A
Fórmula 1 chegou à etapa do Grande Prêmio da Alemanha, e o palco de
Hockennhein, que este ano sedia a corrida, não traz boas recordações para os
torcedores brasileiros em tempos recentes. Foi aqui que, há dois anos atrás,
Felipe Massa “traiu” seus torcedores ao ceder uma vitória que poderia ser sua
ao companheiro de equipe Fernando Alonso, da Ferrari, numa repetição, ainda que
com detalhes ligeiramente diferentes, do que todos haviam visto no Grande
Prêmio da Áustria de 2002, tendo Rubens Barrichello perdido uma vitória que era
sua para Michael Schumacher, em um ato vil e cretino por parte da escuderia
italiana. O tempo mostrou que a Ferrari nunca tomou vergonha na cara, muito
pelo contrário...
Para
mim, a pista de Hockenhein, há cerca de 10 anos, virou um traçado insosso, sem
carisma, depois de ter sido mutilado pelos cartolas da F-1, alegando falta de
segurança do traçado antigo, mas que na verdade, incomodava aos interesses
comerciais da categoria, uma vez que as longas retas da pista alemã, na opinião
deles, eram enfadonhas para os telespectadores, e ainda privavam a maior parte
do público dos pegas, uma vez que as arquibancadas naquele setor eram mínimas,
por causa da floresta. Justificativas das mais ridículas e falsas. Houve
chiadeira dos fãs, mas Bernie Ecclestone, como de costume, venceu a briga, e
desde 2002, Hockenhein perdeu todo o seu encanto, não apenas para mim, mas para
inúmeros pilotos e torcedores do automobilismo. Em parte, quiseram invocar os
motivos que levaram o antigo Nurburgring a ser banido da categoria, nos anos
1970, especialmente depois do violento acidente que por pouco não matou Niki
Lauda em 1976. Mas as razões para tirar o Nordschleife da categoria eram mais
válidas: com seus impressionantes 22
Km de extensão, as condições de segurança eram mesmo
precárias de se garantir em uma pista daquele tamanho. Foi criado um novo
autódromo, bem ali junto, com um tamanho mais condizente com os atuais padrões
de segurança. Claro que ele nem de longe tem a imponência do original, mas pelo
menos este continua existindo ali do lado, e é aberto ao público que quiser
conhecer a pista, pagando uma entrada para isso. Sua memória está preservada.
O
mesmo não se pode dizer de Hocknhein. Tiraram as longas retas que cortavam a
Floresta Negra alemã, e removeram o asfalto do traçado, de modo que hoje, só se
pode ver que ali havia algo porque as árvores que cresceram na antiga pista ainda
são mais baixas em relação às vizinhas. O mato já tomou conta do antigo
traçado, que não foi preservado nem mesmo para que se pudesse disputar ali
corridas de outro tipo de categoria, ou mantido pela memória do automobilismo. Daqui
a alguns anos, a maior parte dos resquícios que sobraram de que havia uma pista
de corrida por entre aquelas belas árvores terá desaparecido quase por completo.
O traçado, de quase 7 Km
de extensão, não justificava as acusações de falta de segurança alegadas para
sua modificação. Foi criada uma nova seção, unindo as duas antigas retas da floresta,
o que encurtou o traçado para 4,57
Km, e uma das retas restante ainda ganhou uma nova curva
para “quebrar” ainda mais a velocidade, ajudando a tirar ainda mais o charme do
que restou. Sobrou intacta a parte do “Motodron”, o trecho com curvas de baixa
próximo à reta dos boxes, com arquibancadas que lembram o formato de um
estádio, mas isso foi o mínimo.
As
longas retas na floresta eram a característica marcante desta pista, e seus
longos trechos de aceleração plena significavam um desafio para os motores das
categorias que corriam aqui naquele traçado. Quem não tinha um motor potente
praticamente virava figurante aqui, a menos que o chassi do carro fosse muito,
muito bom. E por causa destas longas retas, a pista alemã era um pequeno alívio
para quem tinha potência de sobra, e falta de um carro competitivo. Hockenhein
era a oportunidade de se “lavar a alma” na temporada. Foi aqui que em 2004,
Gerhard Berger tirou a Ferrari de seu mais longo jejum de vitórias na história
da categoria. Sem vencer desde o fim de 1990, o time italiano já estava há
quase 4 anos sem vencer quando o piloto austríaco tirou o time da fila. Os
possantes motores V-12 da Ferrari fizeram a diferença nas longas retas já na
classificação, permitindo que Berger e seu companheiro Jean Alesi largassem na
primeira fila. A Ferrari não tinha um carro muito competitivo, em um ano onde a
Benetton de Michael Schumacher dominava e a Williams parecia não ter capacidade
de reagir à altura. Naquele momento, apostar em uma vitória do time de Maranello
era quase uma zebra. O GP da Alemanha serviu para revigorar o ânimo do time
italiano e dos torcedores.
