sexta-feira, 17 de agosto de 2012

A VOLTA DO “DOUTOR”


            Aconteceu o que muitos esperavam: Valentino Rossi anunciou dias atrás que estará e volta à equipe da Yamaha na próxima temporada da MotoGP. O “Doutor”, como é conhecido no meio, deixará a Ducati depois de dois anos de poucos resultados e muitas decepções. Ao mesmo tempo, o italiano, considerado um dos maiores talentos da história do motociclismo, irá ter como parceiro o espanhol Jorge Lorenzo, que caminha firme para o bicampeonato mundial este ano, o que prenuncia uma possível briga interna que deve deixar muita gente de cabelo em pé.
            O retorno de Rossi à Yamaha, de onde saiu há dois anos para iniciar um novo desafio na Ducati, tem um ponto positivo e um negativo na carreira do piloto. O positivo é que Valentino retorna ao time japonês onde vai encontrar um adversário muito mais forte do que quando o enfrentou de igual para igual da última vez. O clima em 2010 já não andava bom entre os dois, pela disputa acirrada na pista e nos boxes do mesmo time. E, como costuma acontecer com todos os campeões que enfrentam um disputa dentro da própria equipe, Rossi decidiu sair, indo para a Ducati. Lorenzo, por sua vez, saiu fortalecido, pois intimamente, havia posto o rival “pra fora”. E se Lorenzo, na época ainda sendo tratado como uma grande promessa, hoje mais do que confirmada, já era capaz de encarar Valentino, a parada em 2013 deverá ser duríssima, muito mais do que a vista em 2010. Lorenzo, se for bicampeão, vai querer mostrar quem manda logo de cara, e mesmo na improvável hipótese de não levar o título deste ano, já dá a entender que as coisas serão do seu jeito na Yamaha. Claro que Rossi sabe disso, e mesmo assim, estando certo de que vai encarar um desafio grande, tem confiança no seu taco, e do alto de seus 7 títulos mundiais na MotoGP, ainda tem gás para mostrar que não perdeu o talento que demonstrou tanto na Honda quando na Yamaha.
            O ponto negativo é que Rossi, com esta decisão, assumiu seu fracasso em transformar o time italiano em vencedor novamente. Vencedor pela última vez em 2007, com Casey Stoner, de lá para cá a Ducati só veio caindo. Rossi esperava repetir com as motos italianas o mesmo feito que conseguira há alguns anos, quando saiu da Honda e foi para a Yamaha, em 2004, sendo campeão no novo time logo na primeira temporada. Naquela época, Rossi levou boa parte do staff técnico de seu time na Honda, o que sem dúvida ajudou a transformar a equipe da Yamaha, que no ano anterior havia sido apenas 7ª colocada no campeonato, com Carlos Checa, e 9ª, com o brasileiro Alexandre Barros. Foi uma vitória sobretudo de Valentino, pois em 2004 Carlos Checa apenas repetiu o 7° lugar na competição, nem de longe conseguindo acompanhar o novo companheiro de time. Quando saiu da Yamaha rumo à Ducati, muitos profetizaram que o italiano seria capaz de repetir o feito, mas havia muitos também que apostavam que, ao contrário da ocasião da troca da Honda pela Yamaha, agora a situação seria mais complicada. E, de fato, foi. Além de ter levado nomes-chave da equipe técnica da Honda para a Yamaha, tratavam-se de dois times japoneses, com mentalidades até parecidas, o que ajudou a encaixar as coisas mais rapidamente. No caso da Ducati, isso não aconteceu.
            Em primeiro lugar porque Rossi não conseguiu levar gente da Yamaha para o time italiano, ou pelo menos, levar quem era mesmo importante. Segundo, um time italiano, com sangue latino, tem outro tipo de mentalidade, e havia outro estilo de equipamento, com o qual Rossi não conseguiu se entender até hoje. Como se isso não fosse o suficiente para mostrar que desta vez o buraco era mais embaixo, Rossi ainda se viu numa renhida briga com seu colega de equipe Nick Hayden, sofrendo para acompanhar o americano. E, por mais esforços que fizesse, os resultados continuaram aquém do esperado: Valentino terminou o campeonato de 2011 na 7ª posição, com 139 pontos, contra 350 de Casey Stoner, o campeão. Nick Hayden, seu companheiro de time, ficou logo atrás, em 8°, com 132 pontos. E Héctor Barberá, o 3° piloto do time italiano, foi apenas o 11°, com 82 pontos. As melhores colocações foram 2 terceiros lugares: um de Rossi (França) e o outro de Hayden (Espanha). A Honda foi campeã com 405 pontos; a Ducati, 3ª colocada com 180 pontos, menos da metade. Neste ano, a situação não é muito melhor: Rossi é o 8° colocado, com 82 pontos, enquanto Nick Hayden é o 7°, com 84 pontos. E Barberá é o 11°, com apenas 60 pontos. Verdade que ainda faltam 8 corridas para o fim da competição, mas os prognósticos não apontam para uma melhora da situação da Ducati.
