sexta-feira, 21 de setembro de 2012

POWER NA TRAVE NOVAMENTE



            A decisão do título da Indy Racing League, sábado passado, em Fontana, mais uma vez deixou o australiano Will Power na fila de espera. O piloto da equipe Penske chegou à etapa final do certame deste ano com 17 pontos de vantagem para seu único adversário ainda em condições de tirar-lhe o título, o americano Ryan Hunter-Reay, da Andretti. Todo mundo já começava a se perguntar, desde o início dos treinos, se dessa vez Power desencavalhava, ou se continuaria na fila. A vitória premiaria a persistência do australiano, que desde que chegou à equipe de Roger Penske, virou um dos principais nomes da categoria, tendo deixado os demais pilotos do time em sua sombra, incluindo aí o brasileiro Hélio Castro Neves, tricampeão da Indy500. Uma derrota, contudo, significaria a continuação de uma “maldição” do piloto, que agora acumula três vice-campeonatos consecutivos. E a Penske, mais uma vez, fica sem conquistar o título, feito que conseguiu apenas em 2006 com Sam Hornish Jr.
            Apesar da vantagem na classificação, tudo já indicava que a decisão poderia ser dramática, e Will já entrava na pista em desvantagem pelo seu retrospecto: Fontana é uma pista oval, um tipo de circuito onde Power nunca conseguiu mostrar a desenvoltura com que guia nos circuitos mistos e urbanos. Para complicar ainda mais a situação, a pista do Autoclub Speedway é um oval gigante, categoria superspeedway, e a direção da categoria elevou a prova para a duração de 500 milhas, dando mais charme, e porque não, imprevisibilidade, à corrida derradeira do campeonato. A corrida começou ainda sob a luz do Sol, para terminar à noite. Corridas de 500 milhas costumam ser uma loteria, onde não basta apenas ser rápido, é preciso ser constante, e contar com a sorte para sobreviver à longa prova, que costuma castigar pilotos e equipamentos.
            O grid da prova já teve um festival de punições por troca de motor, jogando vários pilotos para o fim do grid, Power e Hunter-Reay inclusos. O americano ficou pior do que Power (13ª lugar), tendo de largar da 22ª posição. Mas numa prova de 500 milhas, a posição de largada não costuma ser decisiva, e lá pelas tantas, Ryan já estava à frente de Power na corrida, ainda que em posições de metade do grid para trás. O australiano seguia logo atrás, e bastava fazer marcação em cima do piloto da Andretti para faturar o caneco. Mas Power resolveu tentar ganhar posições, e acabou cometendo o erro que o levou direto ao muro. Fim de corrida e das chances de título? Ainda não.
            A prova ainda estava em curso, e a vantagem de pontuação de Power implicava que Hunter-Reay precisava chegar entre os primeiros para levar o campeonato. E, aos poucos, ele foi conseguindo chegar ao pelotão da frente. Nos boxes, os mecânicos da Penske trabalharam como nunca para recolocar Power na corrida, mesmo que para dar poucas voltas e ganhar mais uma posição, a fim de garantir mais alguns pontos. Conseguiram, e Will voltou à pista, ainda que em ritmo mais lento, para garantir mais alguns pontos, antes de abandonar de vez. Ryan agora precisaria no mínimo de um 5° posto para faturar o caneco.
            A menos de 10 voltas para o fim, o acidente de Tony Kanaan ajudou a deixar o clima mais conturbado: foi dada bandeira vermelha, decisão tomada pela direção de prova para que o campeonato não terminasse em bandeira amarela. Ryan era 3°, posição que lhe garantia o título, mas tudo poderia acontecer numa relargada. Depois que a pista foi limpa e todos voltaram para as voltas finais, Ryan de fato ainda perdeu posições, mas foi atrás de recuperar o prejuízo, e novamente Takuma Sato partiu para o tudo ou nada nas voltas finais de uma corrida de 500 milhas; e assim como aconteceu em Indianápolis, o japonês da equipe Rahal novamente foi para o muro, desta vez forçando a corrida a terminar em bandeira amarela. Com o 4° lugar, Ryan Hunter-Reay conquistou seu primeiro título na categoria. E Power, mais uma vez, ficou na fila.
