A
decisão do título da Indy Racing League, sábado passado, em Fontana, mais uma
vez deixou o australiano Will Power na fila de espera. O piloto da equipe
Penske chegou à etapa final do certame deste ano com 17 pontos de vantagem para
seu único adversário ainda em condições de tirar-lhe o título, o americano Ryan
Hunter-Reay, da Andretti. Todo mundo já começava a se perguntar, desde o início
dos treinos, se dessa vez Power desencavalhava, ou se continuaria na fila. A
vitória premiaria a persistência do australiano, que desde que chegou à equipe
de Roger Penske, virou um dos principais nomes da categoria, tendo deixado os
demais pilotos do time em sua sombra, incluindo aí o brasileiro Hélio Castro
Neves, tricampeão da Indy500. Uma derrota, contudo, significaria a continuação
de uma “maldição” do piloto, que agora acumula três vice-campeonatos
consecutivos. E a Penske, mais uma vez, fica sem conquistar o título, feito que
conseguiu apenas em 2006 com Sam Hornish Jr.
Apesar
da vantagem na classificação, tudo já indicava que a decisão poderia ser
dramática, e Will já entrava na pista em desvantagem pelo seu retrospecto:
Fontana é uma pista oval, um tipo de circuito onde Power nunca conseguiu
mostrar a desenvoltura com que guia nos circuitos mistos e urbanos. Para
complicar ainda mais a situação, a pista do Autoclub Speedway é um oval gigante,
categoria superspeedway, e a direção da categoria elevou a prova para a duração
de 500 milhas,
dando mais charme, e porque não, imprevisibilidade, à corrida derradeira do
campeonato. A corrida começou ainda sob a luz do Sol, para terminar à noite.
Corridas de 500 milhas
costumam ser uma loteria, onde não basta apenas ser rápido, é preciso ser
constante, e contar com a sorte para sobreviver à longa prova, que costuma
castigar pilotos e equipamentos.
O
grid da prova já teve um festival de punições por troca de motor, jogando
vários pilotos para o fim do grid, Power e Hunter-Reay inclusos. O americano
ficou pior do que Power (13ª lugar), tendo de largar da 22ª posição. Mas numa
prova de 500 milhas,
a posição de largada não costuma ser decisiva, e lá pelas tantas, Ryan já
estava à frente de Power na corrida, ainda que em posições de metade do grid
para trás. O australiano seguia logo atrás, e bastava fazer marcação em cima do
piloto da Andretti para faturar o caneco. Mas Power resolveu tentar ganhar
posições, e acabou cometendo o erro que o levou direto ao muro. Fim de corrida
e das chances de título? Ainda não.
A
prova ainda estava em curso, e a vantagem de pontuação de Power implicava que
Hunter-Reay precisava chegar entre os primeiros para levar o campeonato. E, aos
poucos, ele foi conseguindo chegar ao pelotão da frente. Nos boxes, os
mecânicos da Penske trabalharam como nunca para recolocar Power na corrida,
mesmo que para dar poucas voltas e ganhar mais uma posição, a fim de garantir
mais alguns pontos. Conseguiram, e Will voltou à pista, ainda que em ritmo mais
lento, para garantir mais alguns pontos, antes de abandonar de vez. Ryan agora
precisaria no mínimo de um 5° posto para faturar o caneco.
A
menos de 10 voltas para o fim, o acidente de Tony Kanaan ajudou a deixar o
clima mais conturbado: foi dada bandeira vermelha, decisão tomada pela direção
de prova para que o campeonato não terminasse em bandeira amarela. Ryan era 3°,
posição que lhe garantia o título, mas tudo poderia acontecer numa relargada.
Depois que a pista foi limpa e todos voltaram para as voltas finais, Ryan de
fato ainda perdeu posições, mas foi atrás de recuperar o prejuízo, e novamente
Takuma Sato partiu para o tudo ou nada nas voltas finais de uma corrida de 500 milhas; e assim como
aconteceu em Indianápolis, o japonês da equipe Rahal novamente foi para o muro,
desta vez forçando a corrida a terminar em bandeira amarela. Com o 4° lugar,
Ryan Hunter-Reay conquistou seu primeiro título na categoria. E Power, mais uma
vez, ficou na fila.
