A
Fórmula 1, enfim, retornou ao Bahrein, como muitos até temiam. Corrida
cancelada no ano passado, em virtude dos protestos do povo por um governo mais
justo e menos opressor, desta vez a ganância da FOM e da FIA falou mais alto, e
o circo da categoria já está armado no autódromo de Sakhir, sob forte esquema
de proteção, para garantir que nada dê errado, e a segurança de todos esteja
assegurada.
Se
no ano passado a F-1 mostrou um raro caso de bom senso, seria demais esperar a
repetição do mesmo milagre. Mas na semana passada, em pleno GP da China, Bernie
Ecclestone e Jean Todt vieram a público para dizer que correriam por que
correriam no Bahrein neste final de semana. Os times, receosos com a notícia,
mudaram seu tom e dizem acreditar nas garantias da FIA e do governo barenita de
que não haverá nada de errado por lá. E eu também acredito no coelhinho da
Páscoa, e que os políticos brasileiros são honestos a toda prova...
Pelo
sim, pelo não, será a corrida mais esvaziada, em termos de profissionais da
imprensa, em muitos anos. Várias emissoras que transmitem a categoria
resolveram não enviar suas equipes ao Oriente Médio, preferindo fazer uma
transmissão total de seus estúdios em suas respectivas sedes. Da mesma maneira,
vários órgãos da imprensa escrita também não mandaram seus repórteres e
fotógrafos para Sakhir. Para alguns times, ouvi algo na linha de que “seria
menos gente para encher o saco”, talvez uma indireta de que os jornalistas e
fotógrafos só incomodam, mas no diz-que-diz do momento, não sei se é uma declaração
verídica ou apenas fofoca...
De
qualquer maneira, até o fechamento desta coluna, tudo seguia como o planejado,
de modo que hoje serão disputados os primeiros treinos livres. Mas a turma que
está protestando nos últimos meses vem reforçando sua hostilização, ao passo
que as forças de segurança barenitas também estão aumentando a repressão
brutalmente, prendendo várias pessoas potencialmente causadoras de confusão
para evitar que o caos se mostre, o que é mais um mau sinal a ser carregado
pela F-1. Os chefões da F-1 dizem que esporte e política não se misturam e não
devem mesmo se misturar, justificando a decisão de correr no pequeno país
árabe. Só que a justificativa é totalmente falsa devido ao fato de que,
correndo, a F-1 já está tomando uma posição, que é a de apoio à família real
barenita, ou seja, do governo, pois este é o organizador da corrida, e não uma
empresa particular. Bernie Ecclestone & Cia. resolveram mandar o bom senso
para as cucuias em troca dos dólares dos árabes da família Al Khalifa, e o
povo, que faz até exigências legítimas de uma vida melhor, mais liberdade e
justiça, que se dane, pura e simplesmente. Mas, desde quando a F-1 age de
maneira sensata? O lado negócio manda, mesmo que a insensatez tenha que
prevalecer.
E
mesmo que o clima até agora tenha se mostrado “calmo”, não há garantias de que
vá permanecer assim. John Yates, membro do Ministério do Interior do governo
barenita, já deu declarações de que o governo não é capaz de garantir segurança
total para a realização do GP. Os times, por sua vez, tomaram medidas de
proteção extras para seu pessoal em todo o fim de semana, desde o momento de
suas chegadas a Manama. Se isso vai resolver, afirmo que é algo relativo. Se o
povo resolver mostrar sua força, temo pelo pior que possa acontecer. E
acreditem, o pior pode mesmo ser plausível, com direito, talvez, a bombas e
invasões em larga escala. E os manifestantes estariam prometendo “três dias de
fúria” nos protestos, e de hoje a domingo, são três dias... E na semana
passada, os protestos já ficaram bem mais violentos, com direito a bombas e
mortes, sinal de que o clima, que era indócil, estaria esquentando com a
proximidade da corrida.
