Voltando
com a seção Arquivo, trago hoje esta coluna escrita no início de dezembro de
1995, analisando a virada que a Fórmula Indy (a original) havia feito na
preferência de muitos de nossos pilotos que foram tentar carreira no mundo do
automobilismo internacional. Um pouco do esforço pioneiro de Émerson
Fittipaldi, que depois de desbravar nossa entrada em definitivo no mundo da
Fórmula 1, em 1984 repetia o feito na categoria americana, onde seu talento fez
renascer o piloto vitorioso que era nos primórdios da carreira de F-1, mas que
haviam sido enterrados no projeto fracassado da equipe Copersucar.
O
panorama era simples: muitos de nossos pilotos, sem condições de seguir rumo à
F-1, viram que havia vida na América do Norte em termos de carreira
internacional, e para lá seguiram, firmando a presença brasileira na principal
categoria automobilística dos Estados Unidos, que segue hoje na categoria
dissidente da Indy original, a IRL, onde temos Tony Kanaan e Hélio Castro
Neves, que rumaram para os EUA naquela época e lá estão até hoje, e que foi
seguido por Rubens Barrichello este ano, depois de quase duas décadas presente
na F-1.
Hoje,
infelizmente, são poucos os pilotos que saem do Brasil rumo tanto à Europa
quanto aos Estados Unidos. O problema não é opção, é mais de escassez mesmo,
pois atualmente nosso automobilismo não produz mais pilotos como antigamente,
especialmente em número como havia naquela época. Aproveitem a leitura, e em
breve, tem mais colunas antigas...
A SEDUÇÃO DA INDY
Adriano de Avance Moreno
Cerca
de 10 anos atrás, se alguém neste país dissesse que a F-Indy poderia ser muito
mais atrativa do que a F-1 para os pilotos brasileiros, essa pessoa no mínimo
seria chamada de idiota. Não seria para menos, afinal, já tínhamos 2 bicampeões
mundiais de F-1 na história da categoria; Nélson Piquet ganhava corridas,
apesar da decadente Brabham, e uma nova promessa, Ayrton Senna, se firmava,
obtendo suas primeiras pole-positions e vitórias na categoria TOP do automobilismo
mundial. Que atração poderia ter a F-Indy, uma categoria restrita apenas aos
Estados Unidos e tecnologicamente ultrapassada em relação à F-1? Quase nenhuma.
Mas
havia um brasileiro para quebrar essa regra de que a Indy não era atrativa e
nem representava desafio para novos pilotos. Émerson Fittipaldi havia voltado a
correr, depois de abandonar a F-1 e o sonho malsucedido da equipe nacional
Copersucar. E escolheu a F-Indy para o seu retorno, sendo que em 1985 foi sua
primeira temporada completa na categoria. E, neste ano, ainda de forma pouco
percebida por grande parcela do público brasileiro fã de corridas, Émerson
conquistou sua primeira vitória, nas 500 Milhas de Michigan. A partir daí, tudo
começou a mudar aos poucos, com Émerson cada vez obtendo mais vitórias e
começando a despertar no telespectador brasileiro o interesse por uma categoria
até então pouco conhecida fora da América do Norte, mas que mostrava um alto
grau de desafio e pilotos de alto nível, apesar do nível técnico inferior à F-1
em tecnologia.
Haviam circuitos ovais, diferentes de tudo o que o espectador
nacional estava acostumado na F-1, e também regras bem diferentes, mas a emoção
era praticamente a mesma, e havia Émerson, uma fera brasileira do mais alto
nível, que começava a mostrar que também neste campeonato nossos pilotos, cujo
talento já era reconhecido no mundo do automobilismo, poderiam fazer grande
sucesso, caso disputassem também este campeonato.
Alguns
pilotos brasileiros também disputaram a F-Indy nesses anos, como Raul Boesel e
Roberto Moreno, mas só Émerson Fittipaldi conseguiu vencer, por dispor de um
melhor equipamento. Mas, mesmo assim, a Indy continuou muito pouco conhecida em
nosso pais.
Os
motivos eram óbvios: em 1986, Piquet perdeu o título da F-1 por meros 3 pontos,
mas faturou o tricampeonato em 87. Senna também entrava na disputa pelo título,
e vencia corridas, sendo que em 88 também conquistava o título mundial na F-1.
Os brasileiros praticamente mandavam na F-1, e o resto do mundo não parecia
capaz de enfrentar tal supremacia.
Em
1989, o panorama começou a mudar no Brasil. Émerson, com uma campanha
excepcional, conquistou o campeonato da F-Indy, e a categoria já era mais
estruturada e conhecida internacionalmente, contando também com provas no
Canadá. Mais do que isso, Émerson acabou vencendo também as 500 Milhas de
Indianápolis de 89, com Raul Boesel chegando em 3º lugar. A conquista de
Émerson, agora chamado de “Emmo” pelos fãs estadunidenses, foi o passo
definitivo para a Indy se popularizar no gosto dos brasileiros e passar a
disputar a preferência televisiva com a F-1. A categoria já não era mais um
simples campeonato a mais no mundo automobilístico, mas simplesmente o segundo
maior campeonato de monopostos do mundo, perdendo apenas para a F-1.
