De
volta com a seção Arquivo, trago o último texto do ano de 1995, que tratava de
um tema que era mais do que óbvio na época: a dependência que a Benetton teria
por fazer seus carros unicamente para o estilo de pilotagem de Michael
Schumacher, cujos parâmetros de comportamento do carro não eram os mais
adequados para os demais pilotos. Dito e feito: o time das cores multicoloridas
nunca mais foi o mesmo, e evidenciou um erro de planejamento do qual o time
nunca conseguiu se recuperar, mesmo contando ainda com pilotos capazes de
vencer corridas. Uma boa leitura, e, na semana que vem, começo a trazer as
colunas do ano de 1996...
PERDA DE PARÂMETROS
Adriano de Avance Moreno
Na
F-1, tudo é feito em função da melhora contínua e do ganho de velocidade e
desempenho sempre. E como se descobre que algo está evoluindo ou não?
Comparando os parâmetros. Para quem não sabe, parâmetros são medidas
estabelecidas, definidas e precisas, estipuladas por meios quaisquer. Na F-1,
todo o desempenho de um bólido é estudado, e aí são definidos seus parâmetros
de desempenho. No teste seguinte, os resultados são comparados, tomando-se
todas as variáveis possíveis e as condições de pista e clima. Apurado tudo, o
novo parâmetro conseguido é comparado com o anterior, e com isso descobre-se se
conseguiram uma evolução ou não no desempenho do carro.
Apesar
de toda a tecnologia hoje existente no campo da F-1, uma só pessoa ainda
continua sendo um dado vital na hora de fornecer parâmetros de estudo de
desenvolvimento: o piloto. Cada piloto tem o seu estilo e limite de capacidade,
peculiar a cada um, bem como sua sensibilidade e capacidade técnica de acertar
um carro. O piloto vai para a pista, sente o carro, alterna voltas rápidas e
lentas, procura ver como o monoposto age nas curvas, nas retas, tudo isso. E na
volta aos boxes, ele repassa todas as impressões para os engenheiros, que junto
com a telemetria do carro, irão procurar respostas para possíveis perguntas e
as soluções para elas.
Quando
as equipes mudam de pilotos, elas perdem parte de seus parâmetros de
desenvolvimento justamente porque cada piloto tem suas características próprias
de desenvolver um carro e de sentir suas reações. Isso varia de piloto para
piloto, mas existem diferenças. Dependendo da situação, a equipe pode ficar
muito prejudicada quando muda de piloto. Isso pode ser visto nos testes de
inverno que as equipes da F-1 vem realizando nas pistas européias.
A
Benetton é quem vem sofrendo muito neste campo. Com a saída de Michael
Schumacher para a Ferrari, a equipe de Flavio Briatore perdeu todos os seus
parâmetros de testes. O estilo de pilotagem do piloto alemão, que sempre
preferia um carro nervoso e com tendência a derrapar de traseira nas curvas,
não vai encontrar semelhança nos estilos de pilotagem dos novos pilotos da
casa, Jean Alesi e Gerhard Berger. O resultado é que, nos testes realizados nos
últimos dias nos circuitos do Estoril e da Catalunha, a Benetton ficou bem para
trás, pelo fato de Alesi e Berger não conseguirem guiar o carro no limite.
Berger bem que tentou, mas acabou com 3 carros inteiros devido a acidentes na
busca pelo limite, e até o momento já declarou que não conseguirá guiar a
contento um carro com este tipo de comportamento.
Há
algumas semanas eu já falava que a Benetton iria ter de repensar seus carros,
que desde 93 eram concebidos especificamente para o estilo de pilotagem de
Schumacher. Todos os seus companheiros de equipe desde então reclamaram que não
conseguiam dirigir o carro no limite extremo, porque o risco de um forte
acidente era muito alto. Johnny Herbert foi quem chiou mais, porque por mais
que guiasse no seu limite, não conseguia se aproximar de seu companheiro de
escuderia. Schumacher sempre contornou o comportamento nervoso do carro com seu
talento, mas ficou inúmeras vezes à beira do desastre, indo sempre nos limites.
