A
fofoca surgiu no meio da semana, vinda de Eddie Jordan, que depois de vender
sua escuderia na F-1, continuou freqüentando muito bem o meio, agora a serviço
da TV nas transmissões da categoria, e cravou que Michael Schumacher deve parar
de vez, para seu lugar no time alemão ser ocupado por ninguém menos que Lewis
Hamilton, que estaria trocando de time prateado para a próxima temporada,
encerrando assim sua ligação desde a mais tenra idade da carreira automobilística
com o time de Woking. Verdade, ou apenas mais um furo falso que existem aos
montes na F-1? Podem ser ambos, até sabermos realmente a verdade.
O
campeão de 2008 está em pleno processo de renovação com a McLaren, que já
garantiu os serviços de Jenson Button no ano passado por mais algumas
temporadas. Já Hamilton tem como grandes empecilhos para sua renovação a questão
salarial, e a permissão do time para poder usar patrocínios pessoais, a fim de
capitalizar sua fama como piloto campeão. A McLaren oferece menos, e quanto à
questão dos patrocínios pessoais, nada feito, pelo menos não no quanto Lewis
quer ter de espaço para se autopromover. Achar o meio termo é a solução lógica,
mas ao que tudo indica, está sendo um pouco mais complicado do que se imagina. A
única certeza no momento, no paddock em Monza, é que ainda não tem nada
definido. As negociações prosseguem. Resta saber até quando.
Pela
lógica, Hamilton tem de ficar na McLaren. É um time campeão, com um carro de
ponta, e possui uma estrutura invejável na categoria. Salvo raras ocasiões,
guiar para a McLaren sempre foi garantia de poder vencer corridas e disputar o
título. Deveria ser o bastante? Para a grande maioria dos pilotos, sim. Para
Hamilton, pelo visto, não é tudo. Ele quer mais do que isso. E volta e meia,
fala que sua paciência com o time inglês anda meio curta. Se ele tem razão em
querer mais, isso depende da opinião das pessoas com quem você fala.
Lewis
Hamilton estreou em 2007 na categoria máxima do automobilismo. Preparado e
apoiado pela McLaren há muitos anos, o jovem inglês já marcou presença por ser
o primeiro piloto negro a chegar à F-1. Dono de um inegável talento, o intrépido
inglesinho chegou mostrando as garras, deixando ninguém menos do que Fernando
Alonso, o então bicampeão do mundo, no sufoco para permanecer à sua frente na
pista. No final do campeonato, o espanhol, vítima de sua própria megalomania,
onde quer ser sempre o centro das atenções de tudo e de todos dentro de um
time, pulou fora de Woking, não suportando dividir espaço na McLaren. Hamilton
fraquejou nas etapas finais, perdendo um título que era considerado até
barbada, dada a competitividade da McLaren. Empatado com Alonso em pontos, viu
Kimmi Raikkonem, da Ferrari, faturar o campeonato por apenas 1 ponto. Foi uma
vitória com moral, afinal, ainda era considerado um novato, e seus erros foram
até perdoados. No ano seguinte, acabou enfim campeão, aproveitando os erros
cometidos pela Ferrari e Felipe Massa.
Hamilton
teve a estréia que todo piloto sonha na F-1: chegou ganhando um carro vencedor,
e disputou o título logo em seu primeiro ano, e ainda por cima, passou a ser o
queridinho da equipe, depois das cismas criadas por Alonso dentro do time e com
o próprio Ron Dennis, que tratava Lewis como a um filho praticamente. Tudo dava
a entender que estávamos vendo um novo astro na categoria, com chances de obter
recordes e títulos com naturalidade. Tinha talento nato, e os erros cometidos
tenderiam a desaparecer com os anos, com mais experiência e, claro, maturidade.
Mas,
de 2009 para cá, Hamilton não viveu mais como viveu os anos de 2007 e 2008. Em 2009, a McLaren iniciou mal
o ano, e embora tenha se recuperado, o título não era mais possível. Em 2010, a Red Bull coroou
Sebastian Vettel campeão, que repetiria o feito em 2011 numa escala sem oposição.
E este ano, embora esteja na briga, os holofotes da mídia concentram-se mais
nos feitos de Fernando Alonso. Hamilton, embora também esteja em destaque, está
na companhia de outros nomes de quilate como Vettel, Mark Webber, Raikkonem, e
até Jenson Button. Não ser a “estrela” maior da F-1 parece estar sendo o
principal problema. Isso pode ser reforçado ainda mais pelo fato de sua
carreira atualmente ser gerenciada por alguém que não é do ramo automobilístico:
Simon Fuller, cujo forte são estrelas do meio artístico. E dizem, ele seria um
dos principais responsáveis por incentivar Hamilton a explorar seu lado
comercial com mais intensidade, e por isso, querer espaço para patrocínio pessoal
na McLaren. Potencializar seu nome famoso é algo até justo. Mas a McLaren tem
suas regras, e se elas impõem limites a isso, ele deveria buscar outras opções
para explorar oportunidades de merchandising.
