Hélio Castro Neves defende a liderança do campeonato em Houston, e pode até conquistar o título no fim de semana. |
O
campeonato da Indy Racing League chega a um momento decisivo neste final de
semana, com a rodada dupla no circuito de rua de Houston, no Texas. O
brasileiro Hélio Castro Neves defende a liderança da competição, com o
neozelandês Scott Dixon como ameaça mais próxima ao possível título do piloto
da Penske. Com 49 pontos de vantagem, Hélio pode ser dar ao luxo de correr
marcando o rival da Ganassi, mas com 3 provas para fechar a competição, todo
cuidado é pouco numa categoria onde o vencedor leva 50 pontos pela vitória, sem
contar os pontos extras por liderar as corridas e fazer a pole-position.
Por
isso, é premente que o brasileiro consiga liquidar a fatura neste fim de
semana. A etapa final do campeonato, em Fontana, é numa corrida em oval, da
classe superspeedway, e é uma corrida longa, onde tudo pode acontecer. Basta
lembrar do que ocorreu com Will Power no ano passado, quando tinha tudo para
ser campeão, e mais uma vez ficou a ver navios. As provas de Houston se passam
em um circuito de rua, que por outro lado, também podem virar uma tremenda
loteria, com resultados imprevisíveis. Tomemos a última corrida do campeonato,
em Baltimore, como exemplo. E surpresas inesperadas é o que menos Hélio e Dixon
esperam neste momento.
O
brasileiro faz um campeonato constante como nunca. Embora tenha vencido apenas
uma corrida, em Forth
Worth, Texas, em todas as demais provas, terminou sempre
entre os 10 primeiros, com alguns pódios importantes pelo caminho, e terminando
todas as voltas das provas até o presente momento. Seu momento mais
"baixo" no campeonato foi justamente em São Paulo, onde após uma
corrida complicada, ficou em 13° lugar, no que foi sua pior posição de chegada
no ano. E, nas últimas corridas, contou com uma tremenda sorte, pois teve
provas atribuladas, se envolvendo em toques e até confusões, mas conseguiu
permanecer firme na pista e terminar até relativamente bem. O problema é que em
raras ocasiões esteve na luta pela vitória, ao contrário de Dixon, que desde
que venceu 3 provas consecutivas a meio do ano, veio escalando a tabela da
classificação de modo quase avassalador sobre Hélio. Nas últimas duas provas,
tudo parecia indicar que o piloto do Chip Ganassi, detentor de dois títulos na
categoria, iria superar o brasileiro na classificação e rumar para o terceiro
título.
Só
que ninguém esperava que Dixon fosse ter alguns azares quase inacreditáveis. Em
Sonoma, um toque em um mecânico no box da frente lhe custou uma penalização que
arruinou suas expectativas de reduzir a desvantagem para Helinho. E, quando
ninguém poderia imaginar o pior, eis que em Baltimore, na prova mais conturbada
dos últimos tempos, com esbarrões, rodadas, e batidas entre vários pilotos,
Scott acabou levando uma bela pancada por trás, e abandonou a corrida, ficando
a ver navios em mais uma etapa, e perdendo nova chance de aplicar um golpe
mortal nas pretensões de título do piloto brasileiro. A situação das últimas
duas corridas fica ainda mais incendiária se levarmos em conta que em ambas as
ocasiões, as encrencas que Dixon sofreu foram exatamente com o mesmo piloto:
Will Power, que ainda por cima é companheiro de Hélio Castro Neves na equipe
Penske.
Antes
que possam afirmar que o time de Roger Penske premeditou os incidentes para
favorecer seu piloto brasileiro na luta pelo campeonato, esse tipo de atitude
nunca seria usado pela escuderia. Se na Fórmula 1 o jogo de equipe por vezes já
virou algo descarado, na IRL tal tipo de atitude é raro, e embora possa
ocorrer, jogadas desleais deste tipo são totalmente descabidas. Vencedor como
poucos no automobilismo americano, Roger Penske nunca tomaria tal tipo de
atitude, e olha que nos últimos 3 anos, em que Power foi vice-campeão, teria sido muito
fácil ele ordenar um jogo de equipe para fazer seu piloto campeão. Mas nada
disso aconteceu. Foi coincidência que Dixon tenha tido Power como pivô de seu
azar nas últimas corridas, e nada mais. Mas que isso foi suficiente para
incendiar os ânimos e alimentar algumas teorias da conspiração, não há dúvidas
de que foi. E o pior de tudo é que Dixon acusou o golpe, perdendo sua calma nos
dias após a prova de Baltimore, disparando para todos os lados, em um momento
onde manter a cabeça fria era o melhor a se fazer.
Os
carros entram na pista hoje, e podem apostar que o neozelandês precisa virar o
jogo o quanto antes. Se ainda estiver com os ânimos exaltados pelos
acontecimentos de Sonoma e Baltimore, pode se complicar e jogar tudo a perder.
Mas como já faz praticamente um mês desde a última corrida, a aposta mais
provável é que o piloto da Ganassi já esteja com a cabeça fria, e totalmente
voltado para a corrida. O retrospecto da Ganassi nos últimos circuitos de rua
dão vantagem ao time de Dixon tanto em classificação como em ritmo de corrida,
e não há dúvidas de que no atual momento, só a vitória interessa, para não
apenas diminuir o quanto antes a vantagem na pontuação de Hélio quanto aplicar
um golpe certeiro na Penske.