Tenho
receio de que, em algum momento-chave, uma multidão de pessoas invada o
circuito, talvez com os carros na pista, e façam um estrago monumental, antes
que qualquer força de segurança consiga botar alguma ordem no pedaço. Estamos
falando de uma região do globo onde homens-bomba e atentados com bombas, muitas
de alto poder explosivo, não são incomuns. Certo, o Bahrein não é a Síria, a
Tunísia, o Egito ou a Líbia, mas dá para ignorar tal ameaça? E se algo assim
acontecer, quero ver com que cara o pessoal da F-1 vai ficar, isso na hipótese
de a corrida acabar cancelada ou anulada devido a algum atentado, e nem estou
falando de alguém acabar morrendo no meio disso tudo. Pode até não acontecer
nada, mas a F-1 já deu o seu recado: dinheiro na mão e dane-se todo o resto...
Martin
Witmarsh, da McLaren, disse que não vê diferença entre ir para o Bahrein ou
para o Brasil, dando a entender que por aqui as coisas também são perigosas, e
muito. Que a segurança em Interlagos não é lá essas coisas, para falar da
situação geral de nosso país, bem, isso não é novidade nenhuma. É uma
realidade, e muito vergonhosa para nosso país, diga-se, ainda mais com a
impunidade e corrupção que grassam nossos poderes públicos, que a cada dia mais
perdem a vergonha na cara e chegam ao cúmulo de alguns políticos admitirem na
cada dura que não estão nem aí para o povo. Mas daí a comparar com um país à
beira de uma guerra civil, com bombas voando para todos os lados, e um governo
reprimindo manifestações até legítimas com violência, ainda não chegamos nem
perto disso. Mas, por outro lado, Witmarsh é mais do que suspeito para falar
algo, afinal, metade do grupo McLaren é de propriedade de um fundo de
investimentos ligado ao governo barenita, então ele nunca poderia falar mal
deles...
O
governo barenita, por sua vez, perdeu sua oportunidade de mostrar que está
preocupado com o bem-estar de seu povo, ao iniciar a onda de repressão. País
dos mais liberais no Golfo Pérsico, o Bahrein tinha tudo para efetuar algumas
mudanças e dar ao povo mais liberdade e tratamento justo. É um país
relativamente pequeno, onde seria fácil implantar mudanças que certamente
agradariam à parcela descontente da população e até deixar a monarquia que
governa o país com uma imagem positiva e popular. Mas a divisão dos sunitas e
xiitas parece falar mais alto, e o governo da minoria sunita aparentemente
prefere manter seu status quo de poder, enquanto a maioria do povo, que é
xiita, sente-se desprezada e ignorada.
A
F-1 resolveu procurar sarna para se coçar. E vai ser bem ruim se acabar
encontrando...
Nico Rosberg enfim desencantou na F-1, ao conseguir, domingo passado,
sua primeira vitória na categoria, e a primeira da Mercedes como equipe de F-1
desde a década de 1950. Nico torna-se o segundo filho de campeão de F-1 a vencer na categoria,
repetindo o feito de Damon Hill, filho do bicampeão Graham Hill. Keke Rosberg,
pai de Nico, foi campeão pela equipe Williams em 1982. Nico chega à vitória
depois de 6 temporadas e 110 corridas. A festa da equipe Mercedes só não foi
mais completa porque Michael Schumacher abandonou a corrida depois de seu
primeiro pit stop, em conseqüência de uma das rodas não ter sido devidamente
apertada na troca de pneus, obrigando o heptacampeão a abandonar logo em
seguida. Em contrapartida, o pódio de Shanghai foi todo ocupado por pilotos
usando motores da Mercedes. Jenson Button e Lewis Hamilton ficaram em 2° e 3°
lugares, e a McLaren usa os propulsores alemães desde 1995.
A Indy Racing League viu o australiano Will Power vencer a corrida de
Long Beach na semana passada, após uma ousada corrida de estratégia do piloto
da Penske, que assumiu a liderança do campeonato. E a categoria desembarca na
próxima semana em São Paulo, para a prova brasileira do calendário. O circuito,
mais uma vez, será na região do Anhembi. Espero que se lembrem de deixar São Pedro
de fora desta vez, ao contrário dos últimos dois anos...
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