E
aqui estou novamente com mais uma coluna da seção Arquivo. Esta foi escrita
logo após o GP da Austrália, que encerrou a temporada de 1995. Foi o adeus à
cidade de Adelaide, que sediara pela última vez a corrida australiana. No ano
seguinte, Melbourne passaria a ser a nova sede do GP, que se mantém até hoje no
Albert Park. A corrida mostrou a vitória mais fácil da carreira de Damon Hill,
que chegou com duas voltas de vantagem para Olivier Panis, da Ligier. Todos os
demais oponentes de peso ficaram pelo meio do caminho. Uma corrida de despedida
tranqüila e sem maiores confusões. Uma boa leitura para todos, e em breve, mais
colunas de antigamente por aqui...
ADEUS A ADELAIDE
Adriano de Avance Moreno
A
última prova de F-1 que a cidade de Adelaide promoveu bateu todos os recordes
de público da categoria: cerca de 520 mil pessoas estiveram presentes em todo o
fim de semana, sendo que só no dia da corrida foram cerca de 230 mil
expectadores, uma cifra considerável para a última corrida do ano. Vou sentir
saudades deste circuito, assim como todos os pilotos e equipes, que sempre
viram nesta prova uma etapa mais descontraída e relaxada, depois de um
campeonato duro e tenso.
A
prova deste ano teve muita emoção, apesar de ter sido a mais fácil vitória já
conquistada por Damon Hill em sua carreira. Todos os pilotos que poderiam lhe
complicar as coisas ficaram pelo caminho. Para a Benetton, esta prova foi um
descalabro: Michael Schumacher enroscou-se com Jean Alesi na disputa pela 2ª
posição, enquanto Johnny Herbert viu suas expectativas de pódio virarem fumaça
quando seu motor estourou. A Ferrari viveu o mesmo drama: Alesi ficou no
enrosco com Schumacher, e Gerhard Berger também ficou pelo caminho com o motor
estourado. Já David Couthard protagonizou outra cena cômica, batendo no muro de
entrada do pit Lane logo ao entrar nos boxes para sua primeira parada. A
entrada do box, aliás, parecia bem traiçoeira: Roberto Moreno bateu de traseira
ao entrar ali, destruindo a suspensão traseira, enquanto Herbert simplesmente
seguiu reto ao entrar no box, mas conseguiu desviar o carro e voltar à pista
externa por sorte, parando desta vez sem problemas, na volta seguinte. Outra
cena curiosa foi Olivier Panis, que cruzou a linha de chegada em 2º lugar com o
motor fumegando nas 3 voltas finais. Foi um toque de emoção, pois tudo indicava
que a Ligier iria ficar pelo caminho, mas Panis enfim conseguiu o seu 2º pódio
na F-1.
O
clima de Adelaide estava mais descontraído do que nunca, pois os títulos de
pilotos e de construtores já havia sido decidido, e com o fato de que esta
seria a última prova de F-1 disputada em Adelaide, todos trataram de aproveitar
ao máximo possível. A farra de todos ao fim da noite nos tradicionais pontos de
encontro que o pessoal costuma freqüentar todos os anos foi ainda melhor.
Lembro-me que Schumacher, em 94, tomou um tremendo porre numa boate perto do
circuito, saindo totalmente grogue no dia seguinte, numa farra que não parou
antes das 5 da madrugada de segunda-feira. Desta vez o ânimo não foi assim tão
grande, mas todos caíram numa folia merecida, depois de uma temporada difícil e
trabalhosa.
A
única tensão do GP foi o acidente de Mika Hakkinem no treino de sexta, mas
apesar do susto, o piloto já está consciente e fora de perigo. Outro acidente
feio desses era tudo que a F-1 não precisava. Felizmente, foi tudo mais um
susto, apesar de Hakkinem ter passado a noite de sexta-feira em coma no
Hospital Real de Adelaide. O piloto da McLaren fica no hospital até o fim de
semana que vem, só por precaução, mas todos estão confiantes em seu retorno às
pistas já em dezembro, nos testes coletivos do circuito do Estoril, em
Portugal.
O
GP da Austrália sempre teve suas peculiaridades, algumas por ser um GP em
terras localizadas do outro lado do mundo, outras por ser a última corrida do
ano. A bandeirada do vencedor, por exemplo, sempre é dada com muito entusiasmo
pelo diretor de prova australiano, às vezes até com alguns malabarismos. E tem
razão de ser especial: ela encerra a temporada, e por méritos, tem todo o
direito de ser mais alegre e festiva. Outras peculiaridades são as festas
promovidas durante todo o fim de semana, sem falar na farra e bagunça que
alguns pilotos e equipes promovem para celebrar o fim do campeonato.