            Como não poderia deixar de ser, a atitude de Rossi gerou críticas. As mais contundentes vieram de Casey Stoner, que desandou a falar mal do heptacampeão, detonando a postura “imediatista” do italiano, e seu desejo de pilotar apenas motos “perfeitas”. Disse ainda que Rossi está traindo todos que acreditaram nele na Ducati, e que eles mereciam ter tido mais consideração por parte do piloto, ao alegar que ninguém no time está fazendo corpo mole. Não deixa de ter um fundo de verdade. Rossi poderia levar a Ducati de volta ao topo, mas a pergunta é quanto tempo isso iria levar? Mais dois, talvez três, ou mais anos ainda? Com 33 anos, Rossi já passou da metade da carreira que um piloto da MotoGP costuma ter. Ele estreou na Motovelocidade em 2000, quando ainda era chamada de 500cc; a partir de 2002, com o nome de MotoGP. Iniciou sua conquista de títulos, faturando seu primeiro troféu já em 2001, na equipe Honda, repetindo o feito em 2002, 2003, 2004, e 2005, um verdadeiro massacre na concorrência. Em 2008 e 2009, faturou mais dois títulos. Já são 13 anos na categoria máxima do motociclismo. O novo contrato de Rossi com a Yamaha é de 2 anos, e significa que, ao seu final, Valentino estará com 35 anos, próximo de deixar as pistas em duas rodas, talvez pendurar mesmo o capacete. Ao se dar conta de que talvez não tenha mais tanto tempo de carreira quanto gostaria, Rossi pode ter fraquejado e feito a coisa mais simples, conseguir de volta uma moto competitiva para vencer novamente o mais rápido possível. Pode ser criticado por isso, lógico, por desistir de um projeto em que muitos acreditaram nele.
            Fica a dúvida de como se dará o seu retorno na Yamaha em 2013. Como já afirmei, Lorenzo conquistou seu lugar no time há tempos, e recentemente, ao renovar com a equipe japonesa por mais dois anos, deu mostras de ser leal ao time onde foi campeão, e quer provar sua lealdade conquistando seu 2° título este ano. O espanhol lidera o campeonato com 23 pontos de vantagem sobre Dany Pedrosa (205 a 182), que está engalfinhando-se com seu companheiro de equipe Casey Stoner logo atrás, na 3ª posição, com 173 pontos. Suas chances de ser bicampeão são grandes, embora ainda haja muito chão pela frente. De volta ao velho time, Rossi precisará mais do que nunca mostrar seu grande talento para reconquistar o seu espaço na equipe, e mostrar que ainda pode ser o grande fenômeno que a categoria viu na última década. Se tiver uma disputa limpa dentro do time, pode dar trabalho, mas a parada não vai ser fácil.
            Guardadas as devidas proporções, na F-1, seria como se Michael Schumacher resolvesse voltar à Ferrari no ano que vem, mesmo tendo de competir com Fernando Alonso por lá. Michael disse que voltou à F-1 para saldar uma dívida que tinha para com a Mercedes, que o apoiou em seu início de carreira, e que iria batalhar pelo sucesso do time, construindo uma nova parceria de vitórias. Depois de praticamente 3 anos, isso não se traduziu em números de sucesso como seria de se esperar, e então, Schumacher poderia ficar impaciente e querer voltar ao time italiano, de onde saiu anos atrás, para ocupar o lugar que atualmente é de Felipe Massa. Seria um duelo pra lá de interessante, não fosse o fato de Michael atualmente não estar pilotando como seria de se esperar, ao fato de que Rossi, limitado pela Ducati, pode estar até tendo parte de seu imenso talento mascarado. Mas não deixa de ser uma hipótese curiosa, se isso viesse a acontecer. Estivesse em seu ápice, Schumacher nunca admitiria ter Alonso no mesmo time, e vice-versa. Só isso já mostra que na MotoGP as coisas serão diferentes, pois Lorenzo vai competir abertamente com Valentino, e este com Lorenzo. O espanhol quer mostrar quem é o melhor atualmente, enquanto o italiano quer mostrar que ainda é o “Doutor”, como é chamado na categoria.
            Vai haver um duelo, é o que todos esperam. Só isso já deve dar um charme adicional ao campeonato de 2013. Já que Casey Stoner vai pular fora, alguns dizem que isso seria outro fator para o australiano detonar o italiano: a notícia de Rossi voltando à Yamaha, e a possibilidade de um duelo titânico com Lorenzo já virou o novo centro de atenções da mídia especializada, enquanto Stoner, que há poucos meses centralizou as atenções desta mesma mídia com a notícia de sua aposentadoria da MotoGP, já ficou meio esquecido por ela...
            O ano de 2013 promete na MotoGP, e olha que ainda temos meio 2012 pela frente...

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