Decorridas as primeiras duas corridas do campeonato 2012 da Indy Racing League, o que se pode verificar até o momento é que, apesar de todo o novo pacote técnico, o panorama da categoria parece ter se mantido praticamente inalterado. Carros e motores novos, com velhos conhecidos dando as cartas neste início de campeonato, sem apresentar tantas surpresas como alguns esperavam ver em virtude da adoção dos novos carros e motores utilizados.
É verdade que muitos pilotos e equipes ainda não se acharam completamente com o novo carro fabricado pela Dallara, o modelo DW12, e ainda estão por descobrir as reais potencialidades do chassi. Da mesma maneira, os novos motores turbo adotados ainda tem algumas particularidades a serem melhor exploradas, mas alguns indícios já podem ser confirmados depois destas duas corridas disputadas.
Quem esperava que o novo carro pudesse embaralhar um pouco a relação de forças se decepcionou. Penske e Ganassi, os times mais poderosos da categoria, saíram novamente na frente, e já mostraram sua força tanto em São Petesburgo quanto em Barber. A maior estrutura dos dois times lhes dá uma vantagem significativa na luta para descobrir os melhores ajustes e potencialidades dos novos equipamentos. Os times menores, que não dispõem de tantos recursos, já ficaram um pouco para trás, o que sugere que eles poderão surpreender apenas ocasionalmente em algumas corridas, dependendo de circunstâncias anormais ou estratégias diferenciadas de corrida que porventura sejam bem-sucedidas. O fato do carro ser o mesmo para todos não implica em terem a mesma performance, mas é inegável que esta é muito menos desnivelada do que na F-1, onde o fato de cada time produzir seu próprio monoposto resulta em performances muitas vezes desiguais entre as escuderias.
Entre os motores, o Chevrolet parece estar na dianteira, superando o Honda especialmente no quesito consumo de combustível, ainda que por uma margem relativamente pequena, mas suficiente para fazer a diferença se bem aproveitada na estratégia de corrida. Confirmaram-se as dúvidas a respeito dos motores Lótus, que terão muito trabalho para conseguir apresentar o mesmo rendimento dos rivais, pra não mencionar na disponibilidade de equipamento, um problema adicional que poderá deixar vários pilotos na corda bamba. Sebástien Bourdais, por exemplo, por pouco não ficou sem motor para disputar a corrida no Alabama. Piloto e equipe acharam que o propulsor havia quebrado nos treinos, e não havia nenhum motor reserva disponível. A sorte da escuderia e do francês foi que o defeito no motor não era o que pensavam, e após o conserto, Bourdais pôde disputar a corrida normalmente. Mas, devido à falta de propulsores, as escuderias equipadas com os Lótus não puderam participar da sessão de treinos especiais desta semana em Indianápolis, onde seriam testados os kits aerodinâmicos do novo carro pela primeira vez no superspeedway mais famoso do mundo.
A Penske saiu na dianteira no campeonato, fazendo as duas poles nas corridas e vencendo ambas, mas com pilotos diferentes: Hélio Castro Neves venceu na Flórida e foi pole em Barber, enquanto Will Power largou na frente em São Petesburgo e vencer a corrida no Alabama. Helinho lidera o campeonato, e parece estar deixando a má fase dos últimos dois anos para trás, mas ainda é muito cedo para comemorar. A maior ameaça ao piloto brasileiro encontra-se na garagem ao lado, dentro de sua própria equipe: Will Power tem sido o principal nome da Penske nos últimos dois anos, e mostrou no Alabama que virá com tudo para tentar enfim ser campeão da categoria, após bater na trave em 2010 e 2011. Há praticamente 13 anos na escuderia, Helinho nunca conquistou um título, seja na antiga F-Indy, seja na IRL. Seu trunfo foram 3 vitórias na Indy500, o que não é pouco, mas o título ainda lhe foge, e vai encontrar em Power um adversário duríssimo.
