Infelizmente, deu com os burros n’água o projeto da equipe de Gil de Ferran para competir no campeonato da Indy Racing League este ano. O motivo: falta de verba. Gil não conseguiu simplesmente captar recursos que viabilizassem a participação de sua escuderia, que estreou ano passado na categoria, este ano. Em tese, pior para Tony Kanaan, que tinha feito um acerto com seu compatriota, e saiu a campo mais decidido do que nunca a conseguir completar sua parte do acordo, pois precisava levar patrocínio para ajudar o time. Em contas mais aproximadas, algo em torno de uns US$ 7,5 milhões seriam necessários para que a escuderia disputasse o campeonato 2011 a contento, e isso apenas com um carro no time. Tony, depois de muita luta, conseguiu aproximadamente algo em torno de uns US$ 3 milhões, boa parte deles proveniente da Cervejaria Petrópolis, que também firmou um acordo com Hélio Castro Neves, embora com este seja mais restrito às provas brasileira e a Indy500. Com Tony, o patrocínio é de tempo mais integral. Entretanto...
O piloto baiano, contudo, não está fora da briga para correr em 2011. Tony garante ter contato com cerca de 5 times, alguns com boas possibilidades, e agora tendo um patrocínio mais garantido, suas chances aumentaram bastante. Mas há dúvidas ainda. Ele lamentou o ocorrido com Gil de Ferran, pela não obtenção de verba, e ainda fez questão de isentar o compatriota de qualquer dúvida de picaretagem reafirmando que o acordo era mesmo de risco. Para Gil, pior do que não ter conseguido cumprir sua parte, foi ter de fechar o seu time, dispensando todos os empregados, e ter de repensar sua vida daqui para frente. Não vai ser o fim do mundo para ele, mas encerrar um projeto que tinha empenhado tanto esforço e trabalho certamente deu uma grande frustração.
E fica a dúvida contundente: porque um piloto do porte de Tony Kanaan, que foi campeão da IRL em 2004, agora tem de passar por esta situação, sem conseguir patrocínio suficiente para se garantir no grid, enquanto pilotos de qualidade duvidosa ostentam patrocínios às vezes polpudos, garantindo vaga com muita facilidade? Certamente, uma grande injustiça, mas o automobilismo nunca foi muito justo, embora nos últimos tempos dê-se a impressão de a situação estar piorando sobremaneira. Não dá para pedir justiça nesse ramo, embora algumas atitudes colaborem para piorar a situação.
Aqui no Brasil, por exemplo. Nossa economia está crescendo bastante? Apregoa-se isso quase todo dia. As empresas crescem, o emprego também. E, nessa onda de prosperidade, ninguém tem interesse em patrocinar um piloto de qualidade como Kanaan? O que está errado, afinal? Em alguns tempos até recentes, a Petrobrás patrocinava a Williams na F-1. E hoje, com um piloto brasileiro no time inglês, nada. Na IRL, Bia Figueiredo competiu apenas em poucas etapas no ano passado porque não tinha patrocínio suficiente. Até Mário Moraes, que tinha por trás de si o Grupo Votorantin, perdeu sua vaga. O automobilismo parece ter virado um lugar profano para se investir? Ou não?
Nos Estados Unidos, a economia ainda sente fortemente os efeitos da crise econômica de dois anos atrás, e na IRL, praticamente só há dois times sem absolutamente nenhum problema financeiro: Penske e Ganassi. Todos os demais necessitam completar a verba, ou reforçar o orçamento, mesmo com patrocínios garantidos, ou empregam pilotos que têm seus próprios patrocinadores. Mas a grande maioria precisa mesmo é de mais grana, e esta anda mais curta do que nunca. Para cortar gastos, a IRL cancelou a etapa que disputa no Japão, em Motegi, que era imposta pela Honda. Como em 2012 muda a regra dos motores, a direção da categoria achou por bem cortar a prova japonesa, tentando diminuir os seus gastos, na próxima temporada. E, mesmo com os gastos contidos, mesmo assim falta dinheiro. A categoria “TOP” de monopostos dos EUA deixou de ser interessante? O que houve?
