Com quatro corridas
disputadas, Porsche e Jaguar não conseguiram traduzir em números o favoritismo
esperado para a temporada de 2025 da Formula-E, mas uma ameaça se concretizou:
a Nissan vem para brigar pelo título, e não vai ficar apenas na competição de
pilotos, mas também na de equipes e construtores. Certo, ainda tem muita
corrida pela frente, com possibilidade de ocorrerem várias reviravoltas, a
depender das circunstâncias de cada etapa, mas não se pode ignorar que o time
nipônico evoluiu bastante, e se no ano passado chegou atrasado para discutir o
título no duelo entre Jaguar e Porsche, este ano já se apresentou para a briga,
obrigando os rivais a se mexerem para não ficarem escanteados.
Nestas quatro corridas realizadas até agora, tivemos duas vitórias da Nissan, com Oliver Rowland, que vem sendo o grande destaque do time de fábrica da marca japonesa, que assumiu a antiga equipe e.Dams depois que a Renault pulou fora para se concentrar na F-1, deixando para a marca japonesa assumir as operações na categoria de carros monopostos elétricos. A princípio repetindo o formato de parceria entre fabricante e escuderia, a Nissan resolveu assumir o time por inteiro, com vistas a assumir protagonismo na F-E, e depois de algum tempo, as peças começaram a se encaixar, e a dar os resultados esperados. No ano passado, Rowland já havia feito um final de temporada forte, mas o avanço das rivais Porsche e Jaguar não deixaram o inglês chegar para a briga, sendo que uma ausência na rodada dupla de Portland também acabou prejudicando as chances de ainda tentar brigar pela taça da competição. Mas o recado estava dado: a marca japonesa mirava o protagonismo exercido pelas duas marcas rivais, e certamente não iria dar mole no novo campeonato que marcou a estréia dos carros Gen3EVO. Na pré-temporada, a Nissan já deu indícios de que poderia se intrometer na briga entre Porsche e Jaguar, mas testes são testes, e corridas são corridas, e os resultados poderiam não corresponder às expectativas.
No ePrix de São Paulo, a Nissan deu azar com punições que tiraram sua dupla de pilotos da zona de pontuação, mas o desempenho estava lá, e podiam muito bem ter brigado pela vitória da corrida. Na Cidade do México, apesar do favoritismo da Porsche, Oliver Rowland estragou a festa da equipe alemão atacando nas voltas finais fazendo excelente uso do Modo Ataque, e conquistando a vitória. O inglês repetiu o feito na segunda corrida de Jeddah, mais uma vez fazendo uma corrida cerebral, atacando no momento certo para sair com mais uma vitória obtida com autoridade. O panorama no time japonês só não é mais positivo porque apenas Rowland vem conseguindo brilhar até aqui, contabilizando 3 pódios em 4 provas, com Norman Nato, seu companheiro de equipe, não conseguindo mostrar serviço até agora, estando praticamente zerado na competição, e olhe que a equipe dispensou Sacha Fenestraz ao fim da última temporada justamente pela falta de resultados apresentada pelo piloto. Do contrário, a Nissan poderia estar até em melhor posição do que está atualmente, para desespero dos rivais. Se Nato não se cuidar, seu lugar pode estar em risco, e o piloto reserva da equipe é Sergio Sette Câmara, que está mais do que ávido para voltar ao grid como titular. Por enquanto, uma troca não é cogitada, mas Norman que fique de sobreaviso se continuar dando azar na competição...