Para sorte de Power, seu maior rival na luta pelo título nos últimos dois anos, Dario Franchitti, está tendo um péssimo início de campeonato. Tetracampeão da categoria, o piloto escocês fez corridas apáticas nas duas primeiras provas, ocupando apenas a 10ª posição, com 37 pontos. Mas a Ganassi não pode ser subestimada, e a prova é que Scott Dixon ocupa a 2ª posição na classificação, com 84 pontos, apenas 2 atrás de Hélio Castro Neves, e 7 à frente de Will Power. Dixon fez corridas sólidas em ambas as provas, subindo em ambas ao pódio, e mostrando que o motor Honda pode dar trabalho aos Chevrolet, assim como a Ganassi estar mais do que à altura de encarar o poderio da Penske. Se Franchitti reencontrar o rumo, tem todas as condições de virar o jogo, como aconteceu nos últimos dois anos, quando parecia que a Penske venceria, mas o título acabou nas mãos do escocês.
Um pouco atrás, a Andretti Motorsport pode se intrometer na briga das duas superpotências da Indy, mas ainda não dá para esperar que um de seus pilotos entre firme na luta pelo título, que ao que tudo indica, deve ficar novamente restrita aos pilotos do duo Penske-Ganassi. E se esperava mais da KV Racing, time que cresceu bastante no ano passado, com a contratação de Tony Kanaan, que terminou o campeonato em 5° lugar, estando sempre entre os primeiros na classificação. Mas, não se iludam: apesar dos bons resultados, o piloto baiano nunca esteve na disputa pelo título, e conseguiu se manter entre os líderes graças a muita constância e shows de pilotagem em algumas corridas.
A tendência era a KV mostrar maior crescimento neste ano, ainda mais com o reforço de Rubens Barrichello. Mas a estrutura da KV, por melhor que seja hoje, ainda não se pode comparar à uma Penske ou Ganassi, estando até um pouco abaixo da Andretti. E isso se refletiu no trabalho de desenvolvimento do novo carro, que até agora não alcançou a fiabilidade necessária para dar a seus pilotos melhores chances de resultados significativos. Rubens Barrichello enfrentou problemas nos treinos em São Petesburgo , e Tony Kanaan viu suas corridas arruinadas por problemas mecânicos nas duas oportunidades. Ernesto Viso, por sua vez, não é lá o que pode chamar de piloto de encher os olhos, então... Após as duas provas, Barrichello é o melhor piloto da KV no campeonato, em 11°, com 37 pontos. Viso é o 12°, com 36, e Kanaan está apenas em 26° com 22 pontos...
Enquanto a tendência é de se repetir a disputa pelo título entre Penske e Ganassi, no resto do pelotão as disputas prometem muito equilíbrio. Alguns pilotos andaram muito bem nas corridas iniciais, embora o resultado final não tenha sido muito justo ao que mostraram durante a prova. O equilíbrio maior que a categoria desfruta permite que surpresas possam ocorrer, mas ainda não será desta vez que veremos novidades na disputa pelo título.
Outro fator que deve ser analisado é a redução das provas em pistas ovais, que são minoria nesta temporada. Isso por si só já deve dar maior favoritismo a Will Power, que nunca conseguiu ser dominante nestas pistas como consegue ser nos circuitos de rua e mistos. As corridas em oval eram o terreno mais favorável à Chip Ganassi, que certamente terá de encarar um terreno mais complicado para seus pilotos nas pistas urbanas e mistas, mas que não pode ser subestimada, como Dixon mostrou até agora.
Para os brasileiros, as esperanças de título resumem-se a Helinho na Penske, enquanto na KV tanto Barrichello quanto Kanaan lutarão pelos melhores resultados que puderem, no máximo um ou outro pódio. Uma vitória de algum deles já será um resultado extraordinário. E na corrida de São Paulo e Indianápolis, haverá mais um piloto nacional no grid: Bia Figueiredo acertou com a Andretti para correr estas duas provas, e anda busca patrocínio para conseguir disputar mais algumas corridas nesta temporada.
A direção da Indycar fez vários esforços para que este campeonato seja encarado como um renascimento da categoria. O novo carro e a volta da diversidade de motores foram boas iniciativas e trouxeram maior interesse pela disputa. E para o ano que vem, algumas pistas da antiga F-Indy devem estrear no campeonato, ajudando a melhorar ainda mais o campeonato. Este, por enquanto, ainda não apresenta maiores novidades, mas ainda tem muito chão pela frente, então, vamos para a próxima corrida e esperemos o que pode acontecer na pista.
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