A
discussão da semana é a punição dada a Sebastian Vettel no Grande Prêmio da
Alemanha, disputado domingo passado, pela ultrapassagem considerada “ilegal”
feita pelo piloto da Red Bull, que usou a área de escape para ganhar a posição
que disputava com Jenson Button, da McLaren, pelo 2° lugar na prova germânica.
Tendo 20s acrescido a seu tempo, isso fez o atual bicampeão despencar para o 5°
lugar. Muitos contestaram a punição, enquanto outros a defenderam. No meu caso,
por pior que seja, receio que seja necessário admitir que a ultrapassagem de
Vettel foi mesmo irregular. Se a punição foi justa, creio que aí já é mais
complicado dizer, mas talvez tivesse sido pior não haver punição alguma. Vettel
usou uma parte de asfalto que não era considerado “pista” para efetuar a
manobra, em um lance que pode ter sido apenas de momento, mas que lhe deu o
espaço para completar a manobra. E Button, por sua vez, não fechou o alemão a
ponto de tal manobra ter sido necessária. Se Sebastian tivesse devolvido a
posição a Button, o assunto acabaria por ali mesmo.
Vettel
poderia ter “saído” da pista se tivesse ficado sem espaço, mas tivesse
retornado logo atrás do inglês da McLaren, nada teria acontecido, e com seus
pneus em melhor estado, ainda havia tempo para nova tentativa: ele sairia mais
embalado, a ponto de poder disputar já nas próximas curvas a posição com
Jenson. Certo, já ouvi muitos falarem que em outras ocasiões em que ocorreram
tais manobras, nada aconteceu. Mas na época, o comportamento, e a atitude das
regras, eram diferentes. Ultimamente, como se anda criando regra para tudo,
infelizmente virou meio que também um vale-tudo entre os pilotos. O caso de
Nico Rosberg no Bahrein, que gerou críticas dos demais pilotos, foi meio que o
estopim para se fazer um acordo tácito de ninguém mais entre eles usar áreas de
escape para ganhar vantagem em tentativas de ultrapassagem. E se houve esse
acordo, e ele foi claro, creio que, por pior que seja, não há como refugar a
situação.
Dessa
maneira, podemos esquecer as tradicionais manobras que víamos em
Spa-Francorchamps, na freada da curva La Source, onde sempre víamos alguns
pilotos fazerem a curva pela área de escape, por vezes iniciando a descida até
mais embalados do que pelo traçado “válido”. Isso agora já não é mais
permitido. Por estas e outras, esse lance de se fazer longas áreas de escape
asfaltadas, em nome da segurança, também criou entre os pilotos a possibilidade
de, em algum momento, forçar a barra em disputas de posição. Não que a
segurança seja um tema leviano, mas creio que os pilotos teriam mais cuidado
com seus traçados se soubessem que a pista acaba na linha branca. Do contrário,
saídas de pista em disputas onde se consiga uma ultrapassagem sempre serão
tachadas como tentativas de se levar vantagem. A pergunta é válida: se ali, ao
invés de asfalto, fosse brita ou grama, os pilotos tentariam tais manobras? A
resposta é mais do que óbvia.
Claro
que saídas acidentais, com a área asfaltada, permite ao piloto retomar a prova,
com o único prejuízo de se perder tempo para voltar ao traçado. Por outro lado,
voltar no tempo e retornar às áreas de grama e brita talvez deixassem os
pilotos mais prudentes, ou talvez mais conservadores na hora de se tentar
ultrapassagens. É uma questão complicada: alguns querem disputas ferozes na
pista, com os pilotos indo além dos limites, tocando roda com roda, e até dando
algumas esfregadas carro a carro em brigas de posição. Outros se queixam de
que, do jeito que está, não se pode mais tocar em ninguém, e os pilotos estão
virando um bando de frescos que não admitem nem levar um encostão sequer que
logo já ficam putinhos da vida, tal como Vettel ficou quando foi ultrapassado
por Lewis Hamilton na prova alemã, quando o inglês da McLaren, retardatário,
descontou a volta perdida. Pela reação do alemão, parecia que Hamilton não
tinha direito de fazer sua corrida, se estava mais rápido.
