Trazendo novamente uma de minhas antigas colunas, a de hoje, publicada originalmente em 23 de junho de 2.000, tinha como tema principal a primeira vitória de Hélio Castro Neves na antiga F-CART, nome da F-Indy original, ocorrida na prova de Detroit daquele ano. O brasileiro, que tinha terminado a temporada anterior desempregado com o fechamento da equipe Bettenhausen, teve a chance de sua vida diante da tragédia que ceifou a vida do canadense Greg Moore na última prova de 1999, quando o piloto sofreu um violento acidente em Fontana, perdendo a vida. Moore era o escolhido para ser o parceiro de Gil de Ferran na Penske na temporada de 2000, e Hélio, por fim, acabou sendo escolhido para substituí-lo. Começava naquele ano uma das mais longevas parcerias da Penske com um de seus pilotos, que se estendeu por praticamente 20 anos, encerrando-se apenas em 2021. Nesse meio tempo, Hélio virou uma das estrelas das categorias Indy, primeiro na F-CART, e depois na Indy Racing League, e mais recentemente na Indycar, onde escreveu seu nome ao vencer quatro vezes as 500 Milhas de Indianápolis, e igualar-se aos maiores vencedores da história da prova, A. J. Foyt, Al Unser, e Rick Mears. Faltou um título de campeonato, é verdade, mas não se pode dizer que a carreira de Helinho não foi bem-sucedida, com seu primeiro triunfo na pista de Belle Isle em 2000. Curtam o texto, e boa leitura a todos...
A PRIMEIRA DE HELINHO
A F-CART assistiu a mais uma vitória brasileira no último domingo. Hélio Castro Neves venceu a corrida de Detroit e conquistou seu primeiro triunfo na categoria, onde estreou em 1998 pela equipe de Gary Bettenhausen. Com a vitória, a Penske chega a seu 101° triunfo na competição: semanas atrás, em Nazareth, Gil de Ferran averbou a centenária vitória do time de Roger Penske. O novo triunfo do time ratifica a decisão de Roger em desistir de produzir seus próprios carros de competição, que nas últimas temporadas só trouxeram problemas e poucos resultados. No campeonato deste ano, adotando a mesma combinação técnica que levou a Ganassi ao título nos últimos anos, a Penske voltou a disputar vitórias e poles, agora com o conjunto chassi Reynard/motor Honda/pneus Firestone.
Para Helinho, é a realização de um sonho. O brasileiro não sabia o que era vencer uma corrida desde a prova de Toronto de 1997, quando disputava a Indy Lights, tendo sido vice-campeão daquele ano, atrás do compatriota Tony Kanaan. Promovido à F-CART em 1998, Hélio teve um certame de altos e baixos, em virtude da falta de estrutura da Bettenhausen Motorsports. Mesmo assim, mostrou o seu talento, e subiu ao pódio em Milwaukee, onde terminou em 2° lugar. No restante da competição, infelizmente, seu carro não lhe permitiu voltar novamente às primeiras colocações, e ele terminou o ano em 17° lugar, com 36 pontos. No ano, o italiano Alessandro Zanardi foi bicampeão, com 285 pontos. No ano seguinte, o brasileiro passou a competir pela Hogan Racing, outro time médio. Os resultados foram pouca coisa melhores, com destaque para o pódio conquistado em Madison, onde Helinho terminou em 2° lugar, sendo seu único resultado de monta no ano. Graças à regularidade, ele marcou 48 pontos no ano, finalizando a competição em 15° lugar, melhora discreta sobre o obtido no ano anterior.
Mas, pior de tudo, era a possibilidade de ficar a pé para esta temporada da F-CART. Sem recursos, Carl Hogan resolveu fechar sua escuderia, uma vez que os patrocínios prometidos por Émerson Fittipaldi, que gerenciava a carreira de Hélio, nunca se concretizaram. O brasileiro ficava em vias de ficar sem competir este ano. Quis o destino, contudo, que sua sorte mudasse, em decorrência da tragédia de outro piloto. No fim da temporada passada, o canadense Greg Moore alinhava no grid de Fontana com contrato assinado para correr pela Penske este ano, como companheiro do brasileiro Gil de Ferran. Mas o canadense sofreu um violento acidente, e faleceu. Roger Penske precisou encontrar um substituto para seu time, e estando disponível no mercado, Hélio acabou ganhando a chance de sua vida.