Aqui no Brasil, a IRL simplesmente nunca empolgou ninguém, muito diferente da F-Indy que era comandada pela CART, que em determinado momento da década retrasada, chegou a competir com a F-1 pela atenção do telespectador nacional. Embora atualmente tenha o nome oficial de “Indycar”, muitos ainda chamam a categoria pelo seu nome original, IRL (Indy Racing League), que foi uma categoria dissidente criada por Tony George em 1995 devido à sua rixa com a direção da CART. Querendo mais poder, ele criou sua própria categoria, que por cerca de 10 anos duelou pela atenção dos fãs de corridas nos EUA. Por fim, a F-Indy, em decorrência de erros internos, acabou, e seus times remanescentes foram “absorvidos” pela IRL, que apregoou a “vitória” na guerra das categorias Indy, e que agora, voltaria a ser o que “era” antes. Só que os benefícios desse “triunfo” até agora não se materializaram. Pior, durante a briga IRL X CART, quem se deu bem foi a Nascar, a Stock Car americana, que cresceu como nunca, e hoje, praticamente centraliza as atenções dos fãs de corridas, e isso inclui também os maiores e melhores patrocinadores.
Como desgraça pouca é bobagem, tirando a Indy500, que sempre foi uma corrida meio que à parte na visão dos patrocinadores devido à sua tradição, a IRL tornou-se meio que mal vista por boa parcela do público por causa desta briga de categorias, e em diversas corridas, mesmo após essa “reunificação”, dá para ver vários lances de arquibancadas vazios. E a categoria ainda tem uma exposição ridícula na TV americana, tendo sido transmitida ano passado por um canal a cabo de pouca expressão na Terra do Tio Sam, o Versus, com apenas uma ou outra prova transmitida em canal aberto. Tornou-se muito mais viável canalizar os recursos publicitários em automobilismo para a Nascar do que para a IRL. E, em tempos de vacas magras, a opção ficou ainda mais desvantajosa para a IRL...daí a dificuldade dos times de se obter patrocínio, mesmo em times teoricamente bem estruturados, como a Andretti (que perdeu o patrocínio da 7-Eleven, que sustentava o carro de Kanaan, e não conseguiu um novo patrocinador para substituí-lo); ou o caso do time de Gil de Ferran, que não conseguiu aportar suporte, mesmo tendo um piloto do porte de Kanaan. Até o campeão da Indy Lights do ano passado, Jean-Karl Vernay, viu sua estréia na IRL este ano naufragar, após perder seus patrocinadores, que resolveram pular fora...
Aqui no Brasil, a IRL nunca desfrutou do mesmo prestígio que a F-Indy. E agora, para piorar, ainda tem o modo como a categoria é transmitida no país, pelo Grupo Bandeirantes, detentor dos direitos da competição. O grupo anuncia que vai transmitir o campeonato da IRL, junta patrocinadores e tal, mas depois disso, vira um samba do crioulo doido: conta-se nos dedos quais corridas são transmitidas ao vivo; a maioria ano passado virou VT de fim de noite de domingo, e ainda assim, editado; tirando a etapa brasileira e a Indy500, nenhuma corrida tinha garantia de ser transmitida em canal aberto, e ao vivo. As provas eram exibidas pelo Bandsports, canal pago do grupo, e algumas corridas foram exibidas na Play TV. Outras começaram a ser exibidas, e depois tiradas do ar para apresentação do futebol. Um caos total...Quem vai querer patrocinar algo assim se não tem certeza de como as corridas serão exibidas? Não há um “padrão” confiável. E não adianta a Bandeirantes argumentar que as provas são exibidas ao vivo no canal pago, pois o que interessa aqui é a audiência na TV aberta que conta.
Sem uma transmissão feita de forma coerente, os potenciais patrocinadores nacionais preferem investir o seu dinheiro em outros lugares, onde o retorno é mais garantido. E isso se aplica também à visibilidade no mercado americano, pois como mencionei acima, nos próprios Estados Unidos a IRL é mal veiculada, pois o Versus é um canal cuja expressão esportiva nem se compara a uma ESPN da vida, onde eram exibidas as corridas da antiga F-Indy há 20 anos atrás, onde tinham grande exibição. Há empresas nacionais que poderiam estar investindo em nossos pilotos na IRL, mas como se vê, as condições de transmissão da categoria, tanto lá fora quanto aqui, desestimulam totalmente a empreitada.
Por essas e outras, Tony Kanaan ter conseguido o apoio da Itaipava/TNT (marcas da Cervejaria Petrópolis) já é uma grande vitória, e sem desmerecer à empresa, que vai investir no piloto tomando um rumo contrário ao que se vê no mercado brasileiro, o que merece os mais efusivos cumprimentos. Pena que até o momento, pareça a única empresa de porte a ter um pouco mais de visão, e ousadia, de apostar no automobilismo internacional apoiando nossos pilotos, algo que até pouco tempo atrás, era algo muito mais comum e rotineiro.
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