A
Fórmula 1 entra de férias neste mês de agosto, e até a próxima corrida os times
terão seus tradicionais períodos de férias de meio de ano, lembrando que neste
momento a Europa está no meio do versão, e nada mais justo do que o pessoal que
dá duro o ano inteiro na competição ter uma pausa, e voltarem com as baterias
renovadas para a segunda metade do campeonato, que começou domingo passado na
Hungria. A prova húngara, ao contrário do ano passado, quando foi bem agitada,
mostrou que uma pista travada consegue neutralizar até mesmo os dispositivos
que a FIA implantou para se estimular as disputas de posição, no caso, o
sistema Kers, que dá uma cavalaria extra ao carro por alguns segundos, e o DRS
(Drag Reduction System – Sistema de Redução de Arrasto, em português; ou mais
simplesmente, a asa móvel traseira). A corrida em Hungaroring foi a mais chata
da temporada até agora, e a única coisa que poderia causar um agito maior – a
chuva, esteve presente apenas na sexta-feira, tendo ido embora no resto do fim
de semana. E aliás, a chuva foi a responsável pela prova húngara em 2011 ter
sido muito melhor.
As
disputas de posição foram poucas, e em todos os setores da corrida, com poucas
variações. Quem largou na frente, chegou na frente, salvo um ou outro caso
excepcional, como Kimmi Raikkonem, que foi um competente 2° lugar após partir
em 5°. Bruno Senna ganhou posições na largada e com um ritmo forte, manteve-se
sempre nos pontos, terminando em 7°. Em contrapartida, Felipe Massa, que largava
à frente do compatriota, caiu para trás no arranque da corrida e por lá ficou
na 9ª posição. Da mesma forma, Pastor Maldonado, da Williams, também caiu para
trás na largada, e não conseguiu fazer mais nada durante a corrida, ainda tendo
domado uma punição injusta por tocar rodas em disputa de posição com Paul Di
Resta. Mas, particularidades do circuito de Budapeste à parte, o ritmo de
corrida dos pilotos e seus carros este ano tem sido muito equilibrado, por
vários fatores que têm atuado em conjunto, e em separado até, na maior parte
das vezes.
Consumo
de pneu, estabilidade do acerto e afinidade do chassi para com algumas pistas,
além da performance do piloto, e a duração e comportamento incerto dos
compostos dos pneus da Pirelli tem proporcionado um campeonato dos mais
disputados. O equilíbrio nas primeiras 7 corridas foi fenomenal, ao assistirmos
a 7 pilotos diferentes vencendo corridas. De lá para cá, a coisa parece ter
ficado mais previsível, com Fernando Alonso a desgarrar na liderança do campeonato,
enquanto Mark Webber e Lewis Hamilton conseguiram repetir mais de uma vitória,
mas o desempenho da grande maioria dos pilotos tem sido, com raras exceções,
uma verdadeira montanha russa. Tem quem ande bem apenas em uma corrida ou
outra; outros que brilham apenas uma vez; carros que alternam bons e maus
rendimentos, de acordo com a pista e seu trabalho de evolução, etc. Muita coisa
andou acontecendo este ano, e isso tem ajudado o certame a ficar bem
interessante.
Um
fator ficou patente em todas as variáveis vistas nesta temporada: sofrer
percalços durante a corrida tornou-se algo fatal. Mesmo quando se está ao
volante do melhor carro na corrida em questão, se algo der errado ou sofrer
algum azar, a prova pode ir para as cucuias, e sem chance de recuperação, a
menos que ocorra um milagre. Podemos citar o exemplo de Felipe Massa para
demonstrar a veracidade deste fator: desde Mônaco, onde mudou a forma de
acertar seu carro, o piloto brasileiro, que vinha fazendo uma temporada
absolutamente pífia na Ferrari, melhorou muito de ritmo, a ponto de andar, e
até terminar as corridas quase na mesma toada de Fernando Alonso, disparado o
melhor piloto do ano até aqui na opinião de muitos. As performances de Massa
melhoraram, mas mesmo assim, não conseguiu até agora mostrar resultados
condizentes com seu esforço na pista. O que acontece então?
Acontece
que o piloto brasileiro enfrenta uma série de percalços e/ou azares que
lamentavelmente estraga sua corrida, uma vez que não há como conseguir
recuperar o tempo perdido, numa temporada onde muita gente tem andado de forma
equilibrada. Vejamos o exemplo do Canadá: Felipe largou em 6°, enquanto Alonso
foi o 3° no grid. Massa iniciou a corrida bem, pilotando de forma agressiva e
determinada. Mas, logo depois, rodou, e ali sua prova foi embora, pois apesar
de ter retomado a corrida, o tempo em que perdeu na rodada e retorno à pista
nunca foi recuperado: ele terminou em 10°, cerca de 12s atrás de Fernando
Alonso, que enfrentou o desgaste acentuado de seus pneus nas voltas finais,
despencando da 1ª para a 5ª posição. Da mesma forma, o que ocorreu na Hungria:
na largada, Felipe caiu para 9°, e por lá ficou, incapaz de recuperar as
posições perdidas no arranque, mesmo tentando estratégias de Box diferenciadas.
Na Alemanha, foi igual: se envolveu em um toque logo na largada, perdendo o
bico do carro. Precisou parar para trocar logo a seguir, e mesmo retornando à
corrida e apresentado um ritmo forte, não conseguiu sair lá de trás. O mesmo
vale para Bruno Senna, que na prova germânica, também se envolveu em toque com
outro carro, perdendo o bico e tendo um pneu furado, o que o fez perder ainda
mais tempo até chegar ao Box, e voltar à prova.