Hamilton
também parece esquecer a realidade dos dias de hoje: a Europa está em crise, e
o meio automobilístico está sofrendo para achar patrocínios como se achava
antigamente. Mesmo a F-1 tenta diminuir como pode seus gastos. E a McLaren também
quer pagar menos para renovar com o inglês, cuja última renovação foi num
momento muito mais favorável economicamente, para não falar que o time ainda
era associado com a Mercedes, situação que não existe mais. A fábrica alemã
comprou a Brawn GP e transformou em seu novo time de fábrica. Em outras
palavras, Woking deixou de contar com os recursos alemães. Seu orçamento ainda é
fabuloso, mas a abundância de recursos deixou de existir. Lewis deveria pelo
menos ser solidário com o time que sempre lhe deu tudo numa hora destas.
Ir
para a Mercedes implica que Michael Schumacher se aposente ao fim deste ano. E
a situação do heptacampeão também está indefinida. Nico Rosberg é nome certo
para ficar, por ter alcançado os melhores resultados da Mercedes desde sua
volta como time em 2010, além de ser um piloto jovem e de futuro nos planos da
marca. Se Michael realmente sair, fica a pergunta se Hamilton trocaria o certo
pelo duvidoso: nestas 3 temporadas de retorno, a Mercedes conseguiu apenas 1
vitória, este ano, na China, e nunca conseguiu entrar na luta pelo título. A
McLaren, por sua vez, teve sempre resultados superiores, além de ter disputado
os primeiros lugares do campeonato. Hamilton fala que sua meta é vencer sempre,
mas na Mercedes essa meta, salvo se o time produzir um supercarro em 2013,
parece mais difícil de ser atingida.
Se
Hamilton acredita que pode transformar o time, e torná-lo vencedor, terá de ter
paciência para conseguir isso. E tempo pode ser algo que ele não tem, e nem terá
para tentar: já corre nos bastidores um rumor de que a Mercedes, caso seu time
não deslanche de vez em 2013, pode voltar a ser apenas fornecedora de motores a
partir de 2014, quando entram os novos propulsores turbo. A idéia seria
terceirizar a escuderia de F-1,
a exemplo do que a Renault fez com seu time, que até o
ano passado ainda usava o nome da fábrica francesa, mas que já havia sido
adquirido pelo grupo Geni. Se o time for passado adiante, quem garante que
ainda haverá as condições necessárias para ser uma equipe de ponta? As chances
de o desempenho cair são maiores do que as de subir. Lewis vai ter a ousadia de
tentar assumir um desafio assim? Vai arriscar fazer isso?
Hamilton,
por sua vez, andou forçando a barra de sua popularidade na McLaren, em especial
no ano passado, quando cometeu erros crassos em diversas corridas. No fim de
semana passado, não digeriu bem ter ficado atrás de Button na classificação
para a prova belga, e até andou dando com a língua – no caso a imagem de um dos
mapas de telemetria do time, nos dentes do Twitter, o que foi considerado muito
ruim pela escuderia, por expor dados sigilosos do time. Se o inglês quer mostrar
que pode ir para outra escuderia, podia falar isso a portas fechadas, sem
precisar entrar em rota de colisão com a direção da McLaren. Ele só tem a
perder assim.
Na
Ferrari, com Alonso por lá, ele não iria; na Red Bull, o mesmo vale pela
presença de Vettel. Nos demais times,
Mercedes inclusa, não há espaço ou não há a mesma performance ostentada pela
McLaren. Se ele quiser continuar vencendo, está num beco sem saída. Ir para a
Mercedes depende de um fator externo, a saída de Schumacher. Mesmo que a
Mercedes resolva dispensar o alemão, de forma até unilateral, para ter
Hamilton, as condições de competitividade da equipe germânica estão abaixo das
de Woking. E se Hamilton está impaciente com a McLaren, quanto tempo durará sua
paciência com Stuttgart?
Hamilton
tinha mostrado este ano que havia voltado a manter a cabeça fria e focado na
pilotagem, sem se envolver em confusões. E está na luta pelo título. Agora,
criando esta cisma em sua renovação, pode jogar por terra novamente mais um
campeonato. A maturidade parece que está longe ainda de Hamilton,
infelizmente...
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