Cá
estou eu com mais uma postagem da seção Arquivo. A coluna de hoje é datada de
10 de maio de 1996, e o assunto era o Grande Prêmio de San Marino, que abrira a
temporada européia daquele ano no domingo anterior. E de quebra, mais algumas
notas sobre alguns outros assuntos na semana. Uma boa leitura a todos...
ÍMOLA, DOIS ANOS DEPOIS...
No
último domingo foi disputada mais uma edição do Grande Prêmio de San Marino de
F-1. Foi uma corrida com bastante emoção e disputa, e para variar, mostrou
algumas surpresas bem interessantes durante a corrida.
Mas,
voltar ao circuito de Ímola, depois do que aconteceu em 94, é algo que nos
deixa chocados e entristecidos. Há 2 anos, a F-1 e o Brasil perdiam o seu maior
campeão da atualidade. Podia não ser o campeão nos números em sua totalidade,
mas todos os reconheciam como um mito da velocidade. Uma lenda do automobilismo
que encantou a todos aqueles que sabem apreciar uma corrida automobilística em
sua essência. Foi aqui neste circuito que perdemos Ayrton Senna.
Senna
foi o último campão da geração surgida nos anos 1980, e sua morte abriu espaço
para a ascenção de Michael Schumacher. O piloto alemão, que já era considerado
a maior promessa da F-1 desde o surgimento do próprio Ayrton Senna em 1984, não
merecia tal destino. Não que seu talento esteja sendo colocado em dúvida:
Schumacher é um campeão com todos os méritos, mas provavelmente levará para
sempre a dúvida se ele teria todo o sucesso que tem hoje se tivesse que
continuar enfrentando Senna. Assim como o duelo de Ayrton com Alain Prost
monopolizou a categoria durante várias temporadas, um provável confronto
Senna-Schumacher poderia se estender por mais tempo até. Opiniões à parte, se
Senna ainda estivesse vivo e correndo, Schumacher não teria mesmo todo o cartaz
que tem hoje. O brasileiro, sem sombra de dúvida, estava acima do campeão
alemão de hoje.
Em
95, quando a F-1 retornou a este circuito, o clima era de certa inquietação
íntima: muitos sentiam-se como se Senna ainda estivesse por aqui. Falando em
poucas palavras, parecia que seu “fantasma” estava por perto. Alguns tinham até
a sensação de estarem sendo observados, sabe-se lá por quem ou como. A corrida
foi tranqüila e disputada, e felizmente, exorcizou o terrível clima que pairava
no circuito desde o trágico fim de semana de 94.
Já
este ano, as lembranças de 94 pareciam esquecidas para a grande maioria. Todos
se concentraram mais na disputa do GP. Talvez seja cruel dizer que o espetáculo
tem de continuar, aconteça o que acontecer, mas por outro lado também é verdade
que ficar remoendo o passado e levantar memórias dolorosas é algo que ninguém
gosta de fazer. Ao contrário de 95, quando as homenagens a Senna foram
inúmeras, este ano os eventos foram bem poucos e discretos. É de se
compreender: eu mesmo não gosto de lembrar do que aconteceu naquele dia. O
clima já estava conturbado pela morte de Roland Ratzemberger no treino de
sábado, e o astral de todos parecia anêmico, sem motivo aparente, como se fosse
um presságio de que uma tragédia iria acontecer. Houve também o forte acidente
de Rubens Barrichello, que foi até o menor dos males do fim de semana. Sem
sombra de dúvidas, é um GP que ninguém faz muita questão de lembrar mesmo o que
houve.
O
circuito Enzo e Dino Ferrari sempre me exerceu um fascínio especial. Suas
curvas características, retas, descidas e subidas, tudo neste circuito me
parecia especial em relação aos demais. Nunca soube explicar o porquê deste
fascínio, mas para ser sincero, acho que nem valeria a pena saber. Ímola perdeu
parte de seu charme com a morte de Senna, mas não todo ele.