Verdade
que um acidente múltiplo na largada ajudou ao tirar alguns potenciais rivais,
como as Williams, muito mais competitivas. Michael Schumacher, mesmo dando tudo
de si, levou sua Benetton aos limites, acompanhando Berger durante a primeira
metade da corrida. Mas a diferença do motor Ford V-8, apesar da excelência da
série Zetec-R, não tinha como fazer frente ao possante V-12 italiano nas longas
retas, e a unidade quebrou, mercê do esforço de Schumacher em tentar vencer.
Desnecessário dizer que as longas retas proporcionavam oportunidades de
ultrapassagens como não se via em nenhuma outra pista, sendo normalmente palco
de duelos muito aplaudidos pelos torcedores. Se ainda fosse usado hoje, duvido
que alguém precisasse de Kers ou DRS para efetuar ultrapassagens naquelas retas
que hoje não mais existem. Mesmo em seus últimos anos, quando os carros já
ficavam muito dependentes de uma aerodinâmica ideal, os longos trechos da
Floresta Negra ainda eram palcos de inúmeras disputas. Em 1992, Ayrton Senna
defendia sua posição com determinação pilotando uma McLaren que não era páreo
para a Williams dominante daquele ano. Mas Riccardo Patrese capitulou na perseguição,
perdendo a concentração e saindo da pista, atolando na brita.
Foi
aqui também um palco de um acontecimento inusitado, em 1982, quando Nélson
Piquet, na Brabham, liderava a corrida e acabou abalroado a jogado fora da
pista quando foi ultrapassar o retardatário Eliseo Salazar. Piquet ficou
furioso como ele só, e partiu para cima do chileno dando socos e pontapés, que
foram a alegria de fotógrafos e cinegrafistas do mundo inteiro. Uma cena
impensável para os dias de hoje, pela chatice que impera na categoria, pra não
falar do politicamente correto, a praga dos dias atuais. Mas Piquet teve seus
bons dias em Hockenhein, como suas vitórias em 1986 e 1987, pela Williams. Foi
também nesta pista que Rubens Barrichello conseguiu sua primeira vitória na
F-1, com um show de pilotagem nas voltas finais, domando sua Ferrari numa pista
ora molhada, ora seca, e sendo aplaudido por vários outros times e pilotos até.
Foram bons dias aqueles.
Dos
pilotos atuais, apenas Michael Schumacher, Kimmi Raikkonen, Pedro de La Rosa,
Jenson Button, e Fernando Alonso correram aqui de F-1 na antiga pista. E nem é
preciso dizer que a opinião de todos é praticamente unânime em afirmar que o
traçado da Floresta Negra era muito mais desafiador do que o atual. Foi por ali
que o nome de Hermann Tilke, que tinha começado a ganhar fama na categoria
alguns anos antes por ter projetado o autódromo de Sepang, em Kuala Lumpur,
sede do GP da Malásia, ficou marcado como “destruidor” de circuitos da F-1,
tendo criado depois daquele ano vários outros autódromos quase todos sem nenhum
atrativo especial, como eram as pistas de outrora.
Cada
circuito, antigamente, tinha sua marca registrada...sua característica...seu
charme... Isso não se vê nas pistas que a F-1 vem incorporando ao seu
calendário nos últimos tempos. Hockenhein tinha tudo o que as pistas daquela
época precisavam. Acabou podado, “modernizado”, “castrado” na opinião de muitos
para se utilizar um termo mais forte. Um tempo nem tão distante assim, mas onde
ainda se podia mostrar um pouco mais do que se pode ter hoje. A F-1 na sua
essência saiu perdendo, ao contrário do que outros afirmam, em especial a FOM.
E os torcedores perderam muito mais...
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A Indy Racing League começa hoje os treinos para mais uma etapa do
campeonato, desta vez em Edmonton, no Canadá. Ryan-Hunter Reay defende a
liderança do campeonato, e o piloto da equipe Andretti vai precisar caprichar:
Will Power venceu lá no ano passado, e deve vir com tudo para tentar recuperar
a liderança do certame. Podemos esperar uma bela disputa no circuito misto
montado em parte do aeroporto da cidade canadense.
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