Aconteceu
o que muitos esperavam: Valentino Rossi anunciou dias atrás que estará e volta
à equipe da Yamaha na próxima temporada da MotoGP. O “Doutor”, como é conhecido
no meio, deixará a Ducati depois de dois anos de poucos resultados e muitas
decepções. Ao mesmo tempo, o italiano, considerado um dos maiores talentos da
história do motociclismo, irá ter como parceiro o espanhol Jorge Lorenzo, que
caminha firme para o bicampeonato mundial este ano, o que prenuncia uma
possível briga interna que deve deixar muita gente de cabelo em pé.
O
retorno de Rossi à Yamaha, de onde saiu há dois anos para iniciar um novo
desafio na Ducati, tem um ponto positivo e um negativo na carreira do piloto. O
positivo é que Valentino retorna ao time japonês onde vai encontrar um
adversário muito mais forte do que quando o enfrentou de igual para igual da
última vez. O clima em 2010 já não andava bom entre os dois, pela disputa
acirrada na pista e nos boxes do mesmo time. E, como costuma acontecer com todos
os campeões que enfrentam um disputa dentro da própria equipe, Rossi decidiu
sair, indo para a Ducati. Lorenzo, por sua vez, saiu fortalecido, pois
intimamente, havia posto o rival “pra fora”. E se Lorenzo, na época ainda sendo
tratado como uma grande promessa, hoje mais do que confirmada, já era capaz de
encarar Valentino, a parada em 2013 deverá ser duríssima, muito mais do que a
vista em 2010. Lorenzo, se for bicampeão, vai querer mostrar quem manda logo de
cara, e mesmo na improvável hipótese de não levar o título deste ano, já dá a
entender que as coisas serão do seu jeito na Yamaha. Claro que Rossi sabe
disso, e mesmo assim, estando certo de que vai encarar um desafio grande, tem
confiança no seu taco, e do alto de seus 7 títulos mundiais na MotoGP, ainda
tem gás para mostrar que não perdeu o talento que demonstrou tanto na Honda
quando na Yamaha.
O
ponto negativo é que Rossi, com esta decisão, assumiu seu fracasso em
transformar o time italiano em vencedor novamente. Vencedor pela última vez em
2007, com Casey Stoner, de lá para cá a Ducati só veio caindo. Rossi esperava
repetir com as motos italianas o mesmo feito que conseguira há alguns anos,
quando saiu da Honda e foi para a Yamaha, em 2004, sendo campeão no novo time
logo na primeira temporada. Naquela época, Rossi levou boa parte do staff
técnico de seu time na Honda, o que sem dúvida ajudou a transformar a equipe da
Yamaha, que no ano anterior havia sido apenas 7ª colocada no campeonato, com
Carlos Checa, e 9ª, com o brasileiro Alexandre Barros. Foi uma vitória
sobretudo de Valentino, pois em 2004 Carlos Checa apenas repetiu o 7° lugar na
competição, nem de longe conseguindo acompanhar o novo companheiro de time.
Quando saiu da Yamaha rumo à Ducati, muitos profetizaram que o italiano seria capaz
de repetir o feito, mas havia muitos também que apostavam que, ao contrário da
ocasião da troca da Honda pela Yamaha, agora a situação seria mais complicada.
E, de fato, foi. Além de ter levado nomes-chave da equipe técnica da Honda para
a Yamaha, tratavam-se de dois times japoneses, com mentalidades até parecidas,
o que ajudou a encaixar as coisas mais rapidamente. No caso da Ducati, isso não
aconteceu.
Em
primeiro lugar porque Rossi não conseguiu levar gente da Yamaha para o time
italiano, ou pelo menos, levar quem era mesmo importante. Segundo, um time
italiano, com sangue latino, tem outro tipo de mentalidade, e havia outro
estilo de equipamento, com o qual Rossi não conseguiu se entender até hoje. Como
se isso não fosse o suficiente para mostrar que desta vez o buraco era mais
embaixo, Rossi ainda se viu numa renhida briga com seu colega de equipe Nick
Hayden, sofrendo para acompanhar o americano. E, por mais esforços que fizesse,
os resultados continuaram aquém do esperado: Valentino terminou o campeonato de
2011 na 7ª posição, com 139 pontos, contra 350 de Casey Stoner, o campeão. Nick
Hayden, seu companheiro de time, ficou logo atrás, em 8°, com 132 pontos. E
Héctor Barberá, o 3° piloto do time italiano, foi apenas o 11°, com 82 pontos.
As melhores colocações foram 2 terceiros lugares: um de Rossi (França) e o
outro de Hayden (Espanha). A Honda foi campeã com 405 pontos; a Ducati, 3ª
colocada com 180 pontos, menos da metade. Neste ano, a situação não é muito
melhor: Rossi é o 8° colocado, com 82 pontos, enquanto Nick Hayden é o 7°, com
84 pontos. E Barberá é o 11°, com apenas 60 pontos. Verdade que ainda faltam 8
corridas para o fim da competição, mas os prognósticos não apontam para uma
melhora da situação da Ducati.