Os
primeiros anos da década de 1990 foram de fácil supremacia da F-1 sobre a
F-Indy na preferência televisiva. Senna faturou os campeonatos de 90 e 91, e
venceu corridas em 92, voltando a disputar o título em 93, mas ficando sem
chances ao final. Apesar da F-1 ainda naquela época ser o sonho de todos os
pilotos, os ares já começavam a denunciar uma mudança nos ventos. Maurício
Gugelmim foi o primeiro a seguir esta nova estrada. Desempregado desde o fim da
temporada de 92, o brasileiro aceitou disputar as 3 provas finais do campeonato
de 93 da F-Indy pela equipe Dick Simon, depois de ficar alguns meses sem
conseguir mais arrumar um lugar na F-1. Maurício só terminou a última corrida,
mas gostou da experiência e viu as perspectivas de sucesso que poderia obter nesta
categoria. Um ano antes, Raul Boesel, depois de uma ausência, havia voltado à
categoria, e 93 havia sido o seu melhor ano na carreira na Indy: havia
conquistado poles e por pouco não venceu também, quando Émerson voltava
finalmente à disputa pelo título e vencia pela 2ª vez as 500 Milhas de
Indianápolis. O ritmo e rumo dos pilotos estava realmente mudando de direção.
Para
94, Gugelmim finalmente fez sua primeira temporada completa, assim como Marco
Greco tentava alguma coisa melhor em seu segundo ano na Indy. Greco foi outro
que, sem conseguir chegar à F-1, optou pela categoria norte-americana. O
caminho estava aberto: outro brasileiro de talento, André Ribeiro, abandonou a
Europa e seguiu para os Estados Unidos, onde disputaria a Indy Lights, categoria
imediatamente inferior à Indy e de acesso a esta. Na F-1, apesar do favoritismo
inicial de Ayrton Senna, tudo terminou tragicamente em Ímola, deixando os fãs
brasileiros desconsolados. Antes disso, porém, as dificuldades no acesso à F-1
já vinham desestimulando os pilotos brasileiros, apesar dos efeitos ainda não
serem tão notados.
Em
fins de 1994, deu-se a virada decisiva: com o vice-campeonato de Émerson na
F-Indy, e de André Ribeiro na Indy Lights, aliada a uma campanha regular de
Maurício Gugelmim e Raul Boesel, vários outros pilotos nacionais que tinham
como objetivo chegar à F-1, mudaram de direção, e ao invés da Europa, seguiram
rumo aos Estados Unidos. O primeiro foi Gil de Ferran que, sem perspectivas de
conseguir uma boa equipe na F-1, conseguiu um bom contrato com a Hall Racing,
um time médio da F-Indy, mas muito promissor. André Ribeiro passou da Indy
Lights para a Indy. Maurício Gugelmim conseguiu lugar numa promissora equipe,
onde seria o primeiro piloto do time, a PacWest Racing. O último passo foi dado
no início de 95, quando Christian Fittipaldi, depois de 3 temporadas em equipes
médias da F-1, escolheu ir para a equipe Walker, e deu início à sua nova
carreira na F-Indy também.
E,
ao mesmo tempo em que isso ocorria na categoria TOP americana, vários outros
pilotos brasileiros começaram a vir para os EUA, onde começaram a correr na
Indy Lights, todos com o mesmo objetivo: chegar à F-Indy. E isso ainda não
acabou. Tony Kanaan e Guálter Salles são os próximos nomes que poderão
engrossar esta lista de pretendentes à F-Indy, e outra fera brasileira também
está na parada: Ricardo Rosset já foi chamado por Derek Walker, o mesmo que
contratou Christian no início do ano, para ser o companheiro de Robby Gordon no
próximo campeonato.
Hoje,
o panorama profissional dos pilotos brasileiros formam um leque de opções bem
mais interessante do que no passado. A meta principal da maioria ainda é a F-1,
mas se for preciso, a F-Indy será uma opção bem-vinda para todos. A se
confirmar isso, logo os americanos vão desejar não ter conhecido os pilotos
brasileiros. Os europeus já sentiram bem essa sensação nos tempos de Piquet e
Senna...
Alain Prost confirmou esta semana que irá ajudar a McLaren no
desenvolvimento do novo modelo 96, o MP4/11. Alain também fará o papel de
consultor técnico da equipe, a exemplo do que Niki Lauda fez na Ferrari. Mas é
só: Prost recusou voltar a competir na F-1.
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