Quem
diria que, ao final das 66 voltas do Grande Prêmio da Espanha de Fórmula 1,
disputado domingo passado, teríamos a grata surpresa de ver a Williams voltar a
vencer uma corrida? Pois foi o que aconteceu, e Pastor Maldonado escreveu seu
nome na categoria ao ser o primeiro venezuelano a subir ao degrau mais alto do
pódio na F-1, e ajudar a dar ao atual campeonato o melhor presente possível: 5°
vencedor diferente em 5 corridas, e 5 escuderias a vencer uma prova este ano,
repetindo um feito que só foi visto pela última vez em 1983. E olhe que o
campeonato ainda pode ter um vencedor diferente na próxima corrida, que será em
Mônaco, na próxima semana. A Lótus anda batendo na trave nas duas últimas
corridas, e pode faturar uma corrida a qualquer momento. Se tivermos um novo
vencedor e um novo time na frente nas ruas de Monte Carlo, será a glória para a
categoria, que certamente está mostrando ter o melhor campeonato em mais de 30
anos.
O
equilíbrio está sendo o ponto forte da categoria este ano, e o maior mérito é
dos pneus da Pirelli, que estão deixando os times até perplexos, pois até o
presente momento ninguém conseguiu se entender direito com os novos compostos
de pneus criados este ano. Na Espanha, por exemplo, os pneus duros se comportaram
melhor durante a corrida do que os pneus macios, algo que ninguém esperava,
visto que a diferença de performance entre eles era considerável. A vitória da
Williams surpreendeu muita gente, e embora a escuderia tenha dito não ter se
surpreendido, é claro que foi um triunfo bem-vindo, e até inesperado, pois o
ritmo do carro, todos sabiam, ainda não era exatamente forte o bastante para
desafiar carros como McLaren, Lótus, e até Red Bull. Mas a McLaren não se achou
direito no fim de semana: um erro crucial na quantidade de combustível no carro
de Lewis Hamilton fez o inglês perder sua pole na corrida, e com isso,
Maldonado acabou ganhando a primeira posição do grid de presente. Largando em
último, Hamilton estava fora do páreo, e embora tenha lutado bastante, ficou em
um modesto 8° lugar. Partindo na frente, Maldonado tinha boas chances de
vencer, desde que conseguisse manter sob controle Fernando Alonso, que largava
então em 2°, e as duas Lótus logo atrás. E ele o conseguiu com notável
maestria, ainda que tenha passado o início da corrida atrás da Ferrari, que
largou melhor. Já Jenson Button, com a outra McLaren, não se achou na prova
espanhola, e terminou sem pontuar, o mesmo valendo para Mark Webber. Nico
Rosberg e Sebastian Vettel fizeram o que podiam, mas não tiveram nem chance de
pódio nesta prova.
Seria
bom se Maldonado conseguisse também entrar na luta pelo título, mas aí pode ser
até sonhar um pouco alto demais. Só que, a esta altura do campeonato, quem pode
apostar que não continuaremos assistindo a surpresas? O campeonato está
totalmente imprevisível, e a tabela de pontuação mostra os pilotos muito
próximos uns dos outros. Sebastian Vettel, mesmo sem dispor de um carro
dominante como em 2011, lidera o campeonato com 61 pontos, a mesma pontuação de,
vejam só, Fernando Alonso, que tem conseguido milagres com a Ferrari este ano,
em que pese o F2012 ter melhorado bastante de ritmo. Na 3ª posição vem Lewis
Hamilton, com 53 pontos, e que pode vencer a qualquer momento. Um pouco mais
atrás vem Kimmi Raikkonen, com 49 pontos, Mark Webber (46), Jenson Button (45),
e Nico Rosberg (41). Nada menos do que 7 pilotos separados por 20 pontos. Dos
times de ponta que subiram ao pódio, as decepções são Michael Schumacher e
Felipe Massa. O heptacampeão alemão não consegue escapar dos problemas este
ano, alguns fora de seu controle, outros totalmente por culpa própria, como a
batida em Bruno Senna no circuito de Barcelona. Já Felipe Massa tem o seu pior
ano na F-1, sendo incapaz de conseguir manter o ritmo de Alonso com o outro
carro da Ferrari, e vendo o companheiro não apenas tendo vencido uma prova como
ainda liderar o campeonato. Seria muito bom se ambos conseguissem acabar com a
zica que os está afetando e entrassem pra valer na luta por lugares no pódio.