Mas a ameaça da Nissan não vem apenas do seu time de fábrica. A McLaren, que também usao trem de força nipônico, vem fazendo bom uso do equipamento, e fechada a rodada dupla de Jeddah, Rowland lidera o campeonato com respeitáveis 68 pontos, enquanto o vice-líder é Taylor Barnard, piloto revelação do time de Woking, com 51 pontos, e que promete ser uma das sensações da atual temporada tendo também subido 3 vezes ao pódio em 4 corridas. Mas, tal como na Nissan, o time da McLaren também vem tendo resultados desbalanceados de sua dupla de pilotos: se Barnard está surpreendendo, Sam Bird até aqui vem decepcionando, em que pese ter feito um 4º lugar em São Paulo e feito um 8º posto na primeira corrida de Jeddah, garantindo 16 pontos na competição. O resultado disso é que no campeonato de equipes a Nissan lidera somente com os 68 pontos de Oliver Rowland, enquanto a McLaren está apenas 1 ponto atrás, na 2ª colocação, com pontos de seus dois pilotos. Bird é um dos pilotos mais experientes e vencedores do grid, mas ficou zerado em duas provas, mas se der sorte, pode muito bem engrossar as estatísticas de pontuação da McLaren, como já mostrou ter condições de fazer.
E a Porsche? O time que foi campeão de pilotos com Pascal Wehrlein na temporada passada deu um pouco de azar nas primeiras duas provas, mas poderia ter saído com a vitória nas duas etapas, como mostrou Antônio Félix da Costa, que foi 2º colocado nas duas corridas. Mas Wehrlein deu um tremendo azar num acidente na etapa paulistana, perdendo uma boa oportunidade de pontuar, algo que ele corrigiu no México, fechando o pódio. As duas pole-positions anotadas pelo atual campeão reafirmam que a Porsche não pode ser subestimada, sendo um postulante sério ao título, como não poderia deixar de ser. Mas, infelizmente, os azares tem surgido de forma contundente no time. Wehrlein, além do acidente sofrido em São Paulo, acabou com sua corrida arruinada na primeira prova de Jeddah, e na segunda corrida, teve de se contentar com um modesto 8º lugar. Esta conjugação de maus resultados deixou Pascal numa modesta 8ª posição no campeonato, com apenas 25 pontos anotados até o presente momento. Já Antônio Felix da Costa, por sua vez, além de brigar firme pela vitória nas duas primeiras etapas, também acabou dando azar na Arábia Saudita, onde fez um fraco 9º lugar na primeira corrida, e na segunda, levou uma batida de Maxximilian Gunther, e foi forçado a abandonar. Mesmo assim, o português ocupa a 3ª colocação no campeonato, com 39 pontos, e tem tudo para vir para cima e recuperar terreno, se não enfrentar problemas alheios a seu controle.
Taylor Barnard tem levado a McLaren ao pódio, sendo uma das sensações da temporada deste ano.
A Porsche se mostra
para a briga no campeonato de equipes, vindo logo atrás de Nissan e McLaren,
com 64 pontos, mostrando que pode ter uma disputa renhida com os dois times à
frente, mas que também precisa tomar cuidado com a retaguarda, com a DS Penske
ocupando a 4ª colocação, apenas 1 ponto atrás. Se o time alemão ainda não
venceu na atual temporada, o time de Jay Penske obteve um triunfo na primeira
prova de Jeddah com Maxximilain Gunther, que arrancou para o triunfo na última
curva da última volta para roubar o que seria mais uma vitória de Oliver
Rowland na competição. Pena que, se brilhou na primeira corrida, Gunther jogou
tudo a perder na segunda corrida, acertando um dos carros da Porsche e dando
adeus à corrida ainda na primeira volta.
O resultado da DS Penske poderia ser melhor de Gunther não tivesse feito essa estripulia, que inclusive renderá uma punição de 5 posições no grid ao piloto na próxima corrida do campeonato. Jean-Éric Vergne, por sua vez, tem sido um pouco mais constante nos resultados, mas ficando abaixo da média do desejável, tendo um 5º lugar no México como melhor resultado, não tendo tido um momento de destaque como o de Gunther, que apesar de ficar zerado em duas corridas, venceu uma, apesar de tudo.
