Lando Norris parabeniza Oscar Piastri pela vitória no GP do Bahrein. O inglês ainda lidera o campeonato, mas o australiano vem chegando muito rápido.
Depois
de perder o Grande Prêmio do Japão, diante da magistral performance de Max
Verstappen, a McLaren colocou as coisas nos seus devidos lugares no Bahrein, e
comprovou a força que demonstrou na pré-temporada, averbando mais uma vitória,
e dando a entender que o campeonato tem tudo para ver um duelo interno no time
de Woking. Oscar Piastri fez a pole-position e comando a corrida como quis,
vencendo com autoridade, e acima de tudo, com uma pilotagem precisa e sem
erros. Já Lando Norris errou na classificação, e cometeu novos erros na
corrida, e só chegou ao pódio porque o carro da McLaren é muito bom, e a
concorrência não está à altura para promover uma ameaça real aos carros papaias
a ponto de tirar o sono de Zak Brown.
Se há algo que pode colocar em risco mesmo as chances de título, pelo menos enquanto a concorrência não se apruma, está dentro da própria McLaren, em seus pilotos, e nos boxes da escuderia. Fora da pista, o time de Woking, um dos mais vitoriosos na história da F-1, ainda precisa acertar melhor algumas de suas estratégias de corrida, precisando se colocar melhor em promover mudanças nos planos de acordo com as circunstâncias de corrida, como vimos no Japão, onde poderia ter reagido melhor se tivesse adotado uma estratégia melhor nas paradas de box. E, claro, a atitude de seus pilotos, que embora sejam rápidos e talentosos, ainda inspiram certa desconfiança quando o assunto é a verve e gana necessários para brigar efetivamente pelo título do campeonato.
Pelo menos em Sakhir, Oscar Piastri começa a despontar como nome mais forte para liderar a McLaren neste duelo pelo campeonato de pilotos. O australiano marcou a pole com autoridade, largou bem, e soube comandar a corrida enquanto esteve na liderança, não permitindo aos rivais a menor brecha para azares. Aproveitou todo o potencial do modelo MCL39, e é o primeiro piloto a repetir vitória na temporada, tendo vencido também o GP da China. Não fosse o despiste que cometeu no GP da Austrália, quando saiu da pista e perdeu as chances de um bom resultado, Oscar já teria assumido a liderança do campeonato. Com o triunfo, e o 3º lugar de Lando Norris, o inglês manteve a liderança do campeonato, com 77 pontos, seguido de perto por Piastri, com 74. Max Verstappen ainda ocupa a 3ª posição, com 69 pontos, mas já vê George Russell no retrovisor, com 63 pontos.
Com a Mercedes ainda se encontrando na pista, assim como a Ferrari, e com a Red Bull cada vez mais dependente do brilhantismo de Verstappen, tudo parece encaminhado para a McLaren seguir firme e impávida rumo ao título de 2025, mas não se pode comemorar por antecipação. Afinal, da mesma forma como a McLaren deu a volta por cima a partir da segunda metade da temporada de 2023, e no ano passado, apesar de um início um pouco complicado, fez uma recuperação igualmente impressionante a partir da etapa de Miami, não se pode ignorar a possibilidade de times rivais, como Mercedes, Ferrari, ou até mesmo a Red Bull, resolverem seus problemas, e virem para cima, como ocorreu no ano passado, quando o time dos energéticos começou de forma arrasadora, dando a entender que repetiria o massacre de 2023, e a partir da etapa de Miami, tudo ficou mais complicado, com os rivais crescendo de performance, enquanto a Red Bull estagnou, situação que ficou ainda mais complicada no segundo semestre, quando Ferrari, Mercedes e principalmente a McLaren, assumiram a primazia na competição. Foi graças a Verstappen, e à vantagem acumulada no início do ano, que permitiram ao holandês e à equipe de Milton Keyner ainda chegar ao título, embora tenha sido suplantada no campeonato de construtores.
