Terminou
o campeonato da Indy Racing League 2013, e o melhor piloto venceu: Scott Dixon
sagrou-se tricampeão da categoria com todos os méritos, derrotando o brasileiro
Hélio Castro Neves, que durante boa parte da temporada foi visto como o
principal favorito ao título, apostando numa campanha regular e constante. Mas,
com apenas 1 vitória na temporada, e com um desempenho tido por muitos como
abaixo do necessário para reforçar sua posição na luta pelo título, um único
fim de semana negativo, nas duas provas disputadas em Houston, foram
suficientes para implodir as esperanças do piloto brasileiro, que fez sua
melhor temporada na categoria, em termos de posição de campeonato, desde 2008,
coincidentemente, quando também foi vice-campeão, perdendo o título daquele ano
para o mesmo rival, Scott Dixon, e a Ganassi.
O
campeonato de 2008, aliás, guarda algumas semelhanças com o deste ano: naquela
temporada, Hélio também foi um piloto extremamente regular, marcando pontos em
praticamente todas as corridas. Como neste ano, o brasileiro não foi um
vencedor contumaz, tendo triunfado apenas em duas provas, em Sonoma e Chicago.
Dixon, por outro lado, a exemplo do que vimos neste ano, foi o piloto que mais
venceu no ano, com nada menos do que 6 vitórias. Mas se Hélio não venceu tanto,
foi muito constante, com nada menos do que mais 9 pódios na temporada, ao passo
que o neozelandês também foi muito regular, com 7 pódios. No fim, vitória para
Dixon, que chegou ao bicampeonato com 646 pontos, contra Hélio Castro Neves,
que conquistava seu segundo vice-campeonato, com 629 pontos. De quebra, Dixon
ainda faturou as 500
Milhas de Indianápolis de 2008. Hélio, contudo, foi mais
incisivo na sua regularidade em 2008, colecionado um bom número de presenças no
pódio, o que não foi o caso deste ano, onde terminou bem várias provas, mas
várias delas fora do pódio, cujos lugares oferecem pontuações mais generosas.
Em algumas corridas, é verdade, teve problemas, mas estava de certa forma no
lugar errado na hora errada, consequência de algumas classificações de grid
malsucedidas, obrigando-o a tentar minimizar os estragos com estratégias de
corrida para avançar à frente.
Foi
preciso o desastre de Houston para Helinho e a Penske ficarem com os brios em
ponto de bala, e em Fontana, o brasileiro andou muito bem, só tendo o azar de
trocar sua asa logo antes de surgir uma bandeira amarela. Mas mesmo que isso
não ocorresse, já não adiantaria: mesmo que o brasileiro vencesse a corrida,
ainda assim Dixon terminaria em 6°, posição mais do que suficiente para lhe
garantir o título. Dixon foi ousado em várias corridas desde Pocono, e sua
escalada deveria ter motivado a Penske e Hélio a cerrarem a marcação para
garantir o título. Não que o time de Roger Penske tenha exatamente dormido no ponto,
mas certamente poderia ter conseguido muito mais se não tivessem sido tão
prudentes e conservadores, por assim dizer. Melhor para o piloto da Ganassi,
que mesmo quando parecia ter perdido o páreo, continuou vindo para cima com
tudo. E colheu os louros da vitória, mais do que merecidos. Foi uma recompensa
à sua bravura e tenacidade, e também à sua determinação impetuosa em algumas
provas.
Com
esta conquista, Dixon empata com Sam Hornish Jr. em número de títulos da IRL,
ficando atrás apenas do escocês Dario Franchiti, que é o único tetracampeão da
categoria. Desconsidero a Fórmula Indy porque a IRL é uma categoria que nasceu
em 1996, e para mim, trata-se de outro campeonato, em que pese a chamada
"reunificação" propalada em 2008, que a rigor nada mais foi do que o
fechamento do campeonato da Indy original, tendo sobrado apenas a Indy Racing
League.