O
brasileiro, por sua vez, precisa também manter a cabeça fria, e concentrar-se
em terminar da melhor maneira possível. Pistas de rua são sempre propensas a
apresentar acidentes, e sofrer um a esta altura do campeonato seria
catastrófico para as pretensões de título. Helinho precisa tentar não apenas se
manter longe das confusões, mas também torcer pela sorte de não estar por perto
quando surgir um acidente de percurso. E precisa também melhorar sua
performance: nas duas últimas corridas o brasileiro correu por pontos, enquanto
Dixon lutava pela vitória. Terminar na frente do neozelandês é o objetivo
principal, mas se puder andar melhor do que o rival, ótimo. Se não for
possível, é preciso minimizar o prejuízo, e o perigo é dobrado: serão duas
corridas, uma amanhã, e a outra no domingo. Se houver um acidente na prova de
amanhã, o prejuízo pode comprometer a corrida de domingo.
O
circuito, aliás, joga contra os times: Houston está estreando no calendário da
IRL, e logo em uma rodada dupla. O traçado do circuito tem alguns trechos que
podem favorecer ultrapassagens, mas é preciso esperar os carros entrarem de
fato na pista para ver se a teoria corresponde na realidade. A Fórmula Indy já
correu em Houston nas temporadas de 1998 a 2001, mas o traçado não é igual ao
atual. Dois times que participaram daquelas corridas da finada F-Indy,
coincidentemente, Penske e Ganassi, são as equipes que lutam pelo título
atualmente na IRL.
Se
Helinho tem como preocupação maior Scott Dixon, este, por sua vez, não pode se
preocupar apenas em caçar o brasileiro, mas também em defender sua posição no
campeonato. Atrás do piloto da Ganassi vem nada menos do que 3 pilotos, em
campanhas bem regulares, e se o título lhes parece mais distante, isso não vai
impedi-los de se intrometerem na briga e roubar a cena, e até algo mais, se as
circunstâncias permitirem. O francês Simon Pagenaud, da equipe de Sam Schmidt,
vem fazendo uma boa campanha no ano, e com 2 vitórias, já se acha no direito de
sonhar pelo menos com o vice-campeonato. E embolado junto com ele vem dois
pilotos da Andretti Autosport, Ryan Hunter-Reay, o atual campeão, e Marco
Andretti, ambos ávidos para subir posições na classificação. E eles estão bem
mais próximos de Dixon na pontuação do que este de Hélio, o que pode significar
dor de cabeça maior nas pretensões de luta pelo título por parte do neozelandês.
Se Pagenaud, Hunter-Reay e Andretti se embolarem com Dixon, Helinho pode se
beneficiar e aumentar sua vantagem, e quem sabe definir matematicamente a
conquista do título já na prova de domingo.
Mas
o brasileiro não pode dar moleza, pois essa turma toda pode vir para cima ao
mesmo tempo e complicar a situação do piloto da Penske. Hélio, por sua vez,
garante que vai manter o mesmo foco de trabalho das últimas corridas, mantendo
sempre a calma e visando o título, procurando garantir o melhor resultado de
pista ao alcance dependendo das oportunidades que surgirem, procurando se focar
em uma coisa de cada vez. Arriscar demais em busca da vitória pode levar a
atitudes precipitadas, como a do próprio Hélio em Baltimore, onde fazendo uma
largada agressiva acabou danificando o bico do carro logo no início da prova,
obrigando-o a uma parada que o jogou para o fundo do pelotão, o que poderia ter
comprometido qualquer possibilidade de um bom resultado, o que acabou não
acontecendo, devido à corrida ter sido muito mais complicada e acidentada do
que todos previam. Na opinião de Rick Mears, tricampeão da antiga Fórmula Indy,
e atual consultor da Penske, Hélio está mantendo a atitude correta, e apóia a
postura do brasileiro, que até o presente momento vem garantindo sua liderança
na competição. E Helinho merece conquistar finalmente um título: está na Penske
desde 2000, e de lá para cá já foi 2 vezes vice-campeão. E para 2014, já teve
seu contrato renovado com Roger Penske, para defender o time mais poderoso da
categoria pelo 15° ano consecutivo, que continua tendo fé no piloto brasileiro,
que nunca passou um ano sem vencer corridas, mesmo em seus piores momentos na
categoria. Aliás, ao fim da temporada de 2014, Hélio igualará Rick Mears como o
piloto que mais defendeu a Penske em toda a sua história nas categorias Indy:
Mears correu por 15 temporadas para Roger Penske, de 1978 a 1992, na Fórmula
Indy. Contando a F-Indy e IRL, Hélio poderá superar Mears se permanecer na
escuderia em 2015. Não é pouco, conhecendo-se o nível de exigência de Roger
Penske em relação a seus pilotos, e olha que ele já teve nomes como Mario
Andretti, Al Unser, Émerson Fittipaldi, Gil de Ferran, Al Unser Jr. e Sam
Hornish Jr. como seus maiores pilotos, além claro, de Rick Mears, que na sua
época era conhecido como o "Rei dos Ovais", pelas suas grandes
performances neste tipo de pista.
Para
o fã brasileiro de corridas, além de manter a torcida para Hélio ser campeão, é
aproveitar para assistir e curtir as provas, que podem ser as últimas que serão
transmitidas pela TV brasileira, uma vez que a situação da categoria continua
totalmente indefinida para o próximo ano, com a Bandeirantes desistindo de
transmitir o campeonato, e não se sabe se algum outro canal, aberto ou pago,
terá interesse em transmitir as provas da IRL em 2014, mesmo com o brasileiro
sendo campeão.
Que
venha a bandeira verde...
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