Mercedes e Ferrari tentaram resistir ao poderio da McLaren em Sakhir. George Russell ainda conseguiu ficar à frente de Lando Norris, mas Charles LeClerc não conseguiu.
Por
mais difíceis que sejam as chances dos concorrentes efetuarem virada igual na
competição, não se pode menosprezar a possibilidade de tal virada ocorrer,
portanto, é crucial para o time de Woking maximizar seus resultados enquanto
dispõe da vantagem técnica, o que não significa escolher um piloto em
detrimento de outro. Por enquanto, Piastri se mostra o nome mais forte do time
para uma eventual disputa do título, diante dos erros cometidos por Lando
Norris nas últimas etapas. Mas o inglês pode se colocar nos eixos, e voltar à
dianteira, colocando Piastri para escanteio, se o australiano também tiver
momentos ruins. Deixar que ambos os pilotos se mantenham em iguais condições
segue como política da escuderia, uma vez que, até o presente momento, ninguém
roubou pontos do outro propriamente. A única regra, que acho mais do que
válida, é que eles não batam um no outro numa eventual disputa de posição.
Resta esperar que a McLaren consiga administrar a situação se a disputa se acirrar entre os dois pilotos. A escuderia já viveu seus momentos de brigas internas em temporadas passadas. Algumas se mantiveram pacíficas, enquanto outras praticamente descambaram para uma guerra fraticida interna. Em 1984, Niki Lauda e Alain Prost duelaram ponto a ponto pelo título, com o austríaco levando a taça pela menor diferença da história da F-1: 0,5 ponto. Não houve brigas internas, e o ambiente entre os dois pilotos seguiu de forma respeitosa e harmoniosa. No ano seguinte, o duelo não se repetiu, diante da queda de rendimento de Lauda, e Prost levou seu primeiro título sem desgastes de duelos internos na escuderia.
Por outro lado, em 1988 e 1989, a situação foi bem diferente. Tendo Ayrton Senna como novo colega de time, Prost até teve uma convivência satisfatória com o brasileiro no primeiro ano, quando perdeu a disputa para Ayrton, mas alguns gestos mais agressivos por parte de Senna já indicavam que a situação poderia ficar mais conturbada. Em 1989, Prost acusou Senna de não respeitar o acordo de largada e primeira volta na segunda largada da etapa de San Marino. Senna deu de ombros, dizendo que o acordo não valia para relargadas, o que foi o estopim para a guerra entre ambos eclodir de vez no time, que ainda tentava conciliar as diferenças de temperamento entre sua dupla de pilotos. A McLaren só não perdeu o título de 1989 porque ainda era o time dominante na competição, e Prost se deu melhor desta vez, derrotando Senna. Mas o francês rompeu com a McLaren, indo para a Ferrari em 1990, e continuando sua guerra contra Senna agora defendendo outra escuderia.
Depois de vencer de forma magistral no Japão, Max Verstappen voltou a ter problemas de desempenho do carro da Red Bull, e o máximo que conseguiu foi o 6º lugar.
Em
2007, Lewis Hamilton, novato na F-1, deixou Fernando Alonso, bicampeão mundial,
na berlinda dentro do time, desafiando a posição de primeiro piloto do espanhol
na pista e fora dela. O clima azedou de vez dentro do time quando surgiu o
escândalo do roubo de projetos da Ferrari por parte de um dos engenheiros da
McLaren, e o espanhol tomou partido nessa briga, ficando contra a McLaren. O
resultado é que, diante de uma disputa ferrenha com a Ferrari, o time de
Maranello acabou levando o título de pilotos com Kimi Raikkonen na última
corrida, no Brasil, enquanto Alonso e Hamilton, brigados dentro e fora da
pista, terminaram atrás. Além de perder o título de pilotos, a McLaren acabou
excluída do campeonato de construtores devido ao escândalo do roubo dos
projetos, além de ter tido que pagar uma multa milionária. Como consequência,
Alonso rompeu seu contrato, que seria de três anos com a McLaren, e voltou para
seu antigo time, a Renault. Tanto em 1989 quanto em 2007, a escuderia tentou
administrar a situação, mas infelizmente as coisas saíram do controle, a ponto
de gerar uma divisão interna na escuderia, que viveu um clima de guerra
declarada, com as piores consequências em 2007, que foram aumentadas pelo
problema do roubo dos projetos da Ferrari.
