quarta-feira, 23 de maio de 2012

ARQUIVO PISTA & BOX – NOVEMBRO DE 1995 – 17.11.1995


            E aqui estou novamente com mais uma coluna da seção Arquivo. Esta foi escrita logo após o GP da Austrália, que encerrou a temporada de 1995. Foi o adeus à cidade de Adelaide, que sediara pela última vez a corrida australiana. No ano seguinte, Melbourne passaria a ser a nova sede do GP, que se mantém até hoje no Albert Park. A corrida mostrou a vitória mais fácil da carreira de Damon Hill, que chegou com duas voltas de vantagem para Olivier Panis, da Ligier. Todos os demais oponentes de peso ficaram pelo meio do caminho. Uma corrida de despedida tranqüila e sem maiores confusões. Uma boa leitura para todos, e em breve, mais colunas de antigamente por aqui...



ADEUS A ADELAIDE


Adriano de Avance Moreno



            A última prova de F-1 que a cidade de Adelaide promoveu bateu todos os recordes de público da categoria: cerca de 520 mil pessoas estiveram presentes em todo o fim de semana, sendo que só no dia da corrida foram cerca de 230 mil expectadores, uma cifra considerável para a última corrida do ano. Vou sentir saudades deste circuito, assim como todos os pilotos e equipes, que sempre viram nesta prova uma etapa mais descontraída e relaxada, depois de um campeonato duro e tenso.
            A prova deste ano teve muita emoção, apesar de ter sido a mais fácil vitória já conquistada por Damon Hill em sua carreira. Todos os pilotos que poderiam lhe complicar as coisas ficaram pelo caminho. Para a Benetton, esta prova foi um descalabro: Michael Schumacher enroscou-se com Jean Alesi na disputa pela 2ª posição, enquanto Johnny Herbert viu suas expectativas de pódio virarem fumaça quando seu motor estourou. A Ferrari viveu o mesmo drama: Alesi ficou no enrosco com Schumacher, e Gerhard Berger também ficou pelo caminho com o motor estourado. Já David Couthard protagonizou outra cena cômica, batendo no muro de entrada do pit Lane logo ao entrar nos boxes para sua primeira parada. A entrada do box, aliás, parecia bem traiçoeira: Roberto Moreno bateu de traseira ao entrar ali, destruindo a suspensão traseira, enquanto Herbert simplesmente seguiu reto ao entrar no box, mas conseguiu desviar o carro e voltar à pista externa por sorte, parando desta vez sem problemas, na volta seguinte. Outra cena curiosa foi Olivier Panis, que cruzou a linha de chegada em 2º lugar com o motor fumegando nas 3 voltas finais. Foi um toque de emoção, pois tudo indicava que a Ligier iria ficar pelo caminho, mas Panis enfim conseguiu o seu 2º pódio na F-1.
            O clima de Adelaide estava mais descontraído do que nunca, pois os títulos de pilotos e de construtores já havia sido decidido, e com o fato de que esta seria a última prova de F-1 disputada em Adelaide, todos trataram de aproveitar ao máximo possível. A farra de todos ao fim da noite nos tradicionais pontos de encontro que o pessoal costuma freqüentar todos os anos foi ainda melhor. Lembro-me que Schumacher, em 94, tomou um tremendo porre numa boate perto do circuito, saindo totalmente grogue no dia seguinte, numa farra que não parou antes das 5 da madrugada de segunda-feira. Desta vez o ânimo não foi assim tão grande, mas todos caíram numa folia merecida, depois de uma temporada difícil e trabalhosa.
            A única tensão do GP foi o acidente de Mika Hakkinem no treino de sexta, mas apesar do susto, o piloto já está consciente e fora de perigo. Outro acidente feio desses era tudo que a F-1 não precisava. Felizmente, foi tudo mais um susto, apesar de Hakkinem ter passado a noite de sexta-feira em coma no Hospital Real de Adelaide. O piloto da McLaren fica no hospital até o fim de semana que vem, só por precaução, mas todos estão confiantes em seu retorno às pistas já em dezembro, nos testes coletivos do circuito do Estoril, em Portugal.
            O GP da Austrália sempre teve suas peculiaridades, algumas por ser um GP em terras localizadas do outro lado do mundo, outras por ser a última corrida do ano. A bandeirada do vencedor, por exemplo, sempre é dada com muito entusiasmo pelo diretor de prova australiano, às vezes até com alguns malabarismos. E tem razão de ser especial: ela encerra a temporada, e por méritos, tem todo o direito de ser mais alegre e festiva. Outras peculiaridades são as festas promovidas durante todo o fim de semana, sem falar na farra e bagunça que alguns pilotos e equipes promovem para celebrar o fim do campeonato.
            Nélson Piquet, por exemplo, famoso por suas piadas e declarações inflamadas, fez uma farra clássica aqui em 1985, quando disputou sua última corrida pela Brabham. Piquet juntou os jornalistas em frente aos boxes de sua equipe e disse que iriam ter uma surpresa. Ele e os mecânicos entraram no box, fecharam a porta, e depois de um minuto de mistério, abriram as portas: todos os mecânicos e Piquet estavam de costas para os fotógrafos, e com as calças arriadas. O ruído das máquinas fotográficas encheu o ar, resultando em uma imagem célebre. Não vi a danada, mas quem viu garante que é um desses momentos tremendos de furos “quentes”do folclore da Fórmula 1.
            Outra particularidade do GP australiano é que geralmente aqui os pilotos costumam dar tudo o que podem na pista, pois estão mais descontraídos e geralmente revigorados depois de uma semana de férias nos paraísos tropicais de Bali, Queensland e Indonésia. E, sem a obrigação de provar mais nada, eles vão à luta apenas pelo prazer de pilotar, o que é uma ocasião rara na F-1 hoje em dia. Apenas alguns pilotos ainda disputam posições de monta, assim como algumas equipes, mas mesmo com toda esta disputa, o clima é bem mais amigável. Esta prova deveria servir de modelo para todo o campeonato.
            Espero que, no futuro, Adelaide tenha a honra de servir novamente como palco para a F-1. Agora, os carros mais rápidos do mundo passarão a correr em Melbourne, em um circuito que está sendo montado num dos parques do centro da cidade. Todos aguardam com ansiedade este novo circuito, que irá dar o pontapé inicial para a temporada de 1996, mas em uma coisa todos concordam: não será nunca igual à corrida de Adelaide, por melhor que seja. Todo o circo da F-1 deixou a cidade australiana, de volta à Europa, certo de que esta pista deixa saudades para todos. Para alguns, na verdade, já está deixando. Mas o tempo para curtir esta saudade é curto. Ainda ontem, a Ferrari já fez sua apresentação oficial de seus pilotos para a temporada 96, com Michael Schumacher e Eddie Irvinne. Berger e Alesi já partiram para a Benetton. McLaren, Jordan e Sauber já estão com seus cronogramas de testes para o fim de novembro e o mês de dezembro preparados e prontos para seguir em frente. A F-1 nunca pára, nem mesmo pela saudade que muitos irão sentir de um agradável circuito de seu calendário. Um circuito que, na minha opinião, foi o melhor circuito de rua já usado até hoje pela F-1...
            Por tudo o que pudemos ver nestes 11 anos, adeus, Adelaide!


