Como prometido, inicio aqui a seção “ARQUIVO”, onde postarei todas as minhas antigas colunas de automobilismo, para quem quiser ler e rever parte do que aconteceu nestas quase últimas duas décadas, desde que passei a escrever estas colunas, embora eu já escrevesse sobre automobilismo desde 1989. Junto com cada coluna tentarei adicionar um pequeno comentário sobre a situação da época, para melhor visualização do contexto daqueles dias. Espero que possam curtir estes meus velhos textos, à medida que forem sendo disponibilizados, da mesma forma que minhas colunas atuais.
Pode ser um bom exercício de memória lembrar como eram as coisas naqueles dias, não tão distantes como os anos das décadas de 1960 e 1970, mas de certa forma tão distantes dos dias de hoje quanto aqueles, à luz das atuais condições das corridas disputadas...
OUTUBRO DE 1993
Esta é a minha primeira coluna de automobilismo, tendo sido escrita uma semana após a vitória de Ayrton Senna na pista de Suzuka, no Japão, após um período de “vacas magras” para o brasileiro no campeonato daquele ano, onde perdeu as chances de disputar o título frente ao equipamento superior do rival Alain Prost, com a Williams/Renault. A reação do brasileiro, e da equipe McLaren, que conseguiu recuperar boa parte da competitividade do modelo MP4/8 equipado com motor Ford, deu um alento à reta final do campeonato, onde a 2ª posição do certame voltava a ser discutida, uma vez que o título já havia sido matematicamente fechado na prova de Portugal, com Prost conquistando o tetracampeonato.
A prova nipônica começou com um show na classificação, com vários pilotos disputando a pole, e terminou com mais um show de Ayrton Senna na chuva, que caiu em momentos intermitentes da prova. E, sem que soubéssemos o que aconteceria meses depois, seria sua última performance em pista molhada...
Confiram agora a minha primeira coluna PISTA & BOX:
BOAS DISPUTAS
Adriano de Avance Moreno
O Mundial de F-1 de 1993 está acabando e, ao que tudo indica, as últimas provas foram as melhores, com exceção das 3 primeiras etapas do ano. Adelaide, na Austrália, tem tudo para mostrar a melhor prova do ano. Se em Suzuka, um circuito muito técnico e que exigia muita potência dos motores, previa-se um total domínio das Williams, o que se viu foi o treino mais disputado do ano, com nada menos do que 5 pilotos brigando pela pole-position. A chuva que caiu a meio da corrida também ajudou a tornar a disputa mais interessante, e a vitória de Ayrton Senna agora o coloca em disputa direta pelo vice-campeonato com Damon Hill. O fato de a chuva também estar muitas vezes presente na prova australiana, como a de 1989 e 1991, é um fator que pode pesar. As maiores chances de se ter uma prova equilibrada está na própria natureza do circuito de Adelaide: é uma pista de rua, o que geralmente nivela um pouco os carros.
Se a McLaren conseguir em Adelaide o mesmo nível de acerto para seus carros como o que conseguiu em Suzuka, Ayrton Senna poderá ter realmente grandes chances de conseguir não só a pole-position como também a vitória na prova que encerra o mundial. O único ponto do circuito de Adelaide em que o motor conta mais é na Brabham Straigh, que é o retão do circuito; fora essa trecho, todos os demais são curvas e mais curvas, intercaladas por pequenas retas, um setor bem sinuoso, um pouco parecido com o primeiro trecho de Suzuka, onde a McLaren mostrou um desempenho muito superior à Williams: Senna chegou a fazer esse trecho com um tempo cerca de 0s777 mais rápido que Alain Prost.
A Benetton mostrou que pode andar perto, mas só nos treinos, como em Suzuka, onde nunca foi uma ameaça séria, ficando relegada a segundo plano. Não se pode, porém, descartar todas as hipóteses. É justamente entre Benetton e McLaren que fica a briga mais interessante em Adelaide: a Benetton está 2 pontos atrás da McLaren no campeonato de construtores, e Michael Schumacher disse antes de começar a temporada que em 1992 Ayrton Senna foi mais rápido que ele só porque o brasileiro tinha o motor Honda, e que este ano, com motores iguais, iria fazer Senna ver quem era mesmo o mais rápido, ele (Schumacher), ou Ayrton (Senna). Passadas 15 etapas, ninguém duvida que Schumacher perdeu a parada. O alemão teve uma derrota pior ainda se levarmos em conta que o brasileiro da McLaren teve, durante 8 provas, um motor cerca de 25 HPs mais fraco que o da Benetton de Schumacher. Nesse período, Senna conseguiu 3 vitórias e chegou a deter a liderança do campeonato, enquanto o alemão só conseguiu seus melhores resultados (dois 2° lugares, em Ímola e no Canadá) quando o brasileiro ficou fora de combate.
Apesar da crise de competitividade que atingiu a McLaren entre os GPs da França e da Bélgica, a Benetton só conseguiu superar Senna com Schumacher nas provas da França, Inglaterra, Alemanha e Bélgica, voltando a perder nas demais corridas.
O episódio do soco dado por Ayrton Senna em Eddie Irvinne no Japão foi realmente uma baixaria. Senna, mesmo que tenha a autoridade de um tricampeão mundial, até teria razão de reclamar de Irvinne não ter lha dado a passagem facilmente, mas agredi-lo após a corrida já foi ir longe demais, e a pista não é de seu uso exclusivo: há vários outros pilotos disputando a prova também. Penso que Ayrton já esqueceu tudo o que fez no início de sua carreira, onde seu arrojo também incomodava outros pilotos já estabelecidos...
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