Mas, e a Jaguar? Bem, aqui a situação é mais complicada de entender para uma das marcas favoritas na competição. Se em São Paulo, apesar de uma classificação atribulada, Mith Evans conseguiu uma performance épica largando em último para vencer a corrida, e mostrando que o time inglês seguiria firme na competição, de lá para cá tudo vem dando errado, com Evans acumulando dois abandonos e uma pífia 19ª posição nas etapas seguintes, sem conseguir sequer passar perto da zona de pontuação, ocupando no momento apenas a 7ª posição com 25 pontos do triunfo em São Paulo. E Nick Cassidy, então? O neozelandês penou nas 3 primeiras corridas, sofrendo um acidente em São Paulo e terminando perto da zona de pontos nas duas provas seguintes. Cassidy só desencantou mesmo na segunda prova de Jeddah, com um 5º lugar, marcando seus primeiros pontos no ano, indo para a 14ª posição com apenas 10 pontos ganhos até aqui. Os resultados ruins se traduziram na péssima 7ª posição da escuderia no campeonato de equipes, muito pouco para quem foi campeã da temporada passada, tendo ficado em 2º e 3º lugares no campeonato de pilotos. Vai ser preciso remar muito para recuperar o tempo perdido, ainda mais porque a situação do time britânico é ainda mais complicada que a da rival Porsche, que também vai ter de trabalhar duro para reverter o favoritismo da Nissan, que já abriu boa dianteira na classificação de pilotos e de equipes, além do campeonato de fabricantes. A questão é se eles irão conseguir, e se terão tempo para inverter a situação. A esperança reside na maior imprevisibilidade do campeonato da F-E, que pode mudar o panorama de uma corrida para a outra, não sendo possível apontar um favoritismo firme de algum time, ou piloto, como temos visto até aqui. Porsche e Jaguar tiveram seus percalços, é verdade, e em algum momento, a Nissan também poderá voltar a ter problemas, como ocorreu no Brasil. Mas resta saber se, quando isso acontecer, eles terão condições de aproveitar o tropeço da marca japonesa, seja com seu time de fábrica, ou com a McLaren. Mas não se pode ficar apenas contando com a sorte, e sim trabalhar para formar a sua própria sorte, e não depender dos resultados alheios.
A Nissan já vinha como principal desafiante ao favoritismo inicial de Porsche e Jaguar, mas a equipe japonesa, junto com seu time cliente, a McLaren, assumem agora o protagonismo da competição.
Se Porsche e Jaguar
não conseguiram traduzir as expectativas e potencial em resultados à altura do
que esperavam, seus times clientes fizeram muito menos. A Andretti teve como
melhores resultados dois quartos lugares com Jake Dennis, que andou tendo que
fazer corridas de recuperação para se redimir de algumas classificações ruins,
enquanto seu novo colega de time Nico Muller tem apenas um 9º lugar na tabela,
deixando o time de Michael Andretti apenas na 8ª colocação no campeonato. Muito
pouco para um time que foi o primeiro a ser campeão utilizando o trem de força
da Porsche há dois anos atrás. Mas, e o que dizer da Envision, que há duas
temporadas também terminou melhor que o time oficial da Jaguar? A escuderia já
havia desandado em performance no ano passado, e agora em 2025, ainda mostra
não ter reencontrado o rumo dos melhores resultados, ocupando apenas a 9ª
posição com míseros 6 pontos anotados somente por Sebastien Buemi na primeira
corrida, com o time passando em branco nas demais corridas até aqui.
Com um início meio capenga, a Maserati parece ter começado a se aprumar a partir da rodada dupla em Jeddah, onde marcou a maioria de seus pontos, em especial com Jake Hughes, enquanto Stoffel Vandoorne ainda precisa retomar o rumo de sua pilotagem, que já andava em baixa depois de ser superado nas duas últimas temporadas em que dividiu a DS Penske com Jean-Éric Vergne. Resta saber se o time de Mônaco não vai desandar nas próximas corridas, ou se manterá uma evolução de seus resultados. Quem mostra que está no caminho da recuperação, depois de apresentar performances medíocres nos dois últimos anos é a Mahindra, com o time indiano tendo até agora se saído melhor que a Jaguar, e até chegando perto do pódio. Pode não parecer muito, mas levando em conta a falta de performance que o trem de força indiano apresentou em tempos recentes, é um bom sinal para a escuderia, que ainda tem muito o que recuperar, lembrando que em seus melhores dias a Mahindra chegou até a vencer corridas, disputar pódios, e quase brigar pelo título da competição.