Aliás,
Dixon estreou na F-Indy em 2001, correndo pela equipe PacWest, tendo como
companheiro naquele ano o brasileiro Maurício Gugelmim. Para um ano de estréia,
o neozelandês foi bem, conseguindo até uma vitória. No ano seguinte, com o fim
da PacWest, ele migraria para a equipe Ganassi, iniciando uma relação que dura
até hoje. Não foi uma caminhada tranquila: houve vários percalços, mas também
momentos gloriosos. Ao fim de 2002, Chip Ganassi debandaria para a IRL, e as
estruturas de um time da F-Indy, claramente reconhecidos como superiores aos da
IRL, fez a concorrência sentir o impacto: Dixon foi campeão em seu ano de
estréia na categoria, derrotando outro time que havia migrado da F-Indy para a
IRL: a Penske, com sua dupla brasileira, Gil de Ferran e Hélio Castro Neves.
Juntos de Tony Kanaan, liderando a equipe Andretti-Green, as equipes do certame
de Tony George comeram poeira naquele ano.
Na
primeira competição travada no novo campeonato, era a primeira derrota da
Penske para a Ganassi, e não seria a primeira. Para Dixon, entretanto, os dois
anos seguintes foram complicados, devido a inferioridade técnica do equipamento
adotado. Apenas em 2006 o time voltaria a mostrar sua força, e como piloto que
não desperdiça oportunidades, Dixon entrou na luta pelo campeonato novamente,
ficando em 4° lugar. Em 2007, ele travou uma luta titânica contra Dario
Franchiti, perdendo o título por apenas 13 pontos, mas mostrava que a Ganassi
estava de volta com tudo, o que confirmaria no ano seguinte, com a conquista do
bicampeonato, na segunda vez em que a Ganassi novamente derrotava a poderosa
equipe de Roger Penske.
A
partir de 2009, as maiores dores de cabeça do neozelandês não vieram da
concorrência, mas dentro de sua própria equipe: tendo contratado o escocês
Dario Franchiti para ser um de seus pilotos após uma passagem frustrada deste
pela Nascar, Dixon precisou de muita determinação e cabeça fria para não
sucumbir à avalanche de títulos enfileirada pelo novo companheiro de time, que
conquistou nada menos do que 3 campeonatos seguidos, em 2009, 2010, e 2011. No
primeiro ano da parceira, o título acabou decidido entre os dois pilotos da
Chip Ganassi, e Franchiti venceu Dixon por apenas 11 pontos, mesmo com o
neozelandês tendo 1 vitória a mais no campeonato.
Nos
dois anos seguintes, Dixon ficou um pouco à sombra de Franchiti na Ganassi. O
principal rival agora era Will Power, da Penske, que depois de luta ferrenha
durante todo o campeonato de 2010 e 2011, acabou ficando com o vice-campeonato,
contabilizando mais derrotas da Penske frente à Ganassi. Logo atrás de ambos
vinha Dixon, numa demonstração clara de que a luta dentro do time do velho Chip
foi bem dura: tanto ele quanto Franchiti poderiam muito bem terem sido
campeões. Faltou apenas um pouco de sorte, mas não dá para ganhar sempre.
No
ano passado, a Ganassi perdeu um pouco o ímpeto. A adoção dos novos chassis
DW12 da Dallara custou um tempo de adaptação mais longo do que se imaginava, e
pela primeira vez desde 2005,
a Chip Ganassi não demonstrava ter força para
impressionar os adversários na pista. Mas isso não foi suficiente para abater
Scott, que numa campanha bem regular, salvou a honra do time, ficando em 3°
lugar na competição. Foi a primeira temporada em que o neozelandês superou seu
companheiro de equipe escocês: Franchiti ficou em 7° no campeonato.
Neste
ano, a Ganassi fez uma primeira metade de temporada desconexa, e Dixon tinha
como melhor resultado apenas um pódio, na etapa do Alabama. Mas a partir de
Pocono, a escuderia conseguiu maravilhas no acerto de seus carros, e Scott
conseguiu uma segunda metade de temporada arrasadora, conquistando 4 vitórias.