Seria o melhor presente para a torcida, que está mesmo em estado de êxtase com
o que se viu até agora. E os torcedores não estão tendo do que reclamar, pois o
que está se vendo este ano é que as posições de largada, ao mesmo tempo em que
podem ser cruciais, também podem não valer muita coisa, dependendo de onde se
larga e da estratégia de corrida. Enquanto alguns largam na frente e despencam
para trás, outros conseguem largar lá de trás e chegar à frente, e ainda temos
quem larga no meio do pelotão e de lá não consegue sair. A disputa de posições
anda brava, e com muitos pilotos andando em ritmos parecidos, das duas uma: ou
eles partem para cima com tudo na disputa de ultrapassagens, ou simplesmente
ficam empacados onde estão. Há quem esteja conseguindo se adaptar a esta
situação, e há quem esteja perdido no meio do bolo de disputas que há tanto
tempo não se via na categoria. Ruim para os pilotos, claro, mas um delírio para
o público, no autódromo e pela TV, que estão vendo disputas em praticamente
todos os pelotões da prova. Pode haver presente melhor para revigorar a imagem
de disputa da categoria?
Mas
o melhor presente mesmo, em Barcelona, ficou para Frank Williams, que na festa
de seus 70 anos, comemorados em uma bela festa no paddock na tarde de sábado,
comemorando àquela altura a 2ª posição de Maldonado no grid – que depois
viraria a pole, viu seu piloto tirar o time de um jejum de quase 8 anos: a
última vitória da equipe Williams havia sido aqui no Brasil, em Interlagos, no
distante ano de 2004, encerrando o campeonato daquele ano, com Juan Pablo
Montoya. A vitória de Pastor encheu todos no time de alegria, ainda mais depois
de a escuderia ter tido em 2011 o pior ano de sua história, com apenas 5 pontos
marcados devido ao projeto catastrófico do FW33. O carro deste ano, todos
esperavam, seria melhor, e até o presente momento, parece estar saindo melhor
do que a encomenda.
Frank,
o último dos garagistas da categoria que ainda está presente de forma integral
nos GPs (Ron Dennis, outro da mesma estirpe, só aparece em uma ou outra
corrida, acompanhando seu time, a McLaren), merecia muito ver seu time vencer
novamente. Ao lado da McLaren e da Ferrari, a Williams é o time mais
tradicional da F-1 atualmente, ainda mais porque a atual Lótus ostenta apenas o
nome, uma vez que a célebre escuderia de Colin Chapman desapareceu ao fim de
1994, e não pode ser considerada “tradicional” (em que pese o time já ter mais
30 anos, nascido com o nome Toleman, no início dos anos 1980, mas que depois de
tantas mudanças de nome, não se pode dizer ter alguma “tradição” propriamente,
depois de tantas mudanças de dono). E olhe que no início do ano, tendo que
optar pela primeira vez em mais de 30 anos, por pilotos exclusivamente
pagantes, muitos achavam que faltaria pouco para o time inglês seguir o caminho
da decadência que ceifou outros times saudosos como Tyrrel e Brabham.
Felizmente, a aposta está dando certo até o momento, e o futuro da escuderia,
que poderia ser a extinção até mesmo no fim deste ano para os mais pessimistas,
já não se apresenta tão negro assim...
É
um campeonato que está saindo melhor do que a encomenda. Claro que há gente
reclamando, e há vários pilotos, como Michael Schumacher, que viraram críticos
ferozes dos novos pneus da Pirelli, com os quais não está se entendendo, e
reclamando que, com estes compostos, não podem acelerar tudo o que podem. São
críticas até compreensíveis, mas as regras estão valendo para todos, então o
jeito é entrar na dança e tentar se adaptar. Adaptar-se, por sinal, tem sido o
maior dilema das escuderias, que até agora não conseguiram encontrar parâmetros
totalmente confiáveis para entender como os pneus estão se comportando. E
quanto mais eles demorarem para dominar este setor, melhor para a competição,
que continuará brindando o público com surpresas que até o mais cético fã nem
esperaria.
A
alma maior da competição, afinal, é a imprevisibilidade dos resultados. E
assistir corridas sabendo de antemão quem vai chegar na frente tem muito menos
apelo e graça do que o quadro atual que estamos vendo em 2012. Que ele perdure
por um bom tempo...
Um incêndio surgiu nos boxes da Williams
durante a festa de comemoração da vitória de Maldonado em Barcelona. Apesar de
violento, ele foi logo contido, mas algumas pessoas ficaram levemente feridas,
a maior parte por intoxicação pela fumaça, que cobriu todo o box. Felizmente,
não ocorreu o pior, embora tenha havido um tremendo corre-corre na hora. A
Williams tenta contabilizar as perdas do incêndio, que quase destruiu o carro
de Bruno Senna. Algumas peças não conseguirão ser repostas a tempo para a prova
de Mônaco, já na semana que vem, e não se sabe o quanto isso poderá afetar o
desempenho do time.
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