Nélson
Piquet, por exemplo, famoso por suas piadas e declarações inflamadas, fez uma
farra clássica aqui em 1985, quando disputou sua última corrida pela Brabham.
Piquet juntou os jornalistas em frente aos boxes de sua equipe e disse que
iriam ter uma surpresa. Ele e os mecânicos entraram no box, fecharam a porta, e
depois de um minuto de mistério, abriram as portas: todos os mecânicos e Piquet
estavam de costas para os fotógrafos, e com as calças arriadas. O ruído das
máquinas fotográficas encheu o ar, resultando em uma imagem célebre. Não vi a
danada, mas quem viu garante que é um desses momentos tremendos de furos
“quentes”do folclore da Fórmula 1.
Outra
particularidade do GP australiano é que geralmente aqui os pilotos costumam dar
tudo o que podem na pista, pois estão mais descontraídos e geralmente
revigorados depois de uma semana de férias nos paraísos tropicais de Bali,
Queensland e Indonésia. E, sem a obrigação de provar mais nada, eles vão à luta
apenas pelo prazer de pilotar, o que é uma ocasião rara na F-1 hoje em dia. Apenas alguns
pilotos ainda disputam posições de monta, assim como algumas equipes, mas mesmo
com toda esta disputa, o clima é bem mais amigável. Esta prova deveria servir
de modelo para todo o campeonato.
Espero
que, no futuro, Adelaide tenha a honra de servir novamente como palco para a
F-1. Agora, os carros mais rápidos do mundo passarão a correr em Melbourne, em
um circuito que está sendo montado num dos parques do centro da cidade. Todos
aguardam com ansiedade este novo circuito, que irá dar o pontapé inicial para a
temporada de 1996, mas em uma coisa todos concordam: não será nunca igual à
corrida de Adelaide, por melhor que seja. Todo o circo da F-1 deixou a cidade
australiana, de volta à Europa, certo de que esta pista deixa saudades para
todos. Para alguns, na verdade, já está deixando. Mas o tempo para curtir esta
saudade é curto. Ainda ontem, a Ferrari já fez sua apresentação oficial de seus
pilotos para a temporada 96, com Michael Schumacher e Eddie Irvinne. Berger e
Alesi já partiram para a Benetton. McLaren, Jordan e Sauber já estão com seus
cronogramas de testes para o fim de novembro e o mês de dezembro preparados e
prontos para seguir em frente. A F-1
nunca pára, nem mesmo pela saudade que muitos irão sentir de um agradável
circuito de seu calendário. Um circuito que, na minha opinião, foi o melhor
circuito de rua já usado até hoje pela F-1...
Por
tudo o que pudemos ver nestes 11 anos, adeus, Adelaide!
No último fim de semana, Émerson Fittipaldi apresentou oficialmente em São Paulo a sua nova
equipe para 96 na F-Indy, a Penske/Hogan Racing, onde será o único piloto da
escuderia. “Emmo” também aproveitou para mostrar como será o seu novo carro
para a próxima temporada, e todos ficaram impressionados: o carro será todo
vermelho, com os logotipos da Marlboro e Móbil pintados em branco. Émerson
usará o número 9 em seu bólido. “Legal, vamos todos de vermelho!”, disparou o
sobrinho de Émerson, Christian, que também correrá com um carro totalmente
vermelho pela equipe Newmann-Hass em 1996.
A Marlboro, satisfeita com os resultados do Marlboro Brazilian Team,
agora ampliou o projeto para Latin Team, patrocinando jovens e talentosos
pilotos do restante da América Latina. Brasileiros, argentinos e outros jovens
de talento terão apoio oficial da Marlboro.
Para quem gosta de detalhes interessantes, o pódio de Gianni Morbidelli
em Adelaide, foi o seu primeiro na F-1. Foi também o primeiro pódio da equipe
Arrows desde o GP dos Estados Unidos de 1989, quando Eddie Cheever também
chegou em 3º lugar. O piloto, aliás, por coincidência, subiu ao pódio em
Phoenix, cidade onde foi disputado o GP naquele ano, e onde ele nasceu.
Nenhum comentário:
Postar um comentário