Desde a corrida em Pocono, também foi nítida a perda de rendimento de Helinho,
tendo apenas 1 pódio no mesmo período. Dixon terminou o ano como o piloto com o
maior número de vitórias: 4, contra 3 de Will Power e James Hinchcliffe.
Descontando o infortúnio de Dario Franchitti na segunda prova de Houston, Dixon
teve um ano muito superior ao escocês, agora superado ainda mais do que no ano
anterior, tendo ficado apenas em 10° na classificação do campeonato, tendo
apenas 4 pódios e nenhuma vitória. E, claro, mais uma derrota da Penske para a
Ganassi, que aliás tem tudo para repetir a disputa em 2014. E a Ganassi ainda
contabilizou a vitória de Charlie Kimball em Mid-Ohio, empatando com a Andretti
Autosport em número de vitórias no ano: 5. Para a Penske, com apenas 4
triunfos, foi uma derrota dupla, não apenas perdeu o campeonato pelo 4° ano
consecutivo, como não conseguiu vencer mais que os concorrentes.
E
a disputa entre as equipes Penske e Ganassi será ainda maior em 2014. Se por um
lado a Penske contratou o colombiano Juan Pablo Montoya para reforçar seu time,
que continuará contando com o brasileiro Hélio Castro Neves e o australiano
Will Power, por seu lado, Chip Ganassi terá o reforço do brasileiro Tony Kanaan
em sua escuderia, um reforço considerável, e talvez muito mais efetivo do que a
estréia do piloto colombiano na Penske. Montoya andou nos últimos anos na
Nascar, e nunca conseguiu o mesmo destaque que teve na F-Indy. Ainda por cima,
ele ficou um pouco gordinho para os monopostos, mas já iniciou uma preparação
ferrenha para colocar-se de novo em forma para estar em ponto de bala quando se
sentar novamente em um monoposto, para o campeonato do ano que vem. Mesmo
assim, fica a dúvida do que Montoya poderá render na categoria. Uma dúvida que
praticamente inexiste no caso de Kanaan, que nas últimas 3 temporadas, deu
mostras de andar mais do que sua equipe KV o permitia, mostrando sua grande
capacidade como piloto. Será um duelo de titãs, com a Penske buscando o
primeiro campeonato de seus pilotos, enquanto no time de Chip Ganassi haverá 3
campeões: Dixon buscando o tetracampeonato; Franchiti buscando o
pentacampeonato, e Kanaan buscando o bicampeonato. Falta Charlie Kimball
desencantar, mas vai ser complicado tendo estes companheiros de equipe, mas não
quer dizer que seja impossível.
Sem
dúvida alguma, é um grande atrativo para o campeonato da IRL no próximo ano.
Fica a esperança de que a prometida transmissão da Bandeirantes para o
campeonato de 2014, ventilada pelos narradores durante a prova de Fontana, não
tenha sido apenas para "inglês ver", e as provas do campeonato
americano continuem a ser transmitidas para o Brasil. Infelizmente, a corrida em São Paulo já era, não
constando do calendário divulgado pela direção da Indycar para o ano que vem.
Espero que pelo menos a transmissão se mantenha, e com um esquema mais coerente
por parte da Bandeirantes, que tem um produto bom nas mãos, mas precisa decidir
fazer um melhor uso com ele do que anda fazendo nos últimos tempos.
E a F-1 disputa neste fim de semana o Grande Prêmio da Índia de F-1,
que é sua despedida do calendário da categoria, já não constando mais na
relação de provas do ano que vem. Dizem que volta em 2015, mas duvido. Mais uma
corrida que não conseguiu cativar o público, em um local para onde foi levada
motivada apenas pela gânancia de Bernie Ecclestone. Devemos ver a conquista
antecipada do título por Sebastian Vettel, que salvo um desastre completo para
o tricampeão alemão, deve ser decidido matematicamente neste domingo...
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