Os
circuitos de rua utilizados no campeonato da Indy Racing League parecem estar
em uma competição esquisita nos últimos tempos. Quem havia achado a corrida em
Baltimore caótica pelo excesso de rodadas e trombadas que os pilotos andaram
dando uns nos outros, além de ver uma ridícula chicane no meio da reta dos
boxes por causa de trilhos de trem que existem por ali, nem imaginava que a
rodada dupla disputada em Houston, no fim de semana passado, pudesse ser tão ou
até mais complicada, a ponto de promover até uma reviravolta na luta pelo
título da temporada.
Reviravolta
mesmo: quem esperava ver o brasileiro Hélio Castro Neves conseguir liquidar a
fatura e comemorar a conquista do caneco de campeão, levou uma ducha de água
fria tão grande quanto o próprio piloto e a equipe Penske. Todo o azar que o
brasileiro conseguiu evitar durante todo o ano, apesar de ter encarado várias
adversidades em várias corridas, atingiu Hélio de forma contundente nas duas
corridas do fim de semana. O resultado foi desastroso: de uma liderança com
folga de 49 pontos sobre Scott Dixon, Helinho agora vai para Fontana, etapa
final da competição, com 25 pontos de desvantagem para o neozelandês, que
passou de desafiante a favorito para a conquista do título.
Pior
de tudo, é que mesmo que não tivesse problemas mecânicos, dificilmente o
brasileiro deixaria de perder boa parte de sua vantagem. Em nenhum momento do
fim de semana seu carro esteve com desempenho comparável ao de Dixon. O piloto
da Ganassi só não venceu as duas corridas porque no domingo, com Will Power à
sua frente, e lembrando-se dos incidentes que teve com o australiano nas
últimas corridas, passou a jogar pela segurança de terminar em 2° lugar do que
arriscar uma ultrapassagem e acabar se enrolando novamente com o piloto da
Penske. Aliás, o desempenho dos carros do time de Roger Penske foi inverso
durante o fim de semana: enquanto Power teve sempre um dos carros mais rápidos,
o mesmo não se deu com Hélio, que fez bobeada no treino de classificação e
largou entre os últimos colocados, o que por sí só já complicava toda a
estratégia de corrida. No domingo, mesmo largando na frente por ser o líder do
campeonato, nunca mostrou ter ritmo para competir com Dixon, que mostrava
desempenho ímpar nas duas provas.
Mérito
para Dixon e a Ganassi, que chegaram como azarões, mas fizeram seu trabalho
como se devia, e o neozelandês teve um carro redondo durante ambas as corridas,
que parecia imune aos percalços que o piso ruim da pista infligiu a diversos
competidores. Sim, e bote piso ruim nisso. O calçamento irregular da pista
montada na maior cidade do Texas fez os carros pularem como nunca, e a
consequência foram vários deles apresentando problemas mecânicos devido a tanta
pancada sofrida. Hélio que o diga, com 2 câmbios partidos nas duas provas, e
não foi o único a precisar de consertos nos boxes. Por outro lado, o fato de
alguns carros terem passado incólumes a tantas irregularidades de piso também
demonstra que o problema podia ser minimizado com um bom acerto do monoposto.
O
único ponto positivo da nova pista urbana de Houston é que não foi tão travada
como se imaginava, oferecendo boas ultrapassagens. E, claro, alguns pilotos
resolveram conhecer as proteções de pneus de perto, com erros de freada e
outros equívocos que normalmente ocorrem em pistas de rua, onde as áreas de
escape são sempre escassas.
Mas
o que deixou um ponto extremamente negativo sobre a corrida, no domingo, foi o
pavoroso acidente envolvendo Takuma Sato, Ernesto Viso, e Dario Franchiti. Ao
tentar superar o piloto japonês da Foyt, Dario acabou fechado e seu carro
catapultado sobre o alambrado, logo ao lado. O impacto foi impressionante, com
o alambrado praticamente destruído, e o carro do escocês desmanchando-se e
voltando a pista, onde foi parar dezenas de metros adiante. Viso, chegando logo
a seguir, não conseguiu frear tudo e ainda acertou o carro de Sato, felizmente
sem consequências para ambos, além de danificarem mais ainda os carros.
Franchiti não teve a mesma sorte, mas levando-se em conta a violência da
pancada, e o que aconteceu com seu carro, teve muita sorte: sofreu uma
concussão, fratura em duas vértebras e no tornozelo, e vários hematomas, mas
sem risco de vida, felizmente.