Nesse
ponto, antigamente as coisas eram bem mais claras na F-1 antigamente: sair da
pista era prejuízo na certa, e quem cometesse a barbeiragem tinha como castigo
ficar atolado na brita, ou com o carro danificado ao passar por cima da zebra
ou da grama, dependendo de como se dava a saída. Mas tudo ficava bem mais
claro. Hoje em dia, com essas imensas áreas de escape asfaltadas, sair delas e
voltar, se isso se converter em alguma vantagem, dependendo da situação, mesmo
que infrinja uma regra clara e até óbvia, está dando a sensação de punição
exagerada, e uma intervenção indesejada no desenrolar da corrida. É esse ponto
principal que muitos estão reclamando: punições que alteram os acontecimentos
da corrida, que soam como intromissões externas, e com isso, tirando a certeza
de contar com aquilo que se vê na pista. Quem viu o fim da prova alemã viu
Vettel ser o segundo colocado; algumas horas depois, era Button quem fora
declarado nesta posição, enquanto o piloto da Red Bull “caía do touro” e ficava
rebaixado a 5° colocado.
Nesse
ponto, a sensação mais autêntica de antigamente: sair da pista era encrenca, e
a punição era automática pelas circunstâncias do local: brita, zebra, grama,
etc. E a F-1 atual anda cheia de punições, e muitos ainda dizem que os pilotos
hoje em dia são comportados demais se comparados a antigamente. Então, se
aplicássemos as regras atuais a provas de décadas atrás, ninguém chegaria ao
fim da prova sem tomar algum gancho dos comissários.
Os
pilotos, por sua vez, apesar de sua grande capacidade e reflexos, por vezes
sucumbem a seus instintos de competição, e inadvertidamente, podem tomar
algumas atitudes que soam antidesportivas. Não digo que Vettel agiu de forma
maliciosa em sua ultrapassagem, mas talvez, no ímpeto do momento, tenha se
esquecido de que sua luta de posição passou do limite que era tido como
aceitável. O próprio piloto, depois do comunicado da punição, tentou passar a
imagem de aceitação sem maiores problemas, dando a entender que teria entendido
a linha de raciocínio que motivou a punição.
Mas
a F-1 não ajuda muito quando aplica suas punições de forma diferente em algumas
ocasiões. Alguns enroscos entre pilotos, com castigos aplicados de forma
equivocada, ou diferente, dependendo de quem é o envolvido, só ajuda a
complicar a situação, e embora não haja na grande maioria das vezes
favorecimentos, é fato que a aplicação de forma inexata para todos os momentos
ocorridos colabora para uma piora na imagem que as punições passam para o
público, de uma tentativa de “pasteurizar” a competição, podando as disputas e
premiando a chatice, dando a entender que os pilotos não podem ser ousados como
deveriam. E é essa a pior parte do que vem acontecendo. Se perguntarem a
qualquer torcedor o que ele acha da quantidade de punições, com certeza vão
dizer que regra e regra, e limites são limites. Mas todos concordarão também
que estão pondo limites demais ultimamente, e cada vez mais eles parecem cada
vez mais restritivos à ação dentro da pista.
A
única maneira de se resolver o problema são redefinir os limites das regras. O
problema é que, como já vimos em várias ocasiões recentes, o pessoal da F-1,
pilotos inclusive, conseguem muitas vezes não se entenderem em nada. Mesmo em
situações onde o entendimento deveria ser unânime, eles conseguem discordar de
tudo o que é apresentado. E aí, ao invés de se resolver alguma coisa, o que se
consegue é criar mais complicações. Resolve-se um problema criando outros
problemas, e desse jeito, não se vai a lugar nenhum.
Ver
uma F-1 mais descomplicada e honesta já virou utopia. Pelo menos nesta vida...
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Hoje começam os treinos para o Grande Prêmio da Hungria, no travado
circuito de Hungaroring. O calor está forte, o que promete bagunçar algumas
estratégias das equipes quanto ao rendimento dos pneus Pirelli na pista
húngara. Fernando Alonso deverá ter mais dificuldades aqui do que em
Silverstone e Hockenhein. Mas para sua felicidade, não tem como os rivais
tirarem o asturiano da liderança do campeonato. A F-1 partirá para as férias de
agosto com o espanhol da Ferrari ainda na frente da classificação...
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