Mas
não são apenas os brasileiros que tem tido esse enguiço: Lewis Hamilton também
ficou encrencado na Alemanha, ao ter um pneu furado logo no início da corrida.
E até chegar o Box e conseguir voltar à pista, a prova foi para o brejo: mesmo
tendo um dos carros mais rápidos da corrida, o inglês da McLaren não conseguiu
sair das últimas posições, mesmo fazendo um brilho ocasional se metendo no meio
da briga entre Sebastian Vettel e Alonso pela liderança da corrida. Da mesma
forma, Romain Grossjean, que também tinha um carro extremamente rápido, depois
de seu enrosco com Bruno, também despencou lá para trás, onde ficou todo o
resto da prova. Isso mostra que qualquer percalço, seja ele um erro de
pilotagem, um azar momentâneo, ou um acontecimento além do seu controle, e a
corrida praticamente está perdida. Nenhum carro ou piloto tem apresentado um
desempenho tão superior que consiga fazer o piloto recuperar o tempo perdido na
corrida decorrente de algo fora do roteiro.
Por
momentos, utilizar compostos de pneus diferentes têm produzido alguns
resultados capazes de modificar a equação dos resultados, mas o efeito é muito
limitado, nem sempre conseguindo reverter algumas situações. É preciso agir no
momento certo para apresentar resultados, e ainda se precisa contar com a sorte
em alguns momentos. Hamilton mudou sua estratégia no Canadá, parando para
trocar pneus quando notou que eles estavam perdendo rendimento. Fez a troca em
tempo de conseguir recuperar o tempo perdido, antes que fosse tarde demais, o
que aconteceu parcialmente com Vettel, que conseguiu recuperar algumas
posições, o que Alonso não fez, até que fosse tarde demais para se efetuar uma
troca também, tendo de ficar na pista, e com isso perdendo posições nas voltas
finais da corrida. Em outros, disputar muitas posições tem feito vários pilotos
ficarem impossibilitados de avançar mais durante as corridas, como é o caso da
Lótus, que tem tido, na grande maioria das corridas, classificações ainda meio
conservadoras. Precisando sair lá de trás, o tempo perdido na disputa de
posições tem sido crucial para, atingindo posições entre os ponteiros, esgotarem
as capacidades de avançar mais. Na Hungria, Raikkonem conseguiu ser mais
eficiente que Grossjean, que largou na 1ª fila. Mas quando conseguiu ficar em
2°, já havia gasto boa parte de seus pneus na luta para chegar ali, e Hamilton
tinha folga suficiente para manter a corrida sob controle sem penalizar seu
carro, o que também foi o caso de Alonso na Alemanha, onde Jenson Button e
Sebastian Vettel exauriram suas forças em duelo um contra o outro, enquanto o
espanhol da Ferrari apenas administrava a diferença e procurava poupar o
equipamento e pneus para o caso de ser mais pressionado. Como os carros tem
andado de forma mais equilibrada, as disputas de posição ficam mais ferrenhas,
e com desempenhos próximos em boa parte da corrida, as ultrapassagens têm sido
trabalhosas, ou feito perder muito tempo nas disputas.
A
oscilação de desempenho tem contribuído para resultados irregulares de alguns
times. A Mercedes, por exemplo, quase sempre tem se saído bem nos treinos, mas
na corrida, sua performance não é das melhores, caindo lá para trás, situação
que é ainda mais acentuada quando eles já não conseguem ir bem na
classificação, como ocorreu em Hungaroring. Por outro lado, a Sauber tem
demonstrado excelente ritmo em algumas provas, mas o fato de largar lá atrás limita
as chances de avançar, assim como na Lótus. Esse desempenho sobe-e-desce também
tem vitimado a Force Índia e a Williams, que ora andam bem, ora não andam.
A
conclusão óbvia é que o equilíbrio que o campeonato tem demonstrado também
mostra que quando os carros andam muito equilibrados, não há espaço para
recuperações milagrosas. Com uma ou outra exceção, vimos alguns resultados
inesperados, como foi a vitória de Alonso na Malásia, mesmo com um carro que
nem de longe seria capaz de vencer uma corrida naquele momento. Mas foi uma
prova com chuva, e isso torna parte da corrida uma verdadeira loteria, onde
quem consegue aliar o talento às condições do momento pode produzir alguns
milagres. Conseguir fazer uma corrida perfeita, ou perto disso, é a chave para
ser bem-sucedido nesta temporada. E aliar constância e visão de corrida, que é
o que Alonso está fazendo, marcando pontos em todos os GPs do ano até agora, em
que pese o fato de Fernando ter tido também sorte de escapar de qualquer
problema, o que os concorrentes não têm conseguido fazer.
A
única recuperação possível é em termos de campeonato: com tanto equilíbrio,
alguns bons resultados podem relançar alguns pilotos na briga. Lewis Hamilton
liderava ao vencer no Canadá, mas de lá para cá, só se reencontrou na Hungria,
e embora esteja com uma boa desvantagem de pontos, não pode ser desprezado na
luta pelo título, ainda tendo 9 etapas pela frente. A dupla da Red Bull está
ali pertinho, e chegando aos poucos, Kimmi Raikkonem pode ser um perigo se for
ignorado. É uma luta que não se resume aos ponteiros na classificação, mas
também ao bloco intermediário, como mostra Bruno Senna, que vai aos poucos
alcançando Maldonado no campeonato, uma vez que o venezuelano não tem
conseguido transformar sua velocidade em resultados.
Não
dá para dizer que a segunda metade da temporada vai ser tão emocionante e
equilibrada como foi a primeira. Mas é prematuro dizer que não haverá mais
surpresas nas corridas que ainda teremos este ano.
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