O alemão conseguiu dar conta do recado, para sua sorte, mas agora ele foi para
a Ferrari, e a Benetton tem novos pilotos e precisará de seus desempenhos para
criar o novo B196 com o qual irá competir na próxima temporada. O problema é
que não há parâmetros confiáveis para desenvolver o carro. Os dados fornecidos
por Schumacher não são coincidentes com os obtidos por Alesi e Berger, e por
conseguinte, deverão atrasar significativamente os trabalhos da Benetton para a
próxima temporada.
A
Ferrari também trocou seus dois pilotos, mas vai sentir menos o problema, pois
seus carros eram mais neutros e calmos, podendo ser ajustados bem mais
facilmente a qualquer piloto, o que vai facilitar a procura pelos novos
parâmetros de desenvolvimento. E, para mostrar que não está disposta a cometer
o mesmo erro da Benetton, John Barnard, projetista da Ferrari, já avisa: não
pretende conceber um carro sob medida para o estilo de condução do piloto
alemão. Em outras palavras, o carro de 96 vai ser tão bom com Schumacher quanto
com Irvinne, ao contrário do que acontecia na Benetton, onde o carro só era bom
com o alemão. Barnard se justifica: “Se ele for embora, como nós ficamos?
Precisaríamos começar tudo de novo do zero!” E os resultados dos testes no
Estoril indicam que Barnard tem razão: Irvinne foi apenas 0s3 mais lento que
Schumacher, o que evidencia que a escuderia italiana pretende ter dois carros
brigando por vitórias em 96, e não apenas um.
Nas
demais equipes de ponta, o problema é menor. A Williams continua com Damon
Hill, que fornecerá os parâmetros de desenvolvimento e servirá de comparação para
o desempenho de Jacques Villeneuve. O mesmo vale para a McLaren, onde Mika
Hakkinen, assim que retornar, dará a sua comparação de desempenho para
coordenar o trabalho de David Couthard, o novo piloto da equipe.
Nos
demais times médios com pretensões de subir de posição, a situação é parecida.
Rubens Barrichello garante o desenvolvimento da Jordan. Heinz-Harald Frentzen
segue em frente na Sauber. A Ligier aposta no talento de Olivier Panis.
Até
agora, a Williams tem mostrado os melhores desempenhos dos testes de inverno,
confirmando sua evolução e garantindo um forte favoritismo para 96. A Ferrari
vem atrás, no caminho certo, mas buscando a fiabilidade de seus novos
equipamentos. A Benetton ainda não encontrou o seu caminho, mas está dando duro
para consegui-lo. As demais escuderias limitaram-se a fazer testes técnicos sem
preocupação com melhorias de desempenho, mas buscando achar inovações que
permitam-lhes andarem melhor na próxima temporada.
Nas
próximas duas semanas, a F-1 dá uma folga a todo mundo para comemorar o Natral
e o Ano Novo. Só lá pelo dia 7 de janeiro o serviço recomeça. Até lá, então...
Jos Verstappen barbarizou no seu teste com a Arrows e já está
contratado para ser piloto do time em 96. O piloto holandês foi 3s mais rápido
nos testes do Estoril que a melhor Arrows classificada no grid do último GP de
Portugal. Além do maior talento de Verstappen, ajudou também a nova versão do
motor Hart V-10 com válvulas pneumáticas...
Damon Hill continua arrepiando em todos os testes. Depois de pulverizar
a marca da pole-position de David Couthard no último GP de Portugal nos testes
do Estoril, desta vez foi a marca da pole-position de Schumacher no GP da
Espanha virar poeira nas mãos do piloto da Williams. Hill virou bem abaixo da
marca da pole e continua deixando todos para trás, inclusive seu novo
companheiro de equipe, o canadense Jacques Villeneuve...
Depois de enfrentar problemas mecânicos nos dois primeiros dias de
testes com a Ligier, Pedro Paulo Diniz conseguiu andar razoavelmente bem no terceiro
e último dia de testes, e impressionou os dirigentes do time. Diniz teve pouco
tempo para andar, mas disse que poderia ser ainda mais rápido assim que se
acostumasse mais com o carro. O anúncio oficial de sua contratação pela Ligier
para 96 deve sair no próximo fim de semana...
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