E agora? O que pode acontecer? Pode não acontecer nada, e pode acontecer tudo. O time de Woking ainda domina a temporada, e a derrota sofrida no Japão para Max Verstappen tem tudo para ser algo excepcional. No Bahrein, o time dos energéticos teve um desempenho que em nada lembrou a exímia performance do holandês em Suzuka. O único ponto positivo, se é que pode ser dito dessa maneira, foi ver Yuki Tsunoda conseguir ter uma performance aceitável, e terminado a corrida na zona de pontuação. Vertappen terminou em 6º lugar, e em nenhum momento chegou a brigar pela ponta, sendo que o mau humor do tetracampeão dá indícios de que o time de Milton Keynes terá dias turbulentos pelas próximas etapas, se não conseguir apresentar um desenvolvimento efetivo de seu carro que possa pelo menos aplacar as cobranças do holandês, que a cada dia parece ficar cada vez mais inconformado com a possibilidade de não conseguir discutir o título este ano.
A Mercedes parece ser o rival mais próximo, mas capaz de incomodar se um dos pilotos do time papaia se enrolar na corrida. Foi o que vimos em Sakhir, em que pese George Russell ter feito uma pilotagem primorosa defendendo-se de Lando Norris nas voltas finais da corrida, mesmo com pneus mais desgastados. Assim, pelo menos por enquanto, a Mercedes pode almejar a vencer se ocorrer algum problema com a dupla da McLaren. E pelo seu lado, a Ferrari luta para recuperar seu rumo depois de um início de temporada aquém do esperado. Mas o time italiano também conseguiu fazer uma excelente evolução no ano passado, a ponto de discutir o título de construtores com a equipe inglesa, tendo chegado perto de concretizar esse objetivo, perdendo o duelo apenas na etapa final, em Abu Dhabi. Pode ter perdido a disputa, mas chegou perto, e poderia até ter complicado a situação da McLaren, não fosse uma atualização equivocada no meio do ano que fez a escuderia perder terreno em alguns GPs até que conseguisse sanar o problema.
McLaren: três vitórias em quatro corridas. Mas não dá para comemorar por antecipação. Time ainda precisa deixar de errar em determinados momentos.
Pode
ser complicado para a Mercedes, e teoricamente, até mais para a Ferrari,
colocarem real oposição ao domínio da McLaren na temporada, mas a exemplo do
que a Red Bull conseguiu no Japão com Verstappen, nada impede que o time de
Woking sofra alguns reveses durante o ano, o que não significa que só por
ficarem sem vencer em algumas provas, toda a temporada estará comprometida.
Criticaram a equipe por não ter uma estratégia mais eficiente para suplantar o
holandês em Suzuka, alegando que o time se acomodou em ficar em 2º e 3º, o que
é compreensivo, mas quando vemos o tamanho da temporada, também não dá para
condenar a equipe inglesa por manter posições, e sair da etapa nipônica com uma
expressiva pontuação, tanto no campeonato de pilotos quanto no de construtores.
Basta eles manterem o domínio, e não perderem o sono com alguns percalços que
certamente poderão ocorrer durante o ano, e mesmo assim, não poderão reclamar
tanto, se uma situação como a de Suzuka se repetir, aqui ou ali, desde que nas
outras corridas a McLaren não marque bobeira na pista e nos boxes.
Se ela mantiver a situação sob controle, não há porque condenar o duelo interno entre Lando Norris e Oscar Piastri. Que os dois resolvam as coisas na pista, e que vença o melhor.