Como
não poderia deixar de ser, a atitude de Rossi gerou críticas. As mais
contundentes vieram de Casey Stoner, que desandou a falar mal do heptacampeão,
detonando a postura “imediatista” do italiano, e seu desejo de pilotar apenas
motos “perfeitas”. Disse ainda que Rossi está traindo todos que acreditaram
nele na Ducati, e que eles mereciam ter tido mais consideração por parte do
piloto, ao alegar que ninguém no time está fazendo corpo mole. Não deixa de ter
um fundo de verdade. Rossi poderia levar a Ducati de volta ao topo, mas a pergunta
é quanto tempo isso iria levar? Mais dois, talvez três, ou mais anos ainda? Com
33 anos, Rossi já passou da metade da carreira que um piloto da MotoGP costuma
ter. Ele estreou na Motovelocidade em 2000, quando ainda era chamada de 500cc;
a partir de 2002, com o nome de MotoGP. Iniciou sua conquista de títulos,
faturando seu primeiro troféu já em 2001, na equipe Honda, repetindo o feito em
2002, 2003, 2004, e 2005, um verdadeiro massacre na concorrência. Em 2008 e
2009, faturou mais dois títulos. Já são 13 anos na categoria máxima do
motociclismo. O novo contrato de Rossi com a Yamaha é de 2 anos, e significa
que, ao seu final, Valentino estará com 35 anos, próximo de deixar as pistas em
duas rodas, talvez pendurar mesmo o capacete. Ao se dar conta de que talvez não
tenha mais tanto tempo de carreira quanto gostaria, Rossi pode ter fraquejado e
feito a coisa mais simples, conseguir de volta uma moto competitiva para vencer
novamente o mais rápido possível. Pode ser criticado por isso, lógico, por
desistir de um projeto em que muitos acreditaram nele.
Fica
a dúvida de como se dará o seu retorno na Yamaha em 2013. Como já afirmei,
Lorenzo conquistou seu lugar no time há tempos, e recentemente, ao renovar com
a equipe japonesa por mais dois anos, deu mostras de ser leal ao time onde foi
campeão, e quer provar sua lealdade conquistando seu 2° título este ano. O
espanhol lidera o campeonato com 23 pontos de vantagem sobre Dany Pedrosa (205 a 182), que está
engalfinhando-se com seu companheiro de equipe Casey Stoner logo atrás, na 3ª
posição, com 173 pontos. Suas chances de ser bicampeão são grandes, embora
ainda haja muito chão pela frente. De volta ao velho time, Rossi precisará mais
do que nunca mostrar seu grande talento para reconquistar o seu espaço na equipe,
e mostrar que ainda pode ser o grande fenômeno que a categoria viu na última
década. Se tiver uma disputa limpa dentro do time, pode dar trabalho, mas a
parada não vai ser fácil.
Guardadas
as devidas proporções, na F-1, seria como se Michael Schumacher resolvesse
voltar à Ferrari no ano que vem, mesmo tendo de competir com Fernando Alonso
por lá. Michael disse que voltou à F-1 para saldar uma dívida que tinha para
com a Mercedes, que o apoiou em seu início de carreira, e que iria batalhar
pelo sucesso do time, construindo uma nova parceria de vitórias. Depois de
praticamente 3 anos, isso não se traduziu em números de sucesso como seria de
se esperar, e então, Schumacher poderia ficar impaciente e querer voltar ao
time italiano, de onde saiu anos atrás, para ocupar o lugar que atualmente é de
Felipe Massa. Seria um duelo pra lá de interessante, não fosse o fato de
Michael atualmente não estar pilotando como seria de se esperar, ao fato de que
Rossi, limitado pela Ducati, pode estar até tendo parte de seu imenso talento
mascarado. Mas não deixa de ser uma hipótese curiosa, se isso viesse a
acontecer. Estivesse em seu ápice, Schumacher nunca admitiria ter Alonso no
mesmo time, e vice-versa. Só isso já mostra que na MotoGP as coisas serão
diferentes, pois Lorenzo vai competir abertamente com Valentino, e este com
Lorenzo. O espanhol quer mostrar quem é o melhor atualmente, enquanto o
italiano quer mostrar que ainda é o “Doutor”, como é chamado na categoria.
Vai
haver um duelo, é o que todos esperam. Só isso já deve dar um charme adicional
ao campeonato de 2013. Já que Casey Stoner vai pular fora, alguns dizem que
isso seria outro fator para o australiano detonar o italiano: a notícia de
Rossi voltando à Yamaha, e a possibilidade de um duelo titânico com Lorenzo já
virou o novo centro de atenções da mídia especializada, enquanto Stoner, que há
poucos meses centralizou as atenções desta mesma mídia com a notícia de sua
aposentadoria da MotoGP, já ficou meio esquecido por ela...
O
ano de 2013 promete na MotoGP, e olha que ainda temos meio 2012 pela frente...
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