quarta-feira, 18 de abril de 2012

ARQUIVO PISTA & BOX – OUTUBRO DE 1995 – IV

            Aqui estou eu para trazer mais uma de minhas antigas colunas. Esta foi escrita logo após o GP do Pacífico de 1995, a última corrida realizada no circuito de Aida, que despediu-se da F-1 assistindo à conquista do bicampeonato de Michael Schumacher pela equipe Benetton. Um campeonato que, ao contrário do ano anterior, não teve dúvidas para ninguém: Michael havia sido mesmo o melhor piloto do ano, embora, mais uma vez, não tivesse exatamente o melhor carro. A Williams, por sua vez, não soube capitalizar seu potencial técnico para conquistar o título, e se em 1994 ainda tinha vingado a taça dos construtores, em 1995, nem isso conseguiria.
            Mas foi também o único título de construtores conquistado pela equipe Benetton. Ao fim da temporada, Michael Schumacher se mudaria de mala e cuia para a Ferrari, e o time multicolorido nunca mais seria o mesmo, vítima de sua extrema dependência do piloto alemão. Curtam agora o texto, e até breve...

 
SCHUMACHER NÃO GANHOU, A WILLIAMS É QUE PERDEU
 
Adriano de Avance Moreno

            Michael Schumacher conquistou o seu bicampeonato com chave de ouro no GP do Pacífico. Adotando a princípio uma postura prudente e cautelosa, dizendo que iria correr pelo título, Schumacher acelerou fundo e conquistou o campeonato com uma vitória incontestável, derrotando seus pretensos adversários com facilidade até.
            Não quero discutir os méritos e o talento do alemão, mas de fato, tudo foi facilitado para ele. Não foi Schumacher que ganhou o título, mas a Williams que o perdeu. Damon Hill e David Couthard estiveram longe de aproveitar o real potencial técnico da Williams durante o campeonato, com exceção de algumas ocasiões.
            No quesito classificação, a Williams foi imbatível, com 6 poles de Hill e 5 de Couthard, contra apenas 3 de Schumacher. Mas é na corrida que tudo se decide, e nessa hora, Schumacher chegou a humilhar os pilotos do time adversário. Apenas em uma ou outra etapa o alemão acabou comendo poeira dos pilotos de Frank Williams.
            A Williams já começou meio mal o ano. Apesar de ter o melhor carro, viu Couthard se resignar a ser o 2º colocado em Interlagos. Na Argentina e em Ímola, Hill dominou a concorrência, com Schumacher caindo pelas tabelas. A partir de Barcelona, entretanto, a maré voltou-se a favor do alemão. Contribuiu para isso, as quebras de Hill em Barcelona e no Canadá. Adotando uma nova tática de corrida, o alemão surpreendeu a todos parando apenas 1 vezes nos boxes, ou 1 vez a menos que a concorrência. Foi assim na Espanha, Mônaco e França, e só não repetiu o feito no Canadá por um problema momentâneo no câmbio.
            Na Inglaterra, onde vimos um Damon Hill determinado e decidido a encarar Schumacher na base do tudo ou nada, acabou dando-se nada quando o inglês forçou uma ultrapassagem em um ponto impossível de fazê-lo e ambos acabaram fora da pista. Hill acabou se precipitando e perdeu a chance de derrotar Schumacher em uma luta direta, pois tinha o que precisava para o pressionar e passar a Benetton.
            Na Alemanha, uma derrapada e saída de pista logo ao iniciar a 2ª volta foi outro erro de Hill que facilitou as coisas e permitiu a Michael vencer pela primeira vez em Hockeinhein. Nesta corrida, Couthard também fracassou em deter o alemão, terminando na 2ª posição, logo atrás do piloto da Benetton. Se tivesse mais determinação, poderia ter vencido. Já em Silverstone, o ímpeto de Couthard lhe rendeu uma punição de 10s em virtude de excesso de velocidade nos boxes, e viu suas chances de vencer a corrida irem para Johnny Herbert.
            Na Hungria, Hill foi perfeito e nocauteou Schumacher na pista e na estratégia de corrida, mas foi sua última grande exibição. Daí em diante, ele foi perdendo Schumacher de vista na classificação, até a conquista do título de 95 domingo passado pelo alemão.
            Na Bélgica, não fosse sua punição por excesso de velocidade nos boxes, Hill talvez tivesse chance de dar mais combate a Schumacher. Apesar disso, foi uma corrida em que Damon foi agressivo e determinado, mas faltou-lhe a sorte para conseguir vencer, o que Michael teve de sobra. Em Monza, Hill se precipitou novamente, causando uma batida que deixou ele e Schumacher fora da pista. Mas desta vez, as imagens mostraram que Schumacher freou um pouco antes, após ambos ultrapassarem um retardatário. Muitos ficaram divididos neste episódio: uns acham que Hill cometeu outro erro grosseiro; outros acham que Schumacher tentou levar Hill a cometer um erro e até a sair da pista para evitar uma batida. Se foi com esta última intenção, acabou errando feio também, pois acabou sendo tirado da corrida, pois Hill não conseguiu evitar a colisão. Ninguém saberá a verdade: se de um lado Hill afirma que foi atrapalhado pelo retardatário, Schumacher nunca vai dizer que cometeu um erro tentando intimidar Hill com uma freada antecipada.