Foi
mais um acidente provocado pelo piso irregular, uma vez que Takuma afirmou que
seu carro deu um pequeno salto, o que o jogou de leve contra o carro de
Franchiti, que tentava a ultrapassagem, por azar, do mesmo lado da pista. E
mais um acidente no currículo de Sato, que em que pese seu talento, ainda parece
carregar o estigma de azar que seus compatriotas fizeram surgir nas categorias
TOP de monopostos, de pilotos batedores, sempre se metendo em alguma confusão.
Mas também um aviso para se levar em consideração: ninguém olha pelos espelhos
retrovisores dos carros? Em Baltimore, Power fechou a porta em cima de Dixon,
fazendo ambos irem parar junto ao muro, e acabando com a corrida do piloto
neozelandês, felizmente sem nada além do carro avariado. E agora, Sato ainda
estava, de certa forma, fechando Franchiti tentando evitar uma ultrapassagem,
ou não viu o escocês ali ao lado? Certo, a irregularidade da pista fez o carro
saltar um pouco justo no ponto de se engancharem as rodas dianteiras de ambos
os carros, o que provocou o lançamento do escocês no alambrado, e é algo a ser
discutido na melhoria de segurança dos monopostos, que no ano passado, com a
adoção do novo modelo DW12, já havia adotado uma proteção traseira justamente
para prevenir alavancagens deste tipo. O piloto japonês ainda acrescentou que
sujou os pneus numa leve saída de pista em uma curva, e que isso fez o carro
escorregar um pouco nas curvas seguintes, o que só ajudou a complicar manter o
carro no traçado certo com o piso irregular.
O
público na arquibancada logo em frente ao acidente também teve sorte: apesar de
várias pessoas terem se ferido com os estilhaços do carro de Franchiti, nenhuma
teve ferimentos graves, mas o incidente deve motivar estudos para se aumentar a
segurança que os alambrados possam fornecer nas corridas em pistas de rua. Foi
também na base da sorte que o alambrado arrancado pelo impacto não voou sobre
os torcedores, assim como estilhaços mais volumosos do carro do escocês.
Deve-se aproveitar a experiência do infeliz momento para estudar como reforçar
a segurança, de forma que tais acidentes não possam infligir riscos ao público,
e também aos pilotos.
A
direção da Indycar tem que rever seus conceitos sobre os circuitos de rua, e
exigir melhores condições de estrutura para as corridas. Por apresentar poucas
áreas de escape, e muros muito próximos, as chances de acidentes sempre são
maiores do que em pistas de autódromos, e mesmo em ovais. Direta ou
indiretamente, as ondulações de piso foram responsáveis pela maioria das
interrupções de ambas as etapas do fim de semana, e apesar de alguns times e
pilotos terem sofrido menos do que outros, as chances de um acidente forte com
um carro em alta velocidade não podem ser desprezadas. Corridas sempre são um
esporte de risco, mas com alguns cuidados, e critérios de segurança mais rigorosos,
é possível minimizar alguns riscos e evitar certos problemas que podem
acontecer. Como foi a última corrida neste tipo de pista em 2013, a direção da
categoria tem agora um bom tempo para analisar e estudar com calma a situação,
a tempo de promover mudanças e exigir condições melhores nas provas deste tipo
de circuito em 2014. Felizmente para equipes e pilotos, pelo menos no próximo
ano Baltimore está fora do calendário da IRL, o que já deixa alguns mais
tranquilos. Restarão os demais circuitos urbanos para serem trabalhados na
busca por maior segurança.
Mas,
claro, esperando-se que a direção da Indycar faça sua lição de casa, tirando
lições importantes do que se viu em Houston, e saiba fazer as mudanças
necessárias para que tanto pilotos quanto público possam desfrutar de maior
segurança nas etapas de pistas urbanas.
A Fórmula 1 iniciou hoje os treinos para a etapa de Suzuka, no Japão.
Apesar de pequena, Sebastian Vettel tem a oportunidade de fechar aqui a
conquista do título de 2013, e ser tetracampeão. Para isto, entretanto, é
preciso que Fernando Alonso não termine acima de 9° lugar, o que é um pouco
difícil, e Vettel vença a corrida, o que é muito fácil de acontecer. Pelo andar
da situação, todo mundo preferiria que a fatura fosse liquidada em Suzuka, pois
a pista da Índia, próxima corrida, não oferece clima nem carisma para uma
decisão de título. Suzuka, por outro lado, já viu 11 decisões de título. Se
Vettel faturar o título no Japão, a pista de Suzuka irá se igualar a Monza como
o circuito que mais sediou decisões de título: a pista italiana tem 12 decisões
de campeonato em sua história. E que venha logo 2014...
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