilotos, além claro, de Rick Mears, que na sua época era conhecido como o "Rei dos Ovais", pelas suas grandes performances neste tipo de pista.
            Para o fã brasileiro de corridas, além de manter a torcida para Hélio ser campeão, é aproveitar para assistir e curtir as provas, que podem ser as últimas que serão transmitidas pela TV brasileira, uma vez que a situação da categoria continua totalmente indefinida para o próximo ano, com a Bandeirantes desistindo de transmitir o campeonato, e não se sabe se algum outro canal, aberto ou pago, terá interesse em transmitir as provas da IRL em 2014, mesmo com o brasileiro sendo campeão.
            Que venha a bandeira verde...

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