Ninguém
pode dizer que Hunter-Reay não mereceu o título: foi o piloto mais constante do
ano, e o que mais venceu, com 4 vitórias. Power teve seu melhor momento no
início do campeonato, ao vencer 3 corridas consecutivas (Alabama, Long Beach, e
Brasil), mas ficou nisso, embora tenha mantido uma boa regularidade também,
nunca deixando de ficar abaixo das posições cimeiras da classificação. Ryan
acumulou 468 pontos, conta 465 de Power. Scott Dixon, recuperando-se no
certame, faturou a 3ª posição, com 435 pontos. Hélio Castro Neves fez uma boa
temporada, mas vacilou em algumas corridas, terminando o ano na 4ª posição, com
431 pontos. Tony Kanaan, em seu segundo ano na KV, foi menos afortunado do que
em 2011: apenas 9° lugar, com 351 pontos. Já Rubens Barrichello, em seu
primeiro ano, sofreu para entrar nos eixos da nova categoria que escolheu,
terminando o ano em 12° lugar, com 289 pontos. Bia Figueiredo, que participou
apenas de duas corridas, foi a 29°, e Bruno Junqueira, que correu apenas uma
prova, o 35° e último colocado.
Certamente
Will Power terá nova chance no ano que vem. Mas o australiano precisa melhorar
o seu ponto fraco, que são os circuitos ovais. Apesar de não possuir a mesma
diversidade técnica da F-Indy original, a IRL agrega um calendário de pistas
com vários estilos. Se Power consegue mostrar domínio nos mistos e pistas
urbanas, nos ovais seu desempenho não tem melhorado desde que entrou para a
Penske. Protagonista permanente nos circuitos de rua e mistos, nos ovais Power
praticamente some em determinados momentos da corrida, e nas duas corridas de 500 milhas disputadas
este ano, ele praticamente bateu em ambas. No Texas, foi apenas o 8° colocado;
e em Milwaukee, somente o 12°. Em Iwoa, mais um abandono em pista oval. É
preciso saber equilibrar as performances nos diversos tipos de pista, e se não
melhorar nos ovais, Power precisará de um desempenho demolidor nas corridas de
rua e em autódromos, do contrário, vai ser difícil conquistar o título.
Para
2013, embora ainda em negociações, o campeonato deve ganhar mais uma ou duas
provas em ovais, que foram minoria este ano. Pocono, um superspeedway trioval,
é uma das pistas ovais cotadas para estrear na competição. Homestead, e até
Madison, podem entrar no certame, o que teoricamente já significa mais
complicação para o piloto australiano. Power ainda goza de muito prestígio na
Penske, e não é este vice-campeonato que vai minar a confiança que o time tem
em seu piloto, tanto que Power já estava com contrato renovado com o time há
tempos para a próxima temporada, enquanto Hélio Castro Neves só recentemente
ganhou sua renovação para 2013.
A boa notícia para Power é que Hunter-Reay recusou o
contrato oferecido por Roger Penske para assumir o carro que foi de Ryan
Briscoe nos últimos anos, e renovou com o time de Michael Andretti pelas
próximas duas temporadas. Ter o atual campeão da categoria na garagem ao lado
poderia ter um efeito moral bem ruim para Power na próxima temporada.
Mas
Power não pode baixar a guarda, pois Hélio Castro Neves, que ficou na sombra do
australiano durante os últimos 3 anos, pode desembestar no ano que vem, e ser
um oponente ainda mais perigoso do que Power, até por contar com o mesmo time
que ele. De qualquer maneira, o australiano vai precisar manter a cabeça fria e
focada para esquecer estas decisões dos últimos 3 anos. Power bateu na trave
novamente, ou melhor, no muro. Se continuar assim por mais um ano, talvez aí
isso comece a afetar sua imagem de piloto vencedor, pelo fato de “amarelar” nos
momentos decisivos.
A
Indy agora tem um longo intervalo até o ano que vem. Mais à frente, farei um
balanço do campeonato deste ano aqui na coluna, pesando alguns prós e contras
do certame de 2012. Até lá, então...
A F-1 entra hoje na pista das ruas de Cingapura para sua corrida mais
excêntrica do ano: o Grande Prêmio de Cingapura, única prova noturna da
categoria. Será que a McLaren mantém o domínio que exibe desde a Hungria? A
conferir...
Nenhum comentário:
Postar um comentário