Correndo por um time de ponta, e tendo como companheiro de time um piloto capacitado e experiente como Gil de Ferran, que já havia disputado o título da categoria, o início de Hélio foi meio conturbado. Até a etapa de Detroit, o paulista só teve um bom resultado em Long Beach, onde subiu ao pódio, novamente em 2° lugar. Nas demais corridas, nem estava passando perto da zona de pontuação, em contraste com Gil, que mesmo com alguns problemas, seguia avançando no campeonato, chegando inclusive à vitória em Nazareth. Mas todos sabiam que era questão de tempo até tudo se acertar. E isso aconteceu em Detroit.
Largando em 3°, Helinho assistiu de camarote à briga entre Juan Pablo Montoya e Dario Franchiti, pronto para agarrar quaisquer oportunidades. E elas sugiram quando o colombiano teve outro problema mecânico em seu carro, enquanto Franchiti também enfrentou problemas em seu monoposto. Com a pista livre, o brasileiro partiu rumo à vitória, fazendo ainda a melhor volta da corrida. Mas o melhor ficou para o final: surpreendendo a todos, Hélio parou seu carro no meio da pista, escalou o alambrado e comemorou efusivamente a vitória, como se tivesse marcado o gol decisivo de uma partida de futebol. E a torcida da arquibancada à sua frente correspondeu, aplaudindo o piloto, que espera a partir de agora iniciar uma nova fase no campeonato, e conseguir mais vitórias, além claro, de tentar disputar o título.
Com o resultado, Hélio deu um salto na classificação: passou a ocupar o 11° lugar, com 38 pontos. Gil de Ferran, mais consistente que seu compatriota até aqui, tem 47 pontos e é o 5° colocado. Paul Tracy lidera o campeonato com 59 pontos, e até o presente momento parece o favorito ao título, mas ninguém pode esquecer que o canadense é um piloto instável, sujeito a cometer barbeiragens pelo caminho quando menos se espera, o que pode levá-lo a perder resultados potenciais pelo meio do caminho, como aconteceu nesta etapa de Detroit, quando acabou sofrendo um acidente nos boxes. Mantendo uma grande regularidade Jimmy Vasser é o 2° colocado, com 54 pontos, e na mesma tocada, Roberto Moreno vem fazendo sua melhor temporada na categoria, ocupando a 3ª posição com 52 pontos.
A próxima corrida já é neste fim de semana, no circuito misto de Portland, e a expectativa é de mais disputa na pista. O campeonato da categoria segue em aberto, e ao contrário dos últimos anos, não há favoritos destacados na briga, pelo menos até este momento. Um sinal muito bom que deve significar muito mais brigas e duelos até o encerramento do campeonato, em Fontana.
Quem não levou boas lembranças da corrida de Detroit da F-CART foi o brasileiro Tony Kanaan. O baiano sofreu um forte acidente ainda nos treinos para a corrida, batendo com o carro duas vezes no muro, o que fez com que um dos braços da suspensão dianteira furasse o cockpit e atingisse seu corpo, causando duas fraturas do braço esquerdo. O piloto precisou passar por cirurgia, tendo implantado no membro duas placas e 14 parafusos. Felizmente ele já passa bem, mas deverá ficar algumas semanas de molho enquanto se recupera.
Dos demais brasileiros, apenas Gil de Ferran e Tarso Marques conseguiram pontuar na corrida de Detroit. Gil teve um enrosco com Christian Fittipaldi, que havia se desentendido com Mark Blundell, e acabou apenas em 9° lugar. Marques foi o 10°. Christian e Roberto Moreno ficaram pelo meio do caminho nos acidentes que surgiram na prova. E Cristiano da Matta teve problemas de motor. Já Mauricio Gugelmim, mostrando que a PacWest continua sem rumo, foi apenas o 16° colocado. Melhor sorte para todos neste fim de semana.
Na F-1, a Ferrari conquistou mais uma dobradinha, ao vencer o Grande Prêmio do Canadá com Michael Schumacher e ver Rubens Barrichello terminar em 2° lugar. Com o resultado, Schumacher abriu 22 pontos no campeonato sobre o escocês David Coulthard, atual vice-líder. A McLaren, aliás, não teve do que se orgulhar em Montreal: Mika Hakkinen foi 4° colocado, enquanto Coulthard ficou apenas em 7°, muito pouco para o time que quer ser o campeão da temporada.
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