A Alpine finalmente desencantou na temporada. Pierre Gasly fez uma grande exibição em Sakhir, e marcou os primeiros pontos da escuderia francesa no ano, com um 7º lugar, sendo que até a última curva da última volta, ele ocupava a 6ª posição, e vinha se defendendo com grande performance das investidas de Max Verstappen, que só conseguiu superar o ex-colega de time praticamente na última curva, entrando na reta de chegada. Para coroar o bom momento da Alpine, Jack Doohan também vinha bem na maior parte da prova, até que seu carro perdeu desempenho, e o australiano teve de se resignar a um modesto 14º lugar. O desempenho de Doohan, contudo, começa a afastar um pouco o fantasma da demissão em favor de colocar Franco Colapinto em seu lugar, mas todo cuidado é pouco, ainda mais envolvendo alguém do caráter duvidoso de Flavio Briatore, que mesmo com um bom desempenho do piloto, pode resolver sacá-lo sem dar maiores satisfações. Não custa lembrar a demissão sumária que o dirigente fez com Roberto Moreno, em 1991, para colocar Michael Schumacher no seu lugr a partir do GP da Itália daquela temporada, sendo que o brasileiro, na prova anterior, na Bélgica, tinha sido o 4º colocado, e ainda feito a melhor volta da corrida...
Jorge Martin, atual campeão da MotoGP, enfim fez sua estréia na temporada 2025. O piloto, que se recuperava de fraturas nas mãos decorrentes do primeiro dia de testes da pré-temporada, e de uma queda durante sua preparação para a etapa de estréia da temporada, entrou na pista de Losail, no Qatar, disposto mais a conhecer sua nova moto do que a competir propriamente, uma vez que praticamente não teve tempo de se aclimatar ao novo equipamento. Sentindo dores na mão lesionada, o desempenho do piloto da Aprilia de fato em nenhum momento foi de destaque, mas na corrida de domingo, o pior aconteceu, quando ele se enroscou de leve com Fabio Di Giannantonio e acabou sofrendo uma queda. Levado para o centro médico do autódromo de Losail, Martin aparentemente não havia sofrido lesões, mas uma análise mais detalhada acabou por apontar nada menos que 11 fraturas nas costelas do tórax, além da constatação de um pneumotórax, uma condição da pleura, entre os pulmões. O piloto acabou sendo transferido para o Hospital Geral Hamad, que atestou, após uma bateria de exames, que felizmente não houve alterações traumáticas afetando o cérebro, a coluna cervical ou os órgãos abdominais. Já sobre as fraturas de costelas, oito delas afetaram os arcos costais posteriores, do primeiro ao oitavo, e três fraturas foram observadas nos arcos laterais, do sétimo ao nono. Também se observou edema pleural mínimo no contexto do pneumotórax conhecido. O hospital, no final de sua nota, declarou que "Jorge permanecerá em observação por alguns dias no Hospital Internacional Hamad até que o pneumotórax se resolva". O que significa, em poucas palavras, ficar novamente de fora das próximas corridas, sem previsão de volta. No presente momento, Martin não pode nem retornar à Espanha para continuar seu tratamento, pois as dores que acometem o piloto inviabilizam sua viagem, estimando a necessidade de ficar internado pelo menos duas semanas no Hospital Geral Hamad. Já seria uma temporada complicada para o piloto, de qualquer maneira, mas agora a situação ficou bem mais complicada, e exigirá um período de repouso e recuperação mais amplos. Martin até que tinha sido cauteloso em seu retorno, preferindo não forçar, e apenas se concentrar em tentar entender seu novo equipamento, mas infelizmente o azar bateu em cima, e agora, veremos como se dará o desenrolar da situação. Especula-se pelo menos três meses, no mínimo, de recuperação, na melhor das hipóteses, o que indica que um possível retorno ocorreria somente a partir de agosto.
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Queda do atual campeão no seu retorno em Losail deixou tudo ainda mais complicado para o piloto, que ainda segue internado no Qatar. |
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