Enquanto isso, a Kiro, antiga ERT, parece estar no sentimento de trocar o seis pelo meia-dúzia. O time, que nos últimos dois anos padeceu do fraco trem de força chinês que utilizava, conseguiu um acordo para usar os trens de força antigos da Porsche, além de a escuderia ter passado por uma mudança de propriedade, onde tudo dava a entender que a temporada de 2025 seria bem mais próspera. Até o presente momento, nem tudo está correndo como se esperava. Os carros até que mostraram algum desempenho, mas em termos de resultado, tudo até agora se resumiu a duas pontuações obtidas por Dan Ticktum, enquanto David Beckman, piloto que foi escolhido para o lugar de Sérgio Sette Câmara, segue zerado na competição, sem ter mostrado realmente a que veio.
No que tange a Lucas Di Grassi, o piloto brasileiro parece que viverá mais um ano de resultados ruins na competição. Depois de deixar a Venturi, acabou indo para a Mahindra, onde na prova de estréia viveu seu último bom momento na F-E, largando na pole da Cidade do México em 2023, e terminando em um incrível 3º lugar, revelando um carro dotado de um trem de força muito pouco competitivo, a ponto de seu companheiro de equipe naquele ano, Oliver Rowland, que hoje lidera a competição, resolver pular fora no meio da temporada devido ao fraco desempenho do carro da escuderia. Lucas resolveu mudar para a ABT na esperança de dias menos ruins, mas fez uma péssima temporada em 2024, mais uma vez penando com o péssimo trem de força da Mahindra, que equipava a escuderia. A ABT resolveu romper com a marca indiana, e aceitou a proposta da parceria Lola/Yamaha para fornecimento de um novo trem de força que estreou nesta temporada, algo que já se sabia que iria demandar muito trabalho e paciência até que pudesse ser competitivo, e até o presente momento, é o que se está vendo, com um equipamento ainda pouco competitivo, apesar de demonstrar algum potencial, que certamente vai demandar tempo para ser devidamente desenvolvido, algo que é impossível de saber se acontecerá ainda este ano, ou se vai ficar para a próxima temporada.
Zane Maloney e Lucas Di Grassi: na ABT Lola/Yamaha, sorrisos só nas fotos, porque dentro da pista, a situação anda complicada.
Tanto o brasileiro
como seu novo companheiro de equipe Zane Maloney por enquanto estão vivendo seu
calvário de maus resultados e tentando ter paciência para colher os frutos do
desenvolvimento do equipamento, ocupando por enquanto praticamente a lanterna
do grid, tendo de se contentar em observa de longe a Nissan ocupando a posição
de protagonista da temporada, com justiça, tendo conseguido até aqui se sair
melhor que os rivais, seja um pouco pela sorte, mas também pela competência de
ter desenvolvido bem seu trem de força, além da pilotagem inspirada de Oliver
Rowland e Taylor Barnard, que prometem continuar dando o que falar pelo
restante da temporada.
A F-1 prepara-se para entrar na pista na próxima semana, para mais uma pré-temporada ridícula de míseros três dias, entre os dias 26 a 28, na pista de Sakhir, no Bahrein, onde enfim veremos de fato os novos carros de 2025 na pista, com um pouco de ação, ao contrário da festa pomposa realizada esta semana em Londres, onde tivemos muito show e pouco de F-1 propriamente dita, numa comemoração meio chinfrim dos 75 anos da categoria máxima do automobilismo. Não que tenha sido ruim, mas não foi tão boa também. Vale pela experiência, mas para quem quer ver ação, aquilo não serviu de muita coisa. Ação mesmo, só com a primeira corrida, na Austrália, em março, porque com apenas três dias de testes, não dá para esperar muita coisa...
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