No último fim de semana, Émerson Fittipaldi apresentou oficialmente em São Paulo a sua nova equipe para 96 na F-Indy, a Penske/Hogan Racing, onde será o único piloto da escuderia. “Emmo” também aproveitou para mostrar como será o seu novo carro para a próxima temporada, e todos ficaram impressionados: o carro será todo vermelho, com os logotipos da Marlboro e Móbil pintados em branco. Émerson usará o número 9 em seu bólido. “Legal, vamos todos de vermelho!”, disparou o sobrinho de Émerson, Christian, que também correrá com um carro totalmente vermelho pela equipe Newmann-Hass em 1996.

 

A Marlboro, satisfeita com os resultados do Marlboro Brazilian Team, agora ampliou o projeto para Latin Team, patrocinando jovens e talentosos pilotos do restante da América Latina. Brasileiros, argentinos e outros jovens de talento terão apoio oficial da Marlboro.



Para quem gosta de detalhes interessantes, o pódio de Gianni Morbidelli em Adelaide, foi o seu primeiro na F-1. Foi também o primeiro pódio da equipe Arrows desde o GP dos Estados Unidos de 1989, quando Eddie Cheever também chegou em 3º lugar. O piloto, aliás, por coincidência, subiu ao pódio em Phoenix, cidade onde foi disputado o GP naquele ano, e onde ele nasceu.

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