            Ninguém pode dizer que Hunter-Reay não mereceu o título: foi o piloto mais constante do ano, e o que mais venceu, com 4 vitórias. Power teve seu melhor momento no início do campeonato, ao vencer 3 corridas consecutivas (Alabama, Long Beach, e Brasil), mas ficou nisso, embora tenha mantido uma boa regularidade também, nunca deixando de ficar abaixo das posições cimeiras da classificação. Ryan acumulou 468 pontos, conta 465 de Power. Scott Dixon, recuperando-se no certame, faturou a 3ª posição, com 435 pontos. Hélio Castro Neves fez uma boa temporada, mas vacilou em algumas corridas, terminando o ano na 4ª posição, com 431 pontos. Tony Kanaan, em seu segundo ano na KV, foi menos afortunado do que em 2011: apenas 9° lugar, com 351 pontos. Já Rubens Barrichello, em seu primeiro ano, sofreu para entrar nos eixos da nova categoria que escolheu, terminando o ano em 12° lugar, com 289 pontos. Bia Figueiredo, que participou apenas de duas corridas, foi a 29°, e Bruno Junqueira, que correu apenas uma prova, o 35° e último colocado.
            Certamente Will Power terá nova chance no ano que vem. Mas o australiano precisa melhorar o seu ponto fraco, que são os circuitos ovais. Apesar de não possuir a mesma diversidade técnica da F-Indy original, a IRL agrega um calendário de pistas com vários estilos. Se Power consegue mostrar domínio nos mistos e pistas urbanas, nos ovais seu desempenho não tem melhorado desde que entrou para a Penske. Protagonista permanente nos circuitos de rua e mistos, nos ovais Power praticamente some em determinados momentos da corrida, e nas duas corridas de 500 milhas disputadas este ano, ele praticamente bateu em ambas. No Texas, foi apenas o 8° colocado; e em Milwaukee, somente o 12°. Em Iwoa, mais um abandono em pista oval. É preciso saber equilibrar as performances nos diversos tipos de pista, e se não melhorar nos ovais, Power precisará de um desempenho demolidor nas corridas de rua e em autódromos, do contrário, vai ser difícil conquistar o título.
            Para 2013, embora ainda em negociações, o campeonato deve ganhar mais uma ou duas provas em ovais, que foram minoria este ano. Pocono, um superspeedway trioval, é uma das pistas ovais cotadas para estrear na competição. Homestead, e até Madison, podem entrar no certame, o que teoricamente já significa mais complicação para o piloto australiano. Power ainda goza de muito prestígio na Penske, e não é este vice-campeonato que vai minar a confiança que o time tem em seu piloto, tanto que Power já estava com contrato renovado com o time há tempos para a próxima temporada, enquanto Hélio Castro Neves só recentemente ganhou sua renovação para 2013. A boa notícia para Power é que Hunter-Reay recusou o contrato oferecido por Roger Penske para assumir o carro que foi de Ryan Briscoe nos últimos anos, e renovou com o time de Michael Andretti pelas próximas duas temporadas. Ter o atual campeão da categoria na garagem ao lado poderia ter um efeito moral bem ruim para Power na próxima temporada.
            Mas Power não pode baixar a guarda, pois Hélio Castro Neves, que ficou na sombra do australiano durante os últimos 3 anos, pode desembestar no ano que vem, e ser um oponente ainda mais perigoso do que Power, até por contar com o mesmo time que ele. De qualquer maneira, o australiano vai precisar manter a cabeça fria e focada para esquecer estas decisões dos últimos 3 anos. Power bateu na trave novamente, ou melhor, no muro. Se continuar assim por mais um ano, talvez aí isso comece a afetar sua imagem de piloto vencedor, pelo fato de “amarelar” nos momentos decisivos.
            A Indy agora tem um longo intervalo até o ano que vem. Mais à frente, farei um balanço do campeonato deste ano aqui na coluna, pesando alguns prós e contras do certame de 2012. Até lá, então...


A F-1 entra hoje na pista das ruas de Cingapura para sua corrida mais excêntrica do ano: o Grande Prêmio de Cingapura, única prova noturna da categoria. Será que a McLaren mantém o domínio que exibe desde a Hungria? A conferir...

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