É
uma pista que exige muito dos carros e costumava pôr à mostra as virtudes e
defeitos de qualquer carro. Outra característica incomum é a torcida: por ser
perto da sede da Ferrari, este GP é sempre considerado como uma prova da equipe
italiana. É a torcida mais devotada que um time de corridas já teve, e ela se
encarrega de dar a esta corrida um clima de festa.
Bom,
Ímola agora fica para trás. A F-1 segue agora para Mônaco, onde no próximo fim
de semana disputa mais um GP. Em 97,
a F-1 estará aqui novamente no circuito italiano para
mais um GP de San Marino, pequeno principado que fica próximo a Ímola, e que dá
nome oficial à corrida. Até lá, então, Ímola...
A F-1 está ficando melhor a cada corrida. Apesar de mais uma vitória de
Damon Hill, alguns pontos interessantes podem ser destacados na corrida do
último fim de semana: a McLaren voltou a liderar uma prova após um intervalo
bem grande, e o fez de forma convincente: David Couthard defendeu a liderança
com a faca entre os dentes de Michael Schumacher, cuja Ferrari mostrava nítida
evolução, conseguindo até andar em ritmo próximo da Williams. Entretanto, a
McLaren brilhou, mas não chegou: o piloto escocês acabou abandonando a corrida
perto do final. Ponto negativo para a Benetton, que mostrou que ainda não tem
um carro à altura de 94 e 95; Gerhard Berger salvou o 3º lugar enquanto Jean
Alesi voltou a fazer suas barbeiragens, e ficou em 6º por sorte da quebra dos
adversários. Quem também ficou a dever foi Jacques Villeneuve: esperava-se
muito mais do piloto canadense, pois era a primeira pista conhecida para ele. É
verdade que o pneu furado da 1ª volta estragou seus planos, mas também
esperava-se que Jacques não hesitasse na largada, devido ao maior conhecimento
da pista. A Jordan também ficou devendo, mas não Rubens Barrichello. Os pit
stops foram muito lentos e o problema dos freios impediram o piloto brasileiro
de consumar um ataque a Eddie Irvinne pelo 4º lugar da corida. Destaque para
Pedro Paulo Diniz, que tendo tratamento igual ao de Olivier Panis, fez sua
melhor corrida na categoria, superando seu colega de equipe e dando uma bela
canseira em Mika
Hakkinem , da McLaren. E a Williams, que tanto perdeu em 94 e
95 corridas na base da estratégia, desta vez surpreendeu a concorrência. Hill
estragou a festa da torcida da Ferrari, mas houve comemoração pelo 2º lugar de
Schumacher, e como não poderia deixar de ser, houve a tradicional invasão da
pista pelos torcedores logo após o fim da corrida. É a Itália, afinal...
Marco Greco, depois de ser despedido pela equipe Scandia, já arrumou um
lugar nas 500 Milhas de Indianápolis, que agora fazem parte da IRL, liga
paralela da Indy. Greco correrá pela Foyt Enterprises na corrida mais famosa do
mundo. A. J. Foyt, proprietário da equipe, foi 7 vezes campeão da F-Indy...
A FIA estuda uma possível ampliação do calendário da F-1 para 97. Em
lugar de 16 etapas, seriam 18. E candidatos é que não faltam: Áustria,
Indonésia, China, etc...
Nova fofoca no paddock de Ímola: a Daenwoo poderia estrear na F-1 em
97, fornecendo motores para a categoria. Especulações diriam que a Arrows,
agora associada à TWR, poderia estrear os novos motores orientais. Outras
fofocas dizem que os motores Honda da Ligier iriam para a equipe inglesa...
Começam os treinos para as maiores provas das categorias Indy: as 500
Milhas de Indianápolis, pela IRL; e a US 500, pela F-Indy. Ambas as etapas
serão disputadas no dia 26 de maio e terão 500 milhas de percurso cada uma. Os
treinos deste fim de semana irão preencher as primeiras filas de ambos os grids
de largada.