            Em Portugal e em Nurburgring, o alemão deu o seu show, e apesar da vitória de Couthard no Estoril, o escocês não conseguiu se livrar da má imagem que causou em Monza, onde rodou sozinho duas vezes: na volta de apresentação e depois quando liderava a corrida. E, da mesma maneira que ganhou em Portugal, em Nurburgring o escocês acabou levando vantagem sobre Hill apenas por causa dos erros do colega de equipe. Durante o tempo em que esteve na pista, Hill andou muito mais rápido do que Couthard. Mas uma tentativa errada de ultrapassar Jean Alesi numa curva tirou-lhe as esperanças de vencer a corrida.
            Em Aida, Schumacher deu um show, derrubando tanto Hill quanto Couthard, que tinham equipamento superior ao alemão, mas ficaram apenas na promessa. Hill ainda tinha o consolo de ter ficado um bom tempo preso no tráfego, mas ficou nítido que seu maior adversário acabou sendo sua própria equipe, que gastou preciosos segundos a mais em seus pit stops do que o pessoal da Benetton em relação a Schumacher.
            Resumindo tudo até agora, a Williams teve quase sempre o melhor carro durante toda a temporada, mas seus pilotos não conseguiram tirar proveito, ou o fizeram muito mal, desse potencial, e só não ficaram ainda pior porque a Ferrari, que no início do ano dava mostras de que poderia competir com Benetton e Williams, também caiu muito de rendimento, não correspondendo às expectativas.
            As razões para isso são muitas. Muitas razões mesmo, a começar é claro por Schumacher, cujo talento ninguém discute, mas ele mesmo não é considerado uma boa figura. Na Alemanha, sua popularidade não é lá essas coisas, e muitos o julgam um farsante e arrogante, imagem que Michael não consegue se livrar, por mais que se esforce. Outras razões foram a excelente visão estratégica da Benetton, que se mostrou superior à da Williams em diversas ocasiões, derrubando Hill e Couthard em situações que ninguém esperava ocorrerem. Hill e Couthard também tiveram sua cota de culpa por isso também. O inglês cometeu diversos erros em corrida, e o escocês chegou a abusar dos equívocos em diversas etapas. Em outras mais, ambos não conseguiram aproveitar a performance técnica das máquinas de Frank Williams. Em outras corridas, simplesmente não tiveram braço, e em outras, nem se fala. A fiabilidade mecânica também pesou contra a Williams, cujos pilotos, em especial Couthard, abandonou diversas corridas por motivo de quebra mecânica, o que só inflingiu Schumacher e sua Benetton na Hungria, e por pouco no Canadá.
            Tudo isso apenas mostra que, como em 1986, quando Nélson Piquet e Nigel Mansell perderam o título para Alain Prost, a Williams perdeu o campeonato para Michael Schumacher, e neste ano a situação é pior que a de 94, quando a escuderia conquistou, pelo menos, o título de construtores. Este ano, com 21 pontos de vantagem, a Benetton está perto de conquistar a taça dos construtores, e deixar a Williams, pela primeira vez desde 1991, com um amargo vice-campeonato para engolir...
            Isso não quer dizer que Schumacher não seria o campeão se a Williams tivesse utilizado melhor seu equipamento e seus recursos. Poderia até não ser o campeão, mas sua luta teria sido muito mais difícil, e enfrentado muito mais resistência e oposição, o que forçaria Schumacher a ter de mostrar todo o seu talento em condições mais desfavoráveis, para conquistar o título. Sua vitória, nestes termos, seria muito mais saboreada do que nas condições em que foram realmente conseguidas...



O Brasil pode acabar sediando 2 etapas da F-1 em 1996. Além do Grande Prêmio do Brasil, o nosso país pode acabar tendo também o Grande Prêmio das Américas, que poderá ser realizado no circuito de Jacarepaguá, que recebeu a F-1 até 1989.



Christian Fittipaldi já começou a treinar com sua nova equipe, a Newmann-Hass. E logo no primeiro teste, já foi mais rápido do que o primeiro piloto do time, Michael Andretti. Resta saber como vai ser o relacionamento dos dois caso o brasileiro faça o americano comer poeira na primeira ocasião em